terça-feira, 25 de novembro de 2008

Os Castros!

Aqui há uns meses, tive que ir para os lados da Galiza a fim de comprar uma gaita-de-foles. Lá consegui levar como companhia, rapaziada dos seus 18 a 20 anos extasiados de curiosidade.

Tendo como destino a cidade de A Guarda (do outro lado de caminha), aproveitei logicamente para visitar o maravilhoso Castro de Santa Tecla.

Pois bem, abriram-se novos horizontes para aquela cambada nova. Um castro era uma autêntica novidade para aqueles espíritos. Os monumentos mais antigo que eles conseguiam referir eram: as pontes romanas!

Tendo em conta cerca de 12 anos de ensino público, foi uma autêntica mágoa para mim e para eles! Desconfio que o ensino nestas matérias tem regredido, pois na minha altura de telescola (5º e 6º ano), já se falava de castros inclusive visitas de escola. Mas talvez fosse apenas sorte minha.

Os castrejos são, provavelmente, os nossos antepassados mais directos. Mesmo não o sendo geneticamente para alguns de nós galaicos será, incontestavelmente, a nível etnográfico como temos vindo a referir aqui no ogalaico.


Mas afinal o que é isso de castro, castrejos e cultura castreja?

A partir do século VI a.c., numa ampla zona do noroeste da Peninsula Ibérica, entre os rios Douro e Návia e a Oeste do Maciço Galaico, desenvolveu-se um tipo muito peculiar de assentamentos, chamados Castros, diferentes de outras áreas da península.

Os castros eram povoados fortificados situados num lugar estratégico para facilitar a sua defesa. Tinham também que dispôr de acesso fácil a recursos alimentícios e água, pelo que se situavam habitualmente entre a zona de montes e prados e a de bosque e cultivos.

Castros já existiam durante o Neolítico e a Idade do Bronze, muito antes das invasões Céticas. Julga-se que a Cultura Ibérica desses povoados se misturou com os elementos céticos sem quebras de continuidade.

O Céltico, provavelmente o dialecto Goidélico, tornou-se a lingua franca de toda a Cultura Atlântica. Muitos dos megalitos da Idade do Bronze como menires e dólmenes estão situados em regiões em que também há castros, e são anteriores aos Celtas quer em Portugal e na Galiza, quer na costa atlântica da França, Grã-Bretanha e Irlanda. Estes monumentos continuaram a ser utilizados pelos druídas celtas.

Os povos castrejos, um povo marcadamente tribal, (já conhecidos pelos Gregos com o nome de "Kallaikoi", ou seja, Galaicos) foram definitivamente derrotados pelos Romanos no ano 19a.C., invadidos desde a Lusitânia pelas tropas de Décimo Júnio Brutos - o Galaico.

Nos quase cinco séculos de dominação romana, o noroeste peninsular passou por diferentes fórmulas organizativas: províncias, dioceses, conventus, municípios, etc.

Para controlar a província romana da Gallæcia os romanos tiveram em conta a homogeneidade e particularidade cultural anterior à conquista, servindo-se da organização preexistente, uma organização caracterizada pela existência de diferentes povos (populi), cada um deles integrado à sua vez por um certo número de núcleos de povoação (compostos por castros ou “castella”).

Os Romanos destruíram muitos castros, devido à resistência feroz dos povos castrejos ao seu domínio, mas alguns foram aproveitados e expandidos como cidades romanas. Segundo Jorge de Alarcão "Aos castros, deram os Romanos o nome de castella, que aparece nas inscrições do século I d.C. sob a forma abreviada de um C invertido"

A equipa de ogalaico apela a todos os galaicos para quando tiverem indecisos quanto ao que fazer num feriado, fim-de-semana ou período de férias, pensem numa visita aos nossos fantásticos castros da galécia.
São cerca de 7 mil em toda a região do noroeste atlântico, muitos dos quais em processo de avaliação para candidatura à UINESCO.

Alimentem os espíritos com os testemunhos desta pujante “civilização” castreja que marcou toda a faixa atlântica norte! Um legado que é nosso!
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Fontes

4 comentários:

O Galaico disse...

Os castros são locais muito especiais. Não só pela posição que ocupam na geografia e que transmitem invariavelmente paisagens espectaculares mas também pela sensação de estarmos num local de facto diferente.

As pessoas não se dão conta da importância arqueológica dos castros. São talvez, devido à lastimosa preservação deste recurso, um dos últimos tesouros da arqueologia.

E não. Não estou a brincar. Em Esposende encontraram um pote cheio de moedas de ouro e prata. Na Penha em Guimarães, peças de ourivesaria de estilo Celtico em Ouro, na Povoa de Lanhoso Idem. etc etc.

Mas se tivermos em conta o número de castros escavados em relação aos que sabemos existir ou, sabemos da sua antiga localização, a percentagem é ínfima.

Milhares de Castros encontram-se destruídos, vandalizados e cobertos de mato. Quem sabe os segredos e riquezas que anda jazem enterrados nos cumes dos nossos montes.

Muito estranho do facto de que qualquer MERDA (sim, de vez em quando há que falar como uma Galaico) Romana encontrada por exemplo nas obras de Braga exigir museolização e a alteração de milhares de horas e de euros em projectos.

E isso considerando que os Romanos eram invasores. O que dizer de um país que não toma conta do seu património e, ao invés, prefere investir no património oriundo de quem os atormentou?

Ruínas Mozárabes e Romanas tratadas são as dezenas. Os Castros se não fossem organizações privadas e Martins Sarmento, talvez nem houvesse um preservado.

Porquê? Sinceramente creio que Lisboa tem um medo de morte de tudo o que possa sugerir que Portugal é Galego Castrejo e, pior que isso, que distinga etnicamente as Regiões do Pais..

A melhor forma de preservar os Castros é visitando-os. Provando que as pessoas se interessem e, obviamente, esperar que a futura regionalização traga liberdade aos organismos para investir no património que acham necessário e não em ruínas que o governo central acha útil para reforçar o mito lusitano.

Unknown disse...

Galaico,

obrigada pela tua visita ao meu espaço. Finalmente que encontro na blogoesfera alguém que tem a mesma paixão pela cultura castreja. Vivo perto de alguns castros e de uma citânia e por isso concordo plenamente com a tua opinião sobre o valor subestimado destes locais que são as raízes da Comunidade Nortenha (se não mesmo de Portugal).

Por isso, este blog é uma inicitiva de louvar porque dá a conhecer o nosso património arquitecnónico e cultural. Parabéns!

Beijinhos

O Galaico disse...

Olá "Imagens"!

Obrigado pelo apoio! De facto, incrivelmente, uma cultura tão bela e importante passa completamente ao lado da maioria das pessoas.

E bom saber que há de facto pessoas interessadas nestes assuntos!

Participa e visita-nos sempre que quiseres!

A Respigadeira disse...

Galaico,

o nick Imagens é da proprietária do Images do Meu Mundo.

Beijinhos