segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Adornos Galaicos?

Estava certo dia a repousar debaixo de uma cerejeira, árvore que me cativa particularmente, quando dei pela existência de grandes quantidades de resina a pender do seu tronco.

Com grande curiosidade, fiquei a maravilhar-me com esse processo natural. Não resiti ao seu brilho e arraquei uma bola já meio solidificada!

Falei com os meus avós sobre isso, e conversa pucha conversa, foi-me dito que essa resina era usada para selar (fechar) as carta de amor que se escreviam na altura dos meus avós e bisavós!

Disseram-me também que muitas dessa cartas eram escritas com sumo de limão, e só era possivel dessifra-las contra a luz da fogueira!

E para além disso, foi-me dito que havia quem fizesse - principalmente os mais novos - brincos, colares, aneis e outras bijoterias com as resinas das cerejeiras solidificadas.

Ao pesquisar sobre o assunto, descobrir que:

"Desde a pré-história, as regiões banhadas pelo Mar Báltico são a principal fonte de âmbar. Acredita-se que o material foi utilizado desde a Idade da Pedra. Foram encontrados também objetos de origem báltica nos túmulos egípcios datando 3200 a. C. Outra pista importante foram objetos encontrados na Escandinávia que eram utilizados por vikings dos anos 800 até 1000 d. C." (Wikipédia)

Ora sendo a resina a matéria que dá origem ao âmbar, e tendo aquela resina de cerejeira uma cor tão apelativa, pergunto-me se os nossos antepassados galaicos não se fascinariam com tal maravilha e não seriam eles capazes de fazer uso dessas matérias para os seus adornos?

Brincadeiras do antigamente!


Perguntei eu ao meu tio enquanto escolhia uns suculentos rojões da travessa de barro e ansiava pelo vinho tinto da malga:

- Então diga lá tio Nel como é que se divertiam antigamente!?

- Ó! De tantas maneiras! Mas éramos tão pobres que só mesmo fazendo asneiras é que nos podíamos divertir!

- Sabes que eu era o mais velho dos irmãos todos e raramente tinha tempo de brincar. Mas isso não quer dizer que não fazia das minhas!

- Olha que por vezes, quando o sol vinha bravo logo de manhã, subíamos uma banda para o monte do Picoto, lá em cima sabes?

-Sei, sei!

- Pronto. Então nós íamos uma uma ceita jeitosa lá para cima, onde há aquelas Lajes grandes de pedra, mesmo na crista do monte.

- Fazíamos um cerco e começávamos a bater com as chancas. As chancas eram aqueles socos baratos feitos de pau e cortiça. Batíamos e começávamos a levantar os penedos, pedras e pedrinhas todas!

- Mas porque é que faziam isso? Perguntei.

Nós íamos lá para cima para apanhas sardões! Eles normalmente punham-se ao sol ali nas Lajes! Ora bem, nós apanhávamos-los quase todos!

- Mas para que raio queriam estes bichos?

- Óh! Eu sei lá. Eramos moços! Só fazíamos asneira. Normalmente agarrávamos neles e fazíamos um laço na cabeça. Atávamos o laço a um pau e andávamos na rua como se fossem cães... (!)

- E lá íamos nós pela rua, uma banda de 10 ou 20, todos a passear sardões pelos lugares da freguesia...

- Ahahahaha! Esta tá boa! Passear sardões como se fossem cães! Ahahahaha!

- Olha mas o melhor nem é isso. O melhor eram as mulheres!

- Que tem as mulheres?

- Eu sei lá. Naquele tempo parece que uma mulher não podia mexer em sardões. Nós passávamos de propósito nos sítios onde elas andavam! Nos tanques, na beira dos ribeiros, se fosse ao fim de semana, pelo cemitério e igreja etc.

- Elas berravam, fugiam e por vezes nós é que tínhamos de fugir a correr porque elas tinham vergastas e aquilo doía como o corno! Aiaia! Pelas costas abaixo não era brinquedo!

- Mas quando elas vinham atrás de nós também tinha graça! Agarrávamos os sardões e atirávamos-los com eles! Ahahaha! Aí é que as mulheres e moças berravam!Muitas até os valados desciam aos tombos para não serem tocados por eles!

- Mas e depois? Ninguém vos castigava?

- Ai não castigavam! Eu nem a casa voltava com medo! Passava dias a dormir dentro das medas com medo do paizinho! A mãezinha é que depois, com pena, vinha me buscar À noite quando ele estava a dormir. Senão eu não ia para casa!

- Ahahaah! Que peça!

- Peça? Eu? O "Tónio Ganito" é que era peça! Andava sempre com sardão um no bolso e quando ia para a escola andava sempre com ele. Quando a professora vinha para lhe bater, ele tirava a cabeça do bolso que ela dava um pincho atrás e benzia-se logo! Nunca lhe bateu com medo aos sardões!

- Então porque é que o tio Nel também não andava com um?

- Eu bem queria! Mas o meu sardão era outro! E isso porque nunca tive umas calças que não tivessem os bolsos furados!

- Ahahahah! ESTÁ BOA! Bebo a essa!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O Vira Galego!

Dizem que a musica é a melhor forma de expressão de uma cultura.

E é verdade!

A musica não mente. E o que é suposto ser e revela quem é a alma.

A música não se esconde nem finge. A música existe por si só e, o que ela conta pode ser tomado como verdade incontestável.

O que se houve cá e lá tem raízes comuns. Prova de pertença acima de qualquer historiador ou interpretação. A música e em especial o Folclore torna-se assim a mais valiosa peça de arqueologia.

Será este o Vira da minha Vida?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Noroeste Peninsular!

Podemos, em geral, afirmar, que, apesar dos ligeiros matizes locais, a unidade cultural e política representada pela velha Gallaecia é um facto até ao século XII.

A partir desta data, contudo, começa uma lenta, mas contínua, divergência de base política entre as terras situadas ao Norte e ao Sul do Minho. Enquanto que a Galiza, quer dizer, a parte setentrional do conjunto, fica submetida à monarquia leonesacastelhana, Portugal constitui-se como reino independente, sob o monarca Afonso Henriques e os seus sucessores, produzindo-se, ainda por cima, uma deslocação dos centros de poder em direcção ao Sul, Coimbra e Lisboa, a partir dos quais irradiaram peculiaridades culturais geradoras de pequenas diferenças, por exemplo na língua, e, sobretudo, contribuindo para desenvolver sentimentos de dependência e de posse distintos.

Os dados anteriores permitem-nos estabelecer uma diferenciação entre a Galiza e o Norte de Portugal no que a dependências políticas se refere, assim como reconhecer que os dois territórios dependeram duma "cultura de Estado" diferente.

Mas é preciso advertir que, até ao século XIX, tanto o estado português como o espanhol eram estados pre- ou proto-nacionais, fruto de concepções patrimoniais dos respectivos monarcas, e, portanto, não tenderam a criar uma uniformidade cultural nas camadas populares da população, formadas especialmente por camponeses, artesãos e marinheiros, o que facilitou a permanência de formas de cultura tradicional com grandes semelhanças nos dois lados do Minho e da raia seca das terras mais orientais.

Com posterioridade, a partir do século XIX avançado, a lenta implantação de estados nacional-liberais em Espanha e em Portugal provocou o aparecimento de políticas encaminhadas a consolidar um espaço nacional uniforme, como sucede noutras zonas da Europa.

Mas deve ter-se em atenção que estes dois estados sofreram duma debilidade crónica que os impediu de consumarem, plenamente, os seus desejos de criar uma cidadania com cultura uniforme de estado.

As contingências da História fizeram com que o Noroeste Peninsular se caracterizasse por uma forte sociedade rural, de que as manifestações culturais são o seu espelho mais seguro.

A rica lírica galaico-portuguesa dos séculos XIII e XIV foi escrita numa língua cortesã comum, com base numa tradição popular de carácter oral, a autores galegos e portugueses mas, pouco a pouco, num longo processo que chega até aos nossos dias, os traços comuns convivirão com divergências, o que permite considerar o galego e o português como línguas muito próximas, mais diferenciáveis.
A literatura galaico-portuguesa encontra formas de erudição e lugar nas elites, mas é a Tradição Oral a máxima expressão do sentir e do agir desta região. Ela interpreta o mundo natural de onde nasce; ela expressa os sentimentos daqueles que nele labutam e nele se transcendem. E não é por acaso que nela subsistem ainda, enquanto linguagem do povo, traços comuns de língua dos dois lados da fronteira, como é o caso na Baixa Límia (Galiza) e em Castro Laboreiro (Portugal).

A deficiente escolarização favoreceu a conservação duma cultura de transmissão oral e de carácter muito local tanto no que se refere ao aproveitamento do meio natural como à organização social ou ao universo crencial-simbólico e criativo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sábias Palavras...

Galegos e portugueses fazem parte da mesma nação cultural, até ao ponto de que um estudioso do facto nacional na Europa ocidental, como o italiano Salvi, autor de “Le nazioni proibite”, estima que a Galiza é uma das “false nazioni” da Europa. Para Salvi, Galiza é uma falsa nação, porque não é uma das que ele chama nazioni proibite, quer dizer, não é daquelas nações que não conseguiram constituir o próprio Estado nacional sobre alguma parte do seu território, pois a nação galego-portuguesa, na sua prolongação portuguesa, sim conseguiu dar-se um Estado, embora parte do seu território inicial (o território da actual Galiza) faça parte do Estado espanhol e, portanto, sem Estado próprio”. Xavier Vilhar Trilho


“Nós, os portugueses, podemos dizer que, da Galiza, o seu cerne, a sua essência, está em Portugal, e que não temos medo de chamar Galiza a todo o Norte do nosso País, que as coisas são como são, por muito que pese aos espanhóis.” José Chão Lamas


“nós, os portugueses, os que nos fazemos perguntas acerca destas coisas (só quem fizer as perguntas dará com as respostas; em saber perguntar, pesquisar, está o segredo da sabedoria e do conhecimento), pensamos que a Galiza é uma região espanhola que vêm caindo por cima de Portugal e na qual as pessoas falam um linguajar deturpado e feio como um espanhol com muitas palavras portuguesas, e onde as pessoas do povo entendem os portugueses e não têm essa atitude anti-portuguesa que se dá nos espanhóis quando o homem (ou mulher) português não é um iberista. Mas isso não é a Galiza, é somente uma parte da Galiza. A Galiza é na realidade grande parte de Portugal, de Santarém para cima, é aí que chegava o velho reino da Galiza. Haverá por acaso algo mais galego do que Braga, capital da Galiza romana, do reino suevo, da Igreja da Galiza? Lugo e Santiago sempre agiram por delegação do “verum caput” Braga, durante doze séculos a cabeça, e que por isso mesmo é ainda a cidade primaz de Portugal.” José Chão Lamas


“… ao emancipar-se a Galiza bracarense do império espanhol, aquela Galiza sueva tam altiva como compacta antes da Reconquista e despois da Reconquista, ficava, por dizê-lo assim, dividida por metade. Ou a Galiza lucense devia seguir a sorte da bracarense, ou impedi-lo a todo o transe, pois ficando afecta à monarquia espanhola, sobre ficar incompleta, ficava excêntrica, fora do seu assento moral e dos seus interesses de raça. De tolerar-se a separaçom do reino de Portugal, reino nascido e formado na Galiza bracarense, devemos ser portugueses antes que espanhóis, porque a emancipaçom da Galiza bracarense da Coroa de Leom e Castela significava o triunfo perfeito da nobreza sueva sobre a nobreza goda…” Bento Vicetto

domingo, 31 de agosto de 2008

Espadelada do Linho!



Capatado em 1997, nas festas das colheitas de Vila Verde, estes videos retratam a espadelada que se realizava em Aboim da Nóbrega!

Achei por bem partilhar convosco estes videos não só pela representação do linho mas sobretudo pelas cantigas. Apesar de algumas falhas de gravação, o essencial das cantigas está lá!

sábado, 30 de agosto de 2008

Não passaram muitos anos!


Não passaram muitos anos em que nas aldeias se encontrava as vacas barrosãs a comerem nas bermas dos caminhos, enquanto o seu dono de sachola às costas dava uma palavrinha com o vizinho que munido de tesouras “cantadeiras” fazia a poda das suas vinhas!

Não passaram muitos anos em que as gentes da aldeia se organizavam para a “batida ao lobo” junto dos fojos do lobo, e quando uma vaca se “escutava” era morta pela dono e a população vinha comprar carne a fim de ajudar o lavrador no prejuízo!

Não passaram muitos anos em que depois de uma matança do porco o lavrador movido pelo espírito comunitário, distribuía o “sarrabulho” composto por “farinhatos”, “bofes”, febras, rojões e orelha pelos vizinhos; e quando se fabricava o bagaço, os homens das aldeias faziam serões junto dos alambiques bebendo e comendo num banquete ritmado pelo estalar da fogueira e o murmúrio das vozes masculinas!

Não passaram muitos anos que as crianças faziam os seus próprios brinquedos, em ferro ou madeira; e uma simples ida às malhadas, lavradas e desfolhadas enchiam os campos e eiras de júbilo e brincadeira!

Não passaram muitos anos em que as mulheres serpenteavam pelos vales das aldeias com um molho de linho à cabeça ou um cesto de roupa acabada de lavar no rio; e aos domingos as raparigas solteiras colhiam flores nas hortas e campos para aparelhar as capelas e igrejas ensaiando cânticos primaveris!

Não passaram muitos anos em que as roupas das senhoras eram feitas à medida pelo alfaiate ou pela vizinha costureira; e o uso de calças por parte das mulheres ainda não estava enraizado nos cânones da beleza feminina!

Não passaram muitos anos em que se via nas cidades, senhores rurais a cumprimentar as gentes nas ruas com um sorridente bom dia; e senhoras vestidas de negro vindas das feiras atulhavam as “camionetas” de galinhas, ovos e hortaliças tão viçosas como o brilho dos seus brincos de libras de ouro!