segunda-feira, 27 de abril de 2009

FRONTEIRA (Miguel Torga)


De um lado terra, doutro lado terra;
De um lado gente; doutro lado gente;
Lados e filhos desta mesma serra,
O mesmo céu os olha e os consente.

O mesmo beijo aqui; o mesmo beijo além;
Uivos iguais de cão ou de alcateia.
E a mesma lua lírica que vem
Corar meadas de uma velha teia.

Mas uma força que não tem razão,
Que não tem olhos, que não tem sentido,
Passa e reparte o coração
Do mais pequeno tojo adormecido.


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pedra dos Mistérios...

O património Galaico não cessa de nos surpreender com os seus misteriosos segredos..


Quais as histórias que este monumento terá para nos contar?



Fotos por: Abel M. Queirós

sexta-feira, 17 de abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Castro Laboreiro, 26 de Setembro de 1791

«Escrevi (…) da Vila dos Arcos, agora faço-o de Castro Laboreiro (…).Que serras fragosíssimas; que caminhos, que desfiladeiros! O Lugar onde estou actualmente é a Noruega de Portugal: não se vêem senão rochas escarpadas e medonhas; árvores de frutos nem uma só; e até as outras são muito raras: não há milho, nem trigo nem hortaliça de casta alguma; apenas o grão do centeio.

Que lhe hei-de dizer da gente? Estão na sua primitiva simplicidade, sem que o luxo tenha feito aqui a mais leve alteração: homens, e mulheres com o seu respectivo uniforme, do qual nenhum se afasta.

Não há coisa mais feia que o (uniforme) do sexo feminino: uma manta de Saragoça dobrada na cabeça descendo da parte de diante até ao peito, muito cosida com o rosto, sendo que por traz chega quase até ao chão; um avental do mesmo tecido (…), polainas de pano branco, e uns tamancos muito altos, atados com diferentes correias; é assim o vestido geral de todas. As caras são de tapuias tostadas e disformes, contudo sabem os Mistérios da nossa Santa Religião; amam as coisas de Deus, e não me consta que haja no lugar escândalos grosseiros.

Ficaram contentíssimos de me ver na sua terra, aonde não ia nenhum prelado há cerca de um século; e desde que cheguei, sempre a igreja tem estado cheia de povo.
Queria dizer-lhe mais, pois há muito para contar; mas falta o tempo.»


Esta carta, escrita por Dom Frei Caetano Brandão, Arcebispo de Braga de 1790 a 1805, a quem Camilo Castelo Branco designou como «O mais glorioso vulto das cristandades lusitanas.» expressa o espanto e o assombramento com que o mencionado Arcebispo encarou Castro Laboreiro aquando da sua viagem em 1791 (portanto no Reinado de Dona Maria I -24/02/1777 a 20/03/1816).É desde logo curiosa a comparação que faz quando diz que «o Lugar onde estou actualmente é a Noruega de Portugal».

Também é interessante a descrição que faz sobre a indumentária (uniforme) das mulheres referindo-se à tradicional capa como sendo «(…) uma manta de Saragoça (…)», aos “calçons” como «(…) polainas de pano branco(…)» e aos “soques” como «(…) uns tamancos muito altos (…)atados com diferentes correias».

Depois passa para uma descrição da cara dos Castrejos utilizando uma comparação nada abonatória para os nossos longínquos antepassados. Diz ele que parecem «(…) tapuias tostadas e disformes (…)». Ora os tapuias eram, e ainda são, um grupo indígena que habita o noroeste do estado brasileiro de Goiás, que o Dom Frei Caetano conhecia por ter sido entre 1782 e 1790 Bispo de Belém do Pará. Claro que para um indivíduo habituado às peles lustrosas que frequentavam (como ainda frequentam) as cortes e os Paços episcopais, aquela pobre e sofrida gente que mourejava dia a dia sob as inclemências do clima da montanha com as consequências que daí advém para a pele do rosto, pareciam «tapuias disformes».

Apesar desta comparação nada feliz para os nativos de Castro Laboreiro, tem que ser dado o mérito ao Dom Frei Caetano de lá ter ido, pois isso revela-nos uma preocupação, pelo menos, com o bem estar espiritual daquelas pessoas, tanto que diz ele àquela terra «(…) não ia nenhum prelado há cerca de um século (…), embora não «(…) haja no lugar escândalos grosseiros» (presumo que o nosso Arcebispo se quis referir a incestos, concubinatos e escândalos do género).
_________________
[Transcrição em português actual da Carta de Dom Frei Caetano Brandão in AMARAL, António Caetano de. Memórias para a história da vida do venerável D. Frei Caetano Brandão. 2 vols. Lisboa, Na Impressão Régia, 1818. 2ª ed. Braga, Typografia dos Orphãos 1867, extracto publicado por Alice Duarte Geraldes in Brandas e Inverneiras – particularidades do sistema agro-pastoril crastejo, Cadernos Juríz Xurês n.º 2, 1996, págs. 13 e 14.]
Fonte:Longe de Castro Laboreiro

sexta-feira, 10 de abril de 2009

António Ribeiro - O Gaiteiro do Porto

"Música tradicional portuguesa e galega. Toca António Ribeiro, coñecido tamén polo alcuño "O Toni das Gaitas", gaiteiro do Porto. O xeito tradicional de tocar en Portugal é con dixitación pechada, o mesmo ca en Galicia. Gravado o 10/11/2007 en Pontevedra durante a Mostra de Patrimonio Cultural Inmaterial Galego-Portugués."









quarta-feira, 8 de abril de 2009

As raízes podres da nossa cultura!

Uma pergunta que devemos fazer por estarmos numa era globalizada, onde qualquer um se assemelha a qualquer outro tenham eles as idades que tiverem e terem nascido no lugar que quiserem é:

O que é que, hoje, se distingue os países, regiões, distritos, concelhos, cidades e freguesias umas das outras?

Sim porque hoje todos temos a mesma pronuncia, aprendemos a mesma história (mesmo se esta nada tenha a ver com as nossas raízes mas sim com as de uma qualquer cidade centralista a centenas de quilómetros de distância), vestimos-nos da mesma forma, comemos a mesma comida, festejamos as mesmas festase idolatramos os mesmos falsos ídolos.

Não podemos mais dizer que é a "cultura". A "cultura", como tantas coisas, já não é o que era. A "cultura" deveria ser algo de palpável no dia a dia. No entanto, pelos nossos dias já não o é a não ser nos locais mais remotos das zonas rurais e, mesmo assim, com fortes condicionantes.

Em todo os outros lados esta "cultura" é museológica e uma encenação. Portanto, sob um certo ponto de vista já não é cultura porque não faz parte da vida real das gentes.

Já fez, mas já não faz. Esta cultura que hoje defendemos é então na maioria dos casos a cultura dos nossos avós. A nossa é a de todos os outros. A cultura dos media. Esta mesmo que me põe a escrever sobre folclore em vez de ir fazer folclore.

Disse FOLCORE?

Pois bem. E sobre folclore que quero falar. E esta encenação que mais nos representa e distingue das demais regiões e é o retrato mais rico de todo o saber musical acumulado de forma evolutiva e genuina por incontáveis gerações de antepassados nossos.

O folclore, para um bom observador e para quem tenha inteligência e sensibilidade (sim, hoje, é preciso inteligência para apreciar folclore) suficiente, é o equivalente a volumes de enciclopédias de etnografia e antropologia.

O folclore é a revelação da nossa alma.

Porém, a globalização, a lei do mercado e a ignorância pura e simples fazem que mesmo esta tradicional fonte de pureza venha a brotar poluída. Certos grupos de pessoas não se dão conta que, ao inventarem, estão a minar todo o futuro e todas as raízes culturais que nos restam.

Não conseguem perceber que as pessoas acreditam mesmo que o que estão a ver é real. Este é o fenómeno do palco e do bem vestir. Por isso é que também fazemos, por exemplo, confiança aos políticos...

Exemplificando, fica abaixo um exemplo de como, muitas vezes, as próprias gentes que se dizem defensoras e amantes da cultura das suas terras, apenas a estão a envenenar lentamente e inconscientemente. A seguir, está apresentado um bom exemplo para que se verifique o contraste. INVENÇÃO Vs GENUINIDADE.

Vira de Vila Verde segundo um grupo folclórico de péssima qualidade:



Vira de Vila Verde GENUINO por um bom grupo de folclore:



Como podem observar, a calúnia que é promovida pelo primeiro caso desvirtua completamente toda a herança cultural que supostamente deveriam preservar e promover.

Mais do que isso, a ironia que estas demonstrações exalam chegam a ser épicas e, só o sarcasmo, pode ajudar a aliviar o stress que, quem se interessa por a nossa cultura e folclore, é obrigado a suportar.

sábado, 4 de abril de 2009

Estado Novo, Genocidio Cultural e a Morte de um Povo!


"Castro de Laboreiro,24 de Agoste de 1948 - Estas pequenas comunidades que nos restam, Rio de Onor, Vilarinho da Furna, Laboreiro, etc., estão na última agonia. O Estado já não as pode tolerar, alheias à vida da nação, estrangeiras dentro do próprio território. Por isso manda-lhes ao coração o golpe de uma estrada e a isca da caminheta dum sardinheiro. E assim, um a um se vão apagando estes pequenos enclaves, não digo de paradisíaca felicidade, mas de humana e natural liberdade. Uma vida social assim, apenas acrescentada de ciência e cultura seria ideal. Antes de mais, o homem começou aqui por formar uma consciência cívica e fraterna, fundada em amor, e fez depois as reformas consoantes. Mas parece que se resolveu matar primeiro o homem e sua harmonia espontânea, e construir então sobre cadáveres o futuro."

(Miguel Torga, Diário IV)


Gerês, 6 de Agosto de 1968 - Derradeira visita à aldeia de Vilarinho da Furna, em vésperas de ser alagada, como tantas da região.

Primeiro, o Estado, através dos Serviços Florestais, espoliou estes povos pastoris do espaço montanhês de que necessitavam para manter os rebanhos, de onde tiravam o melhor da alimentação — o leite, o queijo e a carne — e alicerçavam a economia — a lã, as crias e as peles; depois, o super-Estado, o capitalismo, transformou-lhes as várzeas de cultivo em albufeiras — ponto final das suas possibilidades de vida. E assim, progressivamente, foram riscados do mapa alguns dos últimos núcleos comunitários do país.

Conhecê-los, era rememorar todo um caminho penoso de esforço gregário do bicho antropóide, desde que ergueu as mãos do chão e chegou a pessoa, os instintos agressivos transformados paulatinamente em boas maneiras de trato e colaboração.

T
alvez que o testemunho de uma urbanidade tão dignamente conseguida, com a correspondente cultura que ela implica, não interesse a uma época que prefere convívios de arregimentação embrutecida e produtiva, e dispõe de meios rápidos e eficientes para os conseguir, desde a lavagem do cérebro aos campos de concentração.

Mas eu ainda sou pela ordem voluntária no ócio e no trabalho, por uma disciplina cívica consentida e prestante, a que os heréticos chamam democracia de rosto humano. De maneira que gostava de ir de vez em quando até Vilarinho presenciar a harmonia social em pleno funcionamen
to, sem polícias fardados ou à paisana. Dava-me contentamento ver a lei moral a pulsar quente e consciente nos corações, e a entreajuda espontânea a produzir os seus frutos.

Regressava de lá com um pouco mais de esperança nos outros e em mim.


Do esfacelamento interior que vai sofrer aquela gente, desenraizada no mundo, com todas as amarras afectivas cortadas, sem mortos no cemitério para chorar e lajes afeiçoadas aos pés para caminhar, já nem falo. Quem me entenderia?"

(Miguel Torga, Diário XI)

Requiem

Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.

Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto

De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento

Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado

E a morte um segundo nascimento.

Miguel Torga

Barragem de Vilarinho da Furna

18 de Julho de 1976

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Televisao de Serviço Publico (2)

Na continuaçao do Artigo d' "O GALAICO", chamo a atençao para aquele que e sem duvida um dos melhores programas sobre a NOSSA CULTURA.

E da TVGaliza...chama-se ALALA.




ALALA. ...

...de entre as dezenas de programas nao vou selecionar nehum, pois todos sao geniais.
E mais descriçao nao faço, apenas aconselho a verem.

Estao todos disponiveis online no site da TVGaliza:


...e agora lanço um repto e um pedido:
para quando serviço publico a serio na televisao do lado sul do rio Minho???
QUEREMOS UM ALALA em Portugal.


PS: efectivamente a Brigada Victor Jara fez ha algum tempo um programa (POVO QUE CANTA) que passou ainda ha pouco na RTP Memoria...mas.................


QUEREMOS MAIS...