sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Lenço dos Namorados

Lenço 1894

Aproxima-se o dia 14 de Fevereiro... O Dia dos Namorados. Como em (quase) todas as tradições há duas explicações. Uma ligada à Igreja e outra pagã. A versão católica, refere-se a um dos três santos de nome Valentim, que se crê ter vivido no séc III em Roma, tendo morrido em 270 ao descobrir-se que casara muitos pares em segredo depois do imperador romano Cláudio II ter proíbido o casamento entre jovens acreditando que com isso alistaria mais homens no seu exército. A versão pagã, sempre mais ligada à natureza, defende que esta data marcava o início do acasalamento entre pássaros.

Mas, explicações à parte, venho falar de uma tradição que houve pelas terras do Minho que girava à volta de um lenço que era bordado pelas moças da terra. Estes lenços, eram juramentos eternos de amor e, não raras vezes, expunham a união de duas vidas.

«Começaram por ser elemento de adorno no traje feminino. As raparigas punham-no no cós da saia, dobrado, com o bordado colorido à vista. O rapaz atrevido e paixonado, roubava-lho, em jeito de jogo e desafio. A rapariga, seduzida, cedia.

Se depois do arraial, o lenço ficasse na posse do sedutor, era sinal de partilha de sentimentos. O rapaz podia, então, partir da romaria, ufano, mostrando bem o lenço. Um troféu? Um penhor? Um tesouro? Caso contrário, ele teria de o restituir à rapariga. Sem o lenço, ela ficaria "comprometida".» "Tesouros do Artesanato Português - Texteis"

Os lenços de namorados, na sua maioria, não faziam referência ao rapaz amado. Os que o faziam, eram chamados lenços de epenho e eram bordados já depois de o rapaz e rapariga estarem 'conversados'.

«É provável que a origem dos lenços dos namorados ou lenços de pedidos esteja nos lenços senhoris dos séculos XVII-XVIII, adaptados depois pelas mulheres do povo, dando-lhes consequentemente um aspecto popular característico.
Antes de tudo, eles fazia parte integrante do trajo feminino e tinham uma função fundamentalmente decorativa. Eram lenços geralmente quadrados, de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira.

(...)

A moça quando estava próxima da idade de casar confeccionava o seu lenço bordado a partir de um pano de linho fino que porventura possuía ou de um lenço de algodão que adquiria na feira, dos chamados lenços da tropa.

Para realizar esta obra, a rapariga utilizava os conhecimentos que possuía sobre o ponto de cruz, adquiridos na infância, aquando da confecção do seu marcardor ou mapa.
Depois de bordado o lenço ia ter às mãos do namorado ou conversado e era em conformidade com a atitude deste de usar publicamente o lenço ou não, que se decidia o início de uma ligação amorosa.

Os lenços carregam consigo, por isso, os sentimentos amorosos de uma rapariga em idade de casar, revelados através de variados símbolos amorosos como a fidelidade, a dedicação, a amizade, etc.

Estes lenços eram originalmente em ponto de cruz, e por ser um ponto trabalhoso obrigava a bordadeira a passar durante muitas semanas e mesmo durante meses de serões na sua confecção.

Como a escassez de tempo passou a ser um facto na vida moderna, a mulher deixou de ter tempo para a confecção destes lenços, o ritmo da vida tornou-se mais intenso e a mulher teve de solucionar este problema adoptando no bordado outros pontos mais fáceis de bordar.
Com esta alteração outras se impuseram no trabalho decorativo dos lenços de namorados: o vermelho e o preto inicial vai dar origem a uma grande quantidade de outras cores, e com elas novos motivos decorativos se impuseram. Os lenços não deixaram porém de ser ainda mais expressivos, acompanhados muitas vezes de quadras de gosto popular dedicadas àquele a quem era dirigida tão grande fantasia: O Amado.» "Vila Verde Terra de Tradição - aliança artesanal"

Deixo algumas quadras/versos presentes nos lenços:

É tancerto eu amarte
Como o lenço branco ser
Só deixarei de te amar
Cuando o lenço a cor perder

Este amore ade acabar
quando esta pomba boari

Aqui tens meu curação
E a chabe para o abrir
Num tenho mais que te dar
Nem tu mais que me pedir

As mulheres, escreviam da mesma forma que falavam... daí tamanha quantidade de "erros" que fariam chorar qualquer "regulador da língua" mas que qualquer pessoa "comum" verá uma beleza única!

Lenço das Sinco Xagas

Deixo um link para quem quiser souber um pouco mais sobre esta forma de arte minhota:

1 comentário:

Elaneobrigo disse...

essa tradição estava muito enrraizada em Aboim da Nóbrega, Vila Verde.

segundo sei, e até mesmo o Dr. Francisco Sampaio já o documentou em palestras, Aboim da Nóbrega foi pioneira na preservação, confessão e diculgação dos lenços de namorados, vindo a tornar-se imagem de marca do concelho de Vila Verde, e por último enrriquecer a simbologia artesanal portuguesa.

Os lenços de Aboim da Nóbrega mais antigos usavam duas cores de linhas: preto e/ou vermelho. Os mais recentes usam várias cores possivelmente devido ao fabrico em massa das proprias linhas, tornando-as mais baratas e acessiveis!!

minha mãe como Bordadeira oficial dos lenços de namorados, recebe encomendas especialmente para se fazerem convites de casamento em lenço de namorados.

mas também vestuário, e lenços normais embotidos em quadros, etc