domingo, 31 de janeiro de 2010

Galhofa

E assim vou falar-vos da Galhofa.

Quem é que não ouviu, pelo menos uma vez, as enigmáticas expressões:
- "Andavas na galhofa dianho do moço?"
- "Dizia-se lá cada uma…. mas não era para levar a sério era tudo na galhofa!"
- "Aquilo foi cá uma galhofa que chorei a rir"

Estas expressões são para mim muito particulares. Ouvias muitas vezes quando participava em trabalhos “comunitários” como esfolhada, malhadas e segadas.

Era assim que os mais velhos se referiam às brincadeiras da mocidade ou às picardias entre indivíduos!

Ainda hoje se usa para os mesmos fins na minha zona entre Lima e Cávado. Em lugar de dizer brincadeira, divertimento ou gozo, usa-se a palavra Galhofa. O seu significado oficial na língua portuguesa é risota, escárnio e gracejo.

Mas o termo Galhofa vai mais além. Galhofa é a designação dada a uma luta tradicional transmontana de corpo a corpo com origens portuguesas, nomeadamente, em Trás-os-Montes. A sua origem será, provavelmente, as lutas leonesas mas há quem aponte influência das lutas entre gladiadores romanos.


O objectivo do jogo é imobilizar o adversário de costa e ombros no chão, mas nunca se pode dar murros, pontapés ou torcer partes sensíveis ao adversário. Os jogadores competem em tronco nu, descalços e apenas com calças. A luta começa e termina com um abraço.


Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha.


A galhofa chegou até aos nossos dias enraizada na população de unicamente 3 aldeias transmontanas: Parada, Grijó e Freixedelo.


As Festas de Santo Estêvão marcavam o calendário deste ritual desportivo, que servia para desenhar também a rivalidade entre aldeias e ocupar o tempo, em períodos de pouca actividade agrícola.


Hoje em dia a Galhofa foi integrada no curriculum da licenciatura de Desporto e Educação Física do Instituto Politécnico de Bragança. Esta mesma entidade é responsável por organizar torneios de Galhofa para que a arte perdure.

Boas Galhofas Galaicos!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Mais um atentado sem comentários possíveis!

Arte rupestre destruída em Donim!

Nota da Direcção da Sociedade Martins Sarmento:

Na freguesia de Donim, no concelho de Guimarães, existe um importante núcleo de gravuras rupestres, localizado no fundo do vale que se abre entre o monte da Citânia de Briteiros e o monte de Santa Iria (Póvoa de Lanhoso), tem um incalculável valor histórico, científico e arqueológico. O local foi identificado, a 6 de Novembro de 2006, no jardim de uma pequena moradia daquela Freguesia.


No contexto de elaboração de uma publicação científica, técnicos da Sociedade Martins Sarmento dirigiram-se recentemente ao local para realizarem um conjunto de fotografias das gravuras visíveis nas rochas. Encontraram totalmente destruídos dois painéis de gravuras, e parcialmente destruído um terceiro painel, de maiores dimensões. Este último painel foi afectado pela construção de um muro de cimento, enquanto que os dois primeiros foram destruídos recorrendo ao balde de uma máquina escavadora, sem qualquer motivo que aparentemente pudesse justificar uma destruição por mera ingenuidade. As gravuras mais expressivas, nomeadamente uma notável representação de um zoomorfo (cavalo), foram simplesmente destruídas. Supõe-se, ainda que sem certeza, que parte do painel semi-enterrado sob o relvado do jardim ainda conserve superfícies gravadas, nomeadamente por detrás do muro construído.


O cenário encontrado no local foi verdadeiramente desolador, revelando um acto de destruição gratuita. Muitos dos motivos gravados são associáveis a outros núcleos existentes na zona, dispersos pelas freguesias de Donim, Santo Estêvão e S. Salvador de Briteiros. A figura zoomórfica destruída era, até à data, a única conhecida na região, sendo raras as representações conhecidas de animais, particularmente de cavalos, nas gravuras rupestres em suporte granito.


A Direcção da Sociedade Martins Sarmento condena com veemência este acto de puro vandalismo, que destruiu representações milenares de incalculável valor científico, patrimonial e simbólico. Tendo em conta a gravidade do referido acto, foi o mesmo comunicado à Câmara Municipal de Guimarães e ao Igespar.

Artigo em:
http://pedraformosa.blogspot.com/

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Cantigas Obscenas de Escárnio e Maldizer


A vós, Dona abadesa,
de min, Don Fernand`Esquilo,
estas doas vos envio,
por que sei que sodes essa,
dona que as merecedes:
quatro caralhos franceses,
a dous aa prioressa.

Pois sodes amiga minha,
non querà custa catar,
quero-vos já esto dar,
ca non tenho al tan aginha:
quatro caralhos de mesa,
que me deu ua burguesa,
dous a dous ena bainha.

Mui ben vos semelharan,
ca se quer levan cordões
de senhos pares de colhões;
agora vo-los daran:
quatro caralhos asnaes,
emanguados en coraes,
con que colhades o pan.

«««Fernand`Esquio»»»
(Trovador oriundo da nobreza galega)

Para Vós Dona abadessa,
eu, o D. Fernando Esquio,
estas prendas vos envio,
porque sei que esta remessa
vós, dona, a merecereis:
quatro caralhos franceses,
sendo dois para a prioresa.

Já que sois amiga minha
e em nada quero poupar,
isto vos mando entregar
que outros não terei tão asinha:
quatro caralhos de mesa,
que me deu uma burguesa,
cada par uma caixinha.

Muito bem vos parecerão,
pois até trazem cordões.
Em breve os entregarão:
quatro caralhos asnais,
tendo pegas de corais
para levar à boca o pão.

Alude a cantiga um objecto, em uso na Idade Média, que hoje é conhecido por vibrador («o consolador») que certas mulheres utilizavam quando não podiam (ou não queriam) ter relações com homens. os dois versos finais indicam que os consoladores tinham uma pega que serviriam também para levar o pão à boca, imagem, como escreve RL, «forte e atrevida». Ver próxima cantiga.


Maria Negra, desventuirada,
e por que quer tantas pissas comprar,
pois lhe na mão on queren durar
e lh`assi morren aa malfadada?
e nun caralho grande que comprou,
oonte ao serão o esfolou,
e outra pissa tem já amormada.

E já ela é probe tronada
comprando pissas, vedes que ventura:
pissa que compra pouco lhe dura,
sol que a mete na sa pousada;
ca lhi conven que ali moira enton
de polmoeira ou de torcilhon,
ou, per força, fica ende aaguada.

Muit`é per aventuira meguada
de tantas pissas no ano perder,
que compra caras, pois lhe van morrer;
e est`é pola casa molhada
en que as metre, na estrabaria:
pois lhe morren, a velha sandia
per pissas berra, en terra deitada.

««««Pero Garcia Burgalês»»»»
(Poeta e trovador nascido em Burgos)

Maria Negra é bem desventurada.
Porque anda tantas piças a comprar
se, nas suas mãos, de tanto as usar,
elas lhe morrem, triste malfadada?
A um caralho grande que comprou,
ontem, ao serão, logo o esfolou
e tem outra piça já amormada.

Ei-la à pobreza, de novo, voltada,
por comprar piças. Vede a desventura:
pissa que ela compre, pouco lhe dura,
depois que ela a mete na sua pousada.
Acontece-lhe ela morrer, então,
ou de tumores ou de torcilhão,
ou, por tanto uso, ficar estragada.

É muita desventura desgraçada
tantas piças por ano assim perder.
Compra-as caras e vão-se desfazer.
A culpa disso é da casa molhada
onde ela as mete, uma estrebaria.
Quando lhe morrem, a velha sandia
por piças berra, na terra deitada.

«As cantigas de escárnio e maldizer, pornográficas ou não, são a primeira manifestação literária da ironia e do humor em língua portuguesa (por isso, algumas eram conhecidas por 'cantigas de risadilha'). Todavia, este humor, ainda que por vezes grosseiro, nunca é gratuito, nem cobarde: ataca directamente, põe o nome aos bois e é assumido.»

Orlando Neves

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Janeiro, Reis e Janeiras!


Janeiro é para mim um dos meses mais interessantes do ano por causa da tradição secular das Janeiras.

As memórias de infância permanecem bem vivas e lembro-me como se fosse hoje da excitação que causava o facto de receber uns Reis em casa ou de ir cantar os Reis à casa dos amigos e família. Até porque isso significava sempre andar na boa vida até altas horas da madrugada em dias de escola...

Recordo-me dos ensaios, dos planos secretos para que o patrão da casa não suspeita-se de nada, do frio a gelar o nariz e os dedos, da voz da cantadeira, do cheiro a lenha queimada das lareiras que invadia a atmosfera da aldeia, o som dos instrumentos, o tremer da terra sob o poder dos morteiros e, sobretudo, da festa no interior onde se comia, ria bebia e dançava!

Os Reis, vulgas Janeiras ainda estão, felizmente, relativamente bem conservadas. Contudo, são cada vez mais reproduzidas por grupos folclóricos e outras instituições à procura de ajudas financeiras.

Isso, bem que não sendo reprovável, não atribui às Janeiras o seu verdadeiro papel social que era, em ultima análise, utilizar a metáfora da visita dos três Reis magos ao menino Jesus, para desejar aos entes queridos um bom e próspero ano. Porém, muito antes da Cristianização deste hábito, os povos antigos já tinham esta tradição mas, desta feita, para anunciar o Solstício de Inverno.

Assim sendo, deixo os leitores deste modesto sítio com a minha ainda mais modesta interpretação de umas Janeiras tradicionais do Norte de Portugal, acompanhadas por algumas quadras também elas típicas da época.

Bom ano a todos!


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Pressão urbanística ameaça património arqueológico em Fafe!


"A Associação do Património Histórico e Arqueológico de Fafe reivindica a protecção de dois túmulos pré-históricos (mamoas) ameaçados por uma forte pressão urbanística. Um dos túmulos foi soterrado por depósito de entulhos e o outro está a escassos metros de uma moradia."

Actualizando este espaço com o perfeito exemplo das aberrações urbanísticas e patrimoniais que surgem todos os dias no Norte de Portugal.

Desta vez, um importante local do concelho Fafense está prestes a ser destruído com mais betonagem barata patrocinadas por, provavelmente, emigrantes que querem a sua casinha "A la Française" como todos os outros.

De uma só vez se pode assistir a mais uma ocupação de território indevida (pois, no artigo completo, sabe-se que este local estaria supostamente protegido contra a construção num raio de 50 metros.), degradação ambiental pelo despejo de lixo e aberração contra o património pré-histórico da região.

O canibalismo com que consumimos e degradamos os nossos recursos não tem fim. Portugal é um país com um atraso cultural imenso onde as pessoas, na sua santa ignorância, não se dão conta do que fazem.

Esta situação, num país normalmente civilizado nunca seria possível e logo seria valorizada a urbanização com uma interessante museolização "In Situ".

Contudo, o que se verifica é um completo atestado de deficiência mental por parte das autoridades passando pela câmara, junta de freguesia e, porque não, culpando os moradores que não tem a inteligência nem a sensibilidade de verem o que se está a passar.

Estas frequentes situações são as que mais me fazem ter vergonha do meu povo.

http://www.diariodominho.pt/noticia.php?codigo=36408