quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um Portugal Monocromático em processo?


Há poucos dias a candidatura do Fado foi eleita como património da Unesco.

Até aí tudo bem não fosse uma pequena situação, na origem da candidatura, que eu já tinha mencionado AQUI.

Porém, admitindo que foi pouco ético o comportamento das autoridades Portuguesas, também sou capaz de admitir que, obviamente, o Fado merece mais essa menção do que uma festividade que pouco extravasa os limites do concelho / região.


Apesar da contínua tentativa de fazer o Fado passar por estilo musical de referência Nacional, tinha andado a encarar esta situação com graça e a divertir-me explicando, a quem quisesse ouvir, que o Fado é a voz de Lisboa e não diz respeito a mais ninguém. Nem a Coimbra que o desenvolveu através de estudantes Lisboetas! Obviamente, isso não faz com que seja mais ou menos (até porque o é sem dúvidas) digno do estatuto em que foi colocado oficialmente.


Como Português já estou, no entanto, mais do que acostumado às tentativas de imposições culturais ridículas. Imaginem a parvoíce que seria fazer dos Gaiteiros Galegos (de cultura Atlântica) a imagem de Espanha (de Cultura mista). Pois bem, é o que estão a fazer em Portugal. Impor a imagem da cultura de uma cidade ao resto do país.

A minha paciência esgotou-se porém quando vi esta reportagem:

http://sicnoticias.sapo.pt/cultura/article1039534.ece

"Um dia depois do Fado ter sido considerado Património Imaterial da Humanidade, já se fala de outras possíveis inscrições portuguesas. É o caso do canto alentejano ou da dieta mediterrânica."

A minha frustração advém da antecipação que a minha cabeça já está a fazer. Dentro em breve teremos mais duas fontes de propaganda nacional a dar uma imagem falsa de Portugal. Isso porque duvido que os responsáveis pelas hipotéticas candidaturas se preocupem com a falsidade da dieta mediterrânica em grande parte do território nacional.


Alguns exemplos:

- O Azeite é uma importação em grande parte do país. Veio substituir a gordura de origem ANIMAL (coisa completamente adversa à gastronomia mediterrânica) que era uma característica Atlântica. De facto, com a chegada do Milho Sul Americano e a consequente ocupação das pastagens nos vales (outrora dedicados à criação de gado) para seu crescimento, as populações compensaram o decréscimo de um recurso com o outro.

- A carne vermelha é uma presença indissociável nas terras a Norte do país. Até em trás-os-montes, onde o Azeite teve uma presença mais antiga, esta era uma fonte de carne primordial. As aves e outras carnes eram secundárias. Apenas o porco o superava.

- O próprio vinho. no Minho e Douro Litoral, é completamente diferente do das zonas mediterrânicas. Tão diferente que é único no mundo. Originalmente, a Cidra seria a bebida alcoólica local.

- O consumo de peixe e mariscos, típicos da cultura mediterrânica não se enquadra, até há pouco tempo, em vastíssimas regiões do país. Foi na Grécia que nasce a designação "alimentação mediterrânica". Aí sim! Muita da população teria acesso a esses produtos. Especialmente as que viviam nas centenas de ilhas e ilhéus pertença deste país. Em Portugal, a carne estaria dominante em todo o lado a não ser nas zonas puramente litorais.

Campo-Prado Minhoto usado para cereal no verão e fonte de alimento para gado bovino no inverno - Realidade tipicamente Atlântica.

Portanto, e poderia alongar-me, alguns dos requisitos para a designação de "alimentação mediterrânica", simplesmente não existem ou, por outro lado, são importações mais ou menos recentes. Se isso contasse para definir um país como tendo esta dieta então, hoje, todo o mundo ocidental poderia aderir à candidatura.


Agora, acerca do "canto alentejano", acho essa hipótese francamente ridícula. Mais uma vertente cultural de cariz totalmente mediterrânico está a ser hasteada em nome de Portugal. Porém, esse, ao contrário do fado, tem uma importância e expressão nacional que, simplesmente, não merece uma referência da UNESCO. Pelo menos, à frente de outras formas de expressões nacionais com mais peso...

Existem de facto outras formas de expressões musicais com dimensão humana actualmente superiores ou, antropológicamente-etnograficamente mais interessantes (concordo com o possível debate que essa afirnação merece) mas que, talvez por não ter afinidade com Lisboa, os nossos governantes não conheçam.

Falo por exemplo de:

Cantadeiras do Vale do Neiva - Uma referência nesta arte
- Cantos Polifónicos.

Quase sem paralelo no mundo, atraiu Michel Giacometti que ficou fascinado. É o resultado de uma vivência comunitária ancestral. O canto polifónico, maioritariamente feminino, é um museu de antropologia por si só. Religiosos, de trabalho ou lúdicos. Contavam histórias de amores, marcavam ritmos ou, até, lendas antigas (à moda dos contos cantados Transmontanos, também eles dignos de referência).


- Cantares ao Desafio.

Já anteriormente falei deles. Ver AQUI.

De origem medieval, os trovadores rivalizavam entre eles com versos poéticos sobre assuntos de todo o tipo. Hoje em dia, a versão mais popular deste antigo hábito, pode ser apreciada em todo o local no mundo onde hajam pelo menos meia dúzia de Portugueses. De origem Nortenha, esta tradição (ou melhor, uma das determinadas formas de exprimir esta tradição presente em quase todo o território) foi exportada para todos os continentes e tem uma massa humana de interpretes e amantes que o Canto Alentejano nunca teve nem nunca terá.

Não me interpretem mal. A comida mediterrânica é boa. Os Cantares Alentejanos tem a sua piada. Contudo, a primeira não representa Portugal e, a segunda, não tem importância nem dimensão humana que chegue para o justificar.

Em todos esses casos Lisboa aposta em emblemas que lhes são familiares e tenta impô-los a todos os Portugueses. Portugal será sempre visto como um país mediterrânico apesar de não o ser. Se algumas regiões tem fortes afinidades e possam ser confundidas, outras são o completo oposto.

Serra do Gerês - Hoje em dia um dos locais que ainda exibe de forma evidente uma cultura regional que nada tem de "mediterrânico".

Eu, no que me toca, defenderei sempre a minha realidade não deixando que as imagens que certos inventam e usam em seu favor se sobreponham às que me são queridas.Link

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

"Famalicão" (1940) - Manoel de Oliveira

Mini Filme - Documentário de Manoel de Oliveira interessantíssimo em vários aspectos.

Retrata uma sociedade em fase de desenvolvimento pré-industrial. O momento onde o mundo rural começa a fundir-se com a modernidade.

Impressiona ver Famalicão, uma região hoje densamente povoada e fortemente marcada pelo caos urbanístico, aparecer ainda com um ambiente natural / paisagístico que, hoje, só é possível encontrar no Parque Nacional e terras à volta.

De referir que apenas 70 anos, menos do que a vida média de uma pessoa, passaram entre o paraíso Natural de uma terra com todos os recursos e potenciais possíveis de imaginar, e uma actualidade onde já nada poderá reverter a destruição Natural, Patrimonial e Social.

Qual será o nosso futuro e o futuro das nossas terras tendo em conta o rumo actual da civilização?

domingo, 18 de setembro de 2011

Pitões das Júnias - Encontro de um povo

Enquanto as autoridades falam e conversam sobre meios de promover as relações inter fronteiriças, através de complexas e inconsequentes medidas políticas, o povo, esse, demonstra que, com uma mero convívio, se alcança mais do que em meses fechados em escritórios.

Esse convívio das gentes das icónicas terras de Pitões demonstra, numa micro dimensão, que é bem simples juntar um povo que, no fundo, sempre foi o mesmo.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Visita de mês de Agosto: Senhora da Graça - Mondim de Basto

Mês de Agosto é mês de férias (menos para mim). Aproveitem o dia e façam uma visita a um dos mais belos locais da Gallaecia Bracarense!

sábado, 23 de julho de 2011

Galiza obtém reconhecimento oficial como território lusófono por parte da CPLP

O trabalho da Academia Galega da Língua Portuguesa obteve ontem o seu mais importante fruto até hoje, ao ser reconhecida como “Observadora Consultiva”, por proposta do governo do país que exerce a presidência da CPLP, neste caso o da República de Angola.

Todos os estados membros da CPLP apoiaram unanimemente a proposta angolana, que converte a AGLP a primeira entidade que, sem pertencer a um Estado membro, goza da condição de “Observadora Consultiva”. A Galiza é, aliás, a única nação lusófona que não integra a CPLP como membro de pleno direito devido a que carece de Estado próprio e que Espanha e as instituições autonómicas têm até hoje desprezado qualquer acordo com o âmbito de povos que no mundo se expressam na nossa língua.

Um passo em frente de importância histórica

O acontecimento de que informamos tem importância histórica por vários motivos: para já, afirma implicitamente a existência diferenciada da Galiza como nação sem estado que, apesar de estar submetida à soberania espanhola, faz parte de facto do espaço internacional dos países lusófonos, um dos maiores em termos de número de falantes no mundo.

Além do anterior, o reconhecimento atingido por uma entidade não governamental como é a AGLP deixa em evidência o abandono oficial que sofre o mais importante ingrediente identitário galego: a nossa língua, cuja política está em mãos de instituições inimigas da mesma ou, no melhor dos casos, irresponsáveis que até hoje têm desistido de dar ao nosso povo o papel que lhe corresponde como berço histórico do espaço internacional lusófono.

Enquanto a Real Academia Galega, ligada à oficilidade espanhola, leva décadas sustentando a visão isolacionista que do nosso idioma interessa dar ao Estado espanhol, a Academiga Galega da Língua Portuguesa, sem quase apoios institucionais, conseguiu em poucos anos que a CPLP afirme a legitimidade dos princípios reintegracionistas: os princípios da verdadeira soberania linguística galega.

Por último, e indo para além da significação linguística e identitária, este gesto vem demonstrar que é possível atingir conquistas sem contar com o apoio das instituições, agindo de maneira autónoma, como povo sujeito de direitos e sem complexos.

A decisão do Conselho de Ministros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, reunido no seu XVIII plenário em Luanda, reconheceu a existência da Galiza como território lusófono, termo internacionalmente aceite na atualidade para se referir ao que, em termos de genealogia histórico-linguística, deveria denominar-se “galegofonia”

Seja como for, do Diário Liberdade só nos resta enviar os nossos parabéns à Associação Galega da Língua Portuguesa e às entidades que nos últimos meses têm sustentado de maneira discreta, segundo agora comprovamos, efetiva, uma iniciativa importante para afirmar a nossa identidade linguística, que nos situa como nação soberana no quadro internacional da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

Sendo essa também a causa que move dia a dia o labor deste humilde espaço informativo, findamos estas linhas com uma saudação aos nossos leitores e leitoras da Galiza.

Parabéns ao Povo Galego!

Fonte: http://paranablogs.wordpress.com/2011/07/22/galiza-obtem-reconhecimento-oficial-como-territorio-lusofono-por-parte-da-cplp/#comment-264

Mais informações AQUI!

_____________

Agora, digo eu, só falta a erradicação do termo Lusofonia e a utilização da palavra correcta: GALAICOFONIA.

Isso, porém, será um sonho que, muito provavelmente, nunca virá a ser realizado.

sábado, 9 de julho de 2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Concelho dos Arcos de Valle de Vez n'O Minho Pittoresco.

Livro de José Augusto Vieira, 1882

Arcos de Valle de Vez - Vista Geral, Desenho de José Almeida

Villa do Soajo - Vista Geral


Costumes do Alto-Minho Interior:
1- Soajo (Arcos de Valle de Vez)
2- Castro Laboreiro (Melgaço)
3- Castro Laboreiro (Melgaço)
4- Barbeita (Monção)
5- Monção
6- S. Gregório (Melgaço)
7- S. Gregório (Melgaço)
8- Monção

terça-feira, 31 de maio de 2011

Adeus mês de Maio!

Já chegou o mês de Maio
Já chegou o mês de Maio
Com as suas variedades

Deixa os campos em flor
Deixa os campos em flor
E meu peito em saudade

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dublin - Palco de Uma Final Galaica

Pronúncia do Norte

46 quilómetros. Um diâmetro espacial que é menor do que une muitas das grandes cidades do Mundo. O espaço que separa o estádio do Dragão do estádio Axa. O Porto de Braga. Os dois finalistas da Europe League 2011. Um feito histórico para o futebol português. Um feito histórico para uma região que tem sentido, como nenhuma outra, o desmoronar da economia comunitária. Nesses 46 quilómetros vivem os projectos, as ilusões e as esperanças. Passe o que passar eles chegaram lá. A Dublin. Cidade com pronúncia do norte...


Um salto na história. Um salto desafiante. Um salto preciso.

O golo de Custódio gelou um país habituado à ladainha dos "seis milhões", um país que não entende de diferenças de credo. Um país que, ainda hoje, se esquece que há vida para lá da capital, que há vida para lá do império imaginário. O salto de Custódio, um puto de Guimarães que se fez herói em Braga. Coisas da vida! O salto de um jogador dispensado por um grande da capital e que deixou de ser uma promessa para passar a ser mais um zé-ninguém. Assim funcionam as coisas em Portugal. Palavras que Miguel Garcia e Hugo Viana poderiam fazer suas. Os três estavam lá e testemunharam aquele salto imenso que transformou um clube regional numa potência europeia. O Sporting Clube de Braga, esse clube que parecia uma moda passageira, é o 100º finalista de uma prova da UEFA. A quarta equipa portuguesa em lograr esse feito histórico. A primeira a deixar outra equipa nacional pelo caminho. Sem contestação.

Um projecto pequeno que a imprensa lusa sempre tentou empequenecer sem entender que os partidismos nacionais na Europa perdem todo o sentido. Este Braga, uma equipa com as contas em dia, uma equipa sem dividas e fundos a que recorrer quando as coisas apertam, é um caso sério. Desde a chegada de António Salvador transformou-se num autêntico grande, feito que só o Boavista pode reclamar fora do circulo dos três clubes que têm asfixiado o futebol português. Com a desaparição momentânea dos axadrezados destas contas e o progressivo empequenecimento do Sporting, o Braga tinha a oportunidade de dar um murro na mesa. Em 2010 o titulo perdeu-se por muito pouco, em 2011 Dublin conseguiu-se por pequenos detalhes. Estavam Vandinho e Mossoró desta vez. Estavam aqueles que aprenderam a lição de como se joga este tipo de duelos. E estava, sobretudo, uma equipa com fome de desforra. Ás vezes é o que basta. Isso e um salto imparável para furar os livros de história.



Os 46 kilómetros que separam Braga da cidade do Porto são quase a mesma distância da mais longa avenida do mundo. É muito para um país pequeno e muito pouco para um Mundo tão grande. As provas da UEFA já acolheram finais entre clubes do mesmo país mas nunca com uma proximidade geográfica tão gritante. Bracarenses e portuenses são quase vizinhos e em Dublin a festa terá uma forte pronuncia nortenha. Com sotaque do Porto.

Domingos Paciência era aquele miudo de Leça que mal tinha para comer e que muitas vezes lançava na casa dos amigos porque estes sabiam que em sua casa só lhe esperava uma sopa. Esse herói das Antas tornou-se no messias da pedreira de Braga. Quando em 1994 o inglês Bobby Robson parecia ter perdido a confiança no esguio dianteiro um miúdo de 13 anos aproximou-se dele perto de sua casa e explicou-lhe como tinha de aproveitar as capacidades do internacional português. Esse miúdo, portuense de gema, que nunca passou fome nem lhe faltou nada, transformou-se no homem dos recordes e aos 33 anos no mais jovem técnico a chegar a uma final europeia. André Villas-Boas e Domingos Paciência representam dois lados bem diferentes da Invicta, da vida que pautou o norte de Portugal desde sempre. E o futebol uniu-os de tal forma que até na glória mútua acabam por ter de se reencontrar. Da mesma forma que o FC Porto se tornou um clube internacional depois do desprezo da capital que queria reduzir os azuis e brancos a "andrades" de província com uma final europeia (então perdida para a toda poderosa Juventus em 1984), também o Braga conseguiu soltar-se desses preconceitos sociais para fazer história. Celtic, Sevilla, Liverpool, Dynamo de Kiev e Benfica, todas elas equipas com títulos europeus no seu brilhante curriculum que não souberam aguentar o vendaval bracarense. Um vendaval em quem ninguém acreditou, eliminatória após eliminatória. Se ao FC Porto era reconhecido o seu favoritismo, que se foi cimentando a cada jogo e acabou numa eliminatória histórica face ao Villareal, ao Braga estava destinado o papel de patinho feio. Talvez por isso a equipa de Domingos seguiu sempre em frente, porque não teve de se preocupar em olhar para o espelho.

O Benfica, o terceiro português em discórdia, era o favorito. Antes de arrancar a Liga, antes de arrancar a Champions League e antes de arrancar a Europe League na sua fase a eliminar. Mas perdeu demasiado tempo a olhar-se reflectido num espelho enganador. Sem pernas, sem atitude, sem destreza mental, os encarnados actuaram numa semifinal europeia convencidos que estavam num duelo nacional sem grande importância. A arrogância, sempre patente no discurso do seu técnico, desencontrou-se com a realidade. Talvez se a eliminatória tivesse sido trocada e o duelo fosse com os espanhóis a equipa tivesse reagido de outra forma. Pagou o preço do pecado mortal que no futebol não perdoa, o orgulho. E assinou por baixo uma época a todos os títulos decepcionante. Não soube estar à altura da sua história, dos seus pergaminhos e do seu próprio futebol. O espelho mentiu, mas só a eles, porque havia muitos que conseguiam ver para lá da ilusão.

18 de Maio tornar-se-á num dia histórico para Portugal. Mas talvez a ausência dos representantes do centralismo asfixiante transforme uma festa europeia numa reunião de vizinhos. O impacto mediático dado, em Portugal pelo menos, será bem diferente se os rostos fossem outros. É de esperar, afinal não seria a primeira vez. Mas a Europa estará forçosamente atenta e tentará descobrir o que está no meio destes 46 quilómetros que unem mais do que separam. Do Bom Jesus de Braga vê-se o Douro? Talvez não, mas o eco da pronuncia do norte já se ouve lá longe nas areias dançantes de Dublin...

Link para o artigo original AQUI

sábado, 30 de abril de 2011

V Congresso Transfronteiriço Espanha-Portugal de Estudos Celtas

Ávila 6 e 7 de Maio de 2011;

Los objetivos de este Curso serán ofrecer un estudio comparado de la cultura primitiva de los países que conforman culturalmente el Occidente Atlántico: Este Curso incidirá de forma especial en la temática celta y su influencia en la historia y la literatura de la Península Ibérica (España y Portugal), por ello estudiaremos sus similitudes y posibles relaciones. Vamos a ver en este Curso una serie de apartados históricos y culturales de todos estos países que en ciertos momentos corren caminos paralelos, mostrando en algunos momentos claras e significativas relaciones. En el Programa de la asignatura mostramos estos grandes apartados que serán objeto de nuestro estudio.

Matrícula NORMAL 105 €UROS.
Matrícula REDUCIDA (alumnos universitarios, licenciados en paro, diplomados en paro y jubilados) 75 €UROS.

PROGRAMA del Curso ::
VIERNES, 6 DE MAYO DE 2011.
- 16:30 HS. RECEPCIóN Y ENTREGA DE DOCUMENTACIóN Y PRESENTACIóN GENERAL DEL CURSO.
- 17:00 HS. INAUGURACIóN Y SESIóN DE BIENVENIDA AL CONGRESO. VICERRECTORA DE INTERNALIZACIóN Y COOPERACIóN DE LA UNED. DIRECTOR DE LA FUNDACIóN
SANTA TERESA. DIRECTOR DEL INSTITUTO DE ESTUDIOS CELTAS.
- 17:30 HS. LA TRADICIóN CELTA EN EL OCCIDENTE ATLáNTICO.
PONENTE/S: Profesor Dr. D. Ramón Sainero Sánchez. UNED.
— EL CELTISMO EN EL PRIMER TERCIO DEL SIGLO XX A TRAVéS DE LA MIRADA DE UN ARQUEóLOGO: JOSé RAMóN MéLIDA.
PONENTE/S: Dr. Daniel Casado Rigalt. UDIMA. Manuel Joaquim Gonçalves. Vereador da Cultura de Ponte da Barca (Portugal).
— MITO Y REALIDAD HISTóRICO ARQUEOLóGICA.
PONENTE/S: D. José Luis Pardo.
PRESIDENTE DE LA FUNDACIóN CULTURAL DEL MEDITERRáNEO.
— COLOQUIO.
SáBADO, 7 DE MAYO DE 2011.
- 10:30 HS. CONFERENCIAS
PONENTE/S: Dra. Dª. Celia Ruiz. Universidad de Valladolid y Dra. Dª. Adriene Baron Tecla. Universidade Federal Fluminense (Brasil).
— LOS NARRADORES DE RELATOS DEL ORTEGA¡ GALLEGO.
PONENTE/S: D. Narciso Luaces. Director del Museo de Meixido.
— DESCANSO.
— EL CULTO MARíTIMO A LAS PIEDRAS DEL PROMONTORIO SAGRADO (CABO SAN VICENTE. PORTUGAL): SU PERVIVENCIA EN EL FOLCLORE DEL áREA ATLáNTICA EUROPEA.
PONENTE/S: Dr. Fernando Alonso Romero. Universidad de Santiago. Dr. Jesús Arenas. UDIMA.
— FUENTES GRIEGAS SOBRE BRIGANTES, BRIGANTIA, BRIGANTIOS Y OTROS TéRMINOS AFINES.
PONENTE/S: Dr. López Férez. UNED.
— COLOQUIO.
- 16:00 HS. CONFERENCIA AúN POR DETERMINAR.
PONENTE/S: Dr. Carmelo Luis López. Director Institución Gran Duque de Alba.
— INCONSCIENTE COLECTIVO, IDENTIDADE E COPING TOPOGRáFICO.
PONENTE/S: Dra. Dª. Fátima Lobo. Universidade Católica Portuguesa de Braga.
— LA NAVEGACIóN ATLáNTICA EN EL PRIMER MILENIO A.C.
PONENTE/S: D. José Cerdeira. Gerente de AEGAMA.
— MITOS CELTAS EN LA LITERATURA FRANCESA MEDIEVAL.
PONENTE/S: Dr. Ignacio Velázquez. Caballero de las Letras de Francia.
— COLOQUIO.
- 18:00 HS. ACTO CELTA: CONCIERTO DE MúSICA CELTA A CARGO DE LA XUNTANZA DE GALLEGOS DE ALCOBENDAS. ENTREGA DE DIPLOMAS E INSIGNIAS A LOS CON FERENCIANTES POR LA ENXEBRE ORDEN DE LA VIEIRA.
- CLAUSURA DEL CURSO.
_______________________________________

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ponte da Misarela - Uma Lenda Cantada

Uma das pontes mais famosas e misteriosas da Gallaecia. A Ponte da Misarela e a sua lenda foram descritas pelo povo durante séculos:

http://www.quadrilha.net/misarela.html

sábado, 2 de abril de 2011

domingo, 6 de março de 2011

Noroeste Ibérico - Anti Carnaval Brasileiro


Como todos os anos, quando se aproxima o Carnaval, reitero uma opinião pessoal que encontra eco em muita boa gente por esse país fora:

"Os Carnavais abrasileirados que se realizam por esse Portugal fora, são uma demonstração da falta de cultura dos Portugueses."

Não que tenha algo contra o Carnaval Brasileiro. Por mim, desde que esse seja feito por lá ou mesmo por cá, em regime excepcional como mostra de uma cultura diferente, tudo bem. Agora, o que não posso aceitar é a lobotomia geral que os Portugueses se auto-infligiram e que faz com que ano após ano, tenhamos de assistir a uma debandada de mulheres pouco elegantes, pálidas e a tiritar de frio em fio dental em pleno inverno Português.


Mais do que isso, um país com história milenar e incontáveis volumes de tradições recolhidas por dedicados etnógrafos, deveria ter como prioridade recriar esses mesmos hábitos. No entanto, como em tudo nesse país, opta-se pela destruição de um legado através da apatia geral de dirigentes e, acima de tudo, dos cidadãos.

Uma boa notícia tenho no entanto que destacar. É que todas essas fantochadas de mau gosto acontecem abaixo do Rio Douro. Cá por cima, apesar de haverem tentativas de pouco relevo de adaptar o degredo ultramarino ás nossas celebrações, ainda se verifica em muitas localidades as tradicionais queimas dos Judas, Arturinhos (ou o que lhe quiserem chamar) e os seus cortejos de carpideiras.


Porém, o verdadeiro Ex-Libris do carnaval Nortenho encontra-se no Nordeste de Tras os Montes. Aqui, reina ainda a Máscara Ibérica e as coloridas vestimentas ancestrais dos rapazes que as vestem. Sente-se no ar toda a áurea pagã de uma festividade de um simbolismo único


Esta manifestação cultural está em processo para se tornar também ela Património Cultural da Humanidade. Quando isso acontecer, serão 4 as distinções deste tipo apenas nesse cantinho de mundo que é o Norte de Portugal.

Quanto ás outras regiões, que continuem a fazerem-se passar por Brasileiros. Que se encham de orgulho e talvez de dinheiro com isso. Porém, cêntimos meus, nem um hão de ter e, a atenção que me prendem é apenas aquela que me leva a escrever anualmente uma achega á ignorância conjunta de um povo com pouco futuro e que está empenhado em destruir o passado.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Morte do Tua e a Paísagem de Miguel Torga

OGalaico é um defensor incansável da paisagem. Foi um dos nossos ídolos e inspiradores, cujo nome dá por Miguel Torga, que disse um dia:

"Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo".

Na sequência de vários Posts acerca da aniquilação da paisagem Portuguesa fomentada pelo neo-colonialismo corrupto de uma cidade estado falida, e enquanto contemplo na imprensa as notícias de como o Vale do Tua vai ser apagado do mapa para satisfazer os políticos do PS que detém as empresas ás quais foram adjudicadas as obras, deixou aqui um link com uma pequena discrição de como, ainda hoje, existem Vilarinhos dos tempos modernos.

Para os que não tem estômago ou vontade de ler as infâmias que existem das entranhas da capital, fica um pequeno enxerto do texto acima referenciado e que chega para nos por mal dispostos durante uma semana. Ao mesmo tempo, explica muito do que vai mal nesse pais:

"Já agora convém lembrar que a empreitada da barragem foi adjudicada pela EDP de António Mexia, ao consórcio Mota-Engil/Somague/FMS, cuja empresa-mestra é presidida pelo socialista Jorge Coelho, que também está a fazer o túnel do Marão e a A4."

http://br.olhares.com/vale_do_tua_foto2798651.html

Lembremos-nos
o Vale do Tua é uma maravilha natural de Portugal. Lembremos-nos que Portugal, ou pelo menos os acéfalos dos seus "representantes", continuam a desbaratar publicamente noções como "sustentabilidade", "preservação", "ecologia" e afins.

Certo é que, daqui a pouco tempo, veremos no que outrora fora uma pérola para as nossas almas, um paredão de betão com 108 metros de altura e uma área inundada de 37km. Veremos, caros leitores, o assassinato do Tua consentido até pelo poder local que, como poderão constatar no artigo, foi bem subornado pela escória residente perto das margens do Tejo.

http://ferradodecabroes.blogspot.com/2009/03/de-mirandela-foz-do-tua.html

Alguns de vós poderão argumentar com as necessidades energéticas do futuro. Pois bem, a esses eu pergunto porque é que não vão esses políticos investir em parques solares no Alentejo? Porque é que não criam parques de ondas que, esses, teriam impactos quase inexistentes? Porque é que apenas se focam num modelo que trás consigo enormes consequências e cujo o país está já sobrelotado?

Mapa das Barragens de Portugal

A única resposta que me ocorre é que as empresas dos nossos políticos são empresas do betão. São máquinas de fazer dinheiro à custa das ossadas dos nossos antepassados. Além disso, revela a insensibilidade e hipocrisia dos governantes que nos auto impingimos.

Assim, enquanto continua a devastação do património Natural da globalidade do país, deleito-me com os relatos de Miguel Torga que tão bem entendo. Levado a potenciar a minha imaginação com uma boa malga de vinho, optei por partilhar com vocês o seguinte trecho de um dos seus Diários:

"Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração.


A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor.


Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil. Lá está o exemplo de Miguel Angelo a demonstrá-lo.


Mas eu, não. Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez. Roma, Paris, Florença, Beethoven, Cervantes, Shakespeare... Palavra, que não troco por tudo isso o rasgão mais humilde da tua estamenha, Mãe! "


Miguel Torga, in "Diário (1942)"

Tivessem os nossos políticos uma fracção da sensibilidade de Miguel Torga, e o futuro de Portugal estaria, de facto assente na sustentabilidade. Assim, por muito que nos queiram fazer crer, o sistema que está em vigor é o capitalismo individual que apenas beneficia os fatos e gravatas que tem o poder de assinar papéis e decidir a execução final de uma nação.

Da Cultura do Milho e do Granito...

No âmbito da realização da minha dissertação de Mestrado em Arquitectura tenho visitado alguns locais onde me tem sido possível observar algumas preciosidades que "escaparam" à "calamidade" referida no post anterior...
Até quando?


(Parada-Lindoso)

(Parada-Lindoso)

(Cidadelhe-Lindoso)

(Cidadelhe-Lindoso)

(fotos de Fernando Cerqueira Barros, Fevereiro de 2011)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A "Calamidade" segundo Orlando Ribeiro

As casas de brasileiros sobressaem geralmente pelas dimensões, aparato e mau gosto: com varandas e cobertos, ás vezes torres, revestidas de azulejos de cores nítidas, distinguem-se ao mesmo tempo dos estilos tradicionais das moradias como das recentes casas de franceses retornados do ultimo surto emigratório, a partir do decénio de 60.

Quinta Vila Beatriz, Póvoa de Lanhoso

(...) Vem passar as férias de Verão, por e ás vezes do Natal ao lar paterno renovado ou ás casas espaventosas que a generalização do cimento e do tijolo permitem construir em algumas semanas, com arrebiques de escadas, varandas, alpendres, telhados desencontrados, ás vezes cobertos de telha preta , forrados de azulejos mais extravagantes dos que os dos brasileiros ou pintados de cores berrantes de gosto mais deplorável.

Vale do Ave - Guimarães

São os Senhores Engenheiros das Câmaras (título de tanto prestígio como os de médico ou «doutores de Leis») que, mediante incríveis negociatas (nunca reinou em Portugal tanta corrupção a todos os níveis), impingem projectos copiados de revistas estrangeiras, descaracterizando de tal modo a formosa arquitectura das nossas vilas e aldeias que muitos estrangeiros que nos visitam as tomam como expressão típica de Portugal; nem aldeias serranas escapam a essa calamidade.

Revista da Faculdade de Letras - Geografia
I série, Vol. III, Porto 1987, p.5 a 11
Entre-Douro-e-Minho


P.S: Dedicado a todos os empresários e mandantes regionais que permitiram a aniquilação da terra que seria suposto defenderem. Até Orlando Ribeiro, um dos mais famosos Geógrafos, Antropólogos e Etnógrafos Portugueses, vos tinha asco.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Contos de Assombrar do Minho Vol III - O Portão do Diabo


Como todos os anos, as noites de inverno á lareira são propícias a conversas mais longas. Invariavelmente, talvez devido ao inevitável sentido ritual que o fogo transmite aos Humanos, a conversa ruma ao passado. Cruza as tempestuosas histórias e lembranças de outros tempos e amarra, caso as marés da vontade estejam propícias, nos contos, lendas ou mistérios que nunca ninguém conseguiu explicar.

O relato que aqui vou narrar foi me contado por vários membros da família incluindo a pessoa que passou pela experiência. No que me toca, atesto pelas suas honras! Todos são membros respeitáveis da sociedade. Daquelas que vem da última geração de pessoas honradas, que metem a mesma á frente de todas as decisões que tomam na vida. A bem,ou a mal...

Certo dia, há cerca de 25 anos em Agosto, um homem vinha da casa de uns familiares onde tinha passado o serão na companhia de muitos primos e amigos que, nesta temporada estival, recuperavam no seu país natal dos males da saudade e do trabalho.

Pelo caminho que, naquela época, ainda não era mais do que um carreiro ladeado de valados e árvores de enforcado, podia-se ainda espreitar a vastidão dos campos e os imponentes contra fortes da serra que não tinham começado ainda a sofrer os malefícios das construções das mal afamadas "favelas dos ricos".


Os extensos milherais a aproximarem-se rapidamente da maturidade precisavam de rega regular pelo que o mesmo carreiro transformava-se, á noite, num riacho quase intransitável. Com algum custo, mas com a experiência do seu lado, o homem saltitava entre as poças de água tentando evitar, através da penumbra, os regos e as "bostas" dos animais. Sem qualquer problema de maio, ultrapassou a parte do caminho mais alagado acedendo a uma outra porção do mesmo onde a calçada era mais digna. Isso sem dúvida por se aproximar do casario do senhor que dominava aquelas férteis terras do vale.

Andava assim o homem despreocupado, na sua moderada mas sincera felicidade, até que começou a aproximar-se do chamado "Portão do Diabo". Esse é um portão aparentemente normal. Cor de sangue, antigo, com algum trabalhado ornamental e uma fechadura que, dizem os mais antigos, nunca teria sido aberta. De facto, aquele portão era (e é) estranho.

Apesar da sua fisionomia ser normal, a sua localização é do mais intrigante. A parede de pedra que compõe a cerca do edifício é de repente interrompida por esse objecto de metal sem qualquer razão aparente. Atrás dele não se encontra nada. Nem portão, nem pátio, nem caminho.

Apenas uma singela e rara (na região) árvore de fruto. Uma Romãzeira.


Atenção caros leitores, o "Portão do Diabo", há muito tem esse nome. Nem os meus avós me souberam dizer o porquê desta designação porque, quando eles nasceram, já ali estava a quinta e já o portão tinha o mesmo apelido. Já nesse tempo era olhado com desconfiança tanto pela sua localização como pelas estranhas coisas que se passavam tempos a tempos nas suas proximidades.

Para o homem em questão, todas essas questões não eram do seu interesse. Como pai de família jovem e valoroso nunca se tinha deixado embalar pelos delírios das velhotas da aldeia e, o maior susto que ele jamais tinha apanhado, acabou por se revelar como sendo o barulho do coveiro a acabar de enterrar um caixão numa noite de inverno. No dia seguinte a essa "manifestação do além", todos diziam que o Morto tinha querido sair do mundo das Almas e inúmeros foram os que juraram ter ouvido todo o tipo de sons no cemitério naquela noite. O homem riu-se da parvoíce de toda a gente mas não disse nada. Aos parolos as parolices!

Essa escura noite de verão, porém, não era como as outras. Ou melhor, começou como as outras e estava prestes a terminar como qualquer uma. Prestes a chegar a casa, a humidade que exalavam os milherais abrasados de dia pelo calor e regados á fresca da noite era óptima para a vida animal. Pássaros noctívagos, grilos, gatos, cães, outros mamíferos e insectos de todas os tamanhos e feitios, aproveitavam a riqueza da terra para cantar ao mundo os seus lamentos e alegrias.

Ia distraído o homem a ouvir inconscientemente a melodia da Natureza quando, ao chegar perto do idoso portão, reparou num estranho silêncio. Um silêncio repentino que não era normal e que soava ruidosamente a falso. Os seus passos, que até agora tinham andado mudos, começaram subitamente a fazer imenso barulho. Ou pelo menos, o som normal que provocavam, entoava inquietantemente na inesperada calmaria do momento.

Muitas vezes repito que apenas aqueles que já andaram de noite, imersos no mundo rural, isto é, naquele mundo antigo onde não havia ainda luz pública e onde a maioria das habitações apenas dispunham de iluminação a petróleo ou vela, é que podem entender o que, por vezes, vai na cabeça de um caminhante da noite.


Por muito corajoso que ele seja, haverá sempre um dia ou outro em que, por qualquer motivo, irá sentir um arrepio pelas costas abaixo, sentir um par de olhos pousado na nuca e adivinhar por entre a vegetação uma qualquer entidade por ventura imaginária. O ser humano receia o escuro. Não há nada a fazer. E os corajosos são os que enfrentam os receios pois, os que nunca tem medo, são os loucos e os mentirosos.

Assim sendo, o homem avançava céptico em direcção a casa. Engolindo em seco, tentou convencer-se do óbvio, ou seja, de que ali apenas estava um caminho escuro e que, se estava um silêncio de Morte, é porque a Natureza também dorme.

No entanto, quando chegou ao nível do "Portão do Diabo", para seu terror mas, incompreensivelmente, não ficando surpreendido, sentiu algo à volta do pescoço a aperta-lo e empurra-lo contra a cancela. Abismado com o que lhe estava a acontecer, teve o reflexo de levar as mãos aos braços imaginários do agressor tentando defender-se. No entanto, não teve obteve uma resposta material á força que o estrangulava.

Durante uns segundos foi deixado em paz. Ficou de cócoras a tremer contra o portão até o impulso natural da sobrevivência surgir com toda o poder de uma violenta descarga de adrenalina.

No entanto, mal se levantou e deu o primeiro passo, sentiu de novo aquele pesado poder a envolve-lo como se de um abraço mortal se tratasse. Mais uma vez foi atirado contra o portão mas, desta vez, a pressão exercida não abrandou. Ficou aplacado contra o ferro do portão, de bicos de pés faltando-lhe cada vez mais o ar.

Numa tentativa de se libertar do que quer que fosse que o oprimia, segurou-se com o seu braço direito a um cano de uma videira que pendia de dentro da propriedade. Puxando com todas as suas forças foi-se deslocando alguns centímetros. Instintivamente, a sua reacção foi a de se afastar do portal demoníaco.

A força maléfica, pareceu entender as suas intenções e redobrou de intensidade. O corpo do homem ficou cada vez mais comprimido contra o metal frio dando a sensação de que a entidade que o assolava queria que ele se fundisse com o portão.

Num último esforço, o homem conseguiu rodar sobre si mesmo e ficar agora com a face colada á cancela. Esta nova posição fez com que ficasse com mais força para se agarrar aos ramos que segurava. Numa última contracção dos músculos antes de ficar sem forças, conseguiu por parte do corpo fora da área do portão. Imediatamente sentiu que os membros que se encontravam fora da sua área ficaram libertos da pressão exercida. O ânimo desta constatação fez com que saísse rapidamente da zona maldita.

Mal conseguiu caiu desamparado e ficou, ofegante, uns largos minutos encostado á parede a chorar. Transtornado, levantou-se a custo e regressou titubeando pelo caminho de onde veio.

Os familiares, surpreendidos e incrédulos com o estado em que se encontrava o Homem, tentaram a custo aceitar o que ele lhes contava. Por um lado estava a palavra de uma familiar sincero e honesto. A sua cara, lívida, era igualmente um testemunho factual de um acontecimento anormal. No entanto, do outro, está a razão e o raciocínio lógico do ser Humano que procurava outras explicações para o sucedido.

Alguns dos homens, à procura de algum sinal do que poderia ter acontecido, deslocaram-se correndo até ao local da cena. Daí, apenas recolheram o relógio do homem que se encontrava partido no meio do caminho. Os mesmos homens tiveram de acompanhar o seu familiar até casa, dando a volta á freguesia para não ter de cruzar aquele caminho de novo.


Ainda hoje, 25 anos depois, o homem em causa recusa passar a pé por esse portão. E, de noite, nem de carro o faz.

Na altura, a notícia espalhou-se pela freguesia. Uns diziam que o Portão voltou á vida e que era preciso levar lá um padre para fazer um exorcismo. Outros diziam que isso aconteceu porque o padre da freguesia, tentando combater os heréticos, deixou de levar o compasso Pascal ao portão. De facto, os padres anteriores sempre o benziam e os problemas nunca surgiam. Outros ainda, afirmavam que tudo eram historias de embalar e que, sustos, nunca tinham tido e nunca iriam ter.

Por entre estas conversas, uma das mais velhas pessoas da terra, uma idosa que sempre viveu solteira no seu casebre de pedra, contou uma estranho pormenor sobre o portão e o que o envolve.

Segundo ela, os primeiros donos da quinta, aquando a sua construção, procuravam o melhor local para escavar um poço. Para tal obra mandaram antes de mais chamar o mudo da terra. Esse mudo fora uma pessoa singular que, pelo que contava a velhota, tinha sido o melhor enxertador da região e o único a ainda encontrar as veias de água graças apenas a um galho de oliveira.


Andando o mudo a percorrer os terrenos imediatos da casa, foi ter ao local do portão que, nesse tempo, ainda não existia. Conta a lenda que a reacção do galho de oliveira foi tão violenta e inesperada que o mudo ficou assustado com as características do lugar. Água teria de certeza. Porém teria ainda algo mais! Qualquer coisa emanava daquele sítio.

O mudo, no mundo dele, na razão que só ele entende e que só ele desenvolveu através de uma vida de meditação, tomou uma estranha opção. Depois de se ter ausentado uns dias voltou com uma pequena Romãzeira. Árvore que, segundo os mais entendidos, é extremamente difícil de criar e que, na nossa região, só as terras mais ricas podem sustentar.


A Romãzeira, tal como previa o mudo pegou. Ainda hoje existe atrás do portão que foi colocado para que as pessoas não frequentassem aquele lugar. Mais estranho ainda foi o que a velhota disse em seguida. Segundo ela, quem costuma comer Romãs são os pássaros do inferno (Fénix?). Quando tem fome, andam á volta dela e protegem-na. Quando estão cheias, desaparecem até um dia voltar.

Fascinante de facto as histórias que os nossos antepassados nos legavam. Mitos? Factos inexplicáveis? Lendas? Realidade? Quem sabe?

Ainda á lareira, discutíamos apaixonadamente essas questões quando um de entre nós exclamou:

"Certo certo é o Vinho! Depois dele o ter bebido naquela festa, tanto ou mais quanto eu, por certo andava aos encontrões ás paredes. Muitas vezes fiquei eu a descansar nos valados! Diabo? Qual diabo! O Diabo que ia com ele estava-lhe nas veias! Era o Vinho"

Acreditemos no que quisermos, a verdade é que a maneira de explicar a realidade dos antigos era muito mais poética e interessante...