sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Ala-Arriba" Marca Poveira

Dado a nossa humilde dedicação à etnografia da antiga região da gallaecia, não poderíamos deixar de referir a grandiosa obra de etnoficção de José Leitão de Barros: ALA-ARRIBA.
Trata-se de uma autêntica antropologia visual de 1942 que retrata a comunidade piscatória da Póvoa de Varzim, com seus hábitos culturais muito próprios e antigos. Ala-Arriba é uma expressão poveira que significa “força para cima” usada quando encalhavam os barcos no mar.

É interpretado não por actores profissionais mas por verdadeiros pescadores, que falam mantendo o seu característico sotaque, mostrando genuínas vivências, o sofrimento das gentes de uma Póvoa de Varzim, unidos em forte comunidade, mas ao mesmo tempo uma comunidade dividida em diferentes castas sociais. A história centra-se à volta de uma história de amor entre uma rapariga lanchã e um sardinheiro.
Uma obra brilhantemente pioneira em muitos aspectos, basta o facto de ter sido a primeira longa metragem de docuficção portuguesa e a segunda na história do cinema, a primeira foi MOANA de 1926 realizada por Robert Flaherty dos EUA. Alem do mais arrecadou o primeiro prémio para o cinema Português com a Taça Biennali no Festival de Veneza de 1942!

A visualização do filme, que por sinal considero-o como meu filme português favorito, avivou-me a memória em relação às chamadas Siglas Poveiras.

As siglas poveiras são marcas usadas durante séculos pelas gentes de Povoa de Varzim, especialmente os pescadores, funcionando como uma “proto-escrita primitiva”.Não são marcas organizadas ao capricho de cada um, mas antes, simbolismos ou brasões das famílias, usadas desde tempos imemoriais pela comunidade.

As siglas eram passadas do pai para o filho mais novo. Na tradição poveira, que ainda perdura, o herdeiro da família é o filho mais novo tal como na antiga Bretanha e Dinamarca.

Com estes símbolos marcam-se os objectos marítimos e caseiros, funcionando como um registo de propriedade. No passado, era também usado para recordar coisas como casamentos, viagens ou dívidas. Os vendedores registavam essas marcas no seu livro de contas fiadas e quando os poveiros casavam escreviam a canivete a sua marca na mesa da sacristia da igreja matriz.

Devido a isso eram conhecidas como a "escrita" poveira, sendo bastante usada porque muitos dos habitantes desconheciam o alfabeto latino, e assim as runas adquiriram bastante utilidade.

As siglas-base consistiam num número bastante restrito de símbolos dos quais derivavam a maioria das marcas familiares; estes símbolos incluíam o arpão, o coice, a colhorda, a lanchinha, o sarilho, o pique (incluindo a grade que era composta de piques cruzados).

Muitos destes símbolos são bastante semelhantes aos que são encontrados no Norte da Europa e geralmente possuiam uma conotação mágico-religiosa de protecção quando pintados nos barcos. Por exemplo o Sanselimão era usado como simbolo protector.

Alguns autores apontam para o facto de as siglas estarem relacionadas com os povos castrejos, outros comparam-nas com os chamados de bomärken (marcas de casa) da Escandinávia e que foram introduzidas com a colonização Viking.

Contudo o interessante deste importantíssimo legado é o facto de estas marcas estarem espalhadas um pouco por todo o Noroeste Peninsular, em especial no Minho e Galiza.
Os Poveiros, ao longo de gerações, costumavam gravar nas portas das capelas perto de areais ou montes a sua marca como documento de passagem ou como promessas da campanha.

Isso pode ser verificado na Nossa Senhora da Bonança, em Esposende, e Santa Trega (Santa Tecla) na Galiza, onde as suas antigas portas estão cobertas de marcas poveiras.

Os montes perto da costa, por serem visíveis do mar, têm importância na religiosidade dos poveiros. Outrora, os pescadores iam ao monte rezar à Santa Tecla num ritual com cantigas de forma a mudar os ventos para que pudessem regressar a casa.

Minha rica Santa Trega
Dai-nos ventinho da pôpa
Que nos queremos ir embora
E temos a vela rôta

Os templos da Senhora da Abadia e S. Bento da Porta Aberta, em Terras de Bouro, São Torcato, em Guimarães, Senhora da Guia, em Vila do Conde, e Santa Cruz, em Balazar, Póvoa de Varzim, tem todos larga documentação destas siglas, que atestam a grande fé dos Poveiros nos santos invocados.
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Fontes: 123

O Filme:

"Ala-Arriba!!!"



















terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O troco!

A vida em comunidade era por estas terras tão intensa quanto a defesa da propriedade minifundiária. Como já falamos aqui uns tempos atrás, esta marca social define ainda hoje muitas das características deste nosso povo.

O Troco dava-se e pagava-se sob pena de total exclusão dos núcleos de fraternidade que possibilitavam a vida rural daquele tempo.

Não estamos contudo aqui a falar de um troco monetário. O troco eram os pagamentos de favores que tornavam possíveis a gestão das quintas e propriedades agrícolas. Contou um familiar o seguinte:

" Antigamente, antes de eu imigrar e porque era o mais velho dos irmãos ainda em casa, mandavam-me a troco! Por vezes, pessoas que tivessem vindo cá vindimar, ao mato ou a qualquer outro trabalho e que fossem amigos pediam-me até que fosse a troco com eles para outra casa!"

Como assim?

"Ora, se um familiar ou amigo tivesse a dever troco de 3 ou 4 homens a fulano de tal lugar, e só tivesse um X disponível, então pedia aos amigos que fossem com ele pagar o troco naquela quinta! Depois ele ficava comprometido a vir à nossa casa ou então ajudar-nos a pagar o troco a outro sítio!"

"Isso é que fazia viver o campo. Sozinhos ninguém podia tratar do ar (vinhas enforcadas em árvores altas tradicionais do Minho), cultivar as terras, as fruteiras, o gado, realizar trabalhos na casa e nas colheitas! Cada família ou senhor pedia ajuda aos que estivessem disponíveis e, depois, ajudava quem participou nas lides deles. Se fosse rico, mandava os seus caseiros ajustar as contas. Se um caseiro ainda tivesse em casa filhos em idade trabalhadora podia mandá-los a eles. O que importava é pagar o favor!"

"Era assim que tudo se passava e como podes ver, naquela altura, trabalho e tempo era mesmo dinheiro! Muitas vezes havia quem pagasse e não tivesse homens pois estes estavam a dar troco a outras pessoas. Se não fossem dar o troco pouco lhes importava as coroas que recebessem pois, quando tivessem que tratar das suas terras, não tinham ninguém a quem pedir nem tão pouco com que pagar a jornaleiros. Os Jornaleiros, estes não tinham terras nem eram caseiros de ninguém e viviam do trabalho deles. Estes sim, pagavam-se em moeda!"

"As vezes lembro-me de ser mandado pelos teus avós a troco a casa de senhores de quem eu não gostava! Mas tinha de ser! Tinha de lá ir! De qualquer forma, as pessoas encontravam-se todas nestes trabalhos. Só haviam conhecidos, amigos e vizinhos. Acabava tudo sempre em festa a cantar e dançar. Que bons tempos. E também era dos dias em que se comia melhor... Sim porque para atrair mais trabalhadores a troco tinha de haver bom vinho, boa comida e boa festa no fim. Se fossem agarrados ao dinheiro então poucos eram os que estavam dispostos a vergarem-se de sol a sol só para ter mais um homem nos seus trabalhos..."

"Ainda hoje o Tio paga um pique-nique antes do verão a todos os vindimadores habituais. Vai sempre o tocador de concertina e não falta nada. Tu bem sabes que hoje em dia , as gentes só vindimam por dedicação. Poucos trabalham as terras e já nem sequer se levantam ao Sábado de Manhã para tratar do seu quintal. Quanto mais para passar o dia de escadote às costas depois e uma semana de trabalho e sabe Deus quantos problemas por resolver em casa!"

"Mas olha, na nossa vindima nunca falha ninguém. Já todos sabem que dia é e não se comprometem com mais ninguém. Alguns só vindimam uma vez por ano e é aqui na nossa! Por isso é que ao fim da vindima come-se tão bem que no Natal. São entradas, Aperitivos, Bacalhau, Pica no Chão, Vitela e Sobremesas! Como o troco já não se usa, paga-se a dedicação das pessoas como o faziam antigamente.. Adoçando-lhes a boca!"

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Ouro - Um Precisoso Legado

OS PRIMÓRDIOS DA METALURGIA DO OURO
Os primeiros objectos em ouro, na Europa, datam do Vº milénio a.C. e foram produzidos na região balcânica. O Sul e o Ocidente da Península Ibérica constituem um segundo importante centro produtor da ourivesaria europeia, embora mais tardio. Aqui, o ouro começou a ser trabalhado durante o IIIº milénio a.C., praticamente em simultâneo com a metalurgia do cobre, ou seja, com o desenvolvimento do Calcolítico, ou Idade do Cobre.

A Idade do Bronze, traz uma importante inovação tecnológica: a moldagem. Generalizam-se os adornos fundidos em moldes, entre os quais avultam os braceletes maciços de secção circular ou ovalada. A decoração geométrica, ganha expressão, tornando-se cada vez mais rica e exuberante: losangos, triângulos e ziguezagues, organizam-se em composições de grande beleza e complexidade, sobre peças cada vez mais pesadas, numa clara exibição de ostentação simbólica do Poder.
APOGEU E REVOLUÇÃO NA OURIVESARIA
Durante o final da Idade do Bronze, a fachada atlântica europeia, desde Portugal até à Irlanda, encontrava-se ligada por uma complexa rede de trocas. O metal que, então, circula como matéria-prima ou como produto acabado é o principal protagonista deste comércio a longa distância. E para garantir o sucesso destes empreedimentos, assim como o precioso controlo e acesso às jazidas de minerais, trocam-se presentes entre chefes, cuja influência e poder são medidos pelo tamanho, número e peso das jóias e armas que ostentam.
Ao domínio e aperfeiçoamento dos procedimentos tecnológicos já anteriormente conhecidos, juntam-se agora inovações de grande importância, como a técnica da cera perdida e a soldadura, permitindo a obtenção de novas formas, cada vez mais pesadas e sobretudo cada vez mais elaboradas. A ourivesaria deste período tem em Portugal algumas das suas mais brilhantes expressões, verdadeiras obras-primas da arte e do saber dos antigos ourives: o colar da Herdade do Álamo ou os braceletes da Cantonha.

Podem individualizar-se, neste período, três grandes “famílias” de jóias: anéis e braceletes, obtidos pela técnica da cera perdida; torques e braceletes maciços, onde está presente a técnica da soldadura e uma típica decoração geométrica; e colares com complicados sistemas de fechos amovíveis, que chegam a pesar mais de 2Kg.
A OURIVESARIA ORIENTALIZANTE
Os contactos entre a Península Ibérica e o Mundo Mediterrânico, por certo muito antigos, ganham uma extraordinária importância a partir do século VIII a.C., com o estabelecimento de um comércio regular, protagonizado pelos Fenícios. Sob a área de influência de Tartessos, desenvolve-se no Sul da Península uma brilhante civilização que incorpora nas suas tradições os hábitos, gostos e maneiras de viver novos, característicos do Mediterrâneo Oriental.

A ourivesaria é talvez a área que mais acusa estas profundas alterações: à pesada e maciça ourivesaria que caracteriza a Idade do Bronze, sucede-se uma produção que privilegia a leveza. A ourivesaria orientalizante define-se assim, por uma acentuada perda de peso, por uma alteração intencional da qualidade do ouro, através do uso de ligas com diferentes percentagens de outros metais e pela introdução de duas novas técnicas - a filigrana e o granulado.
Alarga-se também o repertório das formas, predominantemente ocas e compósitas: diademas e placas articuladas, colares de contas diversificados, amuletos, anéis e sobretudo as arrecadas, que, em Portugal, encontraram um sucesso e adesão tais, que são, ainda hoje, verdadeiros ex-libris da joalharia portuguesa.

A OURIVESARIA CASTREIJA DO NORTE DE PORTUGAL
No Norte de Portugal, desde os finais da Idade do Bronze e até à conquista de Roma, sedimenta-se uma realidade cultural muito própria, a que é costume chamar “Cultura Castreja”, por um dos seus traços mais emblemáticos ser, justamente, um povoamento organizado em povoados fortificados de dimensão variável, por vezes com as funções próprias de lugares centrais - os “Castros” e as “Citânias”.

Característica desta cultura, na sua fase final, pré-romana e romana, é uma escultura monumental em granito, com representações de princípes ou heróis - os célebres guerreiros calaicos - e representações de javalis - os berrões - com provável significado tutelar.

Integrando influências claramente centro-europeias, mas também mediterrânicas, a ourivesaria castreja acentua a especificidade e originalidade desta região, através de dois tipos de adornos paradigmáticos: os torques, símbolo de prestígio e poder do chefe guerreiro e a arrecada, a jóia feminina por excelência.
O ANEL E A MOEDAÉPOCA ROMANA
Apesar do afluxo contínuo de ouro a Roma, proveniente, quer da exploração das jazidas auríferas, iniciada sob Augusto (cuja produção anual atingiu 7,800 Kg, havendo dias em que se extraiam 4,300 Kg), quer dos saques dos exércitos romanos, que, só entre 209 e 169 a.C., se traduziram em cerca de 4 toneladas de ouro e 800 toneladas de prata, os romanos não trouxeram inovações sigificativas à ourivesaria peninsular.

Duas categorias de objectos merecem, no entanto, particular destaque: a moeda, maioritariamente em ligas de cobre, mas também em metais nobres (prata ou ouro) e os anéis. Os Romanos parecem ter sido os primeiros povos a utilizarem anéis de noivado e casamento, o “anulus pronubis”, normalmente usado no terceiro dedo da mão esquerda, onde corria a “vena amoris” e são certamente os responsáveis pela vulgarização deste tipo de jóia e pela sua utilização em múltiplas funções: indicadores sociais de prestígio, garantia de representação diplomática, simples adorno, ou com funções mágicas e curativas.

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Fonte

domingo, 11 de janeiro de 2009

A "Folheca"...

E ao nono dia do primeiro dos meses, abateu-se sobre a terra um nevão como nunca se tinha visto!...

Isso segundo o que dizem os mais novos...

Atenção, OGalaico gosta mais de neve do que do calor das planícies do Alentejo ou do sol omnipresente Algarvio. Disso não hajam dúvidas.

Após as 3 horas de Neve que se abateram sobre as grandes cidades do Norte do país (Porto, Guimarães e Braga) e em todo o território Montanhoso e Interior do mesmo (nada de novo nestes casos), deu-se a loucura. Romarias de pessoas que dizem "nunca ter visto nada assim" saíram de casa para brincar nos parques, campos e montes.

Critico no entanto quem sobe aos montes em pleno nevão. Eu sei que não estão habituados a verem neve mas sinceramente... O local onde não devem de querer estar durante fortes quedas de neve são mesmo os pontos mais altos das nossas montanhas. Não tenho por isso pena dos incautos que ficaram com os carros presos na neve na Penha (tiveram que ligar o teleférico para que eles descessem) e dos que se espatifaram nas estradas montanhosas. Há limites para a ignorância. Querer passear no automóvel propositadamente debaixo da neve paga-se caro. Só deve ser feito se necessário e desculpados os que foram apanhados desprevenidos. Há muito tempo para fazer bonequinhos depois da tempestade passar...

Apesar da excitação geral, devemos no entanto dizer que Neve não é absolutamente nada uma coisa do outro mundo na região Norte do país. A não ser que neve no extremo litoral onde, isso sim, é altamente improvável, não vai há muito tempo que era frequente a queda de "Folheca" ou "Froleca". Assim falam os antigos!

Quantas vezes não ficaram em casa com o gado fechado por causa da neve? Quantas e quantas vezes nas não ficaram registados nevões na regiões mais baixas e mais litorais do Norte do país (pois, como disse, no resto a neve é ainda hoje presença constante)? Quanto mais para trás no tempo, mais frequentes eram. Disseram-me os mais velhos que nevava quase todos os anos. Não pegava sempre como este último mas, frio, geadas glaciares e neve, eram o contraponto de 6 meses de calor e sol infernal sem interrupção.

A "raridade" da neve é coisa recente e o Homem é o culpado disso. Por isso não apreciei muito a folia da neve. Precisamente por saber que não deveriam haver motivos para tal. Se os há são por razões indignas de celebrar.

Ainda no saber popular me recordo de certos dizeres que invocam a necessidade anual das neves (note-se que por neve, muitos antigos designam tanto a "folheca" como a geada):

- " Se não nevar durante o Inverno e houver muita erva nos campos em Janeiro (não queimada pelo frio) então o ano agrícola vai ser mau. "

- " O que faz despertar o Vinho nas pipas é a neve. Se caírem boas camadas ele fica logo cheio de força e pronto a beber. "

- " A neve é essencial para os campo pois mata a bicharada toda. Se não cair neve o insectos atacarão todas as culturas. "

- " Antigamente eram 6 meses de gelo e 6 meses de calor. "

- " No inverno gostávamos de ir brincar para as poças e tanques gelados. Quando o gelo partia é que eram elas. "

- " Vinha com cada geada que a erva parecia vidro a quebrar debaixo dos pés. Nem o gado lhe tocava. "

- " Lembro-me um dia de ir ao moleiro e de ele não poder fazer farinha durante vários dias porque o ribeiro tinha congelado desde a sua nascente no monte. "

Isso são tudo relatos da vivência rural dos Invernos de antigamente. Nos últimos 20 anos habituaram-se os esquecidos a Invernos de t-shirt e de passar o natal ao sol com uma camisinha Domingueira. Pois bem, basta um ano de inverno verdadeiramente normal para por as pessoas em pulgas e metade do país em alerta laranja.

1971. Vista de Guimarães, com a Amorosa em primeiro plano. (fot. de Belmiro P. Oliveira)

Fica por fim este documento que relata alguns nevões registados em Guimarães. Atenção que estes relatos são apenas fruto das recolhas possíveis e ocasionais de uma pessoa. Obviamente, até relativamente recentemente, não se registava assiduamente o estado do clima. Não ficam aí por isso descritas as muitas quedas de neve comuns e nem sequer a situações muito frequentes em zonas mais elevadas e rurais do concelho e da região:

" Hoje a neve apareceu nos sítios mais insólitos de Portugal. Em Guimarães, está um dia de sol radioso. Mas, de vez em quando, a folheca também cai por cá. Até em Agosto.

No extraordinário diário vimaranense que o paleógrafo João Lopes de Faria nos legou, encontram-se diversas notícias de nevões em terras de Guimarães. Por exemplo:

03 de Fevereiro 1684: Cai extraordinária quantidade de neve, que atingiu grande altura, levantando-se também furiosa ventania que causou enormes estragos, destruiu e lançou por terra corpulentas árvores.

11 de Fevereiro 1695: Na capa de pergaminho de uma nota do tabelião Nicolau de Abreu, pela parte de dentro, está escrito o seguinte: "A 11 de Fevereiro de 1695 foi o ano (deveria dizer o dia?) da maior neve que houve há muitos anos e assim o afirmam homens de muita idade e entanto que desceram muitos lobos cá para baixo e um chegou à Madrôa e viu muita gente e foi pelo campo da Honra às Lameiras do Palhares e aí o viu Francisco Borges Peixoto da quinta de Laços.”

14 de Janeiro 1830: "Apareceu, logo de manhã, tudo coberto de folheca." P. L.

26 de Dezembro 1836: "Ao amanhecer apareceu tudo coberto de neve, de maneira que estavam os telhados das casas, as ruas, terreiros e montes todos brancos. Não havia exemplo de uma camada de neve tão grande desde Janeiro de 1829 em que houve uma igual, e da qual se supôs a quase extinção da ferrugem (bicho) das oliveiras, tendo desde então dado as oliveiras bastante azeite, o que há muitos anos não tinha acontecido, muito principalmente nesta província do Minho, onde muitos lavradores tinham cortado os seus olivais por lhe não darem azeite". P. L.

11 de Abril 1837: Caiu por espaço de algumas horas uma tão grande quantidade de neve, a que chamam folheca, que cobriu todos os montes e se não fosse a chuva que se lhe seguiu custaria muito a derreter, fazendo um frio intensíssimo. As pessoas que tinham sido atacadas de gripe continuavam a passar incomodadas por causa do frio, o qual tinha sido tão continuado, que só apenas no fim de Março é que tinham havido alguns dias em que o tempo esteve mais macio. Por este tempo ainda estavam, uma parte das vides por arrebentar e as que tinham arrebentado ou eram de casta ou eram das que estavam abrigadas. Os poucos gomos de vide que haviam estavam amarelos. Os poucos centeios que tinham espigado, tinham sido queimados pela neve e, em geral, havia poucas ervas porque o Inverno tinha sido muito seco e tinha havido muitas neves. PL

3 de Abril 1847: De manhã apareceu tudo coberto de neve, levando bastante tempo a derreter e havendo um intensíssimo frio. Toda a gente se admirou de haver tanta neve e tão tarde. Em algumas partes a neve subiu acima de 2 palmos de altura.

24 de Agosto 1850: Neste dia caiu neve em Guimarães e nos dias seguintes houve calor.

13 de Fevereiro 1853: Neste dia e nos dois seguintes caiu no concelho grande quantidade de neve, que atingiu altura de 2 palmos.

17 de Fevereiro 1853: Lê-se no Braz Tisana - Guimarães, 17 de Fevereiro. Hoje está um dia muito lindo; mas a neve por enquanto vai resistindo ao sol. Os males que a neve tem causado são muito graves. Em Basto está o povo fechado nas casas, pois consta que a neve ali tem a altura de homem: é certo que nem o correio tem vindo. Para os sítios de Barroso parece que morreram três almocreves, bem como as cavalgaduras, todos gelados. Para os lados de Fafe foi a neve tanta que três dias se não pôde sair para fora das casas, muitas das quais se alagaram e caíram, bem como oliveiras, laranjeiras e outras árvores que não puderam com o peso da neve. Em Pentieiros (Guimarães) consta que morreu um almocreve com as cavalgaduras enterradas na neve. Para os sítios da Serra de Santa Catarina os vizinhos tiveram de fazer buracos nas casas para puderem passar o comer uns dos outros e o mesmo aconteceu para os lados de Abação. Do Marão ainda nada se sabe, só sim dos lobos virem de lá fugindo. Enfim, não obstante o dia lindo de hoje, os montes, os campos e os telhados estão cobertos de neve. Teme-se muito que morra o gado com fome por não poder pastar. - Há já bastantes acções de 1.000$000 réis cada uma para a construção do novo teatro.

25 de Janeiro 1880: Desde o meio-dia à meia hora da tarde caiu folheca abundantemente. A Penha ficou toda branca de neve, o termómetro marcava dentro, em casa, 10 graus centígrados.

8 de Janeiro 1889: Das 3 às 4 e meia da tarde caiu tanta folheca que chegou nas ruas a ter 4 dedos de altura, e depois choveu muito que a derreteu toda.

7 de Janeiro 1895: Caiu muita folheca: a Penha ficou toda branca.

8 de Fevereiro 1898: Às 8 horas da manhã caiu tanta folheca que cobriu o monte da Penha até S. Roque.

2 de Fevereiro 1902: Domingo. - De manhã houve grande nevada que caindo em pequenos flocos e com a atmosfera seca, deu causa a um fenómeno deslumbrante. Às 11 horas da manhã o regimento nº 20 de infantaria, com mais de 200 homens, saía da missa na igreja de S. Francisco e seguia para o quartel pelo Toural, produziu-se um destes quadros que poucas e raras vezes se presenciam, marchando o regimento sobre uma chuva de flores brancas que em grande quantidade atapetava o chão e se penduravam dos bonés, ombros e fardas dos militares produzindo um efeito fantástico. Na 2ª feira de manhã e durante a noite novas quedas de neve se produziram em tamanha abundância que os telhados pareciam todos enormes, cobrindo por completo as casas; a Penha esteve encantadora. Alguns carros das carreiras de Braga e Basto não saíram e os que de lá vieram chegaram muito mais tarde e os cavalos cansadíssimos. Tiraram-se algumas vistas fotográficas da cidade. Dizia-se que desde 1854 não houvera igual. Em algumas ruas atingiu 5 centímetros.

11 de Fevereiro 1906: A Penha esteve coberta de neve.

1 de Março 1908: Neste dia, de manhã, e também no dia seguinte de manhã, apareceu a Penha coberta de neve, desde o Senhor dos Serôdios até à Fonte Santa.

27 de Janeiro 1915: Desde as 6 até às 7 da manhã caiu neve em abundância que atingiu 5 centímetros de altura; era uma delícia ver os montes, nos quais se conservou 8 dias, árvores e telhados tudo coberto de neve. As serras do Gerês, Marão, Lameira cobertas com grande altura. "

Fonte: Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As Janeiras!

A noite de 6 para 7 e Janeiro deveria ser a noite onde se entregam as prendas às crianças. De facto, os nossos vizinhos Espanhóis e Irmãos Galegos respeitam o que vem escrito na compilação de decisões politicas a que chamam vulgarmente "A Bíblia".

OGalaico não é propriamente um local onde se prestam devoções religiosas. Especialmente se estas forem impuras e claramente forjadas. No entanto este é um espaço onde se fala de tradição. Seja ela qual for! Da mesma, forma respeita-se o Catolicismo como o Paganismo pois é disto que o nosso povo é feito, e são as manifestações que se encontram em ambas que descrevem quem somos.

Qualquer criança poderá e irá achar estranho que se ofereçam prendas no dia de Natal se os Reis Magos só o fizeram ao menino Jesus a 6 de Janeiro... No entanto, o dia 6, apesar de ver no nosso país e em boa parte do mundo, a sua importância mutilada, mantém algo de especial.

Chamam-lhes as Janeiras ou as Reisadas. As Janeiras cantam-se em Janeiro a partir do dia 6 por um período de tempo específico. As reisadas, estas, consistindo aproximadamente na mesma simbologia, cantam-se o ano todo. Esta é uma confusão que muitos fazem. Cantam-se os Reis por exemplo no mês de Agosto aos imigrantes pois é a única altura onde se pode ir benzer aquela família e casa com a visita dos seus familiares e amigos. As janeiras, estas, como o nome indica, apenas cantam-se em Janeiro simbolizando a visita dos próximos à casa dos seus amados tal como os Reis Magos fizeram ao Deus Menino.

Desde pequeno que me fascina esta tradição. Aliás, esta era o único hábito de carácter tradicional que nenhuma criança queria perder. Não fosse sequer pela autorização de andar a vagabundear pela noite dentro com os amigos e a perspectiva de comer e beber como nunca...

O planeamento era feito em segredo. Juntava-se a tocata que ensaiava brevemente quais as Janeiras a tocar, e ensinavam-se as letras aos acompanhantes. Pouco depois, enviava-se um espião para certificar-nos que o dono da casa já estivesse voltado e, de preferência a dormir. Posto isso, estacionavam-se os carros ao longe ou, se morassem perto, ia-se calmamente pelo caminho evitando atiçar o ladrar vidente e revelador dos caninos da vizinhança. Juntavam-se todos em frente à porta principal até lançarem o primeiro foguete. A partir daí, e com a certeza de que já os donos estavam acordados cantava-se uma moda de Boas Vindas e em seguida as Janeiras. Isso até os patrões abrirem a porta. Na hora de saída cantavam se as despedidas. (Ver exemplos recolhidos em 1994 no player ao lado)

Invariavelmente já estaria posta a mesa com tudo o que houvesse em casa.

Depois das tradicionais cantorias, fazia-se uma breve festa com canções mais populares e de folclore variado. Breve porque as reisadas prolongam-se pela noite dentro. Dificilmente se reunia todo um rancho (no seu verdadeiro sentido de conjunto de pessoas de determinado lugar que se reúnem para a tocata) apenas para uma visita. Desta forma, os anfitriões da primeira casa juntava-se ao grupo que partiam para acordar outra família.

Recordo-me não há muito tempo de percorrer 4 casa numa só noite o que estabelece a inevitabilidade de voltar para casa a altas horas da madrugada tendo toda a gente compromissos no dia seguinte. Incrivelmente, poucos são os mais antigos que se prestam a ficar acordados até tarde no dia de fim de ano ou no Natal. Duvido que acordassem sequer para ver um americano a andar na lua... No entanto, os Reis são os Reis...

Este relato é no entanto o de uma festa completa e madura. Envolvia adultos, familiares, concertinas, tambores, ferrinhos, castanholas e cavaquinhos. Na maioria das vezes as Janeiras não eram tão bem preparadas... Antigamente era maioritariamente ocasiões utilizadas pelas crianças das aldeias para ganharem alguns trocos...

Conta meu pai que se juntavam os irmãos, primos e amigos com paus, panelas e, se houvesse, um ou outro instrumento verdadeiro e lá iam a meio da noite cantar (ou berrar) à porta dos senhores que, provavelmente por recear represálias de mau gosto e para poderem descansar em paz, lá os deixavam fazer o espectáculo deles e lhes atirava umas coroas para que fossem importunar o vizinho mais próximo.

Ainda é frequente ver grupos de jovens embriagados e que de tocata nada têm a passear pela noite. No entanto é mais um espectáculo de rapazes frequentemente bêbados a que ninguém que esteja mentalmente são irá atender. Admito até que há uns anos atrás bastou soltar os 7 cães do meu pai para correr com estes oportunistas de ocasião... (eheheh...)

Porém, e apesar de ser menos frequente, ouvem-se ainda todos os anos alguns foguetes e concertinas a cantar na escuridão do inverno. Estes serão hábitos que nunca irão desaparecer por muito que mude o nosso modo de viver. Congratulo aqui os ranchos e grupos folclóricos que, hoje em dia, são dos poucos que saem ainda durante estas semanas de Reis a relembrar a tradição.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Instrumentos Musicais da Gallaecia

A tradição musical, construída por gerações de povo anónimo, representa uma secessão de comportamentos, da família e do indivíduo, que num gesto ritual se projectam no encanto musical e na riqueza literária.
A variedade instrumental é de uma notável importância organológica. Essa variedade é representada pelos numerosos cordofones, precursões e concertinas do Entre Douro e Minho, pelas gaitas transmontanas, pela sanfona portuguesa, pela gaita sanabresa e gaita zamorana (sanfona) da zona ocidental de Castela e Leão, e palas gaitas e precursões da Galiza e das Astúrias.
O Entre Douro e Minho, terra verde e escultural, berço da cultura castreja revela um filão etnológico repleto de religiosidade e saber popular. As fortes raízes dos costumes associados à Natureza formaram um corpo musical ora luminoso, ora negro e triste conforme a própria alternância dos ciclos naturais e a origem cerimonial dos festejos. A polifonia minhota lembra o cruzar das cores dos trajes ou uma delicada filigrana que nasce nos verdes campos.
Os instrumentos de corda predominam sobre as gaitas que caíram em considerável desuso, trazendo à luz uma nova riqueza das modas de romaria.
É no Entre Douro e Minho que podemos ouvir as braguesas, amarantinas e bandolins, as passagens exorcizantes dos Zés P`reiras com trovadas de bombos e caixas, ora isolados, ora acompanhados de gaita galega ou acordeão. Às romarias associa-se um vasto conjunto de danças e coreografia que desafiam a Natureza e os seus homens a darem as mãos em roda ou a elevarem os braços em sinal de alegria e de vitória.
O Nordeste transmontano, representado pela Gaita de Foles, a caixa de guerra e o bombo, recorda-nos a essência pastoril num contexto etnográfico assente em usos comunitários e práticas associadas à actividade agrícola, com as segadas e os seus cantos. A riqueza do folclore mirandês revela um grande número de danças onde se destacam os Lhaços de pauliteiros acompanhados pela Gaita de Foles, instrumento que aqui preservou o arcaísmo pastoril tornando-a numa relíquia do folclore peninsular.
A correspondência cultural entre o Nordeste Transmontano e a zona ocidental de Castela e Leão construiu uma área de transição cultural com elevado interesse etnomusical. As gentes da raia partilham elementos fonéticos e tradições musicais comuns. Notem-se, por exemplo, as semelhanças entre a Gaita Sanabresa e a Gaita Mirandesa ou o reportório comum nas práticas musicais de ambos os lados da fronteira. A zona ocidental de Castela e Leão possui um folclore de grande variedade onde se tocam instrumentos como a gaita sanabresa, a dulzaina, o rabel e a gaita charra (a fraita pastoril de Miranda do Douro).
A Galiza, constituindo a parte norte da Gallaecia histórica, partilha estreitas afinidades com o Norte de Portugal. Em toda a extensão da Galiza encontrámos um contexto etnocultural fértil em tradições musicais. A gaita, acompanhada do tamboril, da pandeireta e do bombo, constitui o instrumento principal do folclore galego. Com uma forte tradição ao nível da construção de instrumentos, nomeadamente no que diz respeito à evolução dos mesmos, a gaita ocupa um lugar destacado na Europa como pólo vivo de artesanato musical.
Os instrumentos musicais são páginas vivas da tradição! _______________________________
Fonte

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Antigamente, ia-se ao mato...

Sentados à mesa, enfastiados de comida e descascando algumas laranjas colhidas lá fora para "atrasar", puxa-se uma conversa qualquer.

A nossa frente, os Sonhos, Bêbedas, Rabanadas entre outras. Pega-se na caneca de barro rompida pelo tempo que o "Falecido" tinha comprado e, por certo, já tem mais de 40 anos, e enche-se mais um malga... Dentro da "loja" cheira a lenha queimada da lareira e a resina das pinhas que estalam à sua frente.

Entretanto chega um dos irmãos que veio de uma caçada. Queixa-se da pouca caça e do mato que cobre tão intensamente os montes que pouco se pode fazer para ir buscar a maioria das peças abatidas.

"Nem os cães lá entram, só os Javalis..."

Claro que há mato diz um dos irmãos!:

"Antigamente, logo a seguir às vindimas, os lavradores iam ao monte roçar mato para o gado! Ia-se sempre nesta altura e na primavera. E todos já sabiam mais ou menos em que dia cada lavrador ia ao monte!

No dia anterior haviam os reguilas que iam ao monte apalpar o terreno para saber quais os melhores sítios para meter o carro. É que este trabalho é o pior que pode haver! Roçar mato era só para os homens! Assim, os espertos apareciam cedo e iam directos para os bons locais. Os mais morrões, apareciam tarde e depois olha... Tinham que roçar nos barrocos que era o diabo...

É que ir ao mato era uma arte! Tinha que saber! Alguns, os mais batidos escavavam regos pelo carreiro onde enfiaram os bois para nivelar o carro pois se não, ao subir, ficava tudo desequilibrado e riscava de tombar! E tantas vezes que tombava...

Imagina lá, depois de um dia inteiro a cortar mato e a encher o fardo (um homem tinha de encher um fardo, ou seja, um carro inteiro de mato por dia) , ao calor ou ao frio, tombar o carro! Por uma pedra, um animal que esticou de mais ou qualquer coisa e lá ia o mato ao chão... Alguns quase choravam com os nervos!

Mas olha... O lavrador dono do mato lá ia a correr buscar o vinho, sentava a gente num penedo ou numa parede, mandava acalmar e ficávamos 10 minutos a beber e comer um pedaço de broa. Isso para animar a malta... Depois, lá refaziam o carro tombado e iam pelo monte até ao destino...

Repara que aquilo, ao vir, era um alegria! Enfeitavam todos os carros com ramalhas das plantas que encontravam! Metiam-nas nos jugos, nas beiras dos carros e nos seus dentes! Quando se ia ao mato não se besuntavam os eixos aos carros só para eles chiar mais! Vinham carregados que quase vergavam! Xiiiiii Xiiiiii Xiiiiii... Chamavam-lhes as Chiadeiras!

E lá vinha a procissão!! Por vezes eram 15 ou mais carros! Todos o que pudessem ajudar vinham!

O cortejo era logo uma festa e, quando descia do monte, todos ouviam ao longe e vinham ver! Este era o pior trabalho da lavoura por isso exibiamos-nos! Mas olha que não era o fim dos problemas! Oh se era!!!

Os sabidos faziam carros compridos e menos largos! Eram mais dificeis de fazer e demorava mais tempo! Os outros, punham os carros largos e depois é que eram elas! Quantas vezes ao chegar às cancelas das casas os carros mais largos não passavam??!

Tinhamos de puxar o carro, empurra-los... As pedras das paredes até abanavam e os animais berravam com o esforços...

O pior era quando, com a força empregue, o carro partia! Dava-se ao meio por não passar!! Aí é que eram elas!! Coitado do homem que trousse o carro dele!! Ficava ali com uma despeza que não era brincadeira!! Mas era assim... Já sabia que os fardos tinham de ser montados estreitos e compridos...

Só depois de botar o mato no coberto é que se podia descansar. As pernas até tremiam de fraqueza! O lavrador da casa mandava vir vinho, pão e tudo o que tivese de bom! E tinha de haver música! Cantava-se e dançava-se! Depois de um frete daqueles os homens mereciam celebrar! Ah pois! E isso se quisessem ajuda se não, no ano seguinte ninguém lá aparecia!!

Não era brincadeira! O mato era prova de uma boa casa de lavradores! Um gado com corte de mato estava limpo e causava inveja! O mato das cortes era o melhor estrume! Um coberto cheio de mato era prova de uma boa cooperação da sociedade o que demonstrava o respeito que os outros tinham por aquela casa!

Havia aqueles que não usavam mato nas cortes. Andava o gado todo borrado, ninguém o comprava! Os campos, sem estrume não davam metade dos outros! Mas isso... olha.. Cada um fazia o que queria!"