A noite de 6 para 7 e Janeiro deveria ser a noite onde se entregam as prendas às crianças. De facto, os nossos vizinhos Espanhóis e Irmãos Galegos respeitam o que vem escrito na compilação de decisões politicas a que chamam vulgarmente "A Bíblia".
OGalaico não é propriamente um local onde se prestam devoções religiosas. Especialmente se estas forem impuras e claramente forjadas. No entanto este é um espaço onde se fala de tradição. Seja ela qual for! Da mesma, forma respeita-se o Catolicismo como o Paganismo pois é disto que o nosso povo é feito, e são as manifestações que se encontram em ambas que descrevem quem somos.
Qualquer criança poderá e irá achar estranho que se ofereçam prendas no dia de Natal se os Reis Magos só o fizeram ao menino Jesus a 6 de Janeiro... No entanto, o dia 6, apesar de ver no nosso país e em boa parte do mundo, a sua importância mutilada, mantém algo de especial.
Chamam-lhes as Janeiras ou as Reisadas. As Janeiras cantam-se em Janeiro a partir do dia 6 por um período de tempo específico. As reisadas, estas, consistindo aproximadamente na mesma simbologia, cantam-se o ano todo. Esta é uma confusão que muitos fazem. Cantam-se os Reis por exemplo no mês de Agosto aos imigrantes pois é a única altura onde se pode ir benzer aquela família e casa com a visita dos seus familiares e amigos. As janeiras, estas, como o nome indica, apenas cantam-se em Janeiro simbolizando a visita dos próximos à casa dos seus amados tal como os Reis Magos fizeram ao Deus Menino.
Desde pequeno que me fascina esta tradição. Aliás, esta era o único hábito de carácter tradicional que nenhuma criança queria perder. Não fosse sequer pela autorização de andar a vagabundear pela noite dentro com os amigos e a perspectiva de comer e beber como nunca...
O planeamento era feito em segredo. Juntava-se a tocata que ensaiava brevemente quais as Janeiras a tocar, e ensinavam-se as letras aos acompanhantes. Pouco depois, enviava-se um espião para certificar-nos que o dono da casa já estivesse voltado e, de preferência a dormir. Posto isso, estacionavam-se os carros ao longe ou, se morassem perto, ia-se calmamente pelo caminho evitando atiçar o ladrar vidente e revelador dos caninos da vizinhança. Juntavam-se todos em frente à porta principal até lançarem o primeiro foguete. A partir daí, e com a certeza de que já os donos estavam acordados cantava-se uma moda de Boas Vindas e em seguida as Janeiras. Isso até os patrões abrirem a porta. Na hora de saída cantavam se as despedidas. (Ver exemplos recolhidos em 1994 no player ao lado)
Invariavelmente já estaria posta a mesa com tudo o que houvesse em casa.
Depois das tradicionais cantorias, fazia-se uma breve festa com canções mais populares e de folclore variado. Breve porque as reisadas prolongam-se pela noite dentro. Dificilmente se reunia todo um rancho (no seu verdadeiro sentido de conjunto de pessoas de determinado lugar que se reúnem para a tocata) apenas para uma visita. Desta forma, os anfitriões da primeira casa juntava-se ao grupo que partiam para acordar outra família.
Recordo-me não há muito tempo de percorrer 4 casa numa só noite o que estabelece a inevitabilidade de voltar para casa a altas horas da madrugada tendo toda a gente compromissos no dia seguinte. Incrivelmente, poucos são os mais antigos que se prestam a ficar acordados até tarde no dia de fim de ano ou no Natal. Duvido que acordassem sequer para ver um americano a andar na lua... No entanto, os Reis são os Reis...
Este relato é no entanto o de uma festa completa e madura. Envolvia adultos, familiares, concertinas, tambores, ferrinhos, castanholas e cavaquinhos. Na maioria das vezes as Janeiras não eram tão bem preparadas... Antigamente era maioritariamente ocasiões utilizadas pelas crianças das aldeias para ganharem alguns trocos...
Conta meu pai que se juntavam os irmãos, primos e amigos com paus, panelas e, se houvesse, um ou outro instrumento verdadeiro e lá iam a meio da noite cantar (ou berrar) à porta dos senhores que, provavelmente por recear represálias de mau gosto e para poderem descansar em paz, lá os deixavam fazer o espectáculo deles e lhes atirava umas coroas para que fossem importunar o vizinho mais próximo.
Ainda é frequente ver grupos de jovens embriagados e que de tocata nada têm a passear pela noite. No entanto é mais um espectáculo de rapazes frequentemente bêbados a que ninguém que esteja mentalmente são irá atender. Admito até que há uns anos atrás bastou soltar os 7 cães do meu pai para correr com estes oportunistas de ocasião... (eheheh...)
Porém, e apesar de ser menos frequente, ouvem-se ainda todos os anos alguns foguetes e concertinas a cantar na escuridão do inverno. Estes serão hábitos que nunca irão desaparecer por muito que mude o nosso modo de viver. Congratulo aqui os ranchos e grupos folclóricos que, hoje em dia, são dos poucos que saem ainda durante estas semanas de Reis a relembrar a tradição.
OGalaico não é propriamente um local onde se prestam devoções religiosas. Especialmente se estas forem impuras e claramente forjadas. No entanto este é um espaço onde se fala de tradição. Seja ela qual for! Da mesma, forma respeita-se o Catolicismo como o Paganismo pois é disto que o nosso povo é feito, e são as manifestações que se encontram em ambas que descrevem quem somos.
Qualquer criança poderá e irá achar estranho que se ofereçam prendas no dia de Natal se os Reis Magos só o fizeram ao menino Jesus a 6 de Janeiro... No entanto, o dia 6, apesar de ver no nosso país e em boa parte do mundo, a sua importância mutilada, mantém algo de especial.
Chamam-lhes as Janeiras ou as Reisadas. As Janeiras cantam-se em Janeiro a partir do dia 6 por um período de tempo específico. As reisadas, estas, consistindo aproximadamente na mesma simbologia, cantam-se o ano todo. Esta é uma confusão que muitos fazem. Cantam-se os Reis por exemplo no mês de Agosto aos imigrantes pois é a única altura onde se pode ir benzer aquela família e casa com a visita dos seus familiares e amigos. As janeiras, estas, como o nome indica, apenas cantam-se em Janeiro simbolizando a visita dos próximos à casa dos seus amados tal como os Reis Magos fizeram ao Deus Menino.
Desde pequeno que me fascina esta tradição. Aliás, esta era o único hábito de carácter tradicional que nenhuma criança queria perder. Não fosse sequer pela autorização de andar a vagabundear pela noite dentro com os amigos e a perspectiva de comer e beber como nunca...
O planeamento era feito em segredo. Juntava-se a tocata que ensaiava brevemente quais as Janeiras a tocar, e ensinavam-se as letras aos acompanhantes. Pouco depois, enviava-se um espião para certificar-nos que o dono da casa já estivesse voltado e, de preferência a dormir. Posto isso, estacionavam-se os carros ao longe ou, se morassem perto, ia-se calmamente pelo caminho evitando atiçar o ladrar vidente e revelador dos caninos da vizinhança. Juntavam-se todos em frente à porta principal até lançarem o primeiro foguete. A partir daí, e com a certeza de que já os donos estavam acordados cantava-se uma moda de Boas Vindas e em seguida as Janeiras. Isso até os patrões abrirem a porta. Na hora de saída cantavam se as despedidas. (Ver exemplos recolhidos em 1994 no player ao lado)
Invariavelmente já estaria posta a mesa com tudo o que houvesse em casa.
Depois das tradicionais cantorias, fazia-se uma breve festa com canções mais populares e de folclore variado. Breve porque as reisadas prolongam-se pela noite dentro. Dificilmente se reunia todo um rancho (no seu verdadeiro sentido de conjunto de pessoas de determinado lugar que se reúnem para a tocata) apenas para uma visita. Desta forma, os anfitriões da primeira casa juntava-se ao grupo que partiam para acordar outra família.
Recordo-me não há muito tempo de percorrer 4 casa numa só noite o que estabelece a inevitabilidade de voltar para casa a altas horas da madrugada tendo toda a gente compromissos no dia seguinte. Incrivelmente, poucos são os mais antigos que se prestam a ficar acordados até tarde no dia de fim de ano ou no Natal. Duvido que acordassem sequer para ver um americano a andar na lua... No entanto, os Reis são os Reis...
Este relato é no entanto o de uma festa completa e madura. Envolvia adultos, familiares, concertinas, tambores, ferrinhos, castanholas e cavaquinhos. Na maioria das vezes as Janeiras não eram tão bem preparadas... Antigamente era maioritariamente ocasiões utilizadas pelas crianças das aldeias para ganharem alguns trocos...
Conta meu pai que se juntavam os irmãos, primos e amigos com paus, panelas e, se houvesse, um ou outro instrumento verdadeiro e lá iam a meio da noite cantar (ou berrar) à porta dos senhores que, provavelmente por recear represálias de mau gosto e para poderem descansar em paz, lá os deixavam fazer o espectáculo deles e lhes atirava umas coroas para que fossem importunar o vizinho mais próximo.
Ainda é frequente ver grupos de jovens embriagados e que de tocata nada têm a passear pela noite. No entanto é mais um espectáculo de rapazes frequentemente bêbados a que ninguém que esteja mentalmente são irá atender. Admito até que há uns anos atrás bastou soltar os 7 cães do meu pai para correr com estes oportunistas de ocasião... (eheheh...)
Porém, e apesar de ser menos frequente, ouvem-se ainda todos os anos alguns foguetes e concertinas a cantar na escuridão do inverno. Estes serão hábitos que nunca irão desaparecer por muito que mude o nosso modo de viver. Congratulo aqui os ranchos e grupos folclóricos que, hoje em dia, são dos poucos que saem ainda durante estas semanas de Reis a relembrar a tradição.
3 comentários:
Ah noites de Reis na minha terra!
Afinada a voinho fino e pão-de-ló entrava a alegria casa adentro e em rimas populares dava-se vivas ao dono da casa, raminho de salsa crua. Quando se põe à janela põe-se o sol e nasce a lua.E à Dona Maria, raminho de piunia, não há carinha mais linda nesta nossa freguesia. E viva lá Sr. João, Diga lá como vai isso. Meta a mão à salgadeira e dênos pra cá um chouriço. Depois...bem depois. Vamos dar as despedidas, por cima duma giesta. boa noite meus senhores, acabou a nossa festa!
belas quadras Sr. Tinoco;
é deveras especial esta época das janeiras, somente comparada com as visitas pascais.
apesar do frio, cantar as janeiras aquece a alma dos que cantam e dos que ouvem.
é um respeito à vida em comunidade.
sem mais:
É UM RESPEITO A VIDA EM COMUNIDADE.
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