quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A "Calamidade" segundo Orlando Ribeiro

As casas de brasileiros sobressaem geralmente pelas dimensões, aparato e mau gosto: com varandas e cobertos, ás vezes torres, revestidas de azulejos de cores nítidas, distinguem-se ao mesmo tempo dos estilos tradicionais das moradias como das recentes casas de franceses retornados do ultimo surto emigratório, a partir do decénio de 60.

Quinta Vila Beatriz, Póvoa de Lanhoso

(...) Vem passar as férias de Verão, por e ás vezes do Natal ao lar paterno renovado ou ás casas espaventosas que a generalização do cimento e do tijolo permitem construir em algumas semanas, com arrebiques de escadas, varandas, alpendres, telhados desencontrados, ás vezes cobertos de telha preta , forrados de azulejos mais extravagantes dos que os dos brasileiros ou pintados de cores berrantes de gosto mais deplorável.

Vale do Ave - Guimarães

São os Senhores Engenheiros das Câmaras (título de tanto prestígio como os de médico ou «doutores de Leis») que, mediante incríveis negociatas (nunca reinou em Portugal tanta corrupção a todos os níveis), impingem projectos copiados de revistas estrangeiras, descaracterizando de tal modo a formosa arquitectura das nossas vilas e aldeias que muitos estrangeiros que nos visitam as tomam como expressão típica de Portugal; nem aldeias serranas escapam a essa calamidade.

Revista da Faculdade de Letras - Geografia
I série, Vol. III, Porto 1987, p.5 a 11
Entre-Douro-e-Minho


P.S: Dedicado a todos os empresários e mandantes regionais que permitiram a aniquilação da terra que seria suposto defenderem. Até Orlando Ribeiro, um dos mais famosos Geógrafos, Antropólogos e Etnógrafos Portugueses, vos tinha asco.