segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"Norte de Portugal e Galiza formam um país"


"O país está numa situação muito complicada e antevejo muitas dificuldades nos próximos tempos. Temos o problema da dívida perante o exterior e o provável aumento das taxas de juro", afirma José Silva Peneda, recém-eleito presidente do Conselho Económico e Social.

No âmbito da iniciativa "Almoços JN", o ex-ministro de Cavaco Silva e antigo eurodeputado pelo PSD, olha com preocupação para a actual situação sócio-económica do Norte e propõe soluções no quadro da União Europeia (UE) para as regiões que mais sofrem com a globalização.

"Se imaginássemos que os Estados centrais implodiam, a Galiza e o Norte de Portugal formam claramente um país, partilhando características muito próprias", acrescenta, mostrando-se um adepto do aprofundamento dos laços daquela euro-região. Apesar das similitudes, o fosso de desenvolvimento é hoje notório. "Há cerca de uma década, o PIB per capita da Galiza e do Norte de Portugal era idêntico e agora a diferença é superior a 40%. A grande diferença entre as duas regiões ibéricas reside na organização do respectivo sistema político".

Silva Peneda considera que há políticas que fazem sentido para o Norte e não para outras regiões. " Se houvesse regionalização, ninguém imagina que as políticas para a região Norte fossem fotocópia das políticas do poder central.

Em conversa com o director do "Jornal de Notícias", José Leite Pereira, o eleito presidente do CES, que ainda aguarda pela data da tomada de posse, recuou aos tempos da sua juventude, altura em que frequentava o liceu D. Manuel II, no Porto. Entre os anos 50 e 70, o 5.º ano de escolaridade era a ambição que a família média portuense tinha para os respectivos filhos. Era a garantia de emprego, nomeadamente na banca. Mas tudo mudou. O mestrado é hoje o objectivo de quem estuda e os empregos para quadros qualificados escasseiam no Porto. "Depois do 25 de Abril, era natural ter reuniões no Porto com administradores de bancos e de companhias de seguros. O próprio BPI e BCP, que nasceram na CCDR-Norte, já não têm a administração no Porto. Hoje em dia, um jovem quadro da banca que esteja no Porto está sem perspectivas de evoluir na carreira".

Mas a escassez de empregos no Porto é apenas um sinal de que algo está mal no conjunto da região Norte, um facto que os indicadores económicos regionais têm provado. Fundando-se na sua experiência ministerial e recorrendo ao seu passado recente enquanto eurodeputado, Silva Peneda avança com propostas concretas no capítulo dos fundos comunitários.

A distribuição dos fundos dentro da União Europeia (UE) é feita em função do critério das regiões mais pobres. "É uma análise estática. Acho que devíamos introduzir aqui uma análise dinâmica. Com a globalização, há sempre o risco de perder, mas o mesmo fenómeno fez com que várias regiões alemãs que exportam tecnologia têxtil ganhassem. Não é nada de novo. Quando o problema se colocou com a siderúrgia alemã, na bacia do Ruhr, houve apoios substanciais. Não vi qualquer voz a exigir esta reforma". José Leite Pereira não deixou de questionar o presidente do CES sobre a viabilidade de programas específicos para regiões como o Norte de Portugal. "Tudo depende da forma como a ideia for apresentada. A questão nunca deve ser apresentada como sendo o problema da minha região", respondeu, lembrando que Portugal conseguiu, no passado, algo semelhante com o Programa Específico para o Desenvolvimento da Indústria Portuguesa (PEDIP).

O desvio de verbas do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) do Norte para a região de Lisboa - efeito "spill over" - merece um breve comentário por parte de Silva Peneda. "Não concordo e é uma coisa mal feita para resolver um problema surgido na capital. O problema está mais nos princípios e menos nos montantes envolvidos."

O Norte também perdeu com a fusão dos patrões (AEP e AIP)? Silva Peneda discorda. "Quanto mais fortes forem os parceiros sociais, tanto melhor", diz o recém-eleito presidente do CES.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Homenagem merecida!


As pessoas e os lugares onde vivem são duas faces da mesma moeda. Um só se define e ganha importância através do outro.

Por isso, fica este post dedicado a uma pessoa que marcou muitas gerações de estudantes (inclusive alguns colaboradores deste Blogue) da academia Vianense, que viam esta Senhora como que a sua Padroeira.

A Dona Otília, era a prova que as gerações podiam conviver sem quaisquer problemas apesar das diferentes mentalidades e valores que as caracterizam. Na sua tasca, num escuro beco do centro histórico de Viana do Castelo, juntavam-se pessoas de todas as idades, estilos e proveniências.

Pela genuinidade de carácter desta grande pessoa, a cidade tinha um pequeno local onde todos se sentiam à vontade. Não importava se se conheciam, que idade tinham ou de onde eram. Ali, todos se sentavam nos bancos compridos, uns ao lado dos outros bebendo pela malga e roendo a broa.


Guardarei inúmeras memórias do champariom e chouriças assadas a preços disparatados (no bom sentido) que alegraram milhares de pessoas durante décadas a fio. Só haviam três bebidas. Vinho, cerveja, ou vinho com cerveja.

A devoção das pessoas à D. Otília esteve patente durante toda a sua vida. Geralmente, só se lembram dos ícones nas horas das suas mortes mas, com ela, era diferente. Bastava ver as paredes da tasca forradas com mensagens antigas com décadas até às recentes, de ontem, onde a estima dos clientes por aquela pessoa e àquele lugar estava expressa de todas as formas possíveis.


Desde poesia a desenhos artísticos.

Igualmente para sempre ficará o movimento que uniu os estudantes contra a decisão da Câmara Municipal de encerrar a "Espanhola". Um abaixo assinado que relegou para segundo plano todas as normas de higiene e pudor oriundo dos snobs de Lisboa.

A Espanhola era uma tasca verdadeira. Não fingia ser coisa que não era e, por isso é que todos gostavam dela. E era por isso que ela gostava de nós. Da juventude dos seus clientes, retirava ela a sua!

Com a partida da D. Otília, perdeu-se a Espanhola. Nem valeria a pena defender o espaço visto que a sua cara já não existe. No entanto, as memórias de quem a frequentava nunca serão apagadas.

Pena também que um pouco por todo o lado venham a desaparecer estas pessoas e esses espaços. Lugares onde os tempos antigos se fundiam na perfeição com os presentes e onde se antevia sempre um futuro harmonioso.

Por mim, trocava todas as normas de higiene pela alma desse tipo de pessoas.

Saudades já vinha tendo há muito de passar pela Espanhola antes de uma noite de festa académica. Ou um petisco ao fim da tarde que, pela sua qualidade, se prolongava pela noite e repercutia-se na manhã seguinte.

Porém, agora que que sei não mais poder la voltar, sinto um pequeno vazio em mim. Um que só é preenchido pelas fotografias digitais e mentais, que guardarei para sempre deste local de culto de Viana do Castelo.

Até sempre D. Otília!!!

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1443363&seccao=Norte
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/10437805.html
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Viana%20do%20Castelo&Concelho=Viana%20do%20Castelo&Option=Interior&content_id=1442990

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O meu Guerreiro Galaico

Os guerreiros galaico sempre me fascinaram. Desde a infância que convivi com este tipo de achados da idade do ferro. Como já encontrei/descobri uma ara votiva, fico sempre na esperança que um dia será a vez de um guerreiro! É um sonho lindo só isso.

De maneiras que, certo dia me embrenhei nos meus aferes e lá me decidi, não a procurar um guerreiro galaico, mas sim a construir um... só meu... só para minha protecção e aconchego espiritual!

Como não tenho arte de pedreiro, optei pela pintura e este é o resultado...


Optei por uma abordagem abstracta, sem grandes pormenores, contudo achei por bem representa-lo com uma expressão facial mórbida e apática.Para visualizar com mais pormenor façam clik sobre a imagem!

Interessa reter que os guerreiros galaicos são figuras masculinas em tamanho superior ao natural, talhadas em granito de grão grosso. Representam guerreiros em posição hierática, sobre um plinto, com escudo redondo, espada curta e, por vezes, capacete.

Os braços mantêm-se junto ao corpo, possuindo a célebre viria, de que se admite ter origem a designação de Viriato. Ostentam uma vestimenta curta, tipo camisa, que acaba por cima dos joelhos. No pescoço trazem um aro, ou torques, aberto para a frente e com as pontas engrossadas.

Estas construções são o expoente máximo da arqueologia nacional, representativas da imagem da Divindade e do carácter guerreiro da antiga civilização castreja.

Mas é sabido que este tipo de representações não são exclusivas da nossa região castreja. Foram achadas estátuas de guerreiros, em tamanho natural, na Alemanha e Itália (Glauberg e Capertrano).

Em minha opinião, é de prever que o universo cultural deste tipo de construções é muito vasto. Basta ter em mente o número de tribos celtas conhecidas (ou mais importantes) de toda a Europa e concluir que estes artefactos não poderiam ser casos isolados.

Para além de que, as principais características sócio-culturais deste tipo de povoados era precisamente o espírito combativo e guerreiro aliado a um intelecto mágico espiritual profundo.
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Fonte: Museu Nacional de Arqueologia

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ALDEIAS GALAICAS cap.I -Vila do SOAJO



Vamos começar a contar a história de algumas Aldeias Galaicas...

Esta primeira é desde há muito Vila, foi concelho até meados do SécXIX...
Tem uma história própria e tradições específicas.
Fica no Alto-Minho e a raia está ali bem perto...

Conta-se esta história, porque Michel Giacometti nos deixou escrito este belo texto - resumo dessa história...e gravou estas belas imagens irrepetíveis...sem a ajuda dele esta tarefa seria bem mais difícil...e é a ele que lhe prestamos homenagem:


(Michel Giacometti)

E fala-se de agricultura, de Brandas, de Combatividade do Povo...e de muitas outras histórias já aqui faladas, entre elas o "Jogo do Pau", os Espigueiros, etc...



SOAJO...diz assim o texto:


"No concelho de Arcos de Valdevez, Alto-Minho, o SOAJO - povoação caracteristicamente montanhesa no sopé da serra que tem o seu nome - vive ao ritmo lento do trabalho agrícola e do pastoreio. O pousio é desconhecido e a agricultura praticada em pequenas glebas dispersas pelas encostas. As culturas limitam-se ao milho -de regadio e sequeiro - centeio, batatas, vinho, azeite, cera e mel. Na pastorícia, por "vezeiras", os rebanhos pertencentes a diversos donos são guardados pelo mesmo pastor. O gado é levado para a serre, onde fica até Setembro, o mais tardar princípios de Outubro - altura em que se colhe o milho. No interior da serra - dada a exiguidade das áreas cultivadas em redor da povoação - encontram-se as chamadas "BRANDAS", núcleos de povoamento temporário de carácter agricola ou pastoril ou misto, constituidos por choupanas e leiras de cultivo, onde o Soajeiro habita apenas na altura das sementeiras e das ceifas.


(uma BRANDA)

O Pelourinho, "rude no material e na arte", segundo LEITE DE VASCONCELOS, e cujo simbolismo é diversamente interpretado.


(Pelourinho do Soajo)

Em volta da eira comum, a presença - hierática - dos espigueiros, mais conhecidos por canastros ou caniços - onde o milho vai a secar antes de ser malhado. Para evitar a subida de roedores, os espigueiros têm a sua armação assente sobre pedras arredondadas ou mós. As fendas verticais destinam-se à ventilação.
Quem pretende utilizar a eira comum para a sua malha, coloca, na véspera do dia, uma vassoura de giesta debaixo de uma pedra, sinal por todos entendido.


(A Eira dos Espigueiros - Eira do Penedo)

Solidários entre si, os Soajeiros são conhecidos na nossa história pela sua independência e espírito de combatividade, de que é exemplo, entre outros, a figura quase lendária do Juíz do Soajo, e sem esquecer a fomosa rixa que eles, Soajeiros, há pouco mais de meio século tiveram com gente dos Arcos de Valdevez, onde um dos seus tinha sido maltratado. Combinada a desafronta, juntou-se um numeroso grupo de Soajeiros que, no dia marcado, varreu literalmente a Feira dos Arcos com paus, de que eram temidos jogadores. A quem procurava dissuadi-los, respondiam - "quando saímos do Soajo, já os sinos ficaram a tocar pelos que hão-de morrer".

Os Soajeiros conseguiram do Rei D. Dinis que "não seja permitida demora dos cavaleiros fidalgos naquelas paragens, senão o tempo suficiente que leva a esfriar um pão, exposto ao ar, na ponta de uma lança".
A deliberação tomada por aquele Rei respondia a uma queixa que lhe apresentaram os Soajeiros contra os fidalgos, os quais, "tratando-lhes as filhas e as mulheres pouco decorosamente", foram compelidos a "vender tudo o que ali possuiam e ir morar noutra parte, não sendo nunca mais permitido a qualquer fidalgo ou cavaleiro adquirir bens do dito concelho"."

Autor: Michel Giacometti



domingo, 1 de novembro de 2009

O dia dos Mortos!

Samhain, Halloween ou Todos os Santos.

Esses são nomes que apontam para a mesma festividade milenar que já foi abordada o ano passado em: http://ogalaico.blogspot.com/2008/10/o-nosso-ano-novo.html.

Porém, devido à enorme importância desta época no calendário pagão e natural, é essencial recordá-la e desenvolver alguns pontos a ela associada.

Como é sabido, os nossos povos ancestrais eram mestres em discernir os sinais que a Natureza lhes dava e, com o tempo, criaram engenhosos sistemas de medição das estações. Era para eles muito importante saber a quando se dava o Samhain pois era o seu fim de ano. Era aí que morria o Verão e começava o Inverno. O inicio e fim das suas duas estações.

Obviamente, a tradição religiosa de todos os Santos onde se adoram os mortos não faz mais que perpetuar de uma forma "fiscalizada" esta mesma tradição.

Uma assídua e cultíssima leitora deste espaço forneceu-nos um interessante documento que demonstra a que ponto as nossas civilizações antecessoras tinham esses assunto em conta, e os esforços que realizavam para os definir correctamente.

As seguintes imagens demonstram um elaborado sistema de medição solar (Cromeleque) encontrado na serra de Montemuro no concelho de Resende que, usa não só a geografia favorável, como uma serie de megalitos como pontos de referência.



Exemplo de como as medições seriam feitas


Através deste processo de beleza ímpar e que ainda hoje, se bem que em ruínas, populam serras, campos e o nosso imaginário, se geria a vida espiritual de antigamente.

Ontem teria sido mais uma festa de fim de ano e, hoje, a celebração de um ano novo, se não fosse a completa ignorância do povo em relação a estes assuntos.

Os que pensam ser mais espertos dizem que não faz sentido festejar marcos culturais importados dos USA. Concordemos todos com essa intenção se assim nos aprouver. No entanto, não nos esqueçamos que esta tradição em causa foi da Europa atlantica para lá e, de lá, só trouxe a vertente comercial e alguns pormenores corrompidos.

Cabaças demoníacas e similares, vestir de demónios ou bruxas e outros aspectos são costumes AUTÓCTONES desta festividade e não importações. Obviamente o objectivo seria celebrar esta morte do verão (hoje celebram-se os nossos mortos nos cemitérios) e eventualmente, assustar os demónios e a má sorte para que não viessem poluir este novo ciclo natural em que a humanidade entrava.

Bom Samhain para todos!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

As Carpideiras!

Com o passar dos tempos, mudam-se as pessoas, mudam-se os hábitos. Com o passar do tempo, é claro, muda o Mundo.

Por vezes parece que nada pode alterar alguns aspectos culturais pois, por mais invasões de sangue e de culturas externas que aconteçam, encontramos ainda raízes antiquíssimas que, dissimuladas pela amorfa apatia do ser humano moderno, nos relembram (a nós os mais interessados) a nossa história e evolução etno-social.

Porém, ao mesmo tempo, muitíssimos outros pormenores mais ou menos relevantes se perdem para sempre.

Frequentemente, um acto comum e tido como certo, desaparece em poucas décadas sem que ninguém se preocupe ou dê realmente conta disso. Na verdade, basta uma geração nascer sem ter contacto com tal manifestação cultural, para que esta se extinga ao fim de incontáveis anos de existência.

Tal aconteceu com as Carpideiras.

Carpideiras Mexicanas

Profissão antiquíssima com milénios de existência, algumas mulheres eram recrutadas para chorar os mortos dos outros. Ora em lamentos, ora em orações, ora em lágrimas. Essas eram sempre pessoas especiais. Pessoas de grande sensibilidade capazes de a demonstrar nestes momentos tão delicados. Hoje, seriam actrizes, naquele tempo utilizavam este seu talento de outra forma.

Tempos houveram, que ao nosso povo, não chegavam os seus próprios prantos. Tempos foram em que, os que podiam, davam-se ao luxo de contratar mulheres que lamentassem também a perda de uma vida que não as afectava pessoalmente.

Representaria esta mulher a metáfora do mundo? Será que os entes queridos tentavam de forma figurada por o universo inteiro a prestar uma homenagem através do choro desta mulher?

O que se sabe é que as comunidades antigas isso permitiam. A vida comunitária e os laços sociais possibilitavam que tal acto fosse aceite naturalmente pois, a perda de uma vida querida, dizia muito a todo um lugar, aldeia ou até vila.

Em Portugal, ao contrário de outros países como México ou Brasil, esta "profissão" ocasional já não existe. No entanto, em 1970, o Honrado e Santo Homem Michael Giacometti, registou uma das ultimas (se não mesmo a última) Carpideiras da nossa nação.

Por entre recusas em desenterrar do passado (por um motivo tão "fútil" como o mero registo académico) este acto tão intenso e pessoal, ficam para a memória intemporal das gerações vindouras, estas últimas imagens de uma Carpideira e seu lamento.

"Mas como não Chorar, quando a Vida é esta, e a Dor é Paga?"

domingo, 18 de outubro de 2009

Balneario Castrejo de Galegos


Sendo um dos 4 principais banearios castrejos das 16 "Saunas castrejas" que se conhecem no Entre Douro e Minho é de lamentar que este monumento de Santa Maria de Galegos em Barcelos não seja tratado com o devido respeito seja por quem for!



Digamos que o principal do monumento não está danificado ou grafitado mas veremos por quanto mais tempo!




terça-feira, 13 de outubro de 2009

Em Outubro, pega tudo!!

Esse é mais um daqueles ditados populares que os antigos alegremente atiram ao ar gabando, de certa forma, o seu conhecimento das coisas todas.

Outubro, um dos meses mais belos do ano por ser onde o Outono melhor se afirma, é também o tempo das bolotas. Todos os anos, OGalaico recolhe algumas delas e planta-as com o intuito de, no ano seguinte, as colocar no local onde se espera que vivam o mais tempo possível.

Assim foi o ano passado. Ao recolher algumas bolotas acabadas de cair, plantaram-se valiosas árvores autóctones. Este ano o mesmo se passou.

Logo pela manhã, com um convidativo céu azul subiu-se a serra à procura dos locais onde estabelecer as moradias das árvores em causa.


Por entre os rebentos do ano transacto estavam Carvalhos, Sobreiros, Nogueiras e Castanheiros. Tudo espécies locais que representam mais valias ambientais em termos de diversidade e produção de alimento para os animais.

No fundo, o oposto total das pragas de Eucaliptos.


Um cuidado a ter ao plantar árvores passa por escolher um local com poucas probabilidades de serem esmagadas por pessoas ou, mais provavelmente, queimadas por qualquer incêndio antes que atinjam um tamanho que as proteja com mais eficácia.

Sítios que costumam ter pouco mato, clareiras ou até espaços urbanos com pequena taxa de risco são locais ideais.


Se possível, tentar plantar as espécies junto a estruturas que as protejam das intempéries e dos seres vivos. Muros e penedos são perfeitos e, no caso dos Carvalhos, totalmente ao gosto destas plantas.


A base da árvore deverá também ser protegida com algumas pedras para que as pessoas saibam que esta foi plantada propositadamente (esperando assim que haja mais respeito por ela) e também para resguardar a eventual erosão do solo que, nesta fase inicial, seria fatal.


Este ano, OGalaico resolveu colocar estes seres vivos num santuário de montanha onde existiram na sua envolvente vários castros.

No local procedeu-se à recolha de Bolotas dos muitos Carvalho que lá se encontram e, como podem ver, já está tudo preparado para que, no ano que vem, esse processo seja repetido.


Para além da satisfação natural que se obtém do facto de estar a contribuir, se bem que numa escala quase insignificante, para a melhoria do meio ambiente, será também curioso esperar várias décadas e um dia, já velhos e cansados, confirmar que aquele enorme ser, sob o qual uma família está a conviver num pic-nic, foi ali posto por si.

Finalmente, OGalaico acha que todas as pessoas possuidoras de automóveis ou contribuidoras em emissões de carbono deveriam ser obrigadas a plantar árvores. O estado deveria tornar essa actividade um hábito para as gerações vindouras e fomentar a disponibilização de locais próprios para isso.

Mas eventualmente, só daqui 200 anos o nosso Portugal terá consciência capaz de por isso em prática.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mais estrangulamento centralista: Nicolinas vs Fado!

Um dos mais escandalosos actos de desprezo do estado central Português, e da sua capital universal, deu-se com a sabotagem da candidatura da cultura oral comum do Norte de Portugal e Galiza a património mundial.


Naquela altura, as comissões de ambas os lados das fronteiras tinham redefinido alguns pontos para serem finalmente aceitas as candidaturas pela UNESCO quando, para espanto de todos, o estado Português silenciou-se dentro das suas barricadas e simplesmente ignorou os protestos e pedidos de audiência por parte da organização.

O estado Espanhol apoiou devidamente a Galiza nesse projecto mas, Lisboa, quando se deu conta que essa candidatura apenas dizia respeito ao Norte de Portugal e não a todo o país, provavelmente achou inútil esta iniciativa ou, eventualmente, mais seguro não reconhecer pertenças culturais entre ambas as margens não fossem alguns Portugueses começarem a terem ideias ainda mais regionalistas.

Esta semana aconteceu mais um episódio desta constante repressão cultural que as terras Lusitanas exercem sobre as Galaicas. Quem sofreu desta vez foi Guimarães e as suas conhecidas festas Nicolinas.

Fiquemos com um artigo do Diário do Minho publicado a 8/10/2009:

Candidatura das Nicolinas marca passo:


Guimarães tem elaborado um dossier de candidatura das Festas Nicolinas a Património Oral e Imaterial da Humanidade. Mas está na gaveta desde Novembro de 2008. Agora, o estado Português decidiu candidatar o Fado àquela distinção, pelo que a candidatura Vimaranense vai ter que esperar pelo menos, até 2014.

O presidente do grupo parlamentar do PSD na Assembleia Municipal de Guimarães, André Coelho Lima, não se conforma com o facto da candidatura das Festas Nicolinas ter sido "esquecida" e "completamente secundarizada" na candidatura a Património Oral e Imaterial da Humanidade da UNESCO. O dossier da candidatura está pronto. Foi elaborado por uma comissão especializada daquele órgão, especialmente constituído para aquele efeito. Foi entregue nas mãos da gestão socialista do Município em Novembro de 2008. Mas, desde essa altura, "não se conhece qualquer desenvolvimento no processo". "Só a inoperância do executivo Municipal justifica que, apesar da candidatura das Festas Nicolinas ter sido a primeira a criar as condições para poder ser apresentada por Portugal, tenha sido ultrapassada pela candidatura do "Fado", que à boleia das condições criadas pela candidatura das Festas Nicolinas, se apresenta agora como sendo a primeira candidatura de Portugal", lamentou André Coelho Lima.


A pretensão da elevação das Festas Nicolinas a Património da Humanidade vem de longe e despoletou mesmo, através do pedido de ratificação à Assembleia da Republica, "os procedimentos para que fosse agora possível, em Portugal, a apresentação de quaisquer candidaturas" à distinção da UNESCO, consideram os social-democratas. Porém, apesar da conquista, se adicionarmos o facto de que, nos termos da Convenção da UNESCO, cada Estado apenas poderá apresentar uma candidatura em cada triénio, tal significa que, assumida a candidatura do Fado, para o ano 2011, inviabilizará que qualquer candidatura seja possível em Portugal, pelo menos até 2014. " É muito lamentável, mas é assim" condenou Coelho Lima, acrescentando, ainda que o adjunto do presidente da Câmara de Lisboa Miguel Alves, elogiado pelo empenho em favor da candidatura do Fado, é simultaneamente líder da bancada parlamentar do PS na AM e perfeitamente conhece a pretensão Vimaranense.

"Guimarães será, em 2012, Capital Europeia da Cultura, o que, associado ao facto de ter sido a candidatura das Festas Nicolinas a permitir que possam ser formalmente apresentadas candidaturas pelo Estado Português a Património Imaterial da Humanidade, são factores que justificariam por si só, que a candidatura das Festas Nicolinas assumisse prioridade entre as candidaturas a ser apresentadas pelo Estado Português", defende o PSD, em nota remetida à imprensa. Na mesma comunicação, os social-democratas respeitam a importância do Fado, mas sustentam que as Nicolinas são de "tradição significativamente mais antigas e com origens nas raízes populares minhotas e Vimaranenses. por isso, lamentam que a "inoperância da Câmara Municipal na gestão deste processo de candidatura possa ter impedido a concretização da expectativa de ver a candidatura das Festas Nicolinas ser apreciada no ano em que Guimarães será Capital Europeia da Cultura, hipótese singular de conferir mais força à sua elevação a Património Imaterial da Humanidade".


Recorde-se que a sugestão de candidatura das Festas Nicolinas a Património Oral e Imaterial da Humanidade foi inicialmente sugerida por Lino Moreira da Silva, velho Nicolino e professor da Universidade do Minho, nomeadamente através de um artigo publicado na imprensa em Janeiro de 2005. Segundo Lino Moreira da Silva, as Nicolinas integram totalmente as exigências da UNESCO porque, entre outros aspectos, detêm uma antiguidade invejável, remontando, com parte dos elementos que lhe deram origem, a tempos medievais.

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OGalaico realça então 2 situação lamentáveis sobre esse assunto:

1º- O aproveitamento de Lisboa e a total falta de respeito e tacto do poder central para com a cidade de Guimarães. Os políticos quando vem ao Norte continuam a falar sobre a necessidade de dinamizar a região pois um Portugal forte só pode existir se o Norte estiver saudável.

No entanto, o que se verifica na prática e sempre o contrário. Quando o Norte trabalha para ter acesso a certas oportunidades que possam interessar a alguém em Lisboa, imediatamente esta aberta é redireccionada para essas sanguessugas lusitanas.

Há pouco Sócrates e Cavaco Silva vieram a Guimarães praguejar as virtudes da Capital Europeia da Cultura e o impacto que uma organização bem sucedida terá em Guimarães, no Minho e em todo o Norte do país.

No entanto, o governo que eles gerem forneceu fundos de apoio lamentáveis quando comprados a investimentos feitos em assuntos menores no Vale do Tejo e, para cúmulo, desprezam uma festividade milenar que iria ser usada como âncora deste mesmo projecto, que, segundo eles era suposto ser tão importante para a região e para o país.

Enfim, hipócritas...

2º- Um reparo também para esta guerrinha partidária nos bastidores da câmara Vimaranense que surgiu ao publico em plena época de eleições.

Eventualmente, se o PS for culpado de um certo desleixe (bem que pouco possa fazer se a capital universal lisboeta decidir privilegiar esta inoportuna candidatura do Fado, em vez de permitir promoção oportuna das festas Nicolinas visando a Capital Europeia da Cultura) na gestão desta candidatura a Património Mundial da Unesco, não menos triste é o PSD vir critica-los quando foi a gestão Socialista que trouxe a Guimarães a realização deste evento.

Se realmente o PSD estivesse mais preocupado com a Capital Europeia da Cultura e Festas Nicolinas do que com as eleições, deveriam terem-se aliados ao PS na pressão junto a Lisboa e não dividir ainda mais as entidade Vimaranenses num assunto tão importante.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Galaicofonia: Galegos de Portugal


O galego não é português, o português é que é galego!

Esta é a verdade histórica. O povo galego de origem celta ocupava o norte de Portugal e a actual Galiza espanhola. Não deveremos esquecer que Afonso Henriques era Galego e que Portugal integra parte da Galiza e territórios conquistados.

Os portugueses não inventaram o português, pelo contrário, falaram sempre galego e foi o galego que foi modificado e constitui a matriz linguística actual do português.

Entre o galego e o português existem apenas 7% de diferenças e entre o português de Portugal e o português do Brasil há menos de 3% de diferenças, com o novo acordo haverá muito menos. Para uma língua ser diferente é necessário ter cerca de 20% de diferenças, o que não é o caso do galego e do português. Por isso são a mesma língua.


O galego é português arcaico (ou melhor, o português é galego moderno), a língua que se falava no tempo dos descobrimentos. Porque Portugal teve contacto com vários povos na aventura da expansão, e sobretudo porque tinha aquilo que os galegos espanhóis não tiveram, a sua independência, puderam modificar e fazer evoluir a sua língua.

Os galegos de Espanha foram proibidos de se expressar publicamente em galego.

Hoje a Galiza luta pela recuperação da sua cultura linguística, havendo um movimento político que pretende pela lei castelhanizar o galego, existindo um outro movimento com suporte popular que defende um galego genuíno, baseado nas raízes galegas. Parte destes galegos defende que o galego é a origem arcaica do português e que o português é o galego moderno desenvolvido pelos galegos portugueses.

Porque não se pode recuperar a história que os galegos de Espanha foram impedidos de escrever, este grupo de galegos defende que os galegos devem acompanhar o português, que é galego moderno, e não o castelhano, que não é nem nunca foi galego.


Não devemos esquecer que os castelhanos dizem "iglesia", os galegos dizem "igrexa" e os portugueses dizem "igreja". Do galego para o português o som "x" evoluiu para o "j" que é mais suave. Os castelhanos dizem "universidad", os alegos "universidade" e os portugueses "universidade".

Depois há termos tão comuns em Portugal que existem também na Galiza espanhola como "xunta de freguesia", "proxecto", "associaçom", "xosé", etc. "mão" diz-se mám ou máu (e não manu..), enquanto "irmã" diz-se "irmán" ou "irmá (e não hermana), "casa" diz-se como "caça" e "gente" diz-se xente...

Diferenças na wikipédia:
o cão do meu avô é parvo. (português)
o can do meu avó é parvo. (galego popular)
o cam do meu avô é parvo. (galego na ortografia proposta Associaçom Galega da Língua)
el perro de mi abuelo es tonto. (espanhol)

Os galegos de Espanha ainda têm muitas decisões a tomar: se querem falar castelhano não precisam do galego, se querem falar português não precisam do galego, se querem falar galego arcaico e esperar pelos resultados históricos...


Para já é historicamente incontornável que o galego é a mesma língua do português medieval, e que o português actual está uns anos à frente do galego.

Veja por exemplo que afinal "Cristóvão Colombo" não era italiano, era português, no seu tempo CRISTOFÕM COLON (Pedro Diaz de Toledo referia-se a Colombo por "El Português")era oficial da marinha portuguesa do tempo dos descobrimentos, viveu em Porto Santo e casou com a filha de Bartolomeu Perestrelo... Consta que era neto de João Gonçalves Zarco, filho bastardo de D. Fernando, logo príncipe de Portugal...

Colon (do galego), e não Cólon (do castelhano)...

Para efeitos de tradução, naturalmente que o galego não pode servir de base a qualquer tradução... Contudo, nas rectificações dos arcordos ortograficos portugueses de 1986, 1990 e 2008, os galegos foram convidados a participar de forma não institucional, ou seja, funcionaram como "observadores", porque têm interesse na evolução do português e o galego está em evolução.

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vale do minho
a nova galiza

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

É um marco importante neste meio de divulgação da nossa CULTURA POPULAR...atingimos as...

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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Gira a Roda!

Mais uma vez se encontraram no terreiro todas as gerações e extractos sociais. É ali mesmo, sem palco nem teatro, onde se reproduzem gestos e sons antigos, que um povo se define.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Nova denuncia de abandono do Património Castrejo!

A Associação de Protecção e Conservação do Ambiente - APCA volta a público para denunciar o "estado de abandono" a que as politicas culturais voltaram a Cividade de Afife-Ancora, cujo território está dividido entre o concelho de Caminha e, maioritariamente, o conselho de Viana do Castelo.

Estado da entrada da Cividade. In: http://afifedigital.blogs.sapo.pt/88768.html

Apresentada por muitos especialistas como "uma das estações arqueológicas castrejas mais importantes do Noroeste Ibérico", não só devido à área que ocupa, mas também ao espólio encontrado nas diversas intervenções arqueológicas efectuadas ao longo dos últimos 130 anos, chefiadas por alguns dos mais reputados arqueólogos nacionais e europeus.

Segundo a APCA, esta estação "passou a ser conhecida mundialmente" após os trabalhos do arqueólogo Armando Coelho Ferreira da Silva, com metodologias arqueológicas inovadoras e grande rigor científico, na década de oitenta do século passado, de que "resultou um valioso espólio" que se encontra patente ao público no museu Arqueológico de Caminha.

Aspecto do desleixe em que se encontra a Cividade. In: http://afifeambiente.blogs.sapo.pt/5466.html

Esta associação, cujo plano de acção a levou a efectuar visitas ao património construído do Alto Minho, vem manifestar a sua preocupação face ao estado de abandono de vários espaços arqueológicos , nomeadamente este "tomado por vegetação infestante, actos de vandalismo e, recentemente, irracionalmente desvalorizada com a implantação de uma antena de comunicações no seu principal trilho de acesso".

Os responsáveis da Associação acham "inacreditável" que um local amplamente referenciado nos roteiros turísticos possa ter chegado a este estado, dando ao mundo uma "imagem negativa" levada pelos turistas.

Nos primórdios de uma Cidade:

A Cividade de Afife-Ancora é um importante povoamento da idade do ferro com indícios de romanização, localizado a cerca de 1250 m da actual linha de costa com uma altitude máxima de 187 m, sobre o contraforte noroeste da Serra de Santa Luzia, na fronteira administrativa de Afife (concelho de Viana do Castelo) e Âncora (concelho de Caminha), que para além de integrar o conjunto dos grandes povoados Castrejos que dominavam o Litoral da região, tem, ainda, no Castrejo do Noroeste Ibérico. As dimensões e localização , assim como a organização urbana ( três linhas de muralhas, casas circulares e ovais, condutas de escoamento de àguas, fontes de mergulho, fornos, pequeno sepulcros em forma de cista etc.) da Cividade de Afife-Ancora, permitem enquadrá-la no grupo dos grandes povoados Castrejos proto-urbanos, da fase mais recente da idade do Ferro. Embora as suas origens remontem aos séc. VI-VII a.C, a sua maior ocupação e importância terá ocorrido por volta dos séc. II a I a.C, prolongando-se pela fase inicial do período Romano. A cividade de Afife-Ancora conjuntamente com outros povoados mais pequenos, controlava a linha de costa entre santo Izidoro (Moledo) e Montedor (Carreço), os vales e estuários do Âncora e de Afife e o acesso ao estanho e ouro das serras de Santa Luzia e de Agra.


A cividade de Afife-Âncora é um dos povoados mais emblemáticos da Cultura Castreja sendo daqui, para além de outro espólio mais importante, os famosos lintel e ombreira decorados com o extraordinário cordame que Martins Sarmento levou para o museu de Guimarães que ostenta o seu nome.

Artigo publicado no Diário do Minho de 16/09/2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Feiras Novas: A Rainha das Festas!

Chega-se o Solstício de Outono e o Verão despede-se arrastando languidamente os seus últimos raios pelos montes e vales da nossa terra amada. Os fins de tarde pintam-se de laranja num tom que desperta um saudosismo injustificado (mas estranhamente lógico) no nosso âmago.

As generosas brisas de fim de tarde trazem-nos aqueles cheiros de colheitas maduras. Uvas quase no ponto e milho doirado. Se fosse há umas décadas atrás, talvez ouvisse o cantar de uma mulher e o harmónio a repenicar-se todo à volta dela durante uma desfolhada numa eira próxima. No entanto, brevemente, irei ainda ouvir os cada vez mais raros: "Toooooorrrrrnaaaaaa..!!" proclamados por um cansado lavrador que ainda insiste a subir os enforcados Minhotos.


Talvez sejam as estrelas que nos encantam a alma com histórias passadas ou as carvalheiras que , começam agora a mudar de cor e a dar bolota, a sussurrar encantamentos numa língua antiga. O que sei é que algo nos faz melancólicos nesta época. Talvez seja o sangue... Talvez as nossas heranças e tradições estejam ainda tão presentes no subconsciente que sejamos forçados a sentir a falta destas coisas todas que suportaram as nossas comunidades durante incontáveis séculos.

Por isso, enquanto estamos a despedir-nos do Verão e a acolher o Outono e as suas colheitas, surge a maior das festas: As Feiras Novas de Ponte de Lima.


Esta é a suprema manifestação cultural do Minho. Nesta cada vez mais emblemática festividade, reúnem-se, como em nenhum outro lado, todos os ingredientes do Arraial mais concorrido do país. Heis o ponto de encontro de todos os tocadores, cantadores, folcloristas e amantes da cultura popular Nortenha.

Por isso, muitos podem, e com razão, estar com saudades do Verão. Eu, por outro lado, quero sempre que ele passe rápido para que, uma vez mais, possa ir às Feiras Novas.

Programa das festas (19 a 21 de Setembro):

http://www.cm-pontedelima.pt/pagina/imagens/fn2009_programa.pdf


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Agosto - Mês das Romarias

O mês de Agosto, como roda a gente sabe, é o mês onde as romarias mais foras ganham.

Na região Galaica são às centenas. Das mais pequenas às maiores, das mais antigas às que apenas andam à caça do emigrante, seria por isso impossível e enfastiante falar sobre todas.

OGalaico já por diversas vezes explicou as origens destas manifestações (Das mais honestas) antiquíssimas. Esqueçam o padroeiro, esqueçam os andores. Todas estas componentes são quase como maquilhagem que esconde a verdadeira idade da romaria.

As suas essencias são pagãs. Quem conseguir abrir a mente a estas celebrações facilmente perceberá o transcendente simbolismo de certas situações.

Escolhi este ano para exemplificar o São Bartolomeu do Mar em Esposende.


Foto de Armindo Costa de 1972 retirada de:
(http://olhares.aeiou.pt/1971___romaria_de_sao_bartolomeu_do_mar_foto1886884.html)

A singularidade desta festa reside no seu processo simbólico quase único que teve origem, pelo menos no séc XVI se bem que é evidente que as origens dos cultos sejam muito mais antigas do que o momento em que vêm relatadas nos documentos.

As gentes locais e forasteiros de toda a região deslocam-se à freguesia de São Bartolomeu do Mar para darem 3 voltas à igreja com um pinto negro ao colo. Posteriormente passam por baixo do andor e seguem para o mar onde mergulham as suas crianças ("furam") nas ondas sempre em número impar.


O objectivo deste processo seria o de afastar o demónio das crianças e as doenças com que este costuma afectar as crianças: Gagez, Epilepsia e Gota.

Os antigos povos tinham os seus altares mágicos em locais especificos e devidamente assinalados. Muitos deles são so que hoje servem as nossas necessidades católicas. Não é por isso estranho que nesta mesma pequena freguesia se encontre um belíssimo menír monumento que, para os nossos antepassados carregava um enorme peso simbolico e ritual.


O São Bartolomeu do Mar é apenas um exemplo dos muitos que populam a nossa terra. A nossa herança cultural é enorme e bem mais interessante do que a monótona ladainha que nos contam da catequese. Assim, no São Bartolomeu como em muitos outros lugares da Gallaecia, antiquíssimos monumentos mágicos e antigos altares se fundem com a religião monoteísta criando esta inexplicável atracção que tão bem define a essência do povo Galaico: A ROMARIA!


sábado, 15 de agosto de 2009

Malhada Tradicional do Centeio




Este video acho-o, particularmente, cheio de boa disposição e alegra-me ver esta recriação e as suas gentes.

Queria destacar o "dialecto" galaico-minhoto que aqui ainda se pode ouvir, embora um ou outro interveniente o tente disfarçar para a televisão.

É o caso do primeiro senhor que fala com o cuidado de pronunciar bem os "sss". É uma prática bem comum nestas gentes quando falam para forasteiros.

domingo, 12 de julho de 2009

Não há paciência!

Estava eu a vasculhar os jornais regionais e eis que me deparo com esta notícia “Nasce Centro de réplicas romanas”

Terras de Bouro prepara-se para ter o primeiro centro de produção de artigos romanos do país. Os primeiros produtos deverão estar à venda até ao final do ano.

A primeira coisa que me ocorreu foi (para não ser mal educado): p*t* que p*riu estes gajos e mais os romanos!

Já não chegava levar com os romanos por tudo e por nada e vêem agora estes fulanos rebentar com a nossa paciência!

Se fosse, somente, um ou outro concelho com estas predisposições para a estirpe romana não havia mal, agora o problema é que é cada vez mais do mesmo!

Não consigo perceber… Como é que se pode idolatrar, cada vez mais, um povo invasor, e ostracizar, por exemplo o nosso rico, grandioso e diversificado legado castrejo.
Simplesmente não há direito!

A meu ver a prioridade é o património castrejo, pelo facto de ser o que mais riscos apresenta e o menos “presente”… e depois sim salvaguardemos o restante património capaz de enriquecer a herança cultural galaica num todo multifacetado!

Será que a nata de pensadores e decisores do norte de Portugal ainda pensam que os povos castrejos eram simplesmente bárbaros, desprovidos de qualquer conhecimento, sem capacidade criativa e por isso inferiores aos romanos e sem interesse?

Bom…meus amigos preparem-se para uma massificação de “reconstituições romanas” assim como aconteceu com as feiras medievais por todo o país!
É um bocado fatalista mas é o que eu prevejo para a próxima década!

Já não chegava as dezenas de gerações anteriores que cresceram a pensar que os nossos antepassados directos e os mais antigos da nossa região foram os romanos!

Sem ter um conhecimento aprofundado na matéria, pergunto-me porque é que não existem iniciativas nas escolas ou nas autarquias e associações culturais para a temática da Cultura Castreja junto das crianças, artistas, artesãos, criadores e público em geral?

Porque as iniciativas, por exemplo, de recriações castrejas em diversos castros que se realizaram até hoje são tudo menos castrejas, mas sim romanas!

Podia-se, por exemplo visitar, os castros, museus, sensibilizar para a simbologia galaica, o que representam, qual a sua força simbólica, qual os seu possível uso nos nossos dias… falar sobre lendas, tradições, estorias e lugarejos!

Ensinar a fazer um triskel, uma suástica um “saoserimão”e coisas do género. Seriam ideias, na minha opinião, muito enriquecedoras para as nossas gentes.

Era uma boa forma de perceberem o quão valioso é ter como ascendente o antigo povo Galaico e seria uma boa forma de manter essa cultura viva!

Lembro-me que aos 10 anos a minha primeira obra em trabalhos manuais foi um pequeno castro com pedras e colmo (que ainda deve existir lá numa qualquer prateleira da escola primária de Aboim da Nóbrega)!

Isso aconteceu porque tive a sorte de os meus pais e professores terem sido suficientemente sensatos em falar-me dos castros dando a referência de que “eram umas casas redondas muito engraçadas onde viveram os antigos”!

Assim de repente veio-me á memoria alguns concelhos digamos de “menor dimensão”, como o caso de Terras de Bouro, que se vêem libertando deste redemoinho romano.
Falo-vos, por exemplo, de Ponte da Barca, este pequeno concelho tem-se vindo a demarcar na defesa do seu legado celta-castrejo através das várias incitativas de sucesso: congresso celta, festival celta, iniciativas etnográficas, nomeadamente, o famoso “enterro do pai velho”.

Outro exemplo é sem dúvida o concelho de Boticas com os seus “colóquios internacionais de guerreiros castrejos”….

Ainda há esperança!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

"Mais um criminoso atentado ao Património da Póvoa de Lanhoso"

E eis que, há pouco mais de duas semanas, o impensável... repetiu-se: uma dessas empresas que infestam os nossos montes com eucaliptos entrou de rompante na chã do monte de Santo Tirso (freguesia de Rendufinho, Concelho da Póvoa de Lanhoso) e, usando do silencio e da aquietação de quem devia estar atento e da força de duas máquinas de terraplanar desmatou, rasgou, esburacou, dando início à plantação de umas centenas de pequenas árvores. Insensível á História, desinteressada daquilo que é o nosso Património, Não se coibiu de, á frente das enormes pás de potentes máquinas de remoção de terras, levar que constituíam paredes do que restava de um castro ainda por estudar.

Alertados pelo signatário, que por sua vez o tinha sido por um caçador que de quando em vez lá subia para ver os coelhos bravos que por ali existiam aos centos, os serviços da Câmara Municipal mandaram parar a obra. Tanto quanto conseguimos apurar, o empresário não possuía licenças para o empreendimento que encetara, embora os terrenos em questão estejam integrados nas chamadas áreas de Reserva Ecológica Nacional.

No momento em que escrevo este apontamento, desconheço se a obra vai parar de vez; se o empresário vai ser obrigado a arrancar (como seria normal que o fizesse, num país a sério...) as centenas de pés de eucalipto que já plantou e cujas raízes, em poucos anos, acabarão com aquilo que, do velho castro, está mais fundo do que as máquinas conseguíram destruir, para já não falar das águas que ali partem parta abastecer casas e fontes publicas nas freguesias de Rendufinho, Geras, e São João de Rei; nem sequer sei se o caso vai ser entregue às autoridades competentes, como devia, quer para o abuso (apetece-me dizer crime!) fosse definitivamente suspenso, quer para que representasse como que um aviso a todos os que, sem "rei nem roque" pensam que tudo lhes é permitido.

Este não é, aliás, caso virgem no concelho. Nas ultimas décadas , muitos tem sido aqueles que, sem terem quem os castigue, destroem o que querem, como querem e quando querem. Edificações megalíticas, castros, construções medievais , tudo tem sido alvo do (des)interesse desenfreado dos que entendem que o Passado é coisa morta, e que o que interessa são os euros proporcionados por uma partida de eucalipto ou a venda de uma parcela de terra, que só tem o valor que lhe pretendem atribuir se tiver bons acessos. E para os construir, rasgam, atulham, destroem.

Os exemplos são tantos que nem vale a pena enumerá los aqui. Só é pena que tudo isto aconteça sob o nariz das autoridades que, quando confrontadas, dão muitas vezes os ombros como se não soubessem o que se passa ou desconhecem a importância patrimonial dos locais que estão a ser vandalizados. Como quem diz que "o que não tem remédio, remediado está", que se o mal está feito já não há forma de voltar atrás.

Um castro incógnito mas identificado!

No caso em análise - o da destruição do castro de Santo Tirso em Rendufinho - e apesar de o mesmo estar identificado numa "Carta Arqueológica da Póvoa de Lanhoso", elaborada em 1991 por Henriques Regalo e Mário Brito (cf. Actas das IV Jornadas Arqueológicas, Lisboa 1990), Associação dos Arqueólogos Portugueses, (Lisboa, 1991), a verdade é que, oficialmente, para o município povoense, Castro ão existe! Desconheceria quem elaborou o Plano Directório Municipal esta "Carta Arqueológica", ou quem se dedicou a tal trabalho (trabalho bem pago, obviamente), preferiu fazer de conta que desconhecia? E se desconhecia, que competência se pode reconhecer a um PDM que tem, lapsos destes calibre? E mais: quantos locais haverá ainda no concelho, nas mesmas condições e sujeitos à "ignorância" e às "vontades" de quem tem mais amor aos euros do que à História?

Apetece-me aqui transcrever uma frase de um texto das arqueólogas Ana Maria Bettencourt e Isabel Silva ("O Património Pré-Histórico da Póvoa de Lanhoso. Que Valorização?", in Cadernos do Noroeste, série História 2, nº 20, Braga, ICSUM,s/dp.633): "Durante décadas", escrevem as arqueólogas, "a sociedade moderna orientou-se , essencialmente, para a valorização do 'futuro' , que encarava como 'evolução' e 'progresso', de acordo com uma lógica capitalista predominante (...). É neste contexto que se deixou destruir, sem preocupação de se efectuar qualquer registo científico, grande número de vestígios arqueológicos existentes por todo o país". E, agora, perguntamos nós: e nos dias que correm, será que as coisas mudaram? Não! continua tudo como dantes, pois evolução e progresso, para muitos, se não para a maioria, continua a ser fechar os olhos a tudo o que não sejam os seus próprios interesses financeiros.

Desconhece-se, ainda, como irá evoluir este processo. Sei que há pelo menos uma junta de freguesia (Gerás do Minho), que está a pensar accionar judicialmente a empresa por, alegadamente, esta ter invadidos terrenos que não lhes pertencem. Não sei o que farão em defesa de um bem maior e insubstituível a Junta de Rendufinho e a Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso. Mas que este caso devia ser denunciado ao ministério público para servir, de uma vez por todas e para que fique na memória de quem pensa poder fazer o mesmo no futuro e em locais idênticos, de lição, não tenho dúvidas.

De outra forma o património das terras de Lanhoso (e de muitas outras terras por este país abaixo) continuará a ser alvo da esperteza saloia de quem o quiser destruir. Sem ter de prestar contas.

Por José Abilio Coelho
In Diário do Minho, 6 de Julho 2009

domingo, 28 de junho de 2009

Torre de Hercules!

Ontem se fez história na comunidade galaica. Torre de Hércules na Corunha – Galiza classificada como Património da Humanidade.

Foi considerada como uma “obra excepcional” pelo comité, afinal trata-se nada mais, nada menos que o mais antigo farol no activo em todo o mundo.


Atribui-se a sua construção aos romanos, embora haja autores que apontam para o facto de já haver no mesmo local um farol antes da chegada dos romanos ao norte da Galiza.

Na base da torre está a inscrição MARTI AUG.SACR C.SEVIVUS LUPUS ARCHTECTUS AEMINIENSIS LVSITANVS.EX.VO. que indica como arquitecto um tal de Gaio Sévio Lupo, natural de Aeminia (actual Coimbra) que a construiu em comprimento de uma promessa a Marte deus da guerra.


No entanto existem várias lendas sobre a sua possível origem. Uma delas conta que Hécules chegou de barco às costas da Gallaecia e no lugar que se encontra hoje a torre enterrou a cabeça do gigante Gerión, depois de o vencer em combate.

Gerión, rei de Brigantium (actual Corunha), era um tirano que espalhava o terror com sua governação. Um dia decidiu-se pedir ajuda a Hécules. Este derrotou o rei e fez levantar a Torre de Hércules!


Outra lenda muito difundida é a lenda de origem irlandesa constante no famoso Livro das Invasões da Irlanda que aponta Breogam, líder do mítico Povo Milesiano que colonizou a Irlanda, como o construtor da torre de um alta torre. E que de acordo com a mesma lenda, Ith, filho de Breogam, teria avistado a Irlanda pela primeira vez do alto da mítica Torre de Breogam. Para compreender melhor consultem um antigo post de ogalaico.

No entanto o nome oficial deste magnífico monumento está relacionado com o deus e herói da antiguidade – Hércules.

Carlos Brochados de Almeida diz-nos que apesar do diminuto número de achados arqueológicos, o culto a Hércules é uma realidade no Noroeste Peninsular.

Para além do farol romano da Torre de Hércules existe ainda a referencia a este herói num Ara Votiva encontrada no Castelo de Lindoso, mas provavelmente originária da povoação castreja romanizada de Cidadelhe, onde consta a seguinte inscrição: HERCVLE com nexos em HE e VE, não se conseguindo detectar mais texto devido ao desgaste da pedra.

Existe também uma outra ara originária de Guimarães e uma estatueta em bronze encontrada em Santa Tegra, representando o herói, barbado e nu, com diadema na cabeça e na mão esquerda os três pomos de ouro da lenda das Hespérides.

Fora das zonas castrejas, as inscrições dedicadas a Hércules são mais de duas dezenas, concentradas na Lusitânia e na Bética.

Tal como Marte, muito venerado entre os povos do Norte, também Hércules é uma divindade ligada à causa bélica. Mas no geral o culto a Hércules difundido entre os romanos e pelos romanos está intimamente ligado a duas funções: a guerreira e a protectora. Funções essas intimamente ligadas com a própria Torre de Hércules.


As razões para o fácil acolhimento do culto a Marte e Hércules entre os povos castrejos do Noroeste Peninsular, explica-se pelo facto de o pugilato, a corrida, a escaramuça e o combate serem qualidade que determinavam o valor pessoal de um Galaico, qualidades aliás comum às demais sociedades indo-europeias.