A mudança na vida das pessoas tem por vezes destas coisas. Sentimos que abandonamos algo e que ficamos a dever às pessoas que estimamos. Olho à minha volta e sinto me culpado por mudar de vida. Procuro até razões que justifiquem esta decisão para além das mais óbvias e das quais todos concordam.
Fiquei assim mudos e expectante perante o desconhecido que se avizinha e o recente passado que sei irá ficar turvo e desaparecer, inevitavelmente, nas malhas do tempo. A verdade é que as amizades, a estima, lembranças e confiança ganha, são coisas que nunca se irão perder. São conquistas absolutas.
Sendo assim, a única real perda seria não mudar e enveredar por um outro caminho que, da mesma forma, nos dará novos créditos, novas experiências, lições e, quem sabe, desgostos. Sim. Com eles também se aprende. Por ventura, só através deles nos é possível aprender.
As boas recordações são assim como uma boia isolada que nos aguenta a estima neste mar de incertezas. Sabendo que as ganhamos justamente podemos enfrentar o mundo de cabeça levantada e coração aberto.
A seguinte lenda honra este meu ultimo ano de vida e todas as amizades que durante o mesmo cultivei:
A lenda dos cavalos de Fão e do Ouro de Ofir.
“Salomão quis dar seguimento a um velho desejo de seu pai, o Rei David: construir o Templo do Senhor, em Jerusalém. Solicitou ajuda ao Rei Irão da Fenícia e chegaram expressamente, as madeiras do Líbano, os hábeis construtores de templos, peritos na arte de lavrar a pedra.
Constrói uma frota, que atravessa o Mediterrâneo e sulca o Atlântico, manejada por hábeis fenícios ao serviço de Salomão.
Já não chega, porém, só a riqueza dos cedros do Líbano: faltava-lhes o ouro, a prata, as pedras preciosas. Diz a lenda que o bíblico "Ofir" existia na foz do Cávado. Seria dali que os navios fenícios, ao serviço do rei israelita, recolhiam suas cargas magníficas. Salomão quis ser grato com estes povos. Remeteu-lhes, então, como presente os corseis que no mundo melhor haviam.
O destino, porém, não permitiu que tal acontecesse, arrebatada por uma medonha tempestade, a frota salomónica foi despedaçar-se de encontro à penedia e os famosos cavalos, por obra dos deuses, ficaram petrificados e eternamente cativos destas águas oceânicas, que ora acariciam, ora batem em espumosa fúria."
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