
D. João de Aboim nasceu por volta de 1213 em Aboim da Nóbrega (extinto couto Terras da Nóbrega), no Lugar do Outeiro, tendo recebido a sua educação inicial em Azias e depois realizado os estudos avançados em França, juntamente com o ainda, na altura, Infante D. Afonso, futuro Rei D. Afonso III de Portugal.



D. João de Aboim foi a mais alta figura da nobreza do seu tempo e a sua acção foi de importância decisiva para a afirmação institucional da monarquia e da consolidação efectiva do espaço territorial português. A sua vida está intimamente ligada à história de formação actual de Portugal.

Resolvido o problema da ocupação muçulmana, após a reconquista, era preciso povoar o Alentejo e o Algarve. Então, D. Afonso III, dá forais a povoações já existentes, ou a outras que, entretanto se formam.
D. João Peres de Aboim recebeu inúmeras propriedades rurais e urbanas, tornando-se o mais poderoso fidalgo do reino, mas foi no concelho de Évora que recebeu o seu maior quinhão aquele que viria a ser conhecido como Senhor de Portel.
Os dezasseis anos que permaneceu em França junto do meio literário e conjuntamente com D. Afonso, conferiu-lhe uma cultura literária e um engenho poético que o elevaram acima da maior parte dos cortesãos do seu tempo.
Considerado por Carolina Michaelis como o mais ilustre fidalgo que veio de França com D. Afonso III, D. João Peres de Aboim foi também um poeta-trovador, de quem existem notícias de trinta e três poesias, conhecendo-se, no entanto, apenas dezassete: duas cantigas de amor, onze cantares de amigo “graciosos e fluentes”, e três cantigas de mal dizer.
É-lhe atribuída também uma pastorela que, cronologicamente, será a mais antiga conhecida na história da poesia trovadoresca portuguesa.
Nesta cantiga revela D. João de Aboim as suas ligações a França e ao caminho francês, a estrada que os cavaleiros e os romeiros percorriam de Bordéus a Santiago de Compostela, nas peregrinações ao túmulo do santo patrono dos guerreiros peninsulares:
Cavalgando noutro dia
per o caminho francês
e ua pastor siia
cantando com outras três
pastores, e, non vos pês,
e direi-vos todavia
o que a pastor dizia
aos outras em castigo:
“Nunca molher crea per amigo
pois s’o meu foi e non falou
migo”
(…)