Em seguida ao oportuno comentário de Maria no último Post segue um pequeno exemplo de como os símbolos mágicos presentes no religioso pré-romano permaneceram presentes até bem pouco tempo.
De facto, até poucas décadas, o Norte de Portugal assemelhava-se mais a uma terra na idade média do que a outra coisa.
Citando Maria que, por sua vez citou Joaquim de Vaconcellos:
"Os desenhadores dos seculos XI a XII recorreram provavelmente aos pergaminhos ecclesiasticos, illuminados, da epocha, onde se inspiraram; mas não foram simples copistas; recorreram tambem a symbolos ancestraes de mui remotas epochas. Já escrevi e demonstrei em outro logar em 1908 que me parece evidente o effeito de uma decoração prehistorica e protohistorica, dependente de influencias exclusivamente locais e nitidamente nacionaes, tão nacionaes que ainda hoje se revelam na admiravel e variadissima decoração dos nossos jugos nas provincias do Norte e nos artefactos ceramicos das mesmas provincias. Esta aproximação é o resultado de reflectido e demorado estudo, que não posso sequer resumir aqui, mas que se baseia no confronto de numerosas illustrações minhas, ineditas e em exemplares das artes domesticas e das alfaias rusticas, colleccionados desde 1877 e comparados n'um estudo histórico, impresso em 1879. Os jugos do Minho, Entre Douro e Minho, e de parte da Beira Alta, são traduções em madeira mais ou menos fieis de decorações romanicas em pedra."
Exemplificando:
Pentagrama (S. Francisco - Porto): Símbolo associado a todas as crenças esotéricas e a ainda mais disparates propagandistas que podemos imaginar.
Levantamentos nos jugos de Bois:
Num espigueiro:
Suástica Pré-Romana:
Representação nos jugos de Bois:
No Portal de um Espigueiro:
Hexapétala Pré Romana:
Presença em elementos comuns da vida agrícola neste caso, contemporâneos por estarem a ser representados por um rancho folclórico (note-se igualmente o pentagrama):
E num espigueiro Galaico -Asturiense:
No fundo, estes símbolos com origens ancestrais ganharam uma conotação intemporal de protecção contra azares, demónios, maus olhados ou poderes obscuros. Por isso eram colocados em portais de igrejas e em tudo o que se relacionasse com a vida agrícola.
Num tempo onde as pessoas dependiam exclusivamente de si próprias e onde o misticismo se misturava com uma religiosidade profunda, estas representações faziam parte das crenças protectoras milenares do povo.
Frequentemente, esta reverência pagã nos rituais agrícolas chegava a ser acompanhada por autênticas frases mágicas:
Os símbolos, rituais e frases mágicas faziam parte da vida do dia a dia dos nossos antepassados. Hábitos adquiridos fruto de uma evolução natural. Para todos os momentos da vida haviam processos pagãos capazes de atrair sorte e protecção.
Basta consultar este documento para o constatar:
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/bdc/etnologia/opusculos/vol05/opusculos05_397_434.pdf
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5 comentários:
Este blogue foi contemplado com o prémio Dardos. Parabéns!
Mais:http://folcloredeportugal.blogspot.com/2008/11/damos-o-prmio-dardos.html
Bem.. Muito obrigado pela distinção. E bom saber que as pessoas gostam do que vêem.
Cumprimentos!
Esta simbologia é muito comum nas aldeias.
lembro-me perfeitamente de um vizinho meu carpinteiro, fazer portas de espigueiros, carros de boi e pipas e muitas vezes desenhava pentagramas e demais simbolos galaicos nas suas obras, especialmente nas portas das casas ou dos espigueiros!
até brincava com nós, miudos na altura, para ver se eramos capazes de fazer um desenho tão perfeito!
ainda à dias quando tive de férias ví um simbolo desses numa porta de uma casa velha na minha terra feita pelo carpinteiro meu vizinho, que agora por não haver quem queira carros de bois e pipas em madeira, também por velhice, deixou a arte de carpintaria!
Este reconhecimento através do premios dardos é sempre um bom apoio para a causa de ogalaico; ou seja etnografar com letras para interligar o passado, o presente e o futuro!
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