sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mais estrangulamento centralista: Nicolinas vs Fado!

Um dos mais escandalosos actos de desprezo do estado central Português, e da sua capital universal, deu-se com a sabotagem da candidatura da cultura oral comum do Norte de Portugal e Galiza a património mundial.


Naquela altura, as comissões de ambas os lados das fronteiras tinham redefinido alguns pontos para serem finalmente aceitas as candidaturas pela UNESCO quando, para espanto de todos, o estado Português silenciou-se dentro das suas barricadas e simplesmente ignorou os protestos e pedidos de audiência por parte da organização.

O estado Espanhol apoiou devidamente a Galiza nesse projecto mas, Lisboa, quando se deu conta que essa candidatura apenas dizia respeito ao Norte de Portugal e não a todo o país, provavelmente achou inútil esta iniciativa ou, eventualmente, mais seguro não reconhecer pertenças culturais entre ambas as margens não fossem alguns Portugueses começarem a terem ideias ainda mais regionalistas.

Esta semana aconteceu mais um episódio desta constante repressão cultural que as terras Lusitanas exercem sobre as Galaicas. Quem sofreu desta vez foi Guimarães e as suas conhecidas festas Nicolinas.

Fiquemos com um artigo do Diário do Minho publicado a 8/10/2009:

Candidatura das Nicolinas marca passo:


Guimarães tem elaborado um dossier de candidatura das Festas Nicolinas a Património Oral e Imaterial da Humanidade. Mas está na gaveta desde Novembro de 2008. Agora, o estado Português decidiu candidatar o Fado àquela distinção, pelo que a candidatura Vimaranense vai ter que esperar pelo menos, até 2014.

O presidente do grupo parlamentar do PSD na Assembleia Municipal de Guimarães, André Coelho Lima, não se conforma com o facto da candidatura das Festas Nicolinas ter sido "esquecida" e "completamente secundarizada" na candidatura a Património Oral e Imaterial da Humanidade da UNESCO. O dossier da candidatura está pronto. Foi elaborado por uma comissão especializada daquele órgão, especialmente constituído para aquele efeito. Foi entregue nas mãos da gestão socialista do Município em Novembro de 2008. Mas, desde essa altura, "não se conhece qualquer desenvolvimento no processo". "Só a inoperância do executivo Municipal justifica que, apesar da candidatura das Festas Nicolinas ter sido a primeira a criar as condições para poder ser apresentada por Portugal, tenha sido ultrapassada pela candidatura do "Fado", que à boleia das condições criadas pela candidatura das Festas Nicolinas, se apresenta agora como sendo a primeira candidatura de Portugal", lamentou André Coelho Lima.


A pretensão da elevação das Festas Nicolinas a Património da Humanidade vem de longe e despoletou mesmo, através do pedido de ratificação à Assembleia da Republica, "os procedimentos para que fosse agora possível, em Portugal, a apresentação de quaisquer candidaturas" à distinção da UNESCO, consideram os social-democratas. Porém, apesar da conquista, se adicionarmos o facto de que, nos termos da Convenção da UNESCO, cada Estado apenas poderá apresentar uma candidatura em cada triénio, tal significa que, assumida a candidatura do Fado, para o ano 2011, inviabilizará que qualquer candidatura seja possível em Portugal, pelo menos até 2014. " É muito lamentável, mas é assim" condenou Coelho Lima, acrescentando, ainda que o adjunto do presidente da Câmara de Lisboa Miguel Alves, elogiado pelo empenho em favor da candidatura do Fado, é simultaneamente líder da bancada parlamentar do PS na AM e perfeitamente conhece a pretensão Vimaranense.

"Guimarães será, em 2012, Capital Europeia da Cultura, o que, associado ao facto de ter sido a candidatura das Festas Nicolinas a permitir que possam ser formalmente apresentadas candidaturas pelo Estado Português a Património Imaterial da Humanidade, são factores que justificariam por si só, que a candidatura das Festas Nicolinas assumisse prioridade entre as candidaturas a ser apresentadas pelo Estado Português", defende o PSD, em nota remetida à imprensa. Na mesma comunicação, os social-democratas respeitam a importância do Fado, mas sustentam que as Nicolinas são de "tradição significativamente mais antigas e com origens nas raízes populares minhotas e Vimaranenses. por isso, lamentam que a "inoperância da Câmara Municipal na gestão deste processo de candidatura possa ter impedido a concretização da expectativa de ver a candidatura das Festas Nicolinas ser apreciada no ano em que Guimarães será Capital Europeia da Cultura, hipótese singular de conferir mais força à sua elevação a Património Imaterial da Humanidade".


Recorde-se que a sugestão de candidatura das Festas Nicolinas a Património Oral e Imaterial da Humanidade foi inicialmente sugerida por Lino Moreira da Silva, velho Nicolino e professor da Universidade do Minho, nomeadamente através de um artigo publicado na imprensa em Janeiro de 2005. Segundo Lino Moreira da Silva, as Nicolinas integram totalmente as exigências da UNESCO porque, entre outros aspectos, detêm uma antiguidade invejável, remontando, com parte dos elementos que lhe deram origem, a tempos medievais.

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OGalaico realça então 2 situação lamentáveis sobre esse assunto:

1º- O aproveitamento de Lisboa e a total falta de respeito e tacto do poder central para com a cidade de Guimarães. Os políticos quando vem ao Norte continuam a falar sobre a necessidade de dinamizar a região pois um Portugal forte só pode existir se o Norte estiver saudável.

No entanto, o que se verifica na prática e sempre o contrário. Quando o Norte trabalha para ter acesso a certas oportunidades que possam interessar a alguém em Lisboa, imediatamente esta aberta é redireccionada para essas sanguessugas lusitanas.

Há pouco Sócrates e Cavaco Silva vieram a Guimarães praguejar as virtudes da Capital Europeia da Cultura e o impacto que uma organização bem sucedida terá em Guimarães, no Minho e em todo o Norte do país.

No entanto, o governo que eles gerem forneceu fundos de apoio lamentáveis quando comprados a investimentos feitos em assuntos menores no Vale do Tejo e, para cúmulo, desprezam uma festividade milenar que iria ser usada como âncora deste mesmo projecto, que, segundo eles era suposto ser tão importante para a região e para o país.

Enfim, hipócritas...

2º- Um reparo também para esta guerrinha partidária nos bastidores da câmara Vimaranense que surgiu ao publico em plena época de eleições.

Eventualmente, se o PS for culpado de um certo desleixe (bem que pouco possa fazer se a capital universal lisboeta decidir privilegiar esta inoportuna candidatura do Fado, em vez de permitir promoção oportuna das festas Nicolinas visando a Capital Europeia da Cultura) na gestão desta candidatura a Património Mundial da Unesco, não menos triste é o PSD vir critica-los quando foi a gestão Socialista que trouxe a Guimarães a realização deste evento.

Se realmente o PSD estivesse mais preocupado com a Capital Europeia da Cultura e Festas Nicolinas do que com as eleições, deveriam terem-se aliados ao PS na pressão junto a Lisboa e não dividir ainda mais as entidade Vimaranenses num assunto tão importante.

2 comentários:

Anónimo disse...

Epa também não é preciso exagerar, vocês culpam sempre os mesmo, culpam sempre Lisboa de tudo o que acontece, paracem os brasileiros favelados a culparem Portugal da miséria em que vivem.
Lisboa também despreza alentejo algarve madeira, não é só o minho...
Saudações

Viva a Portugal
tranmontano

O Galaico disse...

Sr. Anónimo,

Em primeiro lugar, é verdade que muitos preguiçosos usam a desculpa de Lisboa para tudo.

Em segundo ligar, lamentavelmente para a sua opinião, o artigo aqui posto não está sujeito a OPINIÕES.

Estes são FACTOS que escandalizam muita gente para além de mim. Pelo que a culpa apontada nesta situação é especifica e inegável.

O facto de Lisboa esganar tudo a sua volta para além do Norte de Portugal igualmente não joga a seu favor. Não sei que tipo de argumento é esse que está a usar mas, no final de contas, só acaba por fortalecer a minha ideia.

Lisboa suga todas as oportunidades para manter o seu nível de vida acima da média da UE.

Eu, como Nortenho e como Minhoto, defendo a minha região e a minha província.

Se o Sr. não o faz, será sempre indigno de ser considerado transmontano pois estas são gentes que amam e defendem as suas terras e que, por cima ainda, tem sido esquecidas pelo poder central por não se ganharem eleições em trás os montes.