sábado, 28 de março de 2009

A Arte Marcial Galaica!

Caminhando pela aldeia passamos por um velhote que, pela berma, anda com a ajuda de uma longa vergasta.

Esta é uma imagem típica. Simples e inocente. No entanto, este retrato aparentemente comum e ocasional tem raízes bastante antigas.

Num tempo em que se andava dezenas de quilómetros a pé, este era a muleta que nos apoiava. Naquelas marés não haviam sacolas nem roupas multi-funcionais pelo que com o pau se carregava, com ajuda de um lenço atado na ponta, os víveres e outros bens necessários. Durante estas eras, quando as armas de pólvora eram quase inexistentes, e inacessíveis ao povo, o pau era a arma de excelência das gentes comuns.

Ao ir para uma romaria ou a uma feira, o Pau era o complemento do homem.


Desenvolveu-se assim nas terras Galaicas Portucalenses o antigo "Jogo do Pau" que, era bem mais que um jogo. Era uma arte marcial real que permitia às pessoas se defenderem e atacar. Os homens aprendiam-no em crianças, como meio de competição e distinção.

"Já bem dentro do século XX eram ainda frequentes por Portugal inteiro, mas com destaque para o norte do país, os combates de pau nas feiras e romarias. Por vezes envolviam estas rixas aldeias inteiras, outras vezes as lutas eram individuais, ou de um jogador contra vários. Era o tempo dos “puxadores” (nome que se dava aos jogadores do Norte) e dos “varredores de feiras” (jogadores afamados que se deslocavam às feiras e romarias para desafiarem outros, provando assim o seu valor através da vitória contra todos)."
Fonte

Esta arte espalhou-se por todo o território Português devido a expansão contínua e histórica da cultura e genes Galaicos pelo mesmo. Porém, a partir dos anos 30 esta arte antiquíssima começou a entrar em decadência.

O surgimento das armas de fogo e a acção da polícia, farta de ter de resolver as sangrentas contendas que fustigavam frequentemente qualquer ajuntamento, levaram ao rápido declínio desta riquíssima manifestação cultural.

Ainda ouço relatos sobre o campeão da aqui da minha terra... Chamavam-lhe o "COCAS"!

Diz-se que ao domingo ia para a taberna com o seu cajado que fazia ele mesmo da melhor madeira. Muitos outros homens, ao ouvir os comentários sobre a sua habilidade fora do comum deslocavam-se de propósito para o desafiar.

Rezam as crónicas que certo dia aguentou-se contra 4 ladrões que o tentaram roubar numa escura falperra. So com ajuda desta simples arma e do talento cultivado e desenvolvido como qualquer outra arte, deteve uma conhecida brigada de larápios.

A sua célebre frase "Eu com o pau sou COCA (imbatível)" está na origem do seu apelido que, ainda hoje, os seus descendentes carregam (muitos sem o saber) em honra da sua espantosa habilidade na arte marcial Galaica: O Jogo do Pau!

Existem hoje algumas escolas que leccionam este antigo costume e outras organizações culturais que a exibem.



Mais info (Aqui)

domingo, 22 de março de 2009

Primabera a estação do cuco!

Pois é galaicos, tive as minhas merecidas férias a semana passada, e como não poderia deixar de ser, optei por visitar os mais recônditos lugares da Galiza e Norte de Portugal.

Vi coisas fantásticas, autênticos tesouros. Aproveitei também para actualizar as minhas conversas com os meus familiares mais antigos. E como em certa manhã acordei ao som do CUCO, que por esta altura nos visita, procurei saber histórias e ele associadas, que eu sabia existirem mas já não me recordava!

“Não se deve ouvir o cuco em jejum pois é fraco sinal, trás a pouca bonança"

Foi mais ou menos isto que me explicaram. Mas esta explicação foi dada com muito custo pois mesmo os mais velhos já estavam esquecidos do verdadeiro adágio popular!

Então nas minhas pesquisas descobri que:

Na Galiza, escutar o cuco em jejum pela primeira ocasião no ano é sinal de mal agouro, de modo que aquele que escute fica “cucado” ou “capado”. “Capar” é, pois, o azar derivado do cuco, implicando que durante o resto do ano o desafortunado padecerá sono ou fome, dizendo-se “botou-ch’a ninhada o cuco!”, em referência à prática reprodutiva desta ave:

“Se al labrador lo coyía, pola mañá, el canto del cuco sin almorzar, era común el dito capoume el cuco”

Esta crença também manteve os seus reflexos no refraneiro, de modo que:

Entre março e abril não saias sem comer, que o cuco pode-te surpreender”
“O que oie o cuco en aúnos, leva albarda pró ano”
“O que oie o cuco en xaxún leva albarda pró ano”

Conta-nos Vasconcelos que em Portugal tampouco é bom ouvi-lo em jejum e sem dinheiro na algibeira, pela primeira vez no ano:

A gente do campo acha de mau agoiro ouvir, a primeira vez, o cuco estando em jejum, porque a pessoa a quem isto sucede fica encucada todo o ano. No entanto, o encucado pode ser desencucado, comendo bem cedo na manhã do dia seguinte ao do seu encucamento, de forma que o cuco não volte a encontrá-lo em jejum. Parece-me que ficar encucado é o mesmo que ficar atado, pasmado.

O remédio para este mal é:

“não sair da casa sem almoçar (pequeno-almoço, em Portugal) ainda que em algumas partes da Galiza, considera-se de bom agouro ter prata no peto.”
“Em certos lugares, como o Valadouro, afirma-se ainda que, não estando em jejum nesta primeira ocasião, é o próprio cuco quem ficaria cucado. Existe a crença complementar de que se deve "jogar no chão as moedas que tenhamos no peto no momento de escutá-lo por vez primeira.”

As sociedades tradicionais atribuíram grande importância ao mantimento do equilíbrio entre actividades humanas e o meio natural, relação essa que actualmente se designa por etnobiologia ou etnoecologia. Neste caso em concreto denota-se que a harmonia entre o ciclo natural do cuco e as vivencias das populações fez nascer todo um sistema simbólico complexo.

Contudo a tradição mais comum é o retorno do cuco marcar o início dos trabalhos agrícolas. Por essa razão é que é mau agoiro ouvir o cuco em jejum. Os lavradores nesta época do ano devem acordar cedo para iniciar os trabalhos do campo, antes do cuco cantar, caso contrário os trabalhos agrícolas podem ficar comprometidos!

“Quando cuca o cuco depois de São Pedro, cava sem medo”
“Quando vem o cuco, vem o pão ao suco”
“O cuquinho a cantar e a rulinha a rular, colhe o foucinho e vai segar”
“Si oies ó cuco tres días despois de San Pedro, cava, cavador, e non teñas medo”
“O cuco já veio e a poupa também. Senhor lavrador, lavre-me isso bem”

Na Galiza conservam-se claros exemplos destas crenças:
“¿Vén o cuco pola serra? Ano de codela” "¿Vén o cuco pola veiga? Ano de laceira” “Cando o cuco ven por Vilela, ano de moita gavela”

Temos também o caso da simbologia galego-portuguesa associada ao cuco que lhe confere um tratamento de nobreza:
“Cuco rei, cuco rei, cantos anos viverei?”
“Cuquinho de el-rei, quantos anos vivirei?”
“Cuco real, quantos anos me dás para casar?”


Fonte

quinta-feira, 19 de março de 2009

Uma morte lenta e silenciosa...

Mais um video que o amigo Amil Couto colocou no youtube.

Este retrata uma situação que é comum entre ambas as margens e que é um dos maiores perigos para a cultura Galaica.

O desaparecimento do modo de vida milenar e, sobretudo, ao contrário de outros países, a ausência de orgulho e estima nela, está a condenar a nossa herança cultural.

Por todo o lado se esvaziam as montanhas enquanto as cidades betonam as ricas terras litorais.

As leis do mercado e a sua insustentabilidade óbvia, potenciadas pelo capitalismo cego e egocentrismo económico dos indivíduos modernos em que nos tornamos, representa uma condenação à morte.

Haverá solução?

quarta-feira, 18 de março de 2009

O despertar do Carvalhal..

Tenho um apreço especial pelos Carvalhos.

Não só por ser uma árvore sagrada para os nossos antepassados e por ser fonte de vida e suporte para dezenas de outros seres, mas também porque é uma árvore com personalidade.

Digo isso porque de facto cada um tem a sua cor. São como que pessoas. Cada uma com as suas características e reagindo à sua maneira. Na mesma tarde de outono uns tem tonalidades verdes escuras, outros já puxam para o laranja enquanto que noutro local já perdem as folhas.

Olhando para cada um temos mensagens diferentes.

Há dois meses atrás este era o cenário do meu Carvalhal favorito:

Congelados pelas longas noites de Inverno jaziam silenciosos e fazendo de conta que não estava ali ninguém.

Com o Carnavalesco anúncio do regresso da estação fértil, despontaram os primeiros sinais reveladores do despertar da terra. Olhando para o Carvalhal entendemos o que ela sente. Em que ponto está.

Uma semana atrás os Carvalhos estavam a despertar choramingosamente. Muito tímidos, como que aborrecidos pelo incómodo...

A crescente persistência do nosso astro solar que, nos últimos dias, nos tem visitado intensamente fez o resto.

Bem dispostos, pujantes nas suas variantes particulares de verde viçoso a fluorescente, os Carvalhos explodem de vitalidade.

Vemos-los ao longe, por entre os anónimos eucaliptais, a brilhar como se entes iluminados fossem. São distintos! Querem falar a quem tiver a sensibilidade de querer ouvir!

Num espaço de 2 semanas a metamorfose é completa. A aparente Morte revela a inesgotável força vital que, misteriosamente, brota deles.

E agora há os cheiros que flutuam no ar morno. A luz que penetra e brilha dentro dos bosques. O silêncio reconfortante que neles se ouve apenas é quebrado por mensageiros alados que cantam os segredos do universo.

E eu, por baixo deles sinto-me protegido. Sei que estou bem acompanhado.

Se um dia reencarnar quero ser um Carvalho.

Para poder sussurrar os mistérios da Natureza a quem os quiser saber...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Televisão de serviço publico!

A TVG é sem duvida dos melhores canais de televisão a que temos acesso em Portugal. Obrigado ao compatriota Amil Couto pelos uploads dos seus mais interessantes documentários.

sexta-feira, 6 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

Mostra os teus hábitos e dir-te-hei quem és!

"Rodado no ano 1940 coa inestimable colaboración dos parroquianos de Lobeira."

Filmado perto da Fronteira junto ao rio Lima mostram-se hábitos antigos que poderiam perfeitamente ilustrar uma passagem etnográfica Nortenha.




terça-feira, 3 de março de 2009

Antitourada - um exemplo galaico

"A 'Animal' congratulou-se hoje com a declaração de Viana do Castelo como 'cidade anti-touradas', uma decisão pioneira em Portugal"

"Na prática, isto significa que a autarquia não permitirá a realização de qualquer espectáculo tauromáquico no espaço público ou privado do concelho"

A equipa o galaico não poderia deixar passar ao lado o marco histórico que uma decisão desta natureza representa.

Viana, é uma cidade, que até bem poucos anos, tinha espírito tauromáquico. Tinha uma praça de touros numa das melhores zonas da cidade, junto à praia fluvial do rio lima e também um monumental clube tauromáquico em pleno centro histórico, onde funcionava ou funciona um bar e sala de jogos e outros entretenimentos dignos de registo.

Mas pelos vistos este tipo de iniciativas perdeu visibilidade quer na cidade quer por todo o concelho vianense.

Mesmo assim é de ficar estupefacto de como se conseguiu fazer uma mudança tão radical nesta matéria, dado que o espectáculo tauromáquico era presença assídua no programa das festa da Sr. da Agonia.

Claramente que há interesses alheios à verdadeira causa anti-tourada, mas é de louvar acabarem com espectáculos que em nada representam a nossa região.

Só o facto de se ter dado importancia ao factor cultural e ambiental, a equipa de ogalaico aplaude esta mudança.

Esperamos que este tipo de iniciativa influencie outros concelhos da região, como por exemplo Povoa de Varzim, uma cidade de pescadores que em nada sustenta a ideia de touradas!


Fonte