sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
A morte do Entrudo.
Exemplo de um Carnaval que apresenta ainda elementos simbólicos ancestrais:
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Memórias do um verdadeiro Carnaval...
Recordo facilmente o que fazíamos em quanto crianças na minha aldeia quando esta ainda o era e não freguesia... Quando as tradições eram mantidas e perpetuadas através dos jovens. Não vai há muito tempo... Passariam 15 anos? Talvez nem tanto...
Assim, após a inevitável cerimónia católica, preparava-se o cortejo que iria cruzar os caminhos de terra e paralelo. Ornamentavam-se os carros de bois e os próprios animais Barrosões eram cuidadosamente tratados para que dignificassem os jugos ricamente esculpidos. Atrás destes seguiam as carrinhas onde seguiam a maioria dos participantes pois os tempos já tinham mudado.

Visitavam-se as principais artérias da aldeia com alegria e alguns excessos. Ninguém se importa com isso mesmo que todos saibam quem são os mascarados. Esta é uma tarde de festa. Comida, bebida, e folia. Tudo era acompanhado por foguetes, música, risadas, comida e vinho.
Depois de toda a encenação Religiosa e Pagã, esperava-se depois pela noite onde se realizava a mais emblemática manifestação Carnavalesca de transição de estação. Esta variava sensivelmente de região para região mas existem sempre vários pontos comuns em todas elas. A presença do Velho e da sua queima são elementos omnipresentes em todos os Carnavais tradicionais.

Durante este macabro cortejo, caracterizado por um misto de alegre ironia e estranha reverência, ouviam-se os choros gozões dos populares que exageravam nas lamentações desta encenação. Os gritos das mulheres soam-me agora a suplicas distantes. Como que se estivessem na altura a pedir socorro para um hábito milenar em vias de extinção.
Chegados ao local da queima, crucificava-se o boneco e atiçava-se-lhe lume. Previamente escondidas nas suas entranhas estavam morteiros de foguetes que davam uma certa espectacularidade à aniquilação da figura empalhada. Os despojos corpóreos do boneco eram deitados ao ribeiro para que desaparecerem para longe.

Lembro-me do cheiro das fogueiras de lenha da poda no ar. Este perdurava semanas a fio e marcava sempre esta época Carnavalesca. Lembro-me do frio que sentíamos durante o cortejo e do impacto luminoso da queima do Arturinho.
Sinto saudades...
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
O CARNAVAL ou ENTRUDO

Está a chegar o ENTRUDO/ENTROIDO.
O Carnaval, ou ENTRUDO (entroido) tal como todas a as festas actuais (Natal, por exemplo...) está colocado no calendário de acordo com os rituais e calendários pagãos. É uma festa milenar, de tradição Pré-cristã, à qual o cristianismo associou também um ritual.
Culto associado ao fim do Inverno, às festas do Renascer da NATUREZA...
Entrudo, deriva do latim (introitus) significando "entrada" ou começo do ano, da primavera.
Está desde a Idade Media associado ao inicio da Quaresma. Um período de FESTA em que se comia carne, pois a seguir vem o jejum quaresmal. Dai herda o seu nome (CARNE + VALE = adeus à carne).
Domingo GORDO, Terça-Feira GORDA...dias de cozido e carne de porco...dias de carne antes da quarta-feira de cinzas...dias de FESTA e de LIBERDADE.
...E assim um AGRÍCOLA adeus ao INVERNO, FESTA DO RENASCER DA NATUREZA, foi-se transformando num ADEUS A CARNE e preparaçao do RECOLHIMENTO, por circunstancias RELIGIOSAS...
Falo de ENTRUDO:
Não falo do feriado actual, das brasileiras (ou portuguesas) com pouca roupa a dançar samba nas avenidas de Portugal, cheias de frio, derivado de no pais de onde esta "tradiçao" foi importada ser por esta altura alto Verão (!!!) ... mais uma deturpaçao de toda a nossa Cultura Milenar.
Não falo dos decibeis a estourar os nossos timpanos de camiões cheios de som (barulho)...
Não falo das televisoes que andam de terra em terra a ver qual teve mais gente, mais palhaçada, mais folioes, qual foi o caranaval mais portugues de portugal...(???) mentalidade de jornalista estupido que de cultura nada percebe...

FALO-VOS DO NOSSO ENTRUDO:
Do Pai Velho no Lindoso, com os seus carros e danças. E a leitura do TESTAMENTO.
http://www.gastronomias.com/cronicas/entrudo.htm


Falo-vos dos CARETOS de PODENCE e de tantos outros espalhados por essas ALDEIAS Tras-Montanas.
Falo de quadros Carnavalescos na Galiza, que são em tudo idênticas ás do lado Sul dessa Fronteira, ESTATAL, NUNCA CULTURAL. Como por exemplo os de Vilarinho (Provincia de Orense).
...é o ENTROIDO
http://caretosdepodence.no.sapo.pt/
http://www.bragancanet.pt/arte/podence.html
http://trajesdeportugal.blogspot.com/2007/09/caretos-podence-trs-os-montes.html
http://vello.vieiros.com/especial/entroido99.html
http://gl.wikipedia.org/wiki/Entroido


Este artigo de GabKoost, no Forum GALLAECIA, ajudará a compreender melhor todo este assunto:
http://www.forum-gallaecia.net/viewtopic.php?p=2945 P.S. Este artigo será complementado, caso o tempo me permita tal como desejo, se este ano for a um destes NOSSOS entrudos...e contarei o que por lá vi...
AFINAL QUE ENTRUDO/ENTROIDO QUEREMOS?


Mamasuncion - Uma Aldeia Galega!
Interessante reparar nas semelhanças entre s aldeias serranas da Galiza e do Norte de Portugal. A organização dos edifícios, os materiais usados, as próprias vestimenta dos aldeões são o testemunho de uma única entidade cultural.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Lenço dos Namorados

Aproxima-se o dia 14 de Fevereiro... O Dia dos Namorados. Como em (quase) todas as tradições há duas explicações. Uma ligada à Igreja e outra pagã. A versão católica, refere-se a um dos três santos de nome Valentim, que se crê ter vivido no séc III em Roma, tendo morrido em 270 ao descobrir-se que casara muitos pares em segredo depois do imperador romano Cláudio II ter proíbido o casamento entre jovens acreditando que com isso alistaria mais homens no seu exército. A versão pagã, sempre mais ligada à natureza, defende que esta data marcava o início do acasalamento entre pássaros.
Mas, explicações à parte, venho falar de uma tradição que houve pelas terras do Minho que girava à volta de um lenço que era bordado pelas moças da terra. Estes lenços, eram juramentos eternos de amor e, não raras vezes, expunham a união de duas vidas.
«Começaram por ser elemento de adorno no traje feminino. As raparigas punham-no no cós da saia, dobrado, com o bordado colorido à vista. O rapaz atrevido e paixonado, roubava-lho, em jeito de jogo e desafio. A rapariga, seduzida, cedia.
Se depois do arraial, o lenço ficasse na posse do sedutor, era sinal de partilha de sentimentos. O rapaz podia, então, partir da romaria, ufano, mostrando bem o lenço. Um troféu? Um penhor? Um tesouro? Caso contrário, ele teria de o restituir à rapariga. Sem o lenço, ela ficaria "comprometida".» "Tesouros do Artesanato Português - Texteis"
Os lenços de namorados, na sua maioria, não faziam referência ao rapaz amado. Os que o faziam, eram chamados lenços de epenho e eram bordados já depois de o rapaz e rapariga estarem 'conversados'.
«É provável que a origem dos lenços dos namorados ou lenços de pedidos esteja nos lenços senhoris dos séculos XVII-XVIII, adaptados depois pelas mulheres do povo, dando-lhes consequentemente um aspecto popular característico.
Antes de tudo, eles fazia parte integrante do trajo feminino e tinham uma função fundamentalmente decorativa. Eram lenços geralmente quadrados, de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira.
(...)
A moça quando estava próxima da idade de casar confeccionava o seu lenço bordado a partir de um pano de linho fino que porventura possuía ou de um lenço de algodão que adquiria na feira, dos chamados lenços da tropa.
Para realizar esta obra, a rapariga utilizava os conhecimentos que possuía sobre o ponto de cruz, adquiridos na infância, aquando da confecção do seu marcardor ou mapa.
Depois de bordado o lenço ia ter às mãos do namorado ou conversado e era em conformidade com a atitude deste de usar publicamente o lenço ou não, que se decidia o início de uma ligação amorosa.
Os lenços carregam consigo, por isso, os sentimentos amorosos de uma rapariga em idade de casar, revelados através de variados símbolos amorosos como a fidelidade, a dedicação, a amizade, etc.
Estes lenços eram originalmente em ponto de cruz, e por ser um ponto trabalhoso obrigava a bordadeira a passar durante muitas semanas e mesmo durante meses de serões na sua confecção.
Como a escassez de tempo passou a ser um facto na vida moderna, a mulher deixou de ter tempo para a confecção destes lenços, o ritmo da vida tornou-se mais intenso e a mulher teve de solucionar este problema adoptando no bordado outros pontos mais fáceis de bordar.
Com esta alteração outras se impuseram no trabalho decorativo dos lenços de namorados: o vermelho e o preto inicial vai dar origem a uma grande quantidade de outras cores, e com elas novos motivos decorativos se impuseram. Os lenços não deixaram porém de ser ainda mais expressivos, acompanhados muitas vezes de quadras de gosto popular dedicadas àquele a quem era dirigida tão grande fantasia: O Amado.» "Vila Verde Terra de Tradição - aliança artesanal"
É tancerto eu amarte
Como o lenço branco ser
Só deixarei de te amar
Cuando o lenço a cor perder
Este amore ade acabar
quando esta pomba boari
Aqui tens meu curação
E a chabe para o abrir
Num tenho mais que te dar
Nem tu mais que me pedir
As mulheres, escreviam da mesma forma que falavam... daí tamanha quantidade de "erros" que fariam chorar qualquer "regulador da língua" mas que qualquer pessoa "comum" verá uma beleza única!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Esperança para o nosso património!

Como já sabemos, a falta de ligação emocional centralista para com esta antiga sociedade da qual não tem visibilidade física, deve ser a causa da ignorância completa da sua importância para a história do país e o seu consequente desprezo.
Pelo menos, espero que seja este o motivo. Não gosto de me deixar enveredar pelos meandros da guerra Norte-Sul onde, segundo alguns, a negação dos símbolos do Norte é um acto planeado que visa a subjugação de todo o país ao mito Lusitano e à resultante bajulação a lisboa. No entanto, nestas coisas, cada um têm a sua opinião.
A razão deste post é porém bem diferente do que a tónica inicial do mesmo possa ter induzido aos nossos caros e fieis leitores. Hoje, publico boas notícias porque elas também merecem ser divulgadas. Hoje falaremos de algumas iniciativas de recuperação e valorização de sítios arqueológicos.

Tem saído no Diário do Minho um interessante suplemento acerca do vasto património megalitico e da idade do ferro do concelho de Vila do Conde. Por entre a enumerção dos sítios de interesse, os relatos das invesigações já feitas e os planos para o futuro, transcrevo o seguinte excerto:
"Para mim o exemplo mais clamoroso é o caso da cultura dos castros do Noroeste Peninsular, em que temos monumentos extraordinários, e de dimensão extraordinária a nivel Europeu, completamente desconhecidos." - Paulo Pinto (Responsável pelo gabinete de aqueologia da câmara municipal de Vila do Conde) , In DN 23 de Janeiro
Esta constatação, que OGalaico frequentemente expõe pode no entanto ser combatida a nível local e regional. Tanto publicações como as do DM como as acções locais-regionais podem ajudar a inverter este estado de ignorância. De salientar o projecto da recuperação da Cividade de Bagunte por parte da câmara de Vila do Conde em cooperação com da Austin Univesity - Texas que se mostrou muitíssima interessada por a oportunidade de poder estudar um sítio pré-romano desta dimensão.

Portanto, no suplemento do DM de 30 de Janeiro estão expostos os projectos de cooperação internacional e prometida a futura musealização de mais uma antiga fortificação castreja. Os responsáveis pela investigação tem fortes esperanças quanto às escavações, o regime de voluntariado vai entrar em vigor e teremos mais um castro pronto a ligar à Rede de Castros do Noroeste Peninsular. Um organismo que promete ser uma mais valia muito interessante a nível turístico.
Subindo um pouco mais a Norte, deixando o Douro Litoral e entrando no Minho sem contudo sair da bacia do Vale do Ave, chegamos a Guimarães. Uma cidade especial por muitos motivos mas, aqui para nós, principalmente por ser a que mais divulga a cultura Catreja.
No entanto, o que já contestei noutras ocasiões foi o completo abandono do Castro de Sabroso na vizinha freguesia de São Lourenço de Sande. Situado a poucos metros de Briteiros, este local foi ium paradigma de valor incontesavel para Sarmento. O facto de não ter sido romanizado, apresentar vastos restos á superficie, ornamentos nos edifícios (destaque para a casa reconstituída no museu da sociedade) e uma muralha titânica, fazem destas ruínas um elemento fundamental no complexo cultural de Briteiros.

Aqui está uma reportagem do completo estado de degradação do castro de Sabroso que, felizmente, vai ser recuperado, musealizado e ligado a Briteiros como já devia de estar hà muito.
Assim, apesar de todo desleixe do mundo, verificam-se passos importantes para a recuperação do nosso património. Fico feliz que os poderes locais e os privados estejam pouco a pouco a fazer o que lhes compete porém, muito há ainda para fazer. Desde educar as populações do Norte acerca desta nossa cultura castreja até estudar e recuperar mais e mais sítios. Sabemos bem que estes são tantos que os custos de manutenção seriam um disparate mas pelo menos não deveriam permitir que se deixem poir explorar ou se destruam os mesmos sem os estudar.
1958:

2008:
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
"Ala-Arriba" Marca Poveira



As siglas eram passadas do pai para o filho mais novo. Na tradição poveira, que ainda perdura, o herdeiro da família é o filho mais novo tal como na antiga Bretanha e Dinamarca.

Com estes símbolos marcam-se os objectos marítimos e caseiros, funcionando como um registo de propriedade. No passado, era também usado para recordar coisas como casamentos, viagens ou dívidas. Os vendedores registavam essas marcas no seu livro de contas fiadas e quando os poveiros casavam escreviam a canivete a sua marca na mesa da sacristia da igreja matriz.
As siglas-base consistiam num número bastante restrito de símbolos dos quais derivavam a maioria das marcas familiares; estes símbolos incluíam o arpão, o coice, a colhorda, a lanchinha, o sarilho, o pique (incluindo a grade que era composta de piques cruzados).
Muitos destes símbolos são bastante semelhantes aos que são encontrados no Norte da Europa e geralmente possuiam uma conotação mágico-religiosa de protecção quando pintados nos barcos. Por exemplo o Sanselimão era usado como simbolo protector.
Os montes perto da costa, por serem visíveis do mar, têm importância na religiosidade dos poveiros. Outrora, os pescadores iam ao monte rezar à Santa Tecla num ritual com cantigas de forma a mudar os ventos para que pudessem regressar a casa.
Os templos da Senhora da Abadia e S. Bento da Porta Aberta, em Terras de Bouro, São Torcato, em Guimarães, Senhora da Guia, em Vila do Conde, e Santa Cruz, em Balazar, Póvoa de Varzim, tem todos larga documentação destas siglas, que atestam a grande fé dos Poveiros nos santos invocados.