De muitas formas se distinguem nações, etnias e culturas. A maioria das vezes, as fronteiras dos estados actuais nada representam para além de uma época específica da história de determinada região que acabou por redefinir os limites de certa autoridade. Fora destes limites, e desta autoridade, ficam divididos os anónimos responsáveis pela definição de quem e o que é a verdadeira nação: O Povo.
Quem visitar o Norte de Portugal e a Galiza tendo em conta o conceito de "Novo Turista", ou seja, aqueles que visitam de olhos abertos à procura da essência e da genuinidade responsáveis pela atracção das massas deste negócio global, poderá facilmente encontrar variadíssimos aspectos que testemunham a existência de uma cultura específica e mais ou menos restrita ao Noroeste Peninsular.
Primeiro reconhecimento da cultura Galaica: Cultura Castreja
Um dos mais exuberantes, significativos, belos e misteriosos pontos em comum entre estas (agora) duas regiões é a Arte Românica. Sobre esta manifestação arquitectónica poderão os leitores insinuar que existem em toda a Europa ocidental e que pouco tem de "Indígena". Obviamente, este movimento veio como quase sempre de França onde eram construídas as maiores mais belas catedrais cristãs porém, no caso Galaico, estas influencias foram absorvidas dentro de um contexto histórico e sócio-cultural muito específico.
De facto, após o domínio diabólico do maior castrador cultural visto pelas terras de Cal-Leach (São Martinho de Dume), que até então proibiria a representação iconográfica nos santuários por estes estarem por vezes associados ao paganismo (como se o catolicismo não estivesse construído sobre suas fundações), observamos uma ruptura total que libertou toda a criatividade dos pedreiros assim como permitiu a exultação simbologia Galaica:
De facto, nestes primórdios do reino de Portus Cale e da nacionalidade, quando ainda estava bem fresca nas tradições, história e política da época ,a indissociabilidade do Norte de Portugal e da Galiza, emergiu todo um novo mundo de possibilidades que hoje testemunham que estas regiões viviam a mesma realidade. São Tiago de Compostela e o peso que tinha naquele tempo e Braga que continuou a exercer autoridade de relevo influenciaram-se uma à outra fazendo nascer um tipo de construção religiosa única com marcas bem distintas que não encontram comparação em qualquer outro lado dos dois países.
Para G.Vaillard, um dos mais importantes estudiosos da arte românica Portuguesa:
" L'exemple de l'art roman portuguais est précisément l'un de ceux ou l'abus de la notion d' influence risque le plus de fausser les jugements"Ou seja, quer com isso dizer que o exagero do estudo das influencias externas na evolução do românico Português, pode falsificar a verdade das conclusões pois este é mais que um resultado das origens externas mas sim uma criação nova.
Vaillard refere ainda a ideia de que a utilização do granito (desde a época castreja) não permitia a refinação das linhas mas sim a evolução das formas o que veio a marcar mais tarde o próprio estilo Manuelino.
Observemos por exemplos as estranhas cruzes vazadas que são presença constante no românico do Noroeste. Algumas destas cruzes tem o seu quê de crenças esotéricas e de misteriosidade. Desde associações a protecções mágicas, às cruzes dos templários, à ordem de Malta e até a relações ao mundo Céltico (na minha óptica, um erro claro) pela forma entrelaçada de algumas delas, estas mostram um padrão comum que apenas é visto (a não ser raras excepções) nesta particular região da península Ibérica.
Muitos dos elementos românicos apropriam-se da mitologia milenar autóctone sobrepondo-a até à religiosidade católica.
Bembrive - Galiza:
"Importa conhecer a antropologia do portal principal das igrejas românicas, já que é aí que se concentra uma boa parte da escultura. O portal ocidental da igreja era concebido como Porta do Céu ou como Pórtico da Glória. A vontade de proteger as entradas terá conduzido à representação de programas sagrados, à inclusão de escultura como a de animais assustadores e a sinais de valor mágico, ou seja, motivos escultóricos como cruzes e rodas solares, capazes de defender as entradas e de proteger a igreja."Tomamos por exemplo estas curiosas cruzes que se encontram cá e lá do rio Minho:
Pitões das Junias:Serzelo - Guimarães:Correlhã - Ponte de LimaCruzes Galegas retiradas do livro de Castelão: "As Cruces de pedra en Galicia":Mais do que uma cultura regional, esta vai buscar influencias milenares. Em muitos casos, as crenças populares permaneceram no povo que acabaram por representar as suas crenças na arte religiosa românica.
Tomemos o exemplo dos Triskeis Galaicos que se encontram gravados em pedra por todos os Castros e Citânias da idade do ferro.
Triskel de Briteiros:Este símbolo, já debatido em:
http://ogalaico.blogspot.com/2008/07/o-triskel-ou-sustica-galaica.html, aparece em vários exemplos do Românico do Noroeste:
Igreja da Santa Maria - Monterrei:Sé de Braga::Outras representações sugestivas são por exemplo o seguinte nó e a sua estranha semelhança com elementos das pedras Formosas de Briteiros e Famalicão:
Correlhã - Ponte de Lima:Pedra Formosa de Briteiros (Idade do Ferro):Meramente como nota de interesse fica um exemplo Irlandês. Diz-me qual é a tua Arte e dir-te-hei quem és...
Os pórticos de alguns exemplares românicos desta área são exemplares no que toca a demonstrar a união entre as duas regiões. Cruzes de Santo André, figuras Zoomórficas e os interessantes Agnus Dei (Cordeiro de Deus) são frequentemente identificáveis:
Porticos da Galiza:Porticos do Norte de Portugal:São também comuns as hexapetalas. Símbolo Céltico por excelência que representa para alguns a roda solar ( que o Deus Gaulês Aramis carrega às costas) Um hábito que também existia na civilização Castreja onde aparecem freqentemente.
Hexapétalas Romanicas:Hexapetalas Castrejas de Briteiros (com 2ooo a 3000 anos):Podia-mos continuar a mostrar exemplos atrás e exemplos de símbolos que perduram até hoje através do tempo.
O românico é a melhor forma de ler a a cultura original do povo Galaico. Através desta arte que nos é própria conseguimos ler através do tempo. O estudo e a observação destas nossas catedrais, da mais modesta às mais imponentes é uma delícia para os nossos sentidos. Simbologia esquecida, seres do além, magia pagã em fusão com o catolicismo inflexível.
Heis o Românico da Galécia. Uma Arte
INDÍGENA.