sexta-feira, 30 de maio de 2008

As pequenas fadas do Minho

Por uma manhã de consolo
Depois de meses de chuva
Ó Minho perdeste o controlo
Diz-me que vontade é a tua.


Falam-nos das rosas, pintam-nos cravos e lírios,
Cantam para estas lindas flores que tão nobres são
Descrevem-nas em prosa para matar os martírios
Esquecem-se das simples, pequenas como um botão.


A natureza só surpreende.
Olha para o lado, olhem para baixo.
Olha para dentro e entende.

A beleza é para se ver.
De dia ao sol, de noite ao luar.
Dá alegria para viver.

Se estas triste conforta.
Se estas alegre mais felicita.
Vive Natureza Morta.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Não há quem nos salve...

O meu web site favorito é: http://www.panoramio.com/

Através dele visitamos o Google Earth e observamos fotografias tiradas pelos Users que as colocam no mapa.

A interactividade é divertidíssima e as potencialidades enormes. Esta é uma maneira de fazer turismo enterrado nos cobertores da cama.

Toda a aldeia mais modesta e anónima está agora acessível a cores e quase ao vivo ao mundo inteiro.

Estava bem disposto navegando pelo Minho digital através de fibra óptica, cobre e sinais analógicos quando me deparei com um utilizador do panorâmio chamado: Luis Boleo

As suas fotos de inúmeras cidades Portuguesas datam de 1969.

Assim, para todos os cépticos ou corações de pedra que não prestaram atenção a um post anterior que onde eu avisava para a aniquilação brutal e profundamente imoral do Minho segue esta pequena comparação:

Braga do Bom jesus em 1969:


Braga do Bom Jesus actualmente:

Cidade sem fim. A favela subiu ao santuário e os olhos perdem-se no urbanismo quando costumavam deleitar-se nos carvalhais e férteis prados.

Quem são os mercenários imorais que vendem as terras dos seus antepassados para poderem viver na luxúria às costas de centenas de anos de suor?

Quem são estes abutres que cobrem de betão umas das mais naturalmente ricas terras da Europa? Estes que permitem que se façam milhares de gaiolas a que chamam casas, desintegrando para sempre a natureza daquele espaço para nada?

Ousam desperdiçar o património desta forma? Num mercado imobiliário onde metade dos apartamentos estão vazios e outro quarto já está a apodrecer de velho! Apodrecem mais rápido do que as centenárias quintas que assombram os últimos campos entre 2 prédios pré-fabricados. Apodrecem rápido porque podre é a moral capitalista que os pariu.

A eles e a quem ganha com eles.

Tenho pesadelos onde acordo debaixo de uma cidade como se estivesse a nadar por baixo de um glaciar. Acordei a suar, querendo respirar e não consigo!

Parece que a terra sofre através de mim!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Todos os caminhos vão dar a Roma...

Esta título entrou no popular há muito tempo.

O poder do império invasor era tal que construiu (e não introduziu, muito menos inventou, o sistema viário como querem fazer crer alguns historiadores da treta) uma enormíssima rede de estradas por toda a Europa "bárbara". No entanto, fê-lo não para ajudar ou facilitar mas apenas para cobrar e controlar melhor.

Sim, todos os caminhos vão dar a Roma e, naquele tempo, todas as riquezas lá iam por isso parar.

Hoje quantos caminhos das nossas aldeias nasceram destes? Aliás, quantas aldeias nasceram ao lado delas e por causa delas?

Ainda hoje, na minha aldeiazita, passei melancolicamente pela antiga "estrada real" e mais anciã ainda "Via Romana" que ligava a Gallaecia Sul à Gallaecia Norte. Tentei imaginar as legiões a patrulhar estas mesmas lajes que hoje jazem inconscientes..



Esta serpente milenar, que vinha de Briteiros, a maior cidade Celta do Noroeste Iberico continuava pela minha freguesia até Braga, por Terras de Bouro cruzava o Gerês até que este se chamasse Xurês e rasgando monumentais paisagens, unia as capitais dos Conventus Bracarenses e Lucenses.



Todos estes caminhos esquecidos já não vão dar a Roma... Hoje vão dar ao mundo dos sonhos...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Homenagem pessoal


A mudança na vida das pessoas tem por vezes destas coisas. Sentimos que abandonamos algo e que ficamos a dever às pessoas que estimamos. Olho à minha volta e sinto me culpado por mudar de vida. Procuro até razões que justifiquem esta decisão para além das mais óbvias e das quais todos concordam.

Fiquei assim mudos e expectante perante o desconhecido que se avizinha e o recente passado que sei irá ficar turvo e desaparecer, inevitavelmente, nas malhas do tempo. A verdade é que as amizades, a estima, lembranças e confiança ganha, são coisas que nunca se irão perder. São conquistas absolutas.

Sendo assim, a única real perda seria não mudar e enveredar por um outro caminho que, da mesma forma, nos dará novos créditos, novas experiências, lições e, quem sabe, desgostos. Sim. Com eles também se aprende. Por ventura, só através deles nos é possível aprender.

As boas recordações são assim como uma boia isolada que nos aguenta a estima neste mar de incertezas. Sabendo que as ganhamos justamente podemos enfrentar o mundo de cabeça levantada e coração aberto.

A seguinte lenda honra este meu ultimo ano de vida e todas as amizades que durante o mesmo cultivei:

A lenda dos cavalos de Fão e do Ouro de Ofir.

“Salomão quis dar seguimento a um velho desejo de seu pai, o Rei David: construir o Templo do Senhor, em Jerusalém. Solicitou ajuda ao Rei Irão da Fenícia e chegaram expressamente, as madeiras do Líbano, os hábeis construtores de templos, peritos na arte de lavrar a pedra.

Constrói uma frota, que atravessa o Mediterrâneo e sulca o Atlântico, manejada por hábeis fenícios ao serviço de Salomão.

Já não chega, porém, só a riqueza dos cedros do Líbano: faltava-lhes o ouro, a prata, as pedras preciosas. Diz a lenda que o bíblico "Ofir" existia na foz do Cávado. Seria dali que os navios fenícios, ao serviço do rei israelita, recolhiam suas cargas magníficas. Salomão quis ser grato com estes povos. Remeteu-lhes, então, como presente os corseis que no mundo melhor haviam.

O destino, porém, não permitiu que tal acontecesse, arrebatada por uma medonha tempestade, a frota salomónica foi despedaçar-se de encontro à penedia e os famosos cavalos, por obra dos deuses, ficaram petrificados e eternamente cativos destas águas oceânicas, que ora acariciam, ora batem em espumosa fúria."


quinta-feira, 22 de maio de 2008

História sem fim!

O Norte de Portugal é um livro aberto para aqueles que querem saber o que é Portugal.

Mas é um daqueles livros mágicos onde cada um pode ler a história que bem quiser. Basta olhar para a página, pensar numa época distante e de repente surgem lendas, hábitos, tradições e saberes diferentes.

Se outra pessoa olhar para a mesma página verá outra coisa. Tudo depende dos seus gostos, do seu estado de espírito e da sua alma.

As cidades do Norte não se incluem numa classe nem vendem uma época específica como parecem o fazer outras cidades do país.

O Norte tem a história toda escrita na pedra e nas gentes.

Olhem para uma cidade do Norte e vejam a história da perspectiva que quiserem.

Escolhemos por ex. a cidade de Viana!

Viana é atlântica. Viana é folclore (...), Viana é o mar, são as flores, a serra d'Arga, o rio Lima e tudo o que mais quiserem.

Esta é a Viana que todos conhecem e imaginam...

Porém, podem ver Viana com outros olhos...



Os meus um dia viram Viana da mesma forma como olho para Guimarães. Senti o centro histórico como um texto lírico medieval.

Viana e as cidades do Norte podem ser tudo o que quiserem pois foram ao longo da sua história Castrejas, Galaicas, Galegas, Portucalenses, Portuguesas e serão o que Deus quiser!

Como disse o tal: " Se poderes olhar, vê. Se vires, observa"

terça-feira, 20 de maio de 2008

A Pátria honrae que a Pátria vos contempla!

Estranho titulo para apresentação, que já tarda...

Afinal não basta só aparecer o nome como colaborador, convém produzir e dizer algo que valha a pena ler (que é a parte mais complicada!).

Já se falou por aqui que o salvador desta nossa cultura terá de ser o Alto Minho... (não terá sido bem isto, mas alterar o sentido das expressões é um dos meus passatempos!).

Falando mais sério... Culturamente e refiro-me às associações que lutam para manter vivas as tradições das terras do Alto Minho (os Grupos Folclóricos) existe um certo bairrismo, explicado talvez pelo atraso que já se falou aqui, que faz com que o movimento não avance mais... que esteja estagnado, preso em guerrilhas sem sentido em que uma é a "Rainha do Folclore", outra o "Berço do Folclore" e outras séries de titulos sobre uma «coisa» que afinal sempre existe em todo o lado e em todos os tempos...

Esta desunião partida de uma ignorância que parece não ter fim leva-nos a contar uma história que não é verdade... afinal o que mostram eles do que é ser minhoto? Se já pronúnciam os v's em detrimento dos b's? Se dançam modas inspiradas em danças de discotecas africanas?! Cada dia que passa estes embaixadores do Folclore estão menos minhotos e mais globalizados... Onde pára a nossa cultura?

Para nos salvar-mos é preciso ter orgulho no que temos e somos, não reescrever a história ao nosso bel prazer... Honrar a Pátria é mostrá-la como ela é ou já foi ao mundo...!

Termino por aqui, sem me querer alongar muito neste primeiro post. Não quero passar a ideia que tudo é mau. Não é. Mas algo precisamos de fazer para salvar esta nossa identidade.

Aqui fica um mau exemplo...

(A partir do minuto 2:55 ainda fica mais minhoto...)

Inté!

Contos de Assombrar do Minho Vol.II



Eu já sou uma rapaz crescido e até quando o não era raramente me deixava impressionar.

Creiam em mim! Que eu deixei de o fazer oficialmente (porque no meu âmago já o suspeitava a algum tempo) no pai Natal aos 6 anos.

Porém, certas vezes somos tentados em deixar-nos levar pela dúvida. Ou talvez seja pelo conforto de acreditar que há algo mais do que a vida que nós conhecemos e prevemos. Também a excitação do desconhecido pode influenciar a nossa firmeza e abrir brechas por onde entra a incoerência.

Todas estas hipóteses que podem ser verdades efectivas dependendo da pessoa e da situação, desaparecem quando nos deparamos com testemunhos credíveis e factos mais ou menos fidedignos. Neste preciso momento também param os sorrisos, deixam de brilhar os olhos e o calor da confraternização dá lugar a suores frios e a sentimentos antagónicos.

O conto que agora vos vou narrar teve em mim o efeito do costume. Ou seja, divertiu-me e pôs-me a pensar em quão estranha era vida antigamente onde qualquer acontecimento se explicava das mais mirabolantes maneiras. Isso foi contudo a minha reacção aquando a primeira vez que me o contaram...

Porque é que mudei de opinião à segunda perguntam vocês?

Bem... Isso porque a segunda e terceira narrativa vieram de outros familiares e amigos que afirmam a pés juntos, quando lhes peço para falar dos tempos sombrios do antigamente, que tal lhes sucedeu. A minha perplexidade aumentou quando desconheciam que a mesma coisa tinha acontecido a fulano. Num dos casos as pessoas nem se conhecem e moram em aldeias diferentes...

Irei agora proceder à narrativa desta primeira vez que me recitaram este conto estranho. Foi a minha avó materna. Ela que imigrou para a margem sul quando se criaram as grandes siderurgias durante o estado novo, tem sempre um brilho nos olhos quando evoca a sua infância e mocidade passada em terras Minhotas.

Naquele tempo, ainda eu era criança, mandavam-me de férias para uma casinha (hoje rodeada de bairros sociais e todos os seus defeitos) envolta por quintas de laranjeiras. Próximo daí, o rio Sado criava os seus vagarosos entrelaçados enchendo de e esvaziando as salinas. Todo este ambiente era para mim diferente. A erva era seca, o ar quente e pesado. Por vezes o cheiro à maresia chegava ao terraço ao qual subia com a minha avó, muitas vezes de noite, onde encontrávamos refugio do calor e das melgas. Naquele tempo aquela terra era agradável.

Certa noite pusemos o colchão no meio to terraço e deitamos-nos a olhar para as estrelas. Daí as histórias fluíam e eu absorvia-as extasiado e imaginando fervorosamente todos os cenários que ela me sugeria.

"Um dia o teu avô (Paterno pois a minha avó Materna era naquele tempo sua criada de servir) pediu-me que fosse com ele buscar um carro de mato que tinha ficado na beira de um monte."

"Já estava a ficar noite e eu estava cansada. Os dias naquele tempo eram longos e eram passados sempre a trabalhar. Fosse na lavoura, nos afazeres domésticos, na bicharia ou nos trabalhos manuais do linho, havia constantemente muita coisa para ocupar o tempo. Especialmente se se fosse criada como eu o era..."

"Fomos então com os bois pelo carreiro e lá pusemos o jugo neles para que puxassem a carroça e também a mim que já me tinha deitado o melhor que podia em cima do mato! Esgotada como estava, e como teu avô ia a pé segurando os animais, deixei-me logo dormir! O tempo já ia fresco em Outubro mas ainda o ar era doce."

"Lembro-me de começar a sonhar naquele meio torpor em que me encontrava. Não me recordo bem mas, o que sei, é que tinha algo a ver com sinos. Sinos estranhos que batiam como nunca tinha ouvido antes. Em nenhuma terra nem romaria que tivesse ido, tinham tão singulares sons penetrado tão fundo na minha alma. Batiam cada vez mais alto e ferozmente que o movimento frenético causava um vento irreal e frígido! Desprovido de vida! Isso até que o som deles, de tão incomodativos fizeram que me acordasse sobressaltada!"

"Acordei confusa em cima do carro. Não sabia porque é que o sonho não acabava mesmo depois de estar acordada. Cheguei a duvidar.. Estaria acordada ou imaginaria eu te-lo feito? Tive a certeza quando um ouriço de castanheiro caiu em cima de mim. A dor foi a prova que estava num plano mental consciente."

"Na verdade, os ouriços voavam do castanheiros impelidos pelo vento diabólico que se sentia. E aqueles sinos! Oh, meu filho! Aqueles sinos invisíveis! Pareciam que estavam por cima das nossas cabeças mas , quando olhava para cima já só via as estrelas! Aqueles sinos eram de lá de cima! Só podem!

- E o paizinho (o meu avô paterno)? Onde estava? Que disse? - Perguntei assustado.

"O teu avô, meu filho... O teu avô, quando acordei e olhei a minha volta já ia a correr como um doido pelo carreiro acima! Deixou-me ali sozinha sem saber o que se estava a passar!"

- O que fizeste? O que aconteceu?

"Saltei do carro! Escondi-me por baixo dele uns momentos até que aquilo acalmasse. E acalmou de repente! As arvores que quase se tinham partido de tanto dobrar, estavam agora imóveis e havia um silencio de Morte. A noite parecia mais escura que nunca!"

"A seguir, saí debaixo do carro, bati nos bois para que estes andassem. Mas eles não se mexiam! Tinam os olhos abertos e negros como breu! Não havia nada a fazer... Ou estavam aterrorizados ou alguma coisa os prendia ali! O mal é que eu não podia ir embora sem os trazer. Se fizesse isso o teu avô era bem capaz de me dar uma carga de porrada... Isso naquele tempo era assim!"

- Como fizeste então?

"Não fiz nada! Fiquei ali parada a pensar o que fazer quando de repente os animais vieram a eles! Foi como quando se retém a respiração e ao fim de um minuto deixamos o ar sair dos pulmões... Parece que voltamos à vida não é? Pois bem, foi isso mesmo que lhes aconteceu!"

"Daí, subi o caminho sozinha com os bois e um carro de mato! Uma moça nova como eu, cheia de medo, cansada como o mundo e em plena noite...!!"

-Que se passou depois em casa?

"Olha! Ainda me assombra a cara do teu avô quando lá entrei. Branco como a cal, de cabeça nas mãos, tinha esperado por mim e disse-me"

"Emília! Peço desculpa por ter fugido mas o que aconteceu ali nom era desse mundo! Nom consegui ficar ali!"

"Nom tem problema..."

"Mais uma cousa... Proibo-te de falar disso a alguém que seja! Se o contares vais ter de ter haver comigo!..."

" E assim vivi alguns anos com esta história na cabeça, o medo dilacerante no peito quando passava por baixo daquele castanheiro que ainda lá existe e aquele som nos ouvidos! Oh Filho! Deus me perdoe mas quantas vezes acordei assustada com o chamamento matutino para a missa? E então quando o vento soprava de Norte e trazia de madrugada o som do Sameiro? Pareciam-me chamamentos do além! Oh meu querido neto! O que eu rezei para sair daquela casa e afastar-me desta recordação..."

______________________

Esta foi a versão da minha avó e a primeira vez que ouvi o relato do vento estonteante e dos sinos misteriosos.

Dali para a frente mais 3 pessoas juraram que uma coisa semelhante lhes tinha acontecido.

A primeira destas foi o meu pai.

Quando curioso o questionei perguntando-lhe se já alguma coisa estranha e inexplicável lhe tinha acontecido, deparei-me com a história de como certa noite, ao vir da sessão de Far-West da única televisão das freguesias mais próximas, foi surpreendido por um vendaval inexplicável que quebrou o milho todo à sua volta. Também referiu os sinos que segundo ele "...tocavam em todas as igrejas mais próximas..."

Ficou dobrado sobre si mesmo em choro de terror várias horas até o sol despontar. Quando ganhou coragem para abrir os olhos, os campos de milho estavam intactos...

Note que se aquando da descrição da minha avó, ouvi divertido e prevenido acerca da arte de contar histórias dos mais velhos, agora, com meu pai, isso era diferente. Ele nunca foi dado a brincadeiras e desvairios deste tipo...

A segunda pessoa foi um amigo meu, Um pouco mais velho que vive numa freguesia vizinha e não conhecera minha avó nem tão pouco teve confiança com o meu pai que justificasse mais que um Ola bom dia!

No caso dele, numa noite de verão em que não tinha dinheiro para gasolina, foi para o café a pé em vez da motinha do costume. Quando passou pelo monte do lugar de onde mora, mais do mesmo. A descrição é arrepiantemente coerente com os outros relatos. Nunca mais andou a pé de noite pelos campos.

O último caso é menos credível pois tratasse de um conhecido bêbado que certa noite entrou na tasca que meu pai geria completamente lívido. Por entre os gagejos dele e os risos incisivos do resto dos clientes percebeu-se que estava aflito por causa do vento e dos sinos que o perseguiram durante o caminho.

Todos riam agarrados ao estômago por mais uma delírio de um dos cromos locais. Todos menos eu e o meu pai que trocamos um olhar estranho e difícil de descrever...

sábado, 17 de maio de 2008

Verde. A cor do Norte!


Mês de Maio.

Chuva.

Frio.

Heis o que preocupa as mentes jovens e irrita quem não tem nada que fazer e que anseia pelo sol.

Por entre este problema que enerva as meninas, incomoda os desportistas, põe os agricultores a fazer contas à vida, eu estou feliz.

A chuva recente que se tem prolongado pela primavera pôs o Minho Verde como nunca!

A erva está grossa e viçosa, os Carvalhos (esta arvore Nobre merece maiúscula) brilham por entre as gotas de água que decoram os seus ramos, e a luz está clara e vivaz.

Sinto a terra viva. Vejo-a negra e carregada de fertilidade. Rasgam-na com facilidade e plantam nela sementes de futuro.

Oiço a respirar e isso faz-me sentir seguro. Tal como uma criança se sente segura quando descansa com a cabeça encostada ao peito da mãe.

Como ouvi dizer um velho anónimo que dormitava na esplanada de uma tasca do litoral de Esposende:

3 meses de chuva até Maio nunca fez mal a ninguém. 3 meses de sol já vi eu criar problemas e até mortes pelos regos de água de regar...

Santas palavras.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Salva-te Minho! Salva-te!

O antes:


"Árvores copadas, de uma doce tonalidade fresca, enchem o grande largo. Há uma indefinida simplicidade, um ar íntimo, quase de família, na população assim mergulhada no seio daquela natureza poderosa e boa. As termas, hoje em edifício regularmente montado, chegam a ser verdadeiramente um remédio, por se não parecerem em nada com o pretexto frívolo, que se chama ir fazer uma estação balnear, onde se ostentem as primeiras toilettes de Verão. O banhista das Taipas toma a sério o seu papel de doente, e por isso há quem diga que são tristes as Caldas, ainda no período intenso da sua maior concorrência. Eu achei, que eram apenas dessa vaga melancolia panteísta com que a natureza perfuma o coração do homem, dando-lhe a sensação inexplicável da sua absorção ao suave contacto dos beijos da terramater. Nada mais belo como paisagem, nada mais ameno como vegetação. O Ave que Vai ali tão perto, quase não ri,murmura; dir-se-ia que vai em meio deste silêncio, cantando uma canção ossiânica de uma tristeza dolente. Pois esta serenidade, que irrita os nervos das meninas solteiras e chega a curar os reumatismos dos papás abeberados de iodeto de potássio, oh prodígio! é exactamente o que se diz o grande defeito das Taipas!"

IN: O Minho Pitoresco, José Augusto Vieira; Livraria António Maria Pereira — Editor, Lisboa, 1886, tomo I, pp. 616-624

O após:




Décadas depois de apelidada pelas classes sociais mais dignas do Norte do país como "Sala de Visitas do Minho" (escolhida para férias e repouso, como os escritores Camilo Castelo Branco, Ramalho, Antero, Ferreira de Castro, entre outros), esta outrora gloriosa Vila de famosos e amenos Outonos é o reflexo do perigo que o Minho corre.

Situada entra Braga e Guimarães, no Baixo-Ave, desde sempre existiu uma enorme dinâmica que em tempos fez das Taipas o ex-líbris da região. Situada num extenso vale de terras riquíssimas e bem irrigadas, envolta por montes e serras que transpiram monumentalidade e arqueologia castreja, a outrora "terra onde a lua fala" (Ferreira de Castro), não passa de hoje de uma decadente lixeira industrial.

Vendeu os seus palacetes oitocentistas, destruiu as suas quintas centenárias, mutilou a vida do seu rio e até hipotecou o sucesso das suas aguas termais que brotam cheias de vida a mais de 40ºc do próprio solo. Hoje, choram os Taipenses pela glória perdida e pela vitalidade contagiante de um povo que hoje sumiu de vez.

As Caldas das Taipas é o perfeito exemplo do que o que não se deve fazer com a nossa bendita região.

Olho hoje com admiração para o Alto-Minho e admiro a mais cuidadosa e planeada organização do seu desenvolvimento. Talvez seja verdade que quando as Taipas (e outras vilas do Baixo-Minho ) já era polo de indústria e motor financeiro, a parte Norte da região vivia ainda na profunda ruralidade. Esta estagnação permitiu no entanto que o seu património e herança ficasse protegido das mãos dos necrófagos do lucro fácil sem escrúpulos guardando a mesma para uma geração mais responsável e atenta ao valor do modo de vida Minhoto.

Ouve-me Alto-Minho! Olha para as Taipas! Uma terra onde o próprio emperador Trajado mandou erigir uma monumental inscrição em honra das suas gloriosas águas e paisagens. Uma vila onde a alegria e beleza transpirava de todos os seus poros. Olha para ela e reconhece os perigos que te cercam. Nota a sua apodrecida carcaça e a ignorância de quem a gere. Olha para ela e realiza que esta pode vir a ser a tua face caso não estimes o que Deus te deu.

Alto-Minho! Não te vendas! Não deixes que crescam casas e betão onde riam ao ar livre, sob o brilhante nevoeiro, os Carvalhos Alvarinhos e os majestosos Sobreiros.

Alto-Minho! Toma consciência que tens a responsabilidade de mostrar ao mundo como se vivia e qual era a verdadeira face do teu irmão mais velho e vizinho!

Toma conta do Baixo-Minho agora que ele já não consegue ter conta em si.

Lembra-te que que a história repete-se e que esta existe para aprender com os erros do passado...

Pensamento divergente...

Os espigueiros são como disse no post anterior o símbolo supremo da cultura Nortenha e de todo o Noroeste Ibérico.

No entanto, quando toda a gente pensa em espigueiros, esquecem-se de outro elemento arquitectónico Minhoto que é tanto ou mais belo e representativo da região.

Falo-vos das Sequeiras:



As sequeiras, ao contrário dos espigueiros, encontram-se mais frequentemente nos vales de todo Minho mas em particular no Baixo-Minho onde as terras eram mais afáveis e produtivas. As extensões de terra arável sendo maiores permitiram maiores produções e um desenvolvimento mais rápido da região.

Assim, as sequeiras (cujo nome vem de "seca" - "secar" o milho e os outros cereais)com a sua maior dimensão eram essenciais para o armazenamento das grandes colheitas das quintas minhotas que fossem mais dedicadas à agricultura do que à pastorícia.

Cheguei a ver alguns exemplares ainda com o tradicional telhado em colmo (apodrecido mas ainda visível). Lamentavelmente, o exemplar que existia numa antiga propriedade oitocentista do concelho de Guimarães foi destruido há poucos anos para aí colocarem um magnifico prédio que contribuiu também para a descaracterização da região.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O simbolo do Minho é um dos simbolos Galaicos!


Os espigueiros são:

"O espigueiro, também chamado canastro ou caniço, é uma estrutura normalmente de pedra e madeira, existindo no entanto alguns inteiramente de pedra, com a função de secar o milho grosso através das fissuras laterais, e ao mesmo tempo impedir a destruição do mesmo por roedores através da elevação deste. Como o milho requer que seja colhido no Outono, este precisa de estar o mais arejado possível para secar numa estação tão adversa como o Inverno.

No território de Portugal Continental, encontram-se principalmente a Norte, em particular na região do Minho.

Na Galiza, em Espanha, existem espinheiros idênticos aos que existem em Portugal. Também há estruturas semelhantes nas regiões espanholas de Navarra, Astúrias e na província de León, onde recebem o nome de hórreo."


Note este ultimo parágrafo. Esta região, onde se define a área ibérica dos espigueiros é quase a definição do território da antiga Gallaecia.

O espigueiro torna-se desta forma o símbolo maior do Noroeste ibérico pois consegue unir um povo demonstrando que este tinha e, tem ainda, o mesmo modo de vida e combate a mesma Natureza.

Um aparte:

Os espigueiros não são exemplos nenhuns de "comunitarismo". Ao contrário do que se apregoa por aí, os espigueiros pertencem a famílias definidas. Cada família tem o seu ou seus espigueiros dependendo da extensão das suas produções.

O que é comunitário são as EIRAS onde se reunem os espigueiros de algumas aldeias serranas. E reuniam-se para poderem ser mais facilmente vigiadas e para facilitar os trabalhos dos camponeses que estes sim eram comunitários. Não os espigueiros.

domingo, 11 de maio de 2008

Sons de uma romaria...


"Terreiro de Santa Marta
eu hei de mandar varrer
c'um raminho d' Oliveira
que d'Ouro não pode ser"

"Santa Marta da Falperra
eu hei de mandar bordar
um tapetinho de linho
prás moças nele dançar"

"Santa Marta das Cortiças
levo água para regar
sou criado de servir
não me posso demorar"

"Santa Marta do Liom
eu pró ano la hei d'ir
ou casado ou solteiro
ou criado de servir"

"Ó Santa Marta do Alto
abaixai-me esta barriga
eu não sei que trago nela
sé rapaz ou rapariga"

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O Norte e as Mulheres


"O Norte é feminino.

O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. "

Autor: Miguel Esteves Cardoso

As igrejas lá do Alto!

No Norte as grandes igrejas não ficam nas covas como a de Leiria.

No Norte os Grandes santuários moram nos cumes dos montes. Olham para baixo orando por nós ora com tristeza ora com alegria.

Dizem que as igrejas do Norte estão nos montes para estarem mais perto de Deus...

Na verdade, os locais sagrados como o Sameiro, a Penha ou a Santa Luzia eram lugares de romaria muito anteriores à época cristã.

Os antigos castros, esculpidos em granito nas crestas eram locais de defesa, habitação, recolha e, consequentemente, de devoção.

Pela época de domínio romano mantiveram-se os hábitos de subir ás serras para prestar homenagem as divindades. Na realidade, o cristianismo pouco penetrava nesta densa teia de firme religiosidade pagã.

Soluções para converter estes "bárbaros" Galaicos?

Deixá-los ir rezar para os castros mas construir igrejas nos lugares onde davam asas à devoção. Em poucas gerações os cumes da Gallaecia converteram-se.

Com o avançar dos séculos as cidades Galaicas fortificadas foram sendo destruídas mas os locais de culto permaneceram.

Entrando na idade média e na nossa era, levantaram-se os característicos santuários de montanha onde a fervorosa dedicação religiosa prossegue incondicional como sempre o foi.

Seja qual a divindade, a tradição ou o motivo, as história do Norte lê-se através do tempo. Podemos segui-la através dos indícios dissimulados mesmo por baixo dos nossos narizes.

A prova são as mezinhas classificadas por Roma como "demoníacas". Encontram-se nos montes à volta das antigas misteriosas ruínas castrejas. Ainda as há por aí. Eu sei, pois vejo-as de vez em quando...

Nem o tempo, nem as armas nem o próprio esquecimento destrói a devoção deste povo.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Letra, Musica e Dança Vol I

"Põe-de cravos à janela
E as moças da Minha Rua
Lindos Cravos a Janela"

"Põe-de cravos à janela
E ó Minho que és tão bonito
Não tens outras como elas"

Contos de assombrar do Minho Vol I

Disse-me o meu tio Ginho:

"Naquele tempo!! As noites eram escuras como breu e nós éramos pessoas simples. Sabíamos lá bem o que se passava! Mas às vezes aconteciam coisas que nem sequer hoje sei explicar"

"Uma vez, ia com o meu tio com um carro de bois ali em real... Tu sabes onde é, ao pé daquela poça quem vai para o lugar da Boavista!"

- Onde há lá um moinho velho em ruínas?

"Isso mesmo! Foi mesmo ali! Muitos dos antigos diziam que apareciam lá coisas... O diabo ou sei lá.. Eu era miúdo e, claro, assustava-me. Mas naquela noite eu nem estava sozinho.. E olha que foi um susto que nunca mais."

"A passar ali pelo moinho os bois, que por acaso até eram vacas, estacaram. A noite era de verão e o tempo ia seco e, por isso, o moinho nem trabalhava. Aquilo ali só mesmo no inverno é que o lavrador lá ia."

"Ora bem. As vacas, quando demos por ela, pararam e ficaram como estátuas. Nem se mexiam! Tinham só os rabos dependurados no ar como fazem quando ficam em sentido! Nos batíamos-lhes, puxávamos-as, e elas NADA!"

"O meu tio disse-me: Ginho, tem calma, não te mexas que isso não é normal!"

"De repente, não é que ouvimos o moinho a trabalhar?!: rolrolrolrolrol..."

"Mas nem água havia no ribeiro! Como é que o moinho podia andar ao redor? O pá... Neste momento, até o tio começou a ficar assustado. E de repente as vacas começaram a fugir assustadas para a nossa beira... Mas cheias de medo!! mas a fugir de quê?! Sei lá bem do quê!!"

"Aquilo é que foi galgar! Nunca soube o que se tinha lá passado... Mas muitos diziam que ali ao pé do moinho de real aparecia la coisa e a mim olha.. Parece que me tocou alguma!"

terça-feira, 6 de maio de 2008

Bibliotecas vivas

Um proverbio oriental diz que a cada velho que morre é uma biblioteca que se perde para sempre.

Ora, para quem se interesse, esta é uma verdade incontestável.

Ontem passei várias horas da minha folga à conversa com umas pessoas mais velhas. Não são velhas! Andam pela casa dos 50 mas quando falam do seu tempo é difícil acreditar que estamos-nos a referir à mesma terra.

Eles narram costumes desaparecidos e hábitos perdidos com um saudosismo que magoa ver. Pintam com as lembranças a tela da nossa imaginação e aparecem imagens desta terra bela, florida, generosa e pura mas que da mesma maneira exigia dos humanos dedicação e trabalho de sol a sol.

Hoje vou contar uma destas pequenas memórias de que apenas outras gerações se recordam. Memória do dia a dia que há apenas 40 anos atrás eram comuns mas que hoje, tão pouco tempo depois, parecem aos mais novos coisa inexplicável e surreal.


Disse-me o Sr. Camilo:

"Antigamente, o primeiro centeio que se apanhava era imediatamente usado para as nossas camas. Pode parecer estúpido mas este era um dia de alegria!"

"Antigamente não havia conforto. Na minha casa não havia fome mas as casas eram de pedra e madeira. Tinham as chaminés a deitar fumo por dentro, não tínhamos luz nem agua corrente. Aquilo ao fim do dia não chegava-mos a casa e descansava-mos como hoje nos sofás! Não tínhamos condições e, no inverno nem banho podíamos tomar. Depois de um dia de trabalho, sujos de suor e terra, se o tempo viesse frio muito pouca gente tinha as condições de se lavar. Não era por as pessoas serem porcas. Muitos eram-no!... Mas para a maioria, tomar um banho no tempo do frio era arriscar a vida. Naquele tempo a gripe matava!"

"Por isso, quando chegava a época da apanha do centeio era uma alegria! E isso porque durante os primeiros dias, o centeio depois de malhado, era usado para encher os colchões. Os colchões eram feitos de uma capa de linho com um fecho de correr a meio que se enchiam com a palha."

"Por isso, ao fim de um ano a dormir ali em cima, aquilo tinha ficado duro, sujo e amassado. Bastava chegar este dia e encher os colchões com palha fresca para que fosse um motivo de festa e alegria. Depois de alguns dias a dormir neles, o centeio acamava criando espaço para mais umas braçadas que passariam a compor melhor a cama."

"Não estás a imaginar a satisfação que uma coisa destas dava. Dormir uns tempos num colchão mole e lavado era o que bastava naquele tempo para uns dias bem passados."

E hoje? O que é preciso para alegrar uma família?

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Sabe a Norte!

O Norte é uma terra simples e modesta.

Tão inocente quanto as pessoas que se sentem bem consigo próprias e que portanto não ostentam.

O Norte, como todos sabem tem coração de Oiro.

Por exemplo:

2 primos vão almoçar ao Domingo. Pedem um aperitivo (importado de França como deve de ser!), encomendam o prato da tradição Minhota para 2 (Rojões e papas de Sarrabulho), bebem 1 litro de verde, comem a sobremesa caseira e um café com digestivo (este sim Português).

Mandam vir a conta:

- 14€

Atenção. São 14€ para os 2 ou seja, 7€ cada um.

O Norte é assim. Quase ingénuo. Paga-se com alegria e fidelidade.

domingo, 4 de maio de 2008

A palavra da verdade.

A mais sensata e verdadeira ideia que, por ser óbvia e real, deixa de ser ideia e revela-se portanto sendo apenas constatação, que ouvi esta semana foi a de uma operadora turística que ficou hospedada uns dias no hotel.

Vivendo há vários anos no Algarve onde trabalha com os campos de golfe da região para atrair os bolsos recheados do turista desejado, a senhora que primava por alguma falta de cultura comum, pronunciou-se da seguinte forma:

-Que linda é esta região! Tão diferente do Algarve e de Lisboa. Estou encantada.

Palavra puxa palavra confessou-me que do Norte nada conhecia para além do Porto.

Aliás, note-se que para metade da população de Portugal, O Norte é uma parte de Portugal que não é mais que lavradores, campos, mil e uma igrejas e um sem fim de provincianos desligados do mundo.

Lamentavelmente,na minha óptica, esta realidade há muito não existe. Porto, Guimarães, Famalicão, Braga, Barcelos, Viana etc. sucedem-se pelos vales sem nunca se distinguirem realmente o fim e o inicio das zonas urbanizadas. Até no parque nacional existem milhares de pessoas a viver. A única região que ficou protegida (mas por isso ainda mais empobrecida) devido a inacessibilidade foi Tras-os-Montes. Hoje, quem quer ver como se vivia antigamente, tem de ir ao Barroso, a Miranda do Douro etc.

Como disse um amigo meu quando observávamos o vale do Ave desde a citânia de Briteiros:

- Estas a ver aquelas casinhas ali no fundo? Aquelas perdidas ali no meio das leiras e da vertente daquele monte?

-Estou porque?

-Ora bem, isso no Alentejo chamam-lhe uma vila...

Não se iludam. O Norte é imenso e a riqueza, ilimitada fertilidade desta terra, chegou para popular Portugal, as colónias e mais recentemente boa parte de cidades e alguns pequenos estados da Europa.

Voltando a operadora turística que, espantada, dava-se conta da surpreendente realidade Minhota, continuava a pronunciar a sua admiração pelos miradouros dos sanctuarios de Braga, o centro histórico Vimaranense e da verdejante costa Marítima cuja paisagem protegida se estende até a nossa irmã Galiza.

Comentou também as sublimes paisagens dos campos de Golfe do Norte e teve a certeza de que era isso de que estava a procura.

Usando não as suas exactas palavras mas a sua ideia geral:

-Os meus clientes estão fartos do Algarve. Não gostam do destino que dizem ter-se perdido na cultura global e economicista das massas. Já não encontram a substancia naquela região que complementava a estadia. Os campos são bons. Não haja dúvida. O clima excelente. Mas as pessoas aborrecem-se. Jogar no Algarve e em Lisboa é quase a mesma coisa que jogar num qualquer outro destino do mundo pois não se sente o povo, a história nem a genuinidade que tanto procuram os novos turistas.

Admito que a inicial "falta de respeito" desta senhora que pensava que Portugal ia até a região de Lisboa e que daí para cima havia apenas uma cidade de pedra a que chamam Porto, foi perdoada com esta conclusão apenas possível a alguém isenta e que olha com olhos de ver.

- Aqui há tanta coisa para ver. Tantas vilas, cidades, aldeias, miradouros, praias, gastronomia. Ontem fui a à festa das cruzes em Barcelos. Que lindo e tradicional! E tanta aderência da população!

Olhe, e para a semana começa a festa das Rosas em Viana do Castelo. Também é muito interessante.

-Ai é? Então aqui em cima as festas populares já começam?

Sim. Mas estas não são nada de "especial". Deveria esperar pelo S.João de Braga e do Porto, pelo São Pedro da Povoa de Varzim, pela Vaca das Cordas e Feiras Novas em Ponte Lima ou a Senhora da Agonia Vianense. E isso só aqui no Minho.

-Bem! Realmente. Muitas festas...

Oh! E isso não é nada. Quando vem o mês de Agosto cada aldeia tem uma festividade em honra dos seus imigrantes. E ainda temos de contar as inúmeras procissões e romarias famosas. Cada aldeia tem a sua mania, a sua maneira de falar. Se eu vou ao São Bento, a freguesia ao lado vai a Santa Maria de Bouro. Temos depois também, as Janeiras e as manifestações espontâneas.

- Pois. E exactamente isso que falta nas outras regiões de Portugal. Esta manifestação cultural! E isso que os meus turistas querem ver! E estranho que aqui no Norte haja uma tão grande alegria misturada com devoção religiosa..

Sabe.. Isso está em vias de acabar.. Esta é a ultima geração que viveu do campo, que daí retirou o seu sustento durante parte da sua infância. 5o anos atrás, este era um mundo quase medieval... Temo por esta paisagem e por este modo de vida. Há contudo um certo "revivalismo" nas gerações mais novas que já não olham para a vida rural e para os nossos antepassados com desdém mas sim com olhos entendedores e orgulhosos.

-Eu percebo. Isso também aconteceu na minha terra natal na Alemanha. E triste mas é difícil parar o progresso. Mas olhe... Pelo menos pode viver tendo tido o privilégio de, nem que ao de leve, ter cheirado uns tempos bem mais simples (também duros pensei eu)e com substancia.

-Fiquei realmente muito impressionada com a minha curta estadia. Tenho absolutamente que marcar uma reunião com o vosso departamento comercial. Aqui existe um Portugal muito diferente do que o que as pessoas geralmente imaginam.

Satisfeito respondi-lhe:

- Minha senhora, não me leve a mal mas, quem não conhece o Norte, não conhece Portugal.

The awaiking..

Sim , é verdade.

I suck at Photoshop. Fiquei até indignas horas da madrugada a criar o lamentável banner para este blogue.

Desta forma foi me difícil vencer o torpor matutino ( se bem que 11h00 já pode ser considerado mais um lusco-fusco) que me acorrentou ao colchão.

Não foi por ter de ir trabalhar ao Domingo nem por ter de ir a missa que me levantei.

Foi sim para ir à tasca comer umas papas de sarrabulho e uns rojões à maneira.

Só coisas destas e um bom vinho verde caseiro são capaz de me alegrar tão simplesmente.

sábado, 3 de maio de 2008

Quem é este blog?

Este blogue é meu.

Este é um blogue que fala sobre o que eu penso.

Este pode vir a ser um blogue que pensa por mim ou que me recorda o que eu pensei.

Este é um blogue acerca da minha terra e este dir-me-à quem sou.

Este blogue é NORTE, este blogue é MINHO, este blogue é Braga, Guimarães, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Porto, Gerês e Galego. Poderá por vezes ser Português.

Este blogue é honrado, esperançoso, folclorista, antropologista, etnógrafo e simples como a vida e a verdade.

Este blogue é real e tem modéstia.

Ah!...Este blogue também é Minho, Lima, Cavado, Ave e Douro.

Este blogue é verde, atlântico, granítico, chuvoso, fresco e as suas formas são sensuais tanto como sugestivas.

Eu sou este blogue e este blogue é e será Galaico.