terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Instrumentos Musicais da Gallaecia

A tradição musical, construída por gerações de povo anónimo, representa uma secessão de comportamentos, da família e do indivíduo, que num gesto ritual se projectam no encanto musical e na riqueza literária.
A variedade instrumental é de uma notável importância organológica. Essa variedade é representada pelos numerosos cordofones, precursões e concertinas do Entre Douro e Minho, pelas gaitas transmontanas, pela sanfona portuguesa, pela gaita sanabresa e gaita zamorana (sanfona) da zona ocidental de Castela e Leão, e palas gaitas e precursões da Galiza e das Astúrias.
O Entre Douro e Minho, terra verde e escultural, berço da cultura castreja revela um filão etnológico repleto de religiosidade e saber popular. As fortes raízes dos costumes associados à Natureza formaram um corpo musical ora luminoso, ora negro e triste conforme a própria alternância dos ciclos naturais e a origem cerimonial dos festejos. A polifonia minhota lembra o cruzar das cores dos trajes ou uma delicada filigrana que nasce nos verdes campos.
Os instrumentos de corda predominam sobre as gaitas que caíram em considerável desuso, trazendo à luz uma nova riqueza das modas de romaria.
É no Entre Douro e Minho que podemos ouvir as braguesas, amarantinas e bandolins, as passagens exorcizantes dos Zés P`reiras com trovadas de bombos e caixas, ora isolados, ora acompanhados de gaita galega ou acordeão. Às romarias associa-se um vasto conjunto de danças e coreografia que desafiam a Natureza e os seus homens a darem as mãos em roda ou a elevarem os braços em sinal de alegria e de vitória.
O Nordeste transmontano, representado pela Gaita de Foles, a caixa de guerra e o bombo, recorda-nos a essência pastoril num contexto etnográfico assente em usos comunitários e práticas associadas à actividade agrícola, com as segadas e os seus cantos. A riqueza do folclore mirandês revela um grande número de danças onde se destacam os Lhaços de pauliteiros acompanhados pela Gaita de Foles, instrumento que aqui preservou o arcaísmo pastoril tornando-a numa relíquia do folclore peninsular.
A correspondência cultural entre o Nordeste Transmontano e a zona ocidental de Castela e Leão construiu uma área de transição cultural com elevado interesse etnomusical. As gentes da raia partilham elementos fonéticos e tradições musicais comuns. Notem-se, por exemplo, as semelhanças entre a Gaita Sanabresa e a Gaita Mirandesa ou o reportório comum nas práticas musicais de ambos os lados da fronteira. A zona ocidental de Castela e Leão possui um folclore de grande variedade onde se tocam instrumentos como a gaita sanabresa, a dulzaina, o rabel e a gaita charra (a fraita pastoril de Miranda do Douro).
A Galiza, constituindo a parte norte da Gallaecia histórica, partilha estreitas afinidades com o Norte de Portugal. Em toda a extensão da Galiza encontrámos um contexto etnocultural fértil em tradições musicais. A gaita, acompanhada do tamboril, da pandeireta e do bombo, constitui o instrumento principal do folclore galego. Com uma forte tradição ao nível da construção de instrumentos, nomeadamente no que diz respeito à evolução dos mesmos, a gaita ocupa um lugar destacado na Europa como pólo vivo de artesanato musical.
Os instrumentos musicais são páginas vivas da tradição! _______________________________
Fonte

5 comentários:

Anónimo disse...

Mais um excelente texto sobre um tema pelo qual me interesso. Estes instrumentos mesmo que não tocados falam. É o meu caso. Tenho alguns destes instrumentos que não toco com propriedade, mas cujo som me delicia e me enche a alma. mesmo sem saber tocar, a não ser umas modinhas, basta-me acordar pela manhã, soprar na gaita-de-foles ou dedilhar a concertina e logo o meu dia ganha um novo alento.

O Galaico disse...

Excelente texto caro colega!

Sr. Jmtinoco,
Também alguns dos participantes do Ogalaico andam a aprender o dedilhar destes instrumentos.

Um na concertina e outro na Gaita!

Quem sabe se um dia não organizamos uma tocata por altura do São João! (Bem que precisa de mais festa pois por muitos cortejos qu hajam a maioira só la vai para exibirem os trajes e ir para casa...)

Elaneobrigo disse...

uma particularidade importante é a evolução musico-instrumental do entre douro e minho, depois do desuso de intrumentos mais "arcaicos" como a gaita de foles e as flautas.

essa mudança fez nascer indirectamente um riquissimo espolio de instrumentos cordofone, estabelecendo novos ritmos e melodias que marcaram definivimente as modas e danças do entre douro e minho (e por arrasto algumas outras zonas do mundo).

e falando dos novos isntrumentos de palheta, as concertinas, trouxeram à luz novas construções musicais mais complexas e vibrantes, catapultando-se entre todos como o instrumento nobre da região.

a sua diversidade de tonalidades (fa, do, la, re, sol) adapta-se às diversas modas de romaria, que variam de zona para zona.

cada romaria ou zona tem o seu tom especifico para a concertina, fruto, na minha maneira de ver, de uma certa procura de coesão entre os que cantavam e os que tocavam!

no geral, as gaitas de foles, sendo um intrumento espalhado por todos os cantos do mundo, assume-se na região da gallaecia como o mais representativo da mesma.

ela tem lugar nas diversas partes da mesma assim como os "bombos".

A Respigadeira disse...

Não tenho muita percepção da ideia que as pessoas têm sobre mim, mas quando digo que adoro música tradicional minhota e as danças folclóricas (que na região de Guimarães são profundamente contagiantes), as pessoas ficam extremamente surpreendidas. Quando dou por mim, estou a bater o pé ao som dos Zés Pereiras e a dançar ao som de uma concertina. :-D

Relativamente ao texto apresentado, dou os parabéns ao autor pela riqueza da informação.

Beijinhos

O Galaico disse...

Olá Clara!

Também nós aqui no Ogalaico somos apaixonados pelo foclore. Da minha parte, há já 2 anos que o meu MP3 só tem folclore.

As pessoas tem uma percepção do folk como uma coisa de campónio mas, quem estudar um pouco esta nossa musica encontrará uma riqueza e um valor inestimável.