Podemos, em geral, afirmar, que, apesar dos ligeiros matizes locais, a unidade cultural e política representada pela velha Gallaecia é um facto até ao século XII.
A partir desta data, contudo, começa uma lenta, mas contínua, divergência de base política entre as terras situadas ao Norte e ao Sul do Minho. Enquanto que a Galiza, quer dizer, a parte setentrional do conjunto, fica submetida à monarquia leonesacastelhana, Portugal constitui-se como reino independente, sob o monarca Afonso Henriques e os seus sucessores, produzindo-se, ainda por cima, uma deslocação dos centros de poder em direcção ao Sul, Coimbra e Lisboa, a partir dos quais irradiaram peculiaridades culturais geradoras de pequenas diferenças, por exemplo na língua, e, sobretudo, contribuindo para desenvolver sentimentos de dependência e de posse distintos.
Os dados anteriores permitem-nos estabelecer uma diferenciação entre a Galiza e o Norte de Portugal no que a dependências políticas se refere, assim como reconhecer que os dois territórios dependeram duma "cultura de Estado" diferente.
Mas é preciso advertir que, até ao século XIX, tanto o estado português como o espanhol eram estados pre- ou proto-nacionais, fruto de concepções patrimoniais dos respectivos monarcas, e, portanto, não tenderam a criar uma uniformidade cultural nas camadas populares da população, formadas especialmente por camponeses, artesãos e marinheiros, o que facilitou a permanência de formas de cultura tradicional com grandes semelhanças nos dois lados do Minho e da raia seca das terras mais orientais.
Com posterioridade, a partir do século XIX avançado, a lenta implantação de estados nacional-liberais em Espanha e em Portugal provocou o aparecimento de políticas encaminhadas a consolidar um espaço nacional uniforme, como sucede noutras zonas da Europa.
Mas deve ter-se em atenção que estes dois estados sofreram duma debilidade crónica que os impediu de consumarem, plenamente, os seus desejos de criar uma cidadania com cultura uniforme de estado.
As contingências da História fizeram com que o Noroeste Peninsular se caracterizasse por uma forte sociedade rural, de que as manifestações culturais são o seu espelho mais seguro.
A rica lírica galaico-portuguesa dos séculos XIII e XIV foi escrita numa língua cortesã comum, com base numa tradição popular de carácter oral, a autores galegos e portugueses mas, pouco a pouco, num longo processo que chega até aos nossos dias, os traços comuns convivirão com divergências, o que permite considerar o galego e o português como línguas muito próximas, mais diferenciáveis.
A literatura galaico-portuguesa encontra formas de erudição e lugar nas elites, mas é a Tradição Oral a máxima expressão do sentir e do agir desta região. Ela interpreta o mundo natural de onde nasce; ela expressa os sentimentos daqueles que nele labutam e nele se transcendem. E não é por acaso que nela subsistem ainda, enquanto linguagem do povo, traços comuns de língua dos dois lados da fronteira, como é o caso na Baixa Límia (Galiza) e em Castro Laboreiro (Portugal).
A deficiente escolarização favoreceu a conservação duma cultura de transmissão oral e de carácter muito local tanto no que se refere ao aproveitamento do meio natural como à organização social ou ao universo crencial-simbólico e criativo.
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