domingo, 31 de maio de 2009

Gaia: Capital da Cultura do Eixo Atlântico

Em seguimento com os textos anteriores....
Braga continua a idolatrar o seu passado Romano como o fazem as dezenas de cidades Portuguesas, em especial as que ficam mais a Sul pois dependem históricamente deste legado para se afirmarem.... Braga não precisa!

No entanto, lembro-me agora que também Terras de Bouro procura alicerçar-se turistica e históricamente com o seu legado Romano: a Geira Romana! Até se fala do nascimento de um museu de interpretação da Geira Romana. Mas o mal até nem está aqui, pois reconheço o valor patrominial deste legado (seja ele verdadeiramente romano ou não!?) O problema é o impacto que directa ou indirectamente isso possa ter para os menos capazes!

Por exemplo, vim a saber que Vila Verde (depois de uma conversa offrecord com o Gabinete de Patrimonio) também planeia traçar um percurso interpretativo das POSSIVEIS Vias Romana que atravessavam o Concelho, baseando-se na existência de Pontes Romanas, Marcos Milenários e coisas do género! E como estes exemplos outros mais se vê e ouve por todo o lado, sempre idolatrando tudo o que é Romano... simplesmente porque pegou moda!

Assiste-se cada vez mais a uma autêntica massificação Romana em terras onde os vestígios Castrejos são simplesmente ignorados e incompreendidos! Não vale a pena criar falsas ideias que somos ou descedemos dos Romanos, que os Romanos são a nossa base civilizacional... Importa ter em mente que os povos da nossa região eram os GALAICOS... povo este que os Romanos, Suevos e outros povos da antiguidade foram aculturando ao longo dos séculos... transformando-nos no que hoje somos. É fácil perceber que não somos descendência directa dos Romanos nem de qualquer outro povo invasor... as nossas raizes são Galaicas.

Esperemos que dentro de 1 ou 2 anos sejam classificadas como Património Mundial as dezenas de Castros e Citânia de Galiza e Norte de Portugal para que os senhores que governam assumam a importância da Cultura Castreja na nossa história e no nosso futuro.


Esperemos também que estas novas iniciativas do Eixo Atlântico, por exemplo, na criação de Capitais Culturais da Galiza e Norte de Portugal, faça ver aos nosso governantes e o povo em geral que a nossa cultura é algo único, vivo e verdadeiro... pela qual não precisamos de fazer vénia a Roma!
Este ano vai ter inicio o ciclo de Capitais de Cultura do Eixo Atlântico e a primeira edição vai ser em Vila Nova de Gaia. Começa já este proximo mês de junho.

"Concertos e acções literárias vão encher a programação do concelho durante Junho, Julho e Agosto. Durante estes três meses "Gaia vai viver cultura", máxima aplicada para celebrar o título de Capital da Cultura do Eixo Atlântico 2009, expressando esse conceito na organização de cerca de 300 eventos.

Hoje em dia são 34 munícipios de Portugal e Galiza que fazem parte da rede do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular. A liderança deste projecto é rotativa entre os concelhos membros, estando Vila Nova de Gaia actualmente na presidência, merecendo, por isso, ser sede de uma aposta de grande magnitudade. A cidade vai começar a ferver a 4 de Junho, por impulso de um concerto dos Milladoiro, acompanhados de Mafalda Arnauth no Mosteiro da Serra do Pilar. Logo de seguida (5 e 6 de Junho), engata na programação, mais uma edição do Festival de Blues, no Cais de Vila Nova de Gaia. Após isto, é organizado um concerto sinfónico a 9 de Junho, o Festival Internacional de Música (de 11 de Junho a 26 de Junho), o Festival Rock Luso-Galaico (14 e 15 Agosto) e o Eixo-rap (4 de Julho). De propostas tão diversas se constrói o cartaz musical.

Em termos de literatura, nota para o 1.º Salão Infanto-Juvenil de Literatura , o Colóquio Queirosiano Luso-Galaico e o Encontro Literário Luso-Galaico. Mexendo com os vários universos das artes performativas, tais como Teatro, Novo Circo e Dança, haverá uma mostra abrangente destas tendências. O folclore, que tanto une as duas culturas, será potenciado pela realização do Gaia Folk. E vai haver ainda um Expocidades", uma encontro das potencialidades e produtos característicos da euro-região, que decorrerá entre 4 a 14 de Junho, na Praça do Eixo Atlântico."

Alarriba Galaicos!

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ENTRECULTURA

terça-feira, 26 de maio de 2009

Ainda sobre a "Braga Romana"...

Pequenos excertos de um e-mail informativo com que a câmara municipal de Braga enche diariamente as nossas reciclagens:

Cidade recria quotidiano da Bracara Augusta, de 28 a 31 de Maio:
BRAGA VOLTA A RENDER-SE

Parabéns à cidade por festejar as derrotas e aclamar os invasores genocidas. Para OGalaico, como para quem pense um pouco, este e um título ridiculo. Pergunto-me qual a reacção dos Portugueses caso houvesse a "Lisboa Moura" onde se glorificasse os 400 anos de domínio mozárabe e batessem palmas ao povo estrangeiro que veio oprimir os nativos...


Conforme tem acontecido, espera-se que o Imperador convide os presentes para uma primeira saudação aos “bracari”, particularmente aos mais novos, a quem costuma dedicar os primeiros gestos...

Aqui querem fazer crer que o Imperador e Roma em geral eram amiguinhos dos Bracari e que faziam festinhas nas testas das suas crianças. A verdade não era essa. Por venturam escravizavam os pequenos e as mulheres e se os homens fossem rebeldes decapitavam-nos em praça publica como faziam às estátuas de Guerreiros Galaicos. A encenação da "Braga Romana" é um disparate sem limites.

De acordo com os historiadores, as origens de Braga remetem para o início da Era Cristã, mais precisamente para o ano 16 a.C., altura em que César Augusto fundou a Bracara Augusta, à semelhança de outras cidades do noroeste da Península Ibérica.


Ainda e sempre a propaganda e a promoção das ideias pré-concebidas e desactualizadas. Como já foi dito anteriormente, os acampamentos militares em zonas de forte densidade populacional rebelde, tornavam-se mais cedo ou mais tarde permanentes e passavam a núcleos urbanos efectivos. Ninguém fundou as cidades a não ser as populações que de facto já la viviam. O exemplo de Braga é por de mais flagrantes onde existem ruinas pré-romanas no que hoje é plena cidade.


Ciente da importância do património arqueológico para o conhecimento das origens da cidade e também como elemento de identidade cultural e de promoção turística, o Município de Braga tem vindo a apoiar a investigação e a valorização dos sítios arqueológicos integrados na malha urbana actual, sendo possível visitar um conjunto de quase uma dezena de locais de particular interesse arqueológico.

E digo mais. Se a câmara tivesse olhos para além das favelas que tem construído, encontraria dezenas de monumentos AUTÓCTONES, GENUÍNOS, NOSSOS e BEM MAIS ANTIGOS que valem a pena preservar. A falta de perspectiva e a pura ignorância não permitem aos dirigentes traçar planos distintivos para Braga. A maior faisca de criatividade que alguma vez tiveram foi a de associar Braga, uma zona de maior importância Castreja, cultura única no Mundo, aos "Romanos". "Romanos" esses que existem em todo o lado, desde África, ao Norte da Europa. Acho que umas aulas de marketing e uma ida ao confessionário por andar a mentir às pessoas seriam bem vindas.


É neste contexto de promoção e divulgação da história da cidade e de animação deste património local e regional que se insere a “Braga Romana – Reviver Bracara Augusta”, programa que procura recriar a ambiência e o cosmopolitismo da cidade de Augusto, onde chegavam mercadores e produtos provenientes do norte de África, do Oriente e de outras regiões do Império.


«Esta diversidade de culturas e de produtos, associados às diferentes regiões que então constituíam o Império romano, está espelhada na recriação do mercado, distinguindo-o, dessa forma, de uma simples feira de produtos artesanais», explica a Vereadora da Cultura.

Estas duas ultimas afirmações servem para rematar a ironia decadente da organização deste herético circo. Podemos ver todo o tipo de palhaçadas pelas ruas de Braga MENOS a cultura Castreja. Reparem 0s leitores no disparate épico, falta de coerência e conhecimento, displicência e... porque não, graça macabra, desta situação.

Braga e os Bracari eram os Castrejos. Os Romanos lutaram contra esta civilização da qual, ainda hoje, descendemos. Houve um choque de culturas entre a Castreja Atlantica e a Romana Mediterrânica. No entanto nada disso está à vista neste evento. Apenas tendas africanas, medievais, e muitos Romanos em território estrangeiro. Reforça-se assim o esquecimento da nossa herança culturalm e as falsas ideias que contribuem para a globalização e uniformização do carácter das gerações futuras. Assim, dentro de pouco tempo, Braga deixará de ser Braga, Minho o Minho e Norte o Norte para sermos qualquer coisa igual a tantas outras.

Como se diz no Diário do Minho: BOA VAI ELA!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Braga Romana! Negação da Origem vol.III

Mais do que uma vez se falou aqui da herética bajulação que a cidade de Braga faz à cultura Romana.

Em vésperas de mais uma edição da "Braga Romana", OGalaico, como modestíssimo veiculo comunicativo, não pode deixar de demonstrar a aberração que o evento acaba por ser.


Talvez pensem que termos como "herético, bajulação e aberração" são fortes demais e exagerados porém, a minha opinião, é que não existe na língua "Lusa" (que é, na verdade, Galaica) adjectivo capaz de qualificar na integra tamanha mentira. Por mentira refiro-me especificamente à mensagem que acaba por ser passada para os Bracarenses e a todos quanto se exponham a esta compilação de displicências históricas. De facto, quem sai da feira que começa no próximo dia 28 de Maio, sai convencido de que Braga era uma cidade Romana e a que a estes se deve a própria fundação da "Capital do Minho".

Convêm por isso derrubar alguns dogmas acerca desta suposta romanização que trousse a luz aos povos Castrejos que, até aí não passavam de bárbaros animais selvagens perdidos nas trevas da ignorãncia.

- Diz-se que os Romanos fundaram Braga mas sabe-se que já lá existiam povoados. Prova-se este argumento na própria estação de comboios da cidade dos Arcebispos, onde jaz um balneário tipicamente Galaico (Os ignorantes, apesar de estar explicito no local, continuam a dizer que é Romano. Isso demonstra bem a confusão que vai na cabeça dos Bracarenses). Além do mais, se os Romanos aí se estabeleceram foi para controlar os imensos pólos Castrejos Brácaros que sempre atormentavam as legiões com ameaças de revoltas. Assim, se a urbe cresceu com influência Romana foi antes de tudo devido à existência de um forte contingente indígena insubordinado nas imediações.


- Durante a feira podem ser avistados inúmeros "romanos" a vaguear pelas ruas da cidade. A realidade era no entanto bastante diferente pois os poucos verdadeiros Romanos que aqui estavam seriam chefes de legiões, centuriões ou membros de autoridade que exerciam as suas funções politico-administrativas. Os tropas, estes, de certeza que andavam fardados mas ainda mais certo é o facto de não serem Romanos. Os topónimos locais acabados por "mil" como Vermil ou Creixomil tem relação com a forma latinizada de "Militar". Ou seja, eram locais onde se recrutavam (ou obrigavam) números para as forças armadas. Em todo o império e, isso é ponto assente, as tropas eram sempre compostas em larga maioria por homens oriundos dos povos conquistados. Na verdade, Romanos em Braga haveria-os muito poucos e, os que houvessem, não casavam com bárbaros. Cai assim o idiota pressuposto dos Bracarenses serem descendentes da península Itálica.

- Os festejos que se verificam, aos olhos de quem tem ponta de inteligência, são no mínimo infames. Uma civilização autóctone ruiu, milhares foram chacinados e o próprio Estrabão fala das mulheres Brácaras lutando até a morte ao lado dos homens, matando os próprios filhos, suicidando-se em seguida, para não caírem em mãos profanas. O facto de hoje se glorificar de forma tão inocente (adjectivo aplicado no sentido referente á estupidez) os invasores causa-me cólicas. Não basta a recuperação de todo e qualquer calhau Romano, sejam quais forem os custos ou os prejuízos para o desenvolvimento da cidade (em detrimento das ruínas Castrejas, tema já abundantemente abordado), mas é preciso submergir os nossos cidadãos em valores devassos, que trocam o orgulho que deveríamos ter pelos nossos antepassados, por uma ingrata e falsa pertença a um povo que nos matou, sangrou e sugou.


- Falemos agora dos enormes benefícios que os Romanos trouxeram com eles e que permitiram enfim uma vida digna aos Castrejos Galaicos. Diz-se assim que eles fizeram chegar até nós as estradas. Já que falamos aqui em barbáries, esta ideia não o é menos. Como é que um povo que se baseava em trocas comerciais por ausência de capitais efectivas se poderia gerir sem estradas? O que os Romanos fizeram foi sim destruir as existentes e criar as deles para que pudessem controlar melhor toda e qualquer actividade e, claro, cobrar impostos pela sua utilização. Aquedutos? Os Castrejos não os tinham porque não precisavam deles. Água, no Noroeste Ibérico é o que mais há e a vida nos cimos dos montes em aglomerados restritos não necessitava de engenhos destes para nada. Finalmente, dizer que os Galaicos, capazes de fazer previsões e cálculos astronómicos, cultivarem com mestria artes como a fundição dos metais entre outras coisas, eram tudo menos estúpidos. Estúpidos são os que olham para os Romanos e acreditam piamente nas versões do nosso sistema educativo que, fazem deles os portadores da luz e os libertadores dos homens.

- Tradicionalmente vê-se os Romanos como seres culturalmente superiores. Pois bem, se ponderarmos um pouco acerca de características tão típicas deles como atípicas nossas concluímos que lupanares (casas de prostituição), homosexualidade e lesbianismo aceites e valorizados, machismo total que encerrava as mulheres (ao contrário do nosso povo atlântico que as venerava), desrespeito pelos mais velhos (eram para os Castrejos valiosíssimos) etc. nada tem a ver connosco. Não entendo por isso esta tentativa, não sei se consciente ou inconsciente mas sempre parva, de fazer dos Bracarenses sósias deste povo socialmente atrasado. Aliás, caso soubessem minimamente quais os valores de um Romanos dos tempos clássicos, não haveria um Bracarense a querer ser identificado como "Guerreiro do Minho".


- Ainda no âmbito do impacto cultural, OGalaico muitas vezes se refere a epigrafia como a prova de que os Romanos foram aculturizados mais do que influenciaram aspectos importantes como os religiosos. Os Deuses originais permaneceram vivos o que demonstra que não houve alienação ou lobotomia cultural. E verdade que os Galaicos alteraram o seu modo de vida mas, também não nos esqueçamos que os Castros permaneceram habitados durante séculos pela romanização dentro e não foi ela que acabou com o modo de vida autóctone. Além do mais, imensos habitantes das cidades nasciam nos Castros e mais tarde empregavam-se nas quintas e ofícios da nova urbe. Isso fazia a cidade ser profundamente Galaica e não Romana.


Poderia citar intermináveis situações que reforçariam a minha posição mas a partir de certo momento essa persistência apenas realçaria uma falsa ideia de obsessão e potenciaria o aborrecimento dos leitores.

A Romanização, não entendam mal, aconteceu e teve impactos profundos. Mas nunca fez dos Bracarenses Romanos nem, nos alterou a alma. O modo de vida mudou para alguns e para outros nem por isso. Mantivemos os mesmos Deuses e, durante muito tempo, a mesma língua que foi sendo mutilada com o passar dos séculos. Talvez até bem mais lentamente do que a globalização de hoje o faz. A escrita foi a inovação mais preciosa e marcante que os Itálicos acabaram por trazer mas, mais uma vez, não é por a internet ter chegado a Portugal que deixamos de ser Portugueses.


Faça-se no entanto a feira Romana. Quantos mais eventos houverem nos nossos abandonados centros históricos melhor. Pena no entanto que, neste caso, a mensagem seja completamente falsa e que subjugue uma herança cultural milenar ao marketing de querer vender uma cidade sob uma marca que não nos pertence. Venda-se igualmente a nossa inteligência e a honra do nosso povo pois, estas apenas nos trazem as complicadas amarras da coerência. Faça-se do mundo inteiro Romano, Católico e Apostólico para que assim deixemos de nos matar por causa da diferença e comecemos a fazê-lo pelo tédio das existências inócuas.

Poderiam recriar com justeza a luta territorial que de facto ocorrera, podiam fazer uma feira que mostrasse a verdadeira situação da época onde a cultura Atlãntica e Mediterrânica se defrontava como autóctones e invasores. Mas não o fazem. Preferem dispor nas ruas barracas Romanas com outras de bruxarias medievais e até mouriscas, numa amalgama de eras e civilizações que não lembraria à mais elaborada salada russa.

Assim, façam o que quiserem mas EU não sou Romano e OGalaico também não. Por isso fica aqui uma inutil voz de protesto.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Lavrada Tradicional Minhota

Para recordar as tradições galaicas aqui fica um pequeno video que a equipa ogalaico considera pedagógico para a nossa causa. Uma recriação realizada em Cuide Vila Verde concelho de Ponte da Barca.

Esta era uma tarefa que me lembro particularmente de participar aqui à uns 15-20 anos e recordo que toda a familia, amigos e vizinhos, fossem eles novos, velhos, crianças, homens e mulheres eram essenciais para levar avante uma tarefa desta envergadura.

Havia uma noção clara de heraquia entre os mais velhos e os mais novos e entre os homens e mulheres na divisão das tarefas. A tarefa que se assumia com maior importância era o homem que pegava ao arado. Queria-se força e visão de trabalho para que os "regos" fossem talhados de acordo com a tipografia do terreno e não fossem à mercé da força animal.

As cantigas, brincadeiras e jogos de valentia eram uma constante. O pão de milho o chouriço, presunto e vinho verde comungavam com a boa disposição dos lavradores.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Aras, Almas, Alminhas e Epigrafia!

O povo Galaico desde sempre fez mostra da sua infindável capacidade em crer no sobrenatural.

Nas eras antigas, os deuses pagãos geriam a vida dos nossos antepassados. O carácter dos antigos, povo de fé e honra, e a introdução da escrita latinizada, permitiu que chegassem até aos nossos dias dezenas de Aras devotas aos antigos Deuses.

Interpretação: A Bormânico, Medamo, (filho) de Cámalo, cumpriu de boa mente este voto.

As aras, eram mandadas talhar por qualquer pessoa. Nativo ou Romano pois estes últimos adoptavam e acreditavam nos Deuses autóctones de cada povo e terra. Em troco de um milagre, de uma boa colheita ou da realização de um desejo pessoal, mandava-se então gravar na rocha o nome da divindade, o nome de quem paga este voto e até o local de onde é originário o mandatário da obra.

Com a chegada do cristianismo cessam as Aras pagãs destinadas ao culto dos falsos Deuses. Imagino quantas devem ter sido destruídas a mando de São Martinho de Dume ou de qualquer outro opressor local.

Interpretação: A Corono, Paterno (filho) de Flávio, de boa vontade, por voto merecido.

No entanto, como em todas as manifestações pagãs, estas não desaparecem mas transformam-se. Uns dirão que ganhou o Cristianismo. Eu prefiro dizer que ganharam os credos antigos pois continuam dissimulados na realidade moderna católica.

Assim, aparecem as Alminhas. As Alminhas ornamentam frequentemente os caminhos, estradas e carreiros Galaicos. Das mais modernas às mais modestas, das mais exuberantes às discretas, elas estão em todo o lado.

Eventualmente passam despercebidas. Estão sempre gastas pelo tempo. Nunca ninguém se interessa em olhar para elas, em ver qual o seu tema, o santo em causa . Na verdade nem sequer sabem o que aquilo é. Porém, por mais longínqua e abandonada que esteja a alminha, quase sempre a vemos arranjada com flores, velas e limpa com cuidado. Isso dá-lhes um certo ar místico.

Assim silenciosas e misteriosas, estas pequenas construções tem no entanto um papel espiritual único na sociedade Galaica. São marcos demonstrativos de uma religiosiade intemporal que vai bem para além da supérflua catolicidade aparente.


Assim, antigamente qualquer pessoa mandava criar uma Ara. Isso ainda hoje acaba por acontecer mas sempre mas de uma forma cristianizada.

Também hoje se escolhe a divindade sob a forma de padroeiro consoante a necessidade em causa, também hoje se coloca a obra à vista de todos e por vezes ainda se escreve quem ofereceu a Alminha e porque razão. Ou seja, mais uma vez, os motivo e a forma não muda. Apenas varia o nome que se dá à religião em causa.

Citando Tomás Maryinez:

"O mundo das almas tem o seu fiel reflexo na arquitectura popular Galega. As representações de almas são comuns em cruzes, nas igrejas e nos esmoleiros. São estruturas que se erguem preferencialmente em encruzilhadas ou cruzamentos do caminho, espaços onde, segundo a tradição, as almas de manifestam aos vivos.

Esta expressão peculiar da arte escultórica Galega converte-se num poderoso mediador entre o mundo dos mortos e dos vivos. Uma nota importante a considerar para interpretar adequadamente estas representações é que nelas aparece sempre a imagem do purgatório, nunca o céu nem o inferno pois na sua percepção evocam fielmente a crença popular que as almas dos fantasmas estão - no contexto do nosso plano existencial - a expurgar as suas penas ou a tentar encontrar o caminho que as leve ao seu verdadeiro destino espiritual no Alén (Além em Galego).


Além disso vimos que estas historias de fantasmas são um dos muitos mecanismos existentes para transmitir os valores da cultura tradicional. As crenças Galegas sobre os defuntos e a morte conservam as mesmas concepções que existiram durante a Idade Media europeia. Assim, a igreja medieval admitia que os mortos se manifestassem aos vivos com o objectivo de purgarem os seus pecados; e é neste contexto histórico que se estabelece o purgatório como o sítio apropriado para o fazer, espaço que um dos criadores deste contexto, Gregório Magno, situa no plano onde os humanos desenvolvem a sua existência."


Obviamente, quem conhecer a obra do Autor acima citado, perceberá que este está intensamente ligado ao lado místico-pagão dos hábitos humanos. O seu "extremismo" no que toca às motivações dos povos ajuda no entanto a perceber um pouco a fervente religiosidade do nosso povo.

No entanto, à conversa com populares podemos de facto concluir que se na maior parte das vezes, as alminhas são colocadas em encruzilhadas para serem mais visíveis e recolher mais esmolas, muitas vezes também se situam em locais onde algo de grave aconteceu. Verificamos um hábito similar ao observar cruzes e ramos de flores onde houveram acidentes fatais. Mais raro mas não menos interessante é a santificação de um lugar com uma alma por aparecer aí "coisa ruim" e "o demónio". Finalmente, estas peças são também muitas vezes utilizadas como meio de "dar sorte" e proteger a casa, herdade ou determinada zona dos eventuais males que possam advir. E no fundo uma forma de pedir clemencia a Deus.


O que interessa reter é portanto que estas pequenas obras merecem um olhar atento pois são uma parte da nossa herança espiritual. Uma herança que a vasta maioria das pessoas despreza completamente. Hoje, como há 3 mil anos, por qualquer razão se mandam erguer pedras ou obras votivas como marca do nosso agradecimento. É uma manifestação cultural genuína e valiosa.

Não nos preocupemos com acreditar ou não em Deuses ou em Deus. O que realmente importa é reconhecer nestas obras de arte um pedaço da nossa história, ver um reflexo dos nossos antepassados e uma janela sobre quem fomos, somos e seremos. Ao apreciar estas relíquias teremos mais fé e orgulho em nós e, em ultima analise, isso é que nos salva todos os dias.