quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O nosso ano novo...

O ano novo é mundialmente festejado a 1 de Janeiro por motivos puramente ocasionais.

Bastou uma decisão arbitrária para que uma civilização adoptá-se, à luz de falsos pressupostos, este dia como o inicio de um novo ano.

Por decreto de Júlio César em 46 AC, dedicou-se a Jano (daí Janeiro) o Deus dos portões e Deus com 2 faces, este marco temporal que viria a ser, por influencia cultural do velho continente, o momento associado por grande parte do planeta como o dia dos mais exuberantes festejos.


Hoje, mesmo os países e culturas que não respeitam esta imposição, vêem-se envolvidos na mesma nestes festejos despropositados e completamente desajustados. A verdade é que pouco podemos fazer para os evitar e nem sequer o devemos. De facto, desta forma, temos um dia em que grande parte do Mundo se une numa celebração. E isso é louvável e talvez até mais importante do que o que a primeira observação pode sugerir.

No entanto, se pesquisarmos as nossas origens podemos definir vários outros dias que podem ter muito mais validade no que toca a celebrações de transição anual.

Uma delas, é a seguinte:

Como muitos sabem, o nome da Galiza e dos Galegos de ambas as margens do rio Minho teve origem na cidade do Porto:

"Em quanto à etimologia, a teoria mais consolidada (de Higino Martins, 1990) indica que Galiza procede da raiz indo-europea kala (‘refúgio, abrigo'), que passou às línguas gaélicas como gall (mãe, terra). Esta teoria é aliás coerente com as que vinculam o étimo à Deusa Mãe dos celtas, Cal-Leach, como ao radical já latinizado Cale, de cuja análise se identificam os significados de pedra', ‘ ‘rocha' ou ‘duro' em coerência com a orografia granítica sobre a quais se assentavam estes clãs."


"Para o historiador português
Fuco O'Sores, os celtas do Douro seriam os cal-leic-us, isto é, os ‘filhos da deusa Cal-Léac', cuja referência se encontrou numa inscrição na forma de calaic ia no lugar da Sobreira, perto do Porto"

Assim, e como era costume fequente dos Romanos atribuir ao povos conquistados os nomes dos seus Deuses, obtemos Cal-Leach como a padroeira da nação Galaica. Neste caso em duplo sentido pois se fomos baptizados com o seu nome, o próprio significado dele diz tudo: Callaicos - Filhos da Terra Mãe!

Ora bem. Tendo em conta esta já usada explicação etimológica, podemos concluir que o nosso ano novo deverá ser o dia do nascimento de Cal-Leach da mesma forma que o Natal e o nascimento de Jesus está intimamente ligado ao fim de ano cristão.

No caso de Ca-Leach, a época a que se refere demonstra uma óbvia ligação ao Outono que, acabando, marca o término da época das colheitas. A natureza, agora, recolhe-se dando origem a um novo ciclo, um novo ano, à infância mais primitiva da natureza no seu estado virgem e inicial...

Pesquisando sobre a Deusa Mãe do panteão Céltico surgiu a seguinte indicação:

" Cailleach Beara (irlande)

Déesse celtique (de l'Irlande) représentée comme une vieille sorcière. On dit qu'elle se transforme en pierre tous les 30 avril (Beltine) pour renaître chaque 31 octobre (Samhain).

Autre nom : Cailleach Bheur. "

E então fácil concluir que o dia de "Halloween" (31 de Outubro), esta popularizada e comercializada festividade pagã, onde a imagem da "vieille sorcière"(Velha Bruxa) é o seu ìcone mais representativo, é para os Galegos de todo o mundo a verdadeira festa étnica de fim de ano.

No próximo dia 31 de Outubro, percam uns minutos a reflectir sobre isso. Sobre esta velha Dinvindade há muito esquecida do povo. Uma Deusa que nos deu o nome e que é celebrada inconscientemente por milhões de pessoas bem que quase sempre não tem razão para tal.

Nòs Galegos, pelo contrário, temos uma razão muito forte para o fazer. No dia de Venus que se apróxima festejem então da forma que quiserem (desde que o façam) o dia da nossa padroeira que é nossa madrinha de "Baptismo" espiritual!

7 comentários:

Lola disse...

Galaico,

Muito interessante este teu post.

A festa das colheitas que sempre se celebrou no Norte do País, era o fim de um ano de trabaho e produção da Mãe Terra e o preparar da terra para o ano que se renova.

Armazenava-se o produto das colheitas, fazia- se o vinho, colhia-se a fruta e preparavam-se as compotas. Matava-se o porco e preparava-se o fumeiro.

São tudo memórias hoje.

Mas devem ser transmitidas.

Um grande beijo.

Anónimo disse...

muitos parabéns pelo blog que está muito bom.
não sou galaico, mas admiro muito a gallaecia e as suas gentes.

sou ateu, mas prefiro mil vezes o paganismo do que a aberração judaico-cristã...

viva a gallaecia !!!!

Maria disse...

Este ano eu fiz apenas um jantarzinho para duas pessoas. ;)

Duas miudas vestidas de bruxinhas vieram bater à minha porta. Ficaram surpreendidas com as minhas abóboras, mas a cara delas quando viram os biscoitos caseiros que eu lhes estava a dar... hum, o ar de contentamento das miúdas é uma daquelas imagens que ficará para sempre na minha mente. :) Deixaram-me a pensar se iriam comer algum gingerbread man... :)

Só outra coisa, Samhain ainda não acabou... é só o principio. :))

Feliz Ano Novo!

O Galaico disse...

Obrigado pela visita Lola. Mas olha que as colheitas, o vinho, as compotas e a matança do Porco ainda acontecem frequentemente até em certas zonas onde não distinguimos se ainda é a ruralidade que predomina ou a urbanização. O mundo desenvolveu-se mais rapidamente que as pessoas. Apesar de não o fazerem com o espírito de antigamente ainda o fazem... No fundo é o que conta...

Ariano. Obrigado pela visita. Volta sempre. PS. De facto o paganismo é bem mais interessante, justo e lógico do que a religião que manipulou durante séculos a maioria do mundo ocidental.

Maria. Imagino as crianças a entrarem em tua casa. Deve ter sido deveras engraçado. Mas olha que pessoalmente não gosto muito desta aculturação que estamos a sofrer via USA que popularizou o dia 31 de Outubro... Não tínhamos nós as nossas tradições para além das referentes ao catolicismo?? E um caso a pesquisar..

O'Chini disse...

Parabens por um magnifico blog, Galaico!!!
Nós somos uns quantos galaicos do norte do Minho: desde o Golfo Ártabro passando por Compostela, até o Val Minhor, temos engadido ao nosso blog os teus posts recentes em forma de "feed".

A tradiçom do Sanmain está em pleno resurgimento. Há colectivos que trabalham pola sua recuperaçom, com certo sucesso. Ainda há gente da nossa geraçom que lembra aventuras nas aldeias galegas,
A Zona Velha: post Halloween

Aquí, nos EEUU, onde agora moro temporalmente, o Sanmain (ou Halloween) já perdeu gram parte da súa eséncia, e a suas origens som manipuladas e esquecidas.

O Galaico disse...

Obrigado pelo comentário 0'chini! Volta sempre e participa quando quiseres!

Elaneobrigo disse...

eu celebrei da melhor maneira.. tirei férias!

que Cailleach nos abençoe!