sábado, 27 de setembro de 2008

Sons, luzes, cheiros e cores do Outono


O verão acaba por norma com tristeza.

E de facto acaba melancólico. Porém, este sentimento não perdura durante muito tempo pois a natureza encarrega-se de nos mostrar que tudo continua. Que o fim do verão é a porta para o culminar da fertilidade.

E aqui está o Outono.

O Outono será talvez a mais paradigmática estação do ano. Tudo começa a findar nesta altura. Porém, as maiores colheitas fazem-se agora.

Um dia de sol basta para perceber que quase de um dia para o outro, o ambiente muda. Como que num estalar de dedos entramos noutra dimensão! A tristeza profunda do fim do verão aparece agora como que um pequeno detalhe ao pé da generosa e carinhosa forma que o mundo tem de nos dizer que tudo irá recomeçar.

Acorda-se e abre-se a janela. As folhas já não estão verdes apesar de jurar que ainda ontem o estavam!

Hoje, os vardos, ramadas, cerejeiras e castanheiros (estes lamentavelmente fora de moda) onde se enroscam as altas videiras como se cobras fossem, tem uma tonalidade poética.

Vermelhos escuros, bordeaux, amarelo, toda uma gama de castanhos e, por vezes amarelos e cores de laranja.


Junta-se a isso um sol brando mas incrivelmente brilhante. Este sol de Outono que parece estar constantemente ao nível dos nossos olhos. Como se quisesse interditar-nos, por vergonha, de nos deixar ver que está a perder forças para outra estação!

E os cheiros penetrantes! De onde vem? Há cheiros que aparecem do nada mas que nos dizem sempre algo. O Natal, tem por exemplo, para mim, um cheiro especial. Cheira-me a lenha queimada, a frutos secos cortados pelo frio. A primavera, esta, de tão óbvia nem merece descrição. Depois, há o cheiro do verão. E o cheiro da natureza no seu máximo. E agora há o Outono.

O cheiro do Outono é para mim o melhor. Cheira a fruta madura! Tão madura que a sua doçura se assemelha intensamente ao mel! Cheira ao milho cortado! Paira um cheiro a vinho no ar. Um odor inebriante que emana das pipas a serem lavadas e preparadas para mais uma vindima.


O olfacto também desperta por causa dos vapores agridoces dos lagares cheios de bagos pisados. Andando a pé por um caminho mais ou menos rural adivinha-se ao longe que casas estão a vindimar.

Quem precisa de olhos quando se pode ver tão bem com eles fechados!

E depois, nesta altura do Outono é um gosto acordar com os novos sons que me reconfortam inexplicavelmente.

Novos cantares soam das árvores.

São as cantadeiras dos vindimadores! Neste caso, as tradicionais tesouras de metal e o seu som característico. Estas tesouras são especiais. Já não se fazem e quem as tem trata delas como se de um carro clássico fosse!

O mesmo se passa com os cestos. De vime e antigos! Quanto mais velho melhor! Quem os tem até trabalha com mais alegria!

As vindimas são cada vez mais uma actividade de reunião com a família e a natureza. Doutores, imigrantes, jovens da moda, senhoras, velhos e jovens. Vivendo na cidade ou no campo.

Para as vindimas toda agente aparece e trabalha com alegria!

Ao fim, come-se como reis, canta-se ao som da concertina e pisam-se as uvas!

O Outono é especial por isso!

E a forma que a natureza tem de nos dizer que a "morte" não é o fim mas o principio de outra coisa. No caso do outono quase podemos dizer que findando é que se colhem os frutos pelos quais se espera toda a vida.

Tendo em conta que o homem é parte integrante da unidade universal e, tem sempre a sua existência traçada em paralelo com esta, também eu vou esperar e tomar o Outono da minha vida como o momento em que se colhem as verdades por que tanto esperamos...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Origens da Galiza Celta!

The Milesians come from Galiza. Independent Irish and Galician traditions agree on this point.

The hypothesis of the Gaels coming from Galiza as in the Gaelic tradition can be read is here compared with the Galician tradition and same Celtic gaelic origin. Communication by sea between Galiza and Éire can be traced to prehistoric times. This confirm that the sea route Galiza-Éire was a reality in more recent historic times, after the 6th century b.C. when Galicia and Éire were already settled by gaelic Celtic tribes.

The names galego and Galiza came from the gaelic "old woman", more convenient the mother goddess Caillaech. In two altars in Sobreira, close to Porto, the name of the mother-goddess in its latinized form reads "Calaicia". (More on this topic, written in the modern Galician language can be read in chapter 1 of the book Galiza Celta)

When the Romans first come to Galiza, the historical Gallaecia, after crossing the river Douro, they found the first Celtic tribe: the worshipers of Caillaech, from where came the first Latin name for the area, "Cal-leac-ia", and the name of the people, the "Cal-laec-i". The people local particular celtic hard pronunciation rend it "Gal-leac-ia" and "gal-leg-o", ns of the mother goddess", and Galizafrom were come the actual name, Galiza or Galicia. So Galego means "the so "the beautiful land of the Mother-goddess" of the gaelic Celts.

The Roman general that defeated this Celtic tribe was given the surname of Decimo Junio Brutus the Galleacus (Calaicus). The Latin origin of the radical "gal-" could be traced from the early contacts between Latin and Celtic people in Central Europe. (The name of the present Polonaise town of Kalizs which gave origin to the similar name of Galicja came as well from the mother-goddess, Calleach). So the Greek "keltoi" become "gal", "gal-li" for the Romans. The names "gaels", "galego", "galos" have the very same origin.

The Celtic Gaels, speaking Gaelic, who are the people of the first invasion of Éire, came not from Spain, but from Galicia, from the other side of the bay, as we use to say.

Galiza is the only Celtic country left in the Iberian peninsula. The few tribes in Central Spain of mixed Celtiberian blood were completely annihilated by the Roman general Servius Sulpicius Galba in 151 b.C., who massacred the Celtiberians and mixed blood of Celts and Iberians after they had surrendered. For this massacre of children and women he was charged by the roman Senate with war crimes.

The tradition of both countries, Galiza and Éire, related with this sailing, the crossing of the Celtic sea from A Coruña to Cork, and over two thousand years apart, have a lot of surprising similar points.

Written tradition is no less wrong than oral tradition. Also, putting in write something doesn't make it more true. Tradition, written and oral, play an important role helping to interpretate and to build hypothesis to understand history. Coherency of history can't be neglected.

Graffiti on the rocks was the game some three or four thousand years ago. We are talking about petroglyphs.

Petroglyphs such as round motifs: circle with a cross inside (Celtic cross), circles with a dot in the center, circles with a small concentric circle inside, circles with a line showing the center or the spiral showing its center are very common on the Atlantic side of Europe and exclusively of the seashore lands. They are most important for its number and similarity in Galiza and Éire, but they are found from Brittany until Scotland. Another such typical seaboard Petrography are arms designs. They are too found in the Atlantic Europe area, in the presently known as Celtic Lands. Because they are difficult to date, for obvious reasons, we can assert a certain date, but they are old enough to put all b.C. and many centuries before. We can also find some exclusive type of bronze axes for Galiza and Éire, along with lots of archeological similarities between both countries.

The point is that there is not other explanation than the people around the Celtic sea, this triangle extending from the Galician Fisterra to the Breizh Finistère to the Kernow Lands End and to South Éire, have had contacts by sea in pre-historic times.

A sail from Galicia to Brittany could be 2 to 3 days away, from Galiza to Wales 2 to 4 days and from Galiza to Éire can take from 3 to 5 days. And shorter in the all the others cases. If pre-historic people could do such navigation, then more recent, historical people as the Celts, could do it also.

The more traditional way of navigation two thousand years ago could be coastal navigation, for it seems to be the simplest way. It is well know that Mediterranean people as well the Vikings used coastal navigation for they salings. There was another kind of navigation which still is in use today and fits better our purposes: following the predominant winds.

For the area Galicia-Éire, a 480 miles sail or less, both countries are in the same meridian, about 6 degrees west, the navigation could be the easy north-south. The predominant winds are from the west, a reach sail; good weather, anticyclone for the area, the winds are from the NW, a depression in the area the winds are from the SW. To navigate North-South (Éire-Galiza) or South-North (Galiza-Éire) will be the easy way because with the western predominant winds we could have a reach or tree quarters back. Also, not need for a compass, the stars can do it, this is south-north navigation. Galiza and Éire are across the bay.

The first historical people of Galicia were gaelic Celts, and this country was heavily settled by Celts before the VI century b.C. Communication by sea, between the different Celtic countries of the Atlantic land-ends was a reality as archeology has proven. There has been found traces of brythonic Celts in Galiza from this period ("Briteiros castrodun") and we know from History that brythonic Celts came to Galiza lately in the 5th and 6th centuries a.C. (like bishop Maeloc); they were the same people that sailed to Armorica from saxon England to create Breizh (Brittany) and they knew well the other Celtic countries with which they have many contacts. They do not sailed to North Spain (Iberian countries, such as Astures or Vascones) or Southwest of France (Aquitanians, also Iberians), but they come to Armorica (Breizh) and Galiza, both Celtic countries. So this is a evidence of the sea communication between the different Celtic countries b.C.

What it is well know from history too is that before the roman colonization at the end of the first century b.C. (3rd century in Galicia) there was a strong connection by sea, across the Celtic sea between the Celts of the many land ends: Éire, Galiza, Wales, Scotland... Descriptions and pictures of the leather boats are well known.

Galician fishermen have being fishing and sailing in the Celtic sea from centuries, on the "Gran Sol" (i.e. the Irish Box). On the sea, the best routes are determined by the predominant weather conditions. This route is well established. The Galicians have born to sail and the North-Atlantic seas were also part of their own home from centuries.

Legends and myths play an important role in every Celtic culture. The Celts didn't have any writing, simply did not write, for all the knowledge was transmited in oral form. All we know about their knowledge came through other people who interpreted it with the filter of their own knowledge, most them fiercest enemies.

We call most of the Celtic oral tradition myth or legends because they have intermixed natural and supernatural things, possible and impossible, real and imaginary, true and false... So we just don't trust people that said true and false, because we do not believe in their purpose, they try to mix-up. For the Celts this was not their intention, what to us appears as supernatural, impossible, imaginary... was part of their reality, as is today is in many Celtic countries. Water, rocks, nature is supernatural, all have specific powers, all are part of the real life. In Galiza today this is so strong that you´ll finish believing yourself. People go to specific places, most today with Christian names and Saints as central figures, to cure of specific ailments: Serans for the warts, Ribacarte to full dead, Ortigueira you´ll go live or dead, the night of the solstice (Briga) to fall pregnant, the water of the river, the Laxe... they are old Celtic recipes and they do work indeed! Any Galician will confirm it to you.

We should understand too that most of these "myths" were only written in very recent times (many centuries after and by religious people) compared with the time of occurrence. This is the case for the Book of Invasions of Éire (Leabhar Gabhala), which was done by people who had a very important knowledge of the Bible and its related myths, probably the only people that could write. So they incorporated a lot of Christian and biblical myths to Celtic ones.

But it is yet possible to extract some information from myths. These tales were written many centuries after, in a period when Christianity was so powerful and have so much influence over all aspects of life that this is what is most noticed in these relates. The Bible was the Book, the most important around to whom everything is referred and measured. The important things in history and knowledge were to be found in the Bible, its people, its lands. The Mediterranean world, Hebrews, Egyptians... had the most importance, references to this biblical world, they were important, they established the rule, the measure:

    "We sailed the river Nile, we sailed across the sea, and as Cailleach's navigator, we sailed the Iberian coast to the river Munda. And with our swords and shields we settled on the coast of what you call Portugal. Our life was good. Scota's sons and daughters sailed to Ireland and Scota's grandchildren carried their arms and shields into northern Albyn where they fought the Grog-Magog and Termagol and in honor of their Queen and grandmother they called themselves Scots and their new land Scotland. I and my wife Queen Scota and my grandchildren and our Clan had arrived in the land from the dream time." --

  • (Chuck Larkin referring to a 19th century written and oral tradition of Scotland).

I want to notice that in North Galicia there is a river called Mondego very close from another called Mendo, and this is exactly the area were the Galician tradition places the sail of Ith, son of the Galician Celtic king Breogán, to Éire, call in the Galician tradition "the green-island"! Also Portugal is a recent name and was formed by the scission of the old Gallaecia in two kingdoms: South of Gallaecia was the Lusitania, the main part of today Portugal, where a river called Mondego is also located, on the border of the historical Galicia.

The Greeks gave the name of Esperia and the Romans Hispania from the cartaginese name of the country to the South and Mediterranean sides of the Iberian Peninsula, first till the Ebro river, and lately for the whole area with the only exclusion of the West side, i.e. Galiza and Lusitania that are naturally separated by mountain chains (the border Spain-Portugal is the most stable and oldest border of all Europe). Lately, for roman purposes only, they extended the name to the whole peninsula. Moreover, the name "Easpain" which was only applied to the mass of land on the East side of the Iberian peninsula, was applied by Irish monks to the whole peninsula. But to the south of Éire lies the only land heavily settled by Celts, that today is called Galiza to remember its first historical settlements, the gaelic Celts, from where the Gaels come.

So if we take off all reference to the Mediterranean world, all that comes from the biblical myth, there is certainly not much left but, even if corrupt in time, this something that is left, could be compared with other sources.

Without making any conclusion I would like to refer you to the book of invasions of Éire, who is the oldest in Celtic mythology to my knowledge.

I retain that Scotta marry Mil (referred also as Mile, Milesius, Golamh...). Both came from the Otherworld, the land of dead and they have sons: Ir, Bregon, Arannan... The sons and the grand-sons sailed to Éire. This is the invasion of the gaelic Celts, the Gaels. Ith the son of Bregon was born in the other land were his father had built a big tower.

Now, in accord with present Galicia's tradition, the Galician Breogán had built a big lighthouse in Brigantia (today know as A Coruña, and rebuild by Romans and more recent times exactly in the same place, still a landmark looking to the Celtic sea and remembering every one of this sail more that two thousands years ago, the sailing by Ith from Galiza to Éire), he and his sons have sailed in a leather boat, a trip of five days, to a green land at the north, just across the sea they use to sail. (As we have seen, five days is about the time for a sail between Galiza and Éire). Avenues talking of the "galegos", the Galicians, made a full descriptions of its leather boats, picture on rocks of the time confirm.

Now the hypothesis of considering the Otherworld of the book of invasion as Galiza and the green land of the galegos as Éire. The hypothesis of identifying Gaels = Galegos is very appealling.

In the first hand, with a little of knowledge about navigation, it's easy to realize that a sail from Galiza to Éire and back is a very easy sail in the prevailing wind conditions, a natural way to sail. For a sail of less that 500 miles in the direction south-north and reverse, is of simple navigation even at that old times, specially if you know that the prevailing winds are some times SW and others NW. This would make a perfect navigation and easy land fall in both ways for a sailing craft.

Two, identifying Galiza with the Otherworld, the land of dead, the land of Mile and Scota is not difficult in accord to Galicia's references.

Even today, the west coast of Galiza has the name "Costa da Morte" (Coast of Death). But the main reason I want to advance is the deep cult to death, still very alive in the whole Galician country and specially in the north-west coast. Celtic traditions, older than more than 2,000 years, are still alive (though now christianized): the living people play death to escape from dead. Many villages conserve this particular tradition: A Póvoa do Caramiñal, Rivacarte... where alives fools deads. The death are always present on the streets at night, being named the "ánimas" or "a estadea" in Galician (from the all Gaelic "eistedd" and "ann" meaning, i.e., "gathering of dead", and this is exactly what for Galician means). You can hear them in the dark nights of winter as they pull their chains and they mock you... the Halloween night you see them everywhere. And this is true! You can see the dead, ask any Galician. Because the Catholic religion forbidden to believe in not Christian supernatural spirits, Galicians use to say: "crér non creo, pero habelas hainas" [I just don't believe, but they do exist indeed].

Many aspects of life in Galiza reveal this deep identification with the world of the dead. The OtherWorld of the Gaels, the people that emigrated from there, was Galiza the land they know well (the OtherWorld = the OtherLand = Galiza) and too the land where the cult to the dead (Land of Dead = Land the cult to death) was so deeply enrooted, as still today, the land of the dead, as today the West coast of Galiza carry this name.

For the Galicians, Breogán is the founding father of the Galician Celtic nation and they recognized as such in the present Galician national anthem where they sing to Breogán.

The lighthouse in Brigantia (A Coruña) is still there, in the same place where Ith was born (know today as "the Hércules Tower", a name given from a bad interpretation in the last century when the Spanish idea of the supremacy of the Mediterranean world over the Atlantic world was dogma). It was is this tower, the oldest lighthouse emplacement in the Atlantic world, first build by Breogán and rebuilt many times after, always in the same place.

Next, identifying Éire's Bregon with Galiza's Breogán is not really difficult if we know from Éire's invasion book, that the son of Bregon, Ith, was born in the Otherworld and has lived there in a tower build by his father (the lighthouse of Art-o-briga, Galician Gaelic for "the bear of the goddess Brig", the town of A Coruña, still today in the same place.

It is clear that the Gaels came from Galiza, where the same people are still called "galegos". That Mil and Scotta are born there and that this two names become two Irish names. From Scotta came the name of a people that later come to Alba and... history follows. Scota is the wife of Mil. This name, Mil, means, or late is used to mean a "warrior". There is even today in Galiza lots of names of villages who use the old gaelic word "mil = warrior", such as Ardemil (Gaelic for high-warrior), Belmil (warrior of Bel), Antemil, and so on.

So, if some invasions of Éire came from the South, they came from Galiza. Galiza and Éire share many traditions, the same Gaelic Celtic heritage (see, in Galician, Galiza Celta chapter 5) and "they are just across the bay". You want a better proof, take an old Gaelic dictionary (the old Gaelic roots better) and you will be happy surprised to translate most of the old Galician place-names. In the Galician toponimy are written the oldest aspects of the Celtic culture in Europe. Galiza, this great forgotten Celtic land.


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A negação da origem!


O Galaico é um sítio onde se fala do Norte. Fala-se do que é ser do Norte hoje, ontem e também do que ele foi e/ou poderia ter sido.

Expressam-se sentimentos assim como se retratam situações. Normalmente fala-se com orgulho mas por vezes é preciso apontar o que não está bem.

O que é ser do Norte? Ser Galego? Quais as origens?

Muitos apontam os Celtas como a maior influência. A maioria fala de um "Celtiberismo" impreciso e confuso. Outros também sustêm que outros sangues como o Romano e o Mouro também contam.

Na minha opinião, Romanos e Mouros nada têm a ver com a etnia Galaica. Os Romanos não se "rebaixavam" ao ponto de procriarem com indígenas e, as situações que possam ter ocorrido advém de violações que na maioria dos casos eram cometidas por legionários que, por sua vez, raramente eram Romanos mas sim oriundos de qualquer país conquistado nas imediações. Provavelmente, grande parte seria também originária de povos de cultura atlântica.

Quanto aos Mouros, esta questão torna-se ainda mais ridícula. Tendo apenas permanecido cerca 40 anos na Gallaecia e, sempre em guerra, nunca estabelecendo cidades nem sequer interagindo com os Galaicos, a influência genética moura não existe. Reparem que não estou a rebaixar a etnia Moura nem nada que se pareça. Esta cultura era na verdade extremamente avançada e rica. No entanto, não nego que não me importo nada de não lhes estar associados. O que importa dizer é que ao fim de poucos anos, D.Afonso I das Asturias reconquistou a Gallaecia proferindo a celebre citação: "Até ao Douro não há de viver nem um Mouro! Hei de os perseguir a todos!". O erro de ter defrontado o exército romano nas margens do rio Douro que culminou com a derrota do exército Galaico composto por 60.000 homens (!!!) não se repetiu.

Isto tudo para chegar onde? Quem são os Galegos de hoje? Bem, definitivamente somos uma mistura dos povos neolíticos que por aqui se devem ter fixados há cerca de 6000 anos durante a ultima era glaciar e a consequente influência dos povos de cultura Celta. Povos estes que comunicaram com a Gallaecia devido à sua posição geográfica e recursos naturais comuns. As invasões Celtas de que tanto se fala são porém uma mentira pois não há vestígios delas. O que houve foi uma evidente troca cultural progressiva que fez com que certos povos Europeus desenvolvessem uma cultura mais ou menos comum. Os "celtas" não eram uma raça. Eles nem sequer olhavam para si como uma nação ou como iguais. Os Celtas eram povos com um modo de vida, crenças e língua mais ou menos semelhantes. E isso que nos aproxima por exemplo do atlântico e nos afasta do mediterrâneo. Além do mais, é sabido e aceite que foram Galaicos que invadiram a Irlanda levando com eles a cultura que os primeiros tanto estimam. Está também demonstrado que geneticamente os Irlandeses estão mais perto dos Galegos do que dos povos centro-europeus.

Chegamos assim ao propósito deste Post. Perdoem-me os que não tem paciência para grandes discursos mas certas questões tem de ser sempre bem explicadas.

Contei-vos isso tudo para poder inserir correctamente a afirmação que se segue:

A cidade de Braga é a maior representante da santa ignorância e heresia que existe nas instituições arqueológicas e patrimoniais Portuguesas!

Falam de Braga como a cidade dos arcebispos mas também como a "Roma Portuguesa"! Expõem as ruínas dos invasores com orgulho e não olham a meios para criarem infraestruturas museológicas. Enquanto isso, centenas de Castros apodrecem e jazem sem qualquer intervenção na maioria dos Cumes do Norte de Portugal. Esta situação é idêntica na Galiza.

A cada obra publica em Braga encontram-se novos vestígios da cidade a que chamavam Bracara Augusto. De cada vez que isso acontece, param-se as obras aumentando astronómica mente os custos, chama-se a imprensa e, altivamente, se proclama mais uma vez a grandiosidade histórica de Braga.

Eu pergunto-me se todos os nossos professores, autarcas, engenheiros, doutores e cidadãos são estúpidos?

Por vezes creio que sim e por isso vou descrever brevemente quem eram os Romanos e quem eram os Bràcaros.

Os Brácaros eram Galaicos. Ou Callaicos, Kallaikoi ou o que quiserem lhes chamar. Os Brácaros eram um dos povos que viviam na Gallaecia e que Estrabão, o geógrafo grego ao serviço do império Romano, disse: "Viverem da mesma maneira". A Etnia era Galaica e, dentro desta haviam vários povos. Os Brácaros eram um deles. Dentre destes povos havia outras divisões que se sucediam até à unidade familiar. Nisso as coisas não mudaram até hoje.

Os Romanos estes eram invasores. Assassinos em massa. Destruíram crenças milenares, povos que existiam desde sempre. Os Romanos pensavam que estavam a iluminar estes bárbaros incultos e a benze-los com a sua língua "pura". Na verdade eles apenas buscavam riqueza e a satisfação animal que a guerra lhes dava.

Os geógrafos Romanos relataram muito bem o que sofreram os nossos reais antepassados durante estes tempos negros. "As mulheres combatem junto aos homens e preferem degolar os filos a vê-los ser escravizados pelos invasores. Também os guerreiros lutavam até a morte e, quando se viam perdidos suicidavam-se".

Esta era a realidade. Estes os actos dos Romanos. Imaginem por exemplo os Estados Unidos a desembarcar na costa Galaica e começar a matar toda a gente que não quisesse entregar-lhes o destino e controlo das suas próprias vidas. Fechem os olhos e pensem no sofrimento atroz e nos actos cruéis que levaram ao fim de uma civilização.

Sim! E disto que estamos a falar. O fim da civilização Celto-Galaica Castreja. Uma riquíssima e florescente sociedade à qual lhe foi negada direito de existir.

E então? Gostariam de ver os seus filhos abatidos, os familiares mortos ou escravizados e, depois, milhares de anos depois os descendentes afirmarem-se como Romanos e exporem com orgulho todos os tanques de guerra e bases estratégicas usadas para aniquilar os seus antepassados?

E exactamente isso que se passa com a bajulação a Roma no território Galaicos e em todo Portugal.

Não digo para destruírem as ruínas nem para as transformar numa espécie de Auschwitz da idade do ferro mas seria lógico dar prioridade à recuperação dos Castros , à sua valorização assim como associar as nossas crianças a esta cultura autóctone e nossa mais que à cultura dos invasores criminosos. Em vez da insistência no religioso católico (que hoje em dia de facto tem bons propósitos ao contrário do passado) podiam dar a opção para os que quisessem de perceber como certos aspectos da nossa igreja são unicamente reflexos de um passado pagão.

Porquê tanta dificuldade em divulgar quem somos? Porquê insistir em globalizar todas as regiões e todas as pessoas sob o manto do Lusitanismo e da Romanização quando nestes mesmos tempos os Romanos nem sequer tentaram converter os bárbaros em cidadãos civilizados. Podem dizer que sim mas a verdade é que muitas vezes eles é que acabavam por se aculturar às regiões onde estavam destacados. Uma prova disso é a incontestável fonte do Ídolo em Braga onde um Romano chamado "Celino" prestou homenagem à Deusa Nabia. Uma das mais importantes divindades do panteão Céltico da Lusitânia e Gallaecia.

Os Callaicos não são Romanos pois os Romanos não permaneceram cá aquando da queda do Império. Não são Mouros pois estes nunca cá se estabeleceram e também não são Lusitanos pois estes eram inimigos contra os quais se envolviam em lutas pelo território.

Os Galegos são Galaicos ponto final. Todas as insinuações do contrário são provas de estupidez ou manipulação nacionalista.

Eu como descendente de Galaicos não sou melhor que ninguém e ninguém é melhor do que eu. No entanto, nada justifica a incomensurável ignorância que se verifica diariamente para com as nossas terras.

domingo, 21 de setembro de 2008

Tribos Galacais: Zoelas!

Zoelas (em latim, zoelae) era um povo pré-romano mencionado por Estrabão que habitava as serras da Nogueira, Seabra e Culebra até aos montes de Mogadouro, estendendo-se também até à serra de Santa Comba, situada no concelho de Valpaços e Mirandela no norte de Portugal.

Os zoelas estão também referidos em aras encontradas em Bragança, no Castro de Avelãs. Este povo deixou-nos estelas funerárias decoradas com suásticas circulares, simbolizando o Sol, e com desenhos de animais como o porcoe o veado.

Os zoelas são de origem desconhecida, não se sabe se eram autóctones ou celtas.

Muitos autores consideram os zoelas como uma das mais antigas etnias da península Ibérica.

Tribos Galaicas: Turodos!

Turodos era um povo ibérico pré-romano que viviam no extremo norte de Trás-os-Montes, Portugal e Galiza.

Tribos Galaicas: Luancos!

Luancos chamados assim por Ptolomeu (também conhecidos como "longos") era um povo pré-romano que habitava entre o rio Tâmega e o rio Tua, a norte do rio Douro no actual território português e galego.

Um patriarca luanco ficou registado na mitologia grega como Lynko (Linceu). O nome "Luanco" foi-lhes atribuído, possivelmente, porque este povo se identificava com os linces. Era um povo caçador e preferia viver em planaltos altos, o que o norte de Portugal oferecia.

Tribos Galaicas: Equesos!

Equesos (em latim equaesi) foram um antigo povo pré-romano da península Ibérica, que resistiu até à chegada dos suevos, durante as invasões bárbaras no Império Romano.

Os equesos viviam no extremo norte montanhoso português.

Foram encontradas peças gravadas e esculpidas num tipo de pedra que não existe na região, que se assemelha a pedra sabão.

Uma das esculturas representa cavalos, que se imagina estarem relacionados com os equesos; pensa-se que o cavalo seria o elemento totémico deste povo, e equus significa "cavalo" no latim clássico.

Estas peças oram encontradas em Castro Vicente, na margem direita do rio Sabor, território ocupado pelos equesos segundo algumas fontes, embora outras fontes os situem mais a ocidente, perto do rio Tâmega.

Tribos Galacais: Tamaganos

Tamaganos (em latim tamagani) eram um povo pré-romano que vivia nas margens do rio Tâmega, em Portugal, na zona de Chaves e de Verim.

A etimologia poderia vir de tami, "rio" no idioma local. O nome deste povo aparece referido na ponte romana de Trajano de Chaves.

Tribos Galaicas: Quaquernos!

Quaquernos ou quacernos (em latim quaquerni) eram um povo celta pré-romano montanhês. Foram um dos povos que resistiram até à chegada dos suevos, durante as invasões germânicas no império Romano.

Os quaquernos viviam nas montanhas onde nasciam o rio Cávado e Tâmega no norte de Portugal e zona da actual Galiza. O seu oppidum mais importante era Aquis Quaquernis, actual Bande, Galiza.

Tribos Galacais: Coelernos!

Coelernos (em latim coelerni) era um povo pré-romano montanhês, um dos que resistiram até à chegada dos suevos, durante as invasões bárbaras na fase final do Império Romano.

Os coelernos viviam entre os rios Tua e Sabor, no interior do norte de Portugal, a sul da província de Ourense (Galiza), onde tinham o seu oppidum, ou "cidade", mais importante: Coeliobriga, o actual Castromao (Celanova, Ourense).

Tribos Galaicas: Narbasos!

Narbasos eram um povo pré-romano identificado por Ptolomeu, que habitava a zona interior do Norte de Portugal e Galiza.

Tribos Galaicas: Gróvios!

Gróvios (em latim grovii) era um povo pré-romano de origem desconhecida. Os gróvios viviam no vale do rio Minho, entre a Galiza e Portugal.

O seu oppidum mais importante era Tude (actual Tui, Galiza). Eram particularmente devotos do deus Turiaco.

Tribos Galaicas: Límicos!

Límicos (em latim limici) foram um povo galaico castejo que habitou a região pantanosa da nascente do rio Lima, na Galécia. O termo lim é de origem indo-europeia, e significa "terreno alagadiço" ou "lodo".

Na atualidade a maioria dos estudiosos concordam que o Fóro dos Límicos estaria na zona que ocupa o Barrio de Abaixo do atual Xinzo de Limia.

Os límicos situavam-se no curso superior do rio Lima e nos arredores da lagoa de Antela, já seca, numa ampla planicie - na realidade uma depressão tectónica - conhecida popularmente como A Limia, e pelos nativos denominada simplemente de a Veiga.

Limia costuma identificar-se com a actual Ponte de Lima, no Norte português - embora deva-se ressaltar que nada tem a ver com a Civitas Limicorum, como alguns autores aínda pretendem, sendo simplemente o nome duma mansio situada num passo do rio Lima, e pertencería possivelmente ao povo dos seurbos ou dos leunos, conforme a descrição da costa da Galécia feita por Plínio, o Velho, de Norte a Sul.

Tribos Galaicas: Luenos

Leunos ou lubeanos (em latim, leuni) eram um dos vários povos pré-romanos da península Ibérica relatados por Plínio e Estrabão. Habitavam entre o rio Lima e o rio Minho, no norte de Portugal.

Tribos Galaicas: Seurbos!

Seurbos (em latim, seurbi) eram um dos vários povos pré-romanos de Portugal. Os seurbos viviam entre o rio Cávado, e o rio Lima (ou mesmo, até ao rio Minho), no norte do país.

Tribos Galaicas: Nemetatos!

Nemetatos (Nemetati em latim) eram um povo pré-romano que habitava o NO de Portugal, nas proximidades do rio Ave. A citânia de Sanfins (Paços de Ferreira) poderia corresponder ao lugar central deste grupo étnico.

Devem ser relacionados com as inscrições epigráficas dedicadas ao deus da guerra Cosus Nemedecus. O respectivo nome remete para a etimologia céltica de nemeton, santuário ao ar livre.

Tribos Galaicas: Brácaros!

Brácaros (em latim bracari) eram um povo pré-romano de cultura céltica, que habitava o Noroeste de Portugal. No seu território entre os rios Douro e Lima, por volta do ano 16 a.C., foi edificada Bracara Augusta a mando do imperador romano Augusto, o nome romano da actual cidade de Braga. Adoravam a deusa galaico-lusitana Nabia tendo por capital a Citânia de Briteiros, no início do século I d.C..

A respectiva celticidade linguística surge atestada nomeadamente na inscrição epigráfica da Fonte do Ídolo, em Braga, dedicada a Nabia e no nome da cidade de Tongobriga (Marco de Canaveses), formado a partir dos elementos tong- ("jurar") e -briga ("povoado fortificado").



Os Galaicos!

Os galaicos (callaeci ou gallaeci, em latim, kallaikoi em grego), também chamados de calaicos, eram um conjunto de tribos celtas que habitavam o noroeste da península Ibérica, correspondendo hoje em dia ao espaço geográfico que abrange o norte de Portugal, a Galiza, as Astúrias e parte de Leão.

Travaram grandes batalhas com os romanos durante anos e foram subjugados politica e militarmente por estes, comandados por Décimo Júnio Bruto, que pela proeza de os derrotar, tomou o cognome de "o Galaico".

A designação da tribo vem da batalha entre galaicos e romanos que ocorreu na cidade de Cale (que alguns historiadores situam no que hoje é Gaia e outros no que hoje é Porto) e celebra a forte resistência dada por este povo aos romanos, que estendem a designação às restantes tribos do noroeste peninsular.

Foi então criada a divisão administrativa da Gallaecia, tendo como limites o Douro - a sul; o Oceano Atlântico - a oeste e a norte; e a Tarraconensis, Tarraconense).
A Gallaecia (Galécia) estava dividida em três conventos: a Galécia Lucense, a Galécia Bracarense e a Galécia Asturicense. A sua capital era Braga. A divisão correspondia à divisão feita às tribos que a compunham.

Hoje em dia, os habitantes destas regiões são denominados galegos, com excepção dos asturianos e dos leoneses.

Uma antiga referência aos galaicos pode ser encontrada no épico Punica, de Sílio Itálico, no século I d.C..

Fibrarum et pennae divinarumque sagacem
flammarum misit dives Callaecia pubem,
barbara nunc patriis ululantem carmina linguis,
nunc pedis alterno percussa verbere terra,
ad numerum resonas gaudentem plauder caetras. (livro III, 344-7)

(Tradução:)

"Sábios na adivinhação pelas entranhas, penas,
e chamas, mandou a rica Galécia seus jovens,
que agora ululam as canções bárbaras de sua língua,
pisoteando a terra batida, a pés alternados,
e acompanhando o feliz número com os seus escudos ressoantes."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Feiras Novas de Ponte de Lima

Ponte do Lima belhinha
Minha terra, meu encanto
És princesa, és raínha,
Do Lima que te quer tanto

Já cheira às Feiras Novas...

Já sou mais como um calendário das festas do que um participante activo deste blog. Hoje venho cá escrever sobre maior de todas elas!

É já este fim-de-semana!

Estas festas tradicionais em honra de Nossa Senhora das Dores, mais conhecidas por “Feiras Novas”, foram criadas em 1826 pelo rei D. Pedro IV, tendo ficado populares por este nome para as distinguir das feiras quinzenais - as mais antigas do país! – ja mencionadas no foral concedido por D. Teresa a 4 de Março de 1125.
Ao contrário das feiras velhas, que têm a duração de apenas um dia, as Feiras Novas
têm duração de 3 dias e são realizadas no 3º fim de semana de Setembro.

No entanto, para quem lá vai, sabe que os três dias marcados no cartaz são uma síntese do que é no fundo, uma semana de festa... Até porque o frenesim começa logo na Quatra-Feira anterior (hoje, portanto) com o Encontro de Tocadores de Concertina da Vila, evento relativamente novo que foi criado com o reavivar do instrumento. As animações continuam por Quinta-Feira até chegar à noite dos fados, Sexta-Feira, sendo que todos os dias é possivel ouvir a concertina e os cantares pelas ruas da antiga vila!

O grande dia da festa, ou digamos, o mais profano, será Sábado, onde a afluência de gente é inimaginável. Isto, claro, devido ao aparecimento do veículo automóvel, pois antes passavam-se todos os dias na festa, sem regressar a casa, pois ir e vir a pé para quem, como os meus antepassados, morava longe, tornava-se cansativo. Mas, como estava a dizer, é neste dia onde a festa atinge o seu pique, depois do Cortejo Etnográfico (das freguesias) à tarde, chegam as Rusgas, á noite! Concertinas, cantares ao desafio, cavaquinhos, danças, reques, bombos, ferrinhos, castanholhas, cantigas centenárias, uma amostra do que corre no sangue minhoto, ou como alguns cá por baixo (por Lisboa) lhe chamam, a Alma Minhota! Só quem la vai pode sentir...

Chega então o Domingo, com a sua Noite do Fogo, na velhinha Ponte! Mas trás tambem o Cortejo Histórico e mais tarde, o Festival de Folclore no Campo do Arnado e na Praça Paço do Marquês (este ano com todos os grupos presentes, incluindo o de Lisboa e o de França).

Em todas as festas há (pelos menos) um dia dedicado à Igreja, em Ponte de Lima esse dia é a Segunda-Feira, feriado municipal. Onde se dá uma imponente procissão em honra da santa venerada, a Senhora das Dores! É incrível ver ainda a grande afluência de pessoas, depois de várias noitadas, mostrando o outro lado do ‘ser’ Minhoto. O lado religioso.
Saliente-se ainda, no fim do dia, a actuação de um grande grupo de música de raíz tradicional, os Quatro Ventos.

Quem poder ir, vá. E verá que isto não são apenas estórias...

Tenho a minha concertina preparada, pois daqui a umas horas rumo a casa! Ao Cerquido e a Ponte de Lima!

Vivam as Feiras Novas!

PS: Quem quiser ver o programa, pode fazê-lo aqui: http://www.cm-pontedelima.pt/pagina/imagens/FNProg2008.pdf

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Produtos Gastronomicos Celtas!

No programa “Festa das Vindimas” da RTP1, vi uma mostra de fumeiro de Castro Laboreiro.

O pastor ou criador de fumeiro referiu no meio de uma dúzia de produtos, um tipo de enchido denominado Chouriço Celta! Que ele explica como sendo uma chouriço de Sangue (comum Morcela) preparada tipicamente à castrejo!

Será que tem um fundo de verdade ou é uma denominação mercantilista?

O que conheço de origem celta em Castro Laboreiro é a famosa Ponte Celta! Facto que prova a sua presença. Outro produto que hoje em dia é denominado de origem celta é a chamada Sidra ou Cidra, bebida alcoólica produzida com maçã!

Segundo se consta, esta bebida foi introduzida em Portugal pelos Celtas e fazia parte da denominada Dieta Atlântica.

Era uma bebida tradicional do norte mas praticamente desapareceu. Restam alguns registos de pequenas produções caseiras e artesanais no Minho, mas é na Ilha da Madeira que esta bebida é mais popular!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Os rios e os cultos Galaicos!

Na antiguidade corria nos povos da beira Lima uma superstição de que as águas deste rio produziam o esquecimento do passado, até havendo uma lenda popular para explicar a superstição.

O nome antigo do rio era Limia; parece que para o povo esta palavra continha ainda clara a ideia de «esquecimento», pois os gregos e latinos a traduzem respectivamente por Lethe e Oblivio, que nunca foram porém nomes do rio, como erradamente se tem suposto.

De que modo produzia o rio o esquecimento? Conforme o texto, era atravessando-o.

Como no entanto os povos limítrofes tinham de o atravessar a cada passo, que meios empregavam eles para evitar o esquecimento?

Podemos raciocinar aqui por analogia com o que sabemos acerca das cerimónias de outros povos na ocasião da travessia das águas tidas por santas.
Pois que se considera ofensivo invadir os domínios da divindade, fazem-se-lhe sacrifícios, levam-se-lhe oferendas.

No Limia sucederia pois o mesmo: quem se sujeitasse aos ritos expiatórios e propiciatórios, passava incólume.

Sem se admitir isso, não se pode explicar a manutenção da superstição, pois ou o rio nunca seria passado, o que se torna incrível, ou as primeiras travessias, independentemente de cerimonial, a destruiriam logo, o que está em desacordo com os factos.

O Limia era portanto um rio santo, como ainda hoje no nosso país há alguns, segundo a crença popular.

Julgam de uma inscrição romana achada nos subúrbios do Porto, parece que o rio Durius (Douro) foi também divinizado; e igual conclusão se tem tirado a respeito do rio Tâmega, por causa de uma inscrição consagrada ao deus Tameobrio ou Tameobrigo.

Se com relação aos rios, os factos que apresentei são em parte hipotéticos, temos, com relação às águas termais de Vizela, um facto positivo, pois dessa região possuímos inscrições da época romana consagradas a Bormanico, que era o deus tutelar delas.

Este culto foi posteriormente, como creio, romanizado, pois há outra inscrição de Vizela em que figuram vários deuses de procedência romana, entre os quais Esculápio, deus também da saúde.
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In: Opusculos I de José Leite de Vasconcelos, página 259,260.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Como se diz em Bom Português?


Retirado de uma texto académico de José Leite de Vasconcelos (Famosos linguista, filólogo e entnógrafo Português):

"Não somente o que achamos per escripturas antigas, mas muitos que se usão em Antre Douro e Minho, conservador da semente Portugueza: Os Quaes alguns idoutos despresão por não saberem a raiz d'onde nascem". João de Barros, mais sabio que os modernos pedantes dos cafés e das havanezas, quer significar com isso que a falla do Minho era na realidade bom português, boa semente;
Duarte Nunes de Leão, ainda no mesmo século nota a "...pronunciação de ão que succede em lugar da antiga terminação dos Portugueses de om... a qual ainda agora guardarão alguns homens de Antre Douro e Minho, e os galegos que dizem, fizerom, amarom, capitom, cidadom, taballiom, appellaçom"; e n'outro logar: "... o que muito se vê [a mudança do V e B] nos Gallegos, e em alguns Portugueses d'Antre Douro e Minho, que, por vós e vosso, dizem bós e bosso, e que por vida dizem bida
Faria e Sousa que era Minhoto (Natural de Pombeiro), diz no séc XVII: "La provincia adonde mas bien se habla pienso ser (si el juizo no me engaña, i no me ciega la aficion) Entre Duero i Miño."

In: Revista Guimarães, nº2, 1885, pp.5-19

http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/rg/RG002_01.pdf

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Portus Cale!


O corónimo "Portugal" deriva de Portucale que, como à frente veremos, foi forma toponímica de um lugar na margem esquerda do Douro e de outro na margem direita do mesmo rio, correspondendo a uma tautologia de dois nomes comuns, apelativos de realidades idênticas ou aparentadas, nomes expressos em duas línguas diferentes que conviveram temporal e espacialmente.
Referimo-nos ao latim portus "passagem, entrada de um porto, porto, refúgio, foz dum rio" e ao celta cale-, ainda vivo nas línguas celtas que chegaram aos nossos dias, como é o caso do escocês cala, caladh, "porto de abrigo para navios" e do irlandês caladh, calaì, "cais, molhe, porto", estando documentado o médio-irlandês calad "porto de abrigo para navios, baía".
Depois, o tempo foi passando, as gentes foram falando e Portucale acordou "Portugal", ainda o galaico-português pontapeava o ventre materno, por sonorização da oclusiva intervocálica -c- > -g- e posterior emudecimento e apócope do -e final.
A convivência de povos de línguas diferentes, numa mesma região, pode levar ao aparecimento de topónimos diferentes apenas na aparência, já que exprimem o mesmo conceito nos respectivos idiomas. Em zonas de usufruto comum, integradas em vivências deste tipo, aparecem também formações tautológicas, juntando num mesmo topónimo elementos de duas línguas adstratas.
Servem como exemplos, no Reino Unido, Cheetwood (no Lancashire), do céltico cheet "floresta" + saxão wood "floresta" e Brill (no Lincolnshire), do céltico bre "colina" + saxão hill "colina"; em Espanha, o Valle de Aran, do espanhol valle "vale" + basco haran "vale"; em Moçambique, o "Lago Niassa", do port. lago + suaíli nyassa "lago"; na Itália, Montegibello (na Sicília), do lat. monte- "monte" + árabe jibal "montes".
Para rematar estes exemplos, temos na Escócia uma tautologia idêntica à de Portucale, para identificar um ancoradouro no Kyles of Bute: Caladh Harbour, topónimo que associa o inglês harbour e o gaélico caladh, ambos a significar "porto de abrigo para navios".
Desconhecemos qual seria a grafia e pronúncia da forma galaico-lusitana cale-, já que apenas chegou até nós como topónimo transmitido por romanos, não falantes da língua celta, que, muitas vezes, não tinham grandes preocupações de fidelidade em relação à latinização das falas recolhidas, escondendo numa última consoante, muitas vezes um -s, qualquer som que lhes fosse estranho.
Mas não deveria andar longe de cale, se atentarmos no actual português "cala" e no galego cala, vozes que significam "pequeno porto ou enseada muito estreita, com margens íngremes ou entre rochedos". Muitos dicionaristas atribuem a origem destas falas ao árabe kalla, mas inclinamo-nos muito mais para uma origem pré-romana, como sugere o dicionário de Houaiss, e avançamos para uma etimologia céltica, apoiados nos exemplos fornecidos pelas línguas gaélicas.
A reforçar esta opção temos o grande número de topónimos "Cale" (concelhos de Vila Real, Cinfães, Marco de Canavezes e Oliveira de Azeméis, os quatro junto de cursos de água), "Cal" (Norte de Portugal e Galiza) e "Cales" (na Galiza), todos no Noroeste da Península Ibérica, precisamente onde foi menos efectiva e demorada a presença árabe, e a existência de um Caladunum entre Douro e Minho, como podemos ler na Geografia (L. 2, cap. 6, § 39) de Claudius Ptolemaeus (c. 90-168).
Este Caladunum, referido por Ptolomeu no século II d.C., deve referir-se a um castro na actual freguesia de Cervos, no concelho de Montalegre. Esta freguesia é atravessada pelo rio Beça, em cuja margem fica um monte ainda hoje denominado Crasto.
O território de Cervos era atravessado por uma estrada romana, atestada por dois marcos miliários aqui descobertos, de que nos fala Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e Moderno (vol. 2, p. 256-257). Caladunum deveria então corresponder a um castro [céltico dunum "fortaleza elevada", "colina"], servido por uma "enseada muito estreita, com margens íngremes ou entre rochedos" [céltico cale].
Também na foz do Cávado, frente aos rochedos chamados Cavalos de Fão, houve até há pouco tempo um ancoradouro natural, cujo sítio se chamava "Cala". Quanto a nós, o problema levantado pela existência de dois topónimos iguais, olhando-se nos olhos com o Douro de permeio, foi resolvido de forma expedita e arguta em 1940, por Cláudio Basto ("Os nomes Cale e Portucale: plano de estudo", in Revista de Guimarães, número especial, 1940: 83-94), mesmo sem poder contar com o auxílio do elemento cale, cujo étimo não identificou.
Para este autor, o topónimo Portucale abrangeria de início as duas margens e o próprio percurso fluvial, considerando o sentido da fala portus que, primitivamente, designaria uma "passagem", o que aliás já acontecia no indo-europeu *prtu-, de base *per-, o étimo donde deriva.
Como nos diz Viterbo, o português "porto", nos nossos documentos mais antigos, significava
porta, entrada, garganta do monte ou passagem, já do mar ou rio para a terra, já de uma terra para a outra, atravessando alguma eminência ou cerro, que serve como de muro ou divisão.
Também chamaram Porto, não só o vau de um rio caudaloso, onde se passa em barca, mas também o de qualquer ribeiro, onde se passa, ou a pé, ou de carro, ou em besta, ou em poldras, ou em ponte sendo da razão do Porto o dar passagem ou entrada (Elucidário, vol. 2: p. 488).

A fala galega porto, para além do significado hoje mais usual, ainda significa "paso entre montañas que comunica as dúas vertentes", "lugar estreito ou pouco profundo por onde se pode atravesar um río" (EGU, vol. 14, p. 81, s.v. "porto").
O sentido de "passagem" está também presente noutras falas de outras línguas indo-europeias, derivadas deste mesmo étimo, como no espanhol puerto, quando se refere a "depresión, garganta o boquete que da paso entre montañas"; no francês port "lugar em que há uma barcaça ou barcos para se passar um rio ou ribeira"; no francês pirenaico port "passage dans les Pyrénées"; no antigo germânico *furdu-, donde deriva o alemão furt "vau" e o inglês ford "passar a vau".
Por tudo isto, o apelativo "porto", com a significação de "passagem", está por detrás de muitos topónimos portugueses que, conjuntamente com Barca, Barco, Barcos, Passadouro, Passagem, Travassô, Vau e tantos outros engrossam a numerosa família dos hodotopónimos.
E, nestas andanças de documentar o sentido de portus, acabamos de bater com o nariz no Dictionnaire Universel François et Latin (Dictionnaire de Trevoux), descobrindo que há trezentos anos já se tinha chegado à tautologia atrás enunciada:

Ce mot de Portugal vient de Portus & de Cale, qui signifie tous deux port. Cale vient de cal, mot Celtique qui veut dire la même chose. De là on a fait Burdicala ou Burdigala, port célèbre de Gascogne ("A palavra Portugal vem de Portus e de Cale, ambas com o significado de porto. Cale vem de cal, palavra céltica que quer dizer a mesma coisa. Esta entrou na formação de Burdicala ou Burdigala [actual Bordéus], célebre porto da Gasconha") (1732, 3ª ed., Vol. 4, col. 1003).

A mais antiga alusão à civitas Cale da margem direita do Douro deve-se a Gaius Sallustius Crispus (Hist. III, 43), nas suas Historiarum libri quinque (39 a.C.), narrativas históricas reportadas aos acontecimentos das lutas sociais e políticas que debilitaram a República Romana no século I a.C., no caso em apreço entre 78 e 67.
A referência de Salústio chegou-nos numa citação de Maurus Servius Honoratus, datada do século IV e inserida num comentário gramatical e literário sobre Virgílio — os Servii Gramatici in Vergilii AEneidos Librum Septimum Commentarius —, onde, depois de se referir à civitas Cales da Campânia e à Cale (actual Cagli) que demorava na via Flamínia, estrada que ligava Roma a Ariminum (actual Rimini, na costa adriática), afirma:

est et in Gallia hoc nomine, quam Sallustius captam a Perperna commemorat [e existe (outra civitas) com este nome na Gália, de que Salústio relata aconquista por Perpena].

Estes acontecimentos teriam tido lugar em 73 a.C., data da incursão de Perpena no Noroeste peninsular, em acções militares que o levaram até ao rio Lima. Considerando que o escrito de Salústio abordava as lutas sertorianas da Hispânia, e que Perpena era um dos generais de Sertório, parece óbvio o lapso na transcrição de Gallia por Gallaecia, incongruência já apontada pelo humanista e académico Isaac Vossius (1618-1689), no segundo volume da edição de Leiden da obra De situ orbis de Pompónio Mela.
Se Gallia está por Gallaecia, a menção salustiana permite-nos identificar esta Cale com a povoação da margem direita do Douro, já que a margem esquerda pressupunha uma localização na Lusitânia e não na Galécia.
Mas, se esta citação corresponde à realidade descrita, também é provável que "Cale" fosse nesta época um simples locus (lugar) e não uma civitas (comunidade-território em volta de uma povoação principal), pois não é mencionado pelos geógrafos que descrevem a Hispânia dos dois primeiros séculos da nossa era, como sejam Estrabão (c. 58 a.C.-c. 25 d.C.), Pompónio Mela (escreve nos anos 40 do século I), Plínio (23-79) ou Ptolomeu (c. 90-168).
Considerando as fontes conhecidas, a referência seguinte ao topónimo Cale surge no acusativo Calem do Itinerário de Antonino (Itinerarium provinciarum Antonini Augusti), dos finais do século III d.C., identificando a penúltima estação da estrada romana de Lisboa a Braga, a 13 milhas de Lancobriga, a estação anterior, e a 35 (cerca de 52 km) de Bracara Augusta.
Esta última distância tem levado muitos investigadores a identificarem este Calem com a civitas da margem direita do Douro, o que, parecendo razoável, não deixa de ser uma mera hipótese. As menções posteriores aparecem já na formação tautológica Portucale.
Começamos por destacar um documento da segunda metade do século V, o Chronicon de Idácio — bispo de Chaves que terá vivido entre cerca de 395 e talvez 472 —, um conjunto de crónicas sobre o reino dos Suevos, com a capital em Braga, abarcando o período de 379 a 468.
Idácio menciona Portucale, indeclinável, em três parágrafos distintos, uma vez sem qualquer especificação (Aiulfus dum regnum Suevorum spirat, Portucale moritur mense Junio), outra como lugar (Rechiarius ad locum qui Portucale appellatur, profugus regi Theudorico captivus adducitur) e uma última como castro (Maldras germanum suum fratrem interficit, et Portucale castrum idem hostis invadit).
Devemos uma outra citação a Isidoro (560-636), bispo de Sevilha, em cuja Historia de Regibus Gothorum, Vandalorum et Suevorum, em que narra os acontecimentos relacionados com o reino visigodo da Hispânia, até finais do primeiro quartel do século VII, podemos ler:

Ipse postremo rex telo saucius fugit, praesidioque suorum carens, ad locum Portucale capitur, regique Theuderico vivus offertur.

Ainda aqui, continuamos com Portucale reduzido a um simples povoado, não aparentando qualquer preponderância especial.
Nas pretensas actas de um alegado Concílio de Lugo, que teria tido lugar em 569, temos a mais antiga menção à existência de um Portucale a norte do Douro e de um outro na margem sul, mesmo que este documento seja posterior àquela data, já que algumas das suas versões apresentam interpolações que remetem para o século XII.
Mas, para o que nos interessa, importa referir que não é posta em dúvida a autenticidade do chamado Paroquial Suévico ou Divisio Theodemiri, o elemento mais importante destas supostas actas, cujo original, hoje perdido, deve ter sido redigido entre 572 e 589.
O estabelecimento destas duas balizas deve-se ao facto do Paroquial colocar a sede da diocese portucalense em Portucale, sendo certo que a diocese nasce no segundo concílio de Braga (572) com a sede em Magneto (Meinedo, actual freguesia do concelho de Lousada) e que, aquando da realização do terceiro concílio de Toledo (589), a referida sede era, agora sim, em Portucale.
Esta Divisio Theodemiri, um acto de administração político-religiosa porventura da iniciativa do rei suevo Teodemiro (559-569), menciona uma paróquia ad sedem Portugalensem in castro novo (junto da Sé portucalense, no castro novo), na actual cidade do Porto, e uma outra denominada Portucale castrum antiquum, na diocese de Coimbra e, por isso mesmo, na margem sul do Douro, no actual concelho de Vila Nova de Gaia.Neste desatar de meada cronológica, segue-se um documento de 922, do Livro Preto da Sé de Coimbra (vol. 1, p. 118-120), diploma em que alguns investigadores vêem uma cópia deturpada ou com interpolações.
Trata-se de uma "descrição da forma como o bispo Gomado organizou o mosteiro de Crestuma e a vila do mesmo nome", com a notícia das doações que beneficiaram o referido cenóbio. A Crestuma, que fica na margem esquerda do Douro, junto à foz do rio Uíma, teriam chegado por via fluvial (fuerunt navigio), depois de terem embarcado (excitabit naves) em Portugale (obviamente na margem oposta), o rei Ordonho II (rei da Galiza de 911 a 914, e da Galiza e Leão de 914 a 924), a rainha (Aragunte Gonçalves), os condes Lucídio Vimaranes e Rodrigo Lucides e restante comitiva régia, para visitarem o mosteiro e o bispo Gomado.
No mesmo documento, um pouco mais à frente, fala-se de uma propriedade do mosteiro e dos respectivos termos:

villa de portugal quomodo dividit per suos terminos antiquos quomodo dividit cum illa villa de mahamudi et inde per montem a termino de colimbrianos usque in gal.

Se no primeiro caso temos o Portugale da margem direita do Douro, no segundo descobrimos o Portugal da margem sul, a confrontar com Mafamude (actual freguesia da sede do concelho de Vila Nova de Gaia) e Coimbrões (freguesia de Mafamude), povoações entretanto absorvidas pela cidade de Vila Nova de Gaia.
E temos ainda um(a) Gal (usque in gal), afinado pela terminação de Portugal, talvez a encobrir um topónimo mal percebido ou mal lido, que poderia ser Gaia.
Este Portugal da margem sul deveria corresponder à actual freguesia de Santa Marinha (Vila Nova de Gaia), encostada ao Douro e virada para o morro da Sé do Porto. Para aqui nos empurra o documento 268 do Livro Preto da Sé de Coimbra (vol. 2, p. 139-140), diploma sem data que menciona as herdades usurpadas pela violência à Sé de Coimbra, entre as quais encontramos Sancta Marina de Purtugal.
Perante a existência de dois povoados denominados Portucale, um na margem direita (castro novo) e outro na margem esquerda (castrum antiquum) resta descobrir em qual deles nasceu Portugal e qual deles nasceu primeiro.
Numa leitura imediatista, a questão da precedência parece resolvida com os qualificativos com que o Paroquial Suévico ornou cada um dos dois topónimos. Nesta perspectiva, o mais antigo, o primeiro a nascer, seria o Portucale da margem sul, porque era esse o castrum antiquum, mas não podemos esquecer os condicionalismos que rodeiam aquele documento, nada garantindo que os adjectivos antiquum e novo não sejam interpolações de séculos posteriores, como também não podemos ignorar o facto de tanto Idácio de Chaves como Isidoro de Sevilha não fazerem qualquer referência ao Portugal da margem esquerda, nem sentirem necessidade de especificar de qual estavam a falar.
Os achados arqueológicos dos últimos anos permitem-nos afirmar a ocupação humana do morro da Sé desde o século VIII a.C. e da Ribeira ao longo da vigência do domínio romano, mas outras descobertas poderão ocorrer durante os trabalhos anunciados em torno da "Recuperação e Reconversão Urbanística de Santa Marinha", em Vila Nova de Gaia.
De qualquer forma, e independentemente dos referidos adjectivos serem ou não dos finais do século VI, continuaria por provar qual dos dois povoados teria nascido primeiro. Com efeito, o castro novo poderia corresponder a uma recuperação sueva de um castro mais antigo, que tivesse sido destruído durante a conquista romana, ou, se corresponder a uma interpolação dos séculos VIII-IX, poderia indicar uma restauração neogoda, depois da destruição de Portucale por Afonso I das Astúrias (739-757), em meados do século VIII, ou após a presúria do mesmo Portucale pelo conde Vímara Peres, em 868, no reinado de Afonso III (866-911), considerando que o Portucale da margem direita foi, a partir daquela data, se já não o era antes, um centro de povoamento e de organização político-administrativa e, pelo menos nominalmente, a sede do condado do qual viria a nascer Portugal.
Pesem as dúvidas e reticências, podemos afirmar que o corónimo "Portugal", na sua mais remota origem, terá começado por vestir a pele de um vulgar apelativo, numa língua indo-europeia, celta ou pré-celta, para nomear um ancoradouro que se inscrevia na passagem do rio Douro, evoluindo para nome próprio de lugar, para topónimo, à medida que as gentes do lugar e as gentes que ao lugar chegavam construíam a história deles e a nossa.
E foi essa história que juntou o portus romano ao cale celta, para que todos, os que estavam e os que vieram, soubessem do que se falava. A paz romana terá acrescentado importância ao povoado, estrategicamente situado para movimentar pessoas e coisas, entre a Lusitânia e a Galécia.
A crise do século III, a instabilidade do século IV, as invasões germânicas do início do século seguinte e a queda do Império Romano do Ocidente fizeram a história que se seguiu, por certo mais nos castros que nas margens baixas do rio.
Nos alvores do século V os Suevos instalam-se no noroeste da Península, entre Douro e Minho, aqui fundando um reino de fronteiras instáveis, com a capital em Braga, que durou até 585, ano em que as armas visigóticas lhe marcaram o fim, absorvendo-o no seu reino de Toledo.
A crermos nalguns indícios, transmitidos pelos documentos do período suevo, Portucale terá sido por vezes residência dos reis, que por regra estanciavam em Dume, nos arredores de Braga, e, na segunda metade do século VI, a sede de uma diocese, embora, como vimos acima, a respectiva sé estivesse algum tempo instalada em Meinedo, certamente uma consequência do cisma que opunha a ortodoxia católica ao arianismo.
A importância de Portucale cresce durante o domínio visigótico, realidade bem patente no desenvolvimento da diocese e na instalação de um centro emissor de moeda, com cunhagens conhecidas nos reinados de Leovigildo (568-586), Recáredo I (586-601), Liuva II 601-603) e Sisebuto (612-621).
Perante tal quadro, podemos admitir que Portucale seria também, já no período suevo-visigótico, um centro de administração civil, certamente sob a tutela de um conde (comite-).
Nos séculos VIII-IX multiplicam-se as dificuldades, primeiro com o curto domínio muçulmano, depois com as investidas de mouros e normandos, que terão obrigado ao recuo da sede da civitas, pelo menos nos períodos mais críticos.
Depois de 868, com a conquista definitiva de Portucale pelas forças neogodas de Leão, lideradas pelo prócere Vímara Peres, o território portucalense vai aumentando para Norte e para Sul, ganhando identidade e coesão, facilitadas pelo governo hereditário de uma família condal (868-1044), cujas raízes vão do referido Vímara Peres aos descendentes de Diogo Fernandes.
Portucale já não é apenas um topónimo da margem do rio Douro, é cada vez mais um corónimo de uma província ou território, governada por um dux magnus ou por um comes.
A evolução desta nova realidade política acentuar-se-á a partir dos finais do século XI, durante os governos do conde Henrique, da sua viúva Teresa e de seu filho Afonso Henriques. No quadro político da Península Ibérica, será este último o grande responsável pela criação do novo Estado, que responderá pelo nome de PORTUGAL.
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