sexta-feira, 19 de junho de 2009

Corrida do Porco Preto

A festa de S. João Batista coincide com o solstício do estio, fenómeno astronómico dos mais dominantes nos antigos cultos siderais e ainda hoje solenizado por todos os povos indo-europeus.

As homenagens ao Sol vitorioso e ao Sol fecundador, todas as superstições ligadas à grande festa astrolátrica, foram das mais persistentes através das modernas religiões; debalde se tentou extirpar do cristianismo certos detritos míticos; (…)

Debalde. A grande festa ao Sol triunfante e fálico subsistiu e com ela os resíduos dos cultos do fogo e das pedras, das plantas e das águas.

A expressão que toma este episódio do politeísmo solar é a dum combate entre o verão e o Inverno, triunfando aquele do segundo. De entre os vestígios que ainda restam ou que se conheciam há poucos anos, temos (…) Em Chaves havia a Congregação da nobre cavalaria de S. João Baptista, composta de cavaleiros e pessoas de qualidade, as quais, depois de ouvirem uma missa no dia do santo, faziam dentro da vila jogos de cana, corridas e escaramuças; deste costume contam que só restam hoje as cantigas e o jogo do pilha-três.

A Corrida do porco preto em Braga, costume extinto há bastantes anos, é outro vestígio das velhas festas gentílicas, como dizia Fr. Bernardo de Brito. É dele esta descrição, já várias vezes transcrita: «…e quero advertir de caminho um antigo costume, que dura em nossos tempos na cidade de Braga, conservado ao qeu se pode crer desde esses antigos: - ou em memória do que sucedeu no martírio dos Santos; ou por guardar aquele modo de festa, ainda que gentílica, todavia convertida em melhor uso. E é que em véspera de S. João Baptista se põe a cavalo a gente principal da cidade; e passando o rio, este junto ao qual foi o martírio dos Santos e se faziam os jogos e sacrifícios de Ceres e Silvano, fingem que emprazam um porco; - e gastada a tarde em festas, vão no dia do santo pela manhã fazer nova montaria com um porco negro, que lhe lá tem aparelhado: - e soltando lhe seguem o alcance ao som de cornetas e vozes, que representam uma verdadeira montaria, e o vem seguindo contra a cidade todo o tropel de gente: - e se ao passar o rio se lança ao vau, e passa pela água, o dão aos moradores das azenhas que há na mesma ribeira: - e tornando à ponte fica da gente da cidade».

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Peixoto, Rocha «Etnografia Portuguesa», 1995 Publicações Dom Quixote, p.57-64,

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