segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"Norte de Portugal e Galiza formam um país"


"O país está numa situação muito complicada e antevejo muitas dificuldades nos próximos tempos. Temos o problema da dívida perante o exterior e o provável aumento das taxas de juro", afirma José Silva Peneda, recém-eleito presidente do Conselho Económico e Social.

No âmbito da iniciativa "Almoços JN", o ex-ministro de Cavaco Silva e antigo eurodeputado pelo PSD, olha com preocupação para a actual situação sócio-económica do Norte e propõe soluções no quadro da União Europeia (UE) para as regiões que mais sofrem com a globalização.

"Se imaginássemos que os Estados centrais implodiam, a Galiza e o Norte de Portugal formam claramente um país, partilhando características muito próprias", acrescenta, mostrando-se um adepto do aprofundamento dos laços daquela euro-região. Apesar das similitudes, o fosso de desenvolvimento é hoje notório. "Há cerca de uma década, o PIB per capita da Galiza e do Norte de Portugal era idêntico e agora a diferença é superior a 40%. A grande diferença entre as duas regiões ibéricas reside na organização do respectivo sistema político".

Silva Peneda considera que há políticas que fazem sentido para o Norte e não para outras regiões. " Se houvesse regionalização, ninguém imagina que as políticas para a região Norte fossem fotocópia das políticas do poder central.

Em conversa com o director do "Jornal de Notícias", José Leite Pereira, o eleito presidente do CES, que ainda aguarda pela data da tomada de posse, recuou aos tempos da sua juventude, altura em que frequentava o liceu D. Manuel II, no Porto. Entre os anos 50 e 70, o 5.º ano de escolaridade era a ambição que a família média portuense tinha para os respectivos filhos. Era a garantia de emprego, nomeadamente na banca. Mas tudo mudou. O mestrado é hoje o objectivo de quem estuda e os empregos para quadros qualificados escasseiam no Porto. "Depois do 25 de Abril, era natural ter reuniões no Porto com administradores de bancos e de companhias de seguros. O próprio BPI e BCP, que nasceram na CCDR-Norte, já não têm a administração no Porto. Hoje em dia, um jovem quadro da banca que esteja no Porto está sem perspectivas de evoluir na carreira".

Mas a escassez de empregos no Porto é apenas um sinal de que algo está mal no conjunto da região Norte, um facto que os indicadores económicos regionais têm provado. Fundando-se na sua experiência ministerial e recorrendo ao seu passado recente enquanto eurodeputado, Silva Peneda avança com propostas concretas no capítulo dos fundos comunitários.

A distribuição dos fundos dentro da União Europeia (UE) é feita em função do critério das regiões mais pobres. "É uma análise estática. Acho que devíamos introduzir aqui uma análise dinâmica. Com a globalização, há sempre o risco de perder, mas o mesmo fenómeno fez com que várias regiões alemãs que exportam tecnologia têxtil ganhassem. Não é nada de novo. Quando o problema se colocou com a siderúrgia alemã, na bacia do Ruhr, houve apoios substanciais. Não vi qualquer voz a exigir esta reforma". José Leite Pereira não deixou de questionar o presidente do CES sobre a viabilidade de programas específicos para regiões como o Norte de Portugal. "Tudo depende da forma como a ideia for apresentada. A questão nunca deve ser apresentada como sendo o problema da minha região", respondeu, lembrando que Portugal conseguiu, no passado, algo semelhante com o Programa Específico para o Desenvolvimento da Indústria Portuguesa (PEDIP).

O desvio de verbas do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) do Norte para a região de Lisboa - efeito "spill over" - merece um breve comentário por parte de Silva Peneda. "Não concordo e é uma coisa mal feita para resolver um problema surgido na capital. O problema está mais nos princípios e menos nos montantes envolvidos."

O Norte também perdeu com a fusão dos patrões (AEP e AIP)? Silva Peneda discorda. "Quanto mais fortes forem os parceiros sociais, tanto melhor", diz o recém-eleito presidente do CES.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Homenagem merecida!


As pessoas e os lugares onde vivem são duas faces da mesma moeda. Um só se define e ganha importância através do outro.

Por isso, fica este post dedicado a uma pessoa que marcou muitas gerações de estudantes (inclusive alguns colaboradores deste Blogue) da academia Vianense, que viam esta Senhora como que a sua Padroeira.

A Dona Otília, era a prova que as gerações podiam conviver sem quaisquer problemas apesar das diferentes mentalidades e valores que as caracterizam. Na sua tasca, num escuro beco do centro histórico de Viana do Castelo, juntavam-se pessoas de todas as idades, estilos e proveniências.

Pela genuinidade de carácter desta grande pessoa, a cidade tinha um pequeno local onde todos se sentiam à vontade. Não importava se se conheciam, que idade tinham ou de onde eram. Ali, todos se sentavam nos bancos compridos, uns ao lado dos outros bebendo pela malga e roendo a broa.


Guardarei inúmeras memórias do champariom e chouriças assadas a preços disparatados (no bom sentido) que alegraram milhares de pessoas durante décadas a fio. Só haviam três bebidas. Vinho, cerveja, ou vinho com cerveja.

A devoção das pessoas à D. Otília esteve patente durante toda a sua vida. Geralmente, só se lembram dos ícones nas horas das suas mortes mas, com ela, era diferente. Bastava ver as paredes da tasca forradas com mensagens antigas com décadas até às recentes, de ontem, onde a estima dos clientes por aquela pessoa e àquele lugar estava expressa de todas as formas possíveis.


Desde poesia a desenhos artísticos.

Igualmente para sempre ficará o movimento que uniu os estudantes contra a decisão da Câmara Municipal de encerrar a "Espanhola". Um abaixo assinado que relegou para segundo plano todas as normas de higiene e pudor oriundo dos snobs de Lisboa.

A Espanhola era uma tasca verdadeira. Não fingia ser coisa que não era e, por isso é que todos gostavam dela. E era por isso que ela gostava de nós. Da juventude dos seus clientes, retirava ela a sua!

Com a partida da D. Otília, perdeu-se a Espanhola. Nem valeria a pena defender o espaço visto que a sua cara já não existe. No entanto, as memórias de quem a frequentava nunca serão apagadas.

Pena também que um pouco por todo o lado venham a desaparecer estas pessoas e esses espaços. Lugares onde os tempos antigos se fundiam na perfeição com os presentes e onde se antevia sempre um futuro harmonioso.

Por mim, trocava todas as normas de higiene pela alma desse tipo de pessoas.

Saudades já vinha tendo há muito de passar pela Espanhola antes de uma noite de festa académica. Ou um petisco ao fim da tarde que, pela sua qualidade, se prolongava pela noite e repercutia-se na manhã seguinte.

Porém, agora que que sei não mais poder la voltar, sinto um pequeno vazio em mim. Um que só é preenchido pelas fotografias digitais e mentais, que guardarei para sempre deste local de culto de Viana do Castelo.

Até sempre D. Otília!!!

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1443363&seccao=Norte
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/10437805.html
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Viana%20do%20Castelo&Concelho=Viana%20do%20Castelo&Option=Interior&content_id=1442990