Recordo facilmente o que fazíamos em quanto crianças na minha aldeia quando esta ainda o era e não freguesia... Quando as tradições eram mantidas e perpetuadas através dos jovens. Não vai há muito tempo... Passariam 15 anos? Talvez nem tanto...
Assim, após a inevitável cerimónia católica, preparava-se o cortejo que iria cruzar os caminhos de terra e paralelo. Ornamentavam-se os carros de bois e os próprios animais Barrosões eram cuidadosamente tratados para que dignificassem os jugos ricamente esculpidos. Atrás destes seguiam as carrinhas onde seguiam a maioria dos participantes pois os tempos já tinham mudado.
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Visitavam-se as principais artérias da aldeia com alegria e alguns excessos. Ninguém se importa com isso mesmo que todos saibam quem são os mascarados. Esta é uma tarde de festa. Comida, bebida, e folia. Tudo era acompanhado por foguetes, música, risadas, comida e vinho.
Depois de toda a encenação Religiosa e Pagã, esperava-se depois pela noite onde se realizava a mais emblemática manifestação Carnavalesca de transição de estação. Esta variava sensivelmente de região para região mas existem sempre vários pontos comuns em todas elas. A presença do Velho e da sua queima são elementos omnipresentes em todos os Carnavais tradicionais.
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Durante este macabro cortejo, caracterizado por um misto de alegre ironia e estranha reverência, ouviam-se os choros gozões dos populares que exageravam nas lamentações desta encenação. Os gritos das mulheres soam-me agora a suplicas distantes. Como que se estivessem na altura a pedir socorro para um hábito milenar em vias de extinção.
Chegados ao local da queima, crucificava-se o boneco e atiçava-se-lhe lume. Previamente escondidas nas suas entranhas estavam morteiros de foguetes que davam uma certa espectacularidade à aniquilação da figura empalhada. Os despojos corpóreos do boneco eram deitados ao ribeiro para que desaparecerem para longe.
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Lembro-me do cheiro das fogueiras de lenha da poda no ar. Este perdurava semanas a fio e marcava sempre esta época Carnavalesca. Lembro-me do frio que sentíamos durante o cortejo e do impacto luminoso da queima do Arturinho.
Sinto saudades...
3 comentários:
a queima de bonecos de palha era uma constante na infância.
até chegamos a "pegar fogo" a uma latada de uvas por causa dessa brincadeira.
actualmente está tudo mudado e esquecido. esses festejos só existem nas minhas memorias de infância... o que me espanta é que ainda sou muito novo!
bom... continuando...
este ano falhei a uma das minhas tradições dos últimos 7 anos que era.. comer o chamado "butcho".
Um bolo tradicioanl feito pelas gentes de Parada do Monte, Melgaço (junto a Castro Laboreiro)com o qual se "comemora" o carnaval.
o bolo não leva carne, como eu inicialmente pensava, pois parecia-me uma ligação obvia.
o bolo leva, ovo, pão e mel. a receita não sei mas é excelente.
"O_Galaico" esqueceu-se de aprovar o meus comentario no post da povoa :(
Sr. Anónimo, não me lembro de ter recebido comentário sobre a povoa à bastante tempo...
Tente mandar outra vez, pode ser que tenha apagado sem querer ou que tenha havido qualquer falha no envio.
Cumprimentos.
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