terça-feira, 24 de junho de 2008

O São João de Braga

A festa de São João é a rainha das festas populares. Não há maior demonstração de alegria espontânea no povo do que neste dia.

Entre o som dos martelos, o cheiro dos alhos, sardinhas e manjericos, a massa colorida de pessoas e a boa disposição, sente-se que numa era de esquecimento e negação da nossa cultura, os santos populares são o ultimo bastião tradicional que consegue ser aceite por idosos, adultos e jovens.

Toda a sociedade se une à volta desta festa.

O São João festeja-se há cerca de 500 anos. Melhor dizendo, a 24 de Junho (aproximadamente) sempre se festejou mas por motivos um pouco diferentes. De facto, tive a oportunidade de referir num post anterior que os Santos populares festejam-se numa época muito especial do nosso calendário.

As culturas europeias e de um pouco todo o mundo contavam o dia de 21 de Junho como o 1º dia do ano. Este era o dia mais longo, o solstício de verão! Marcava a viragem no calendário e simbolizava o renascimento da natureza, a fertilidade patente da época e a união entre o homem e o mundo. O solstício era a celebração mais importante do nosso povo até a nossa cultura original ter sido corrompida por um cristianismo medieval sem escrúpulos e cheio de defeitos.

No paganismo, não haviam defeitos nem se mentia. No paganismo, a natureza é quem manda e, idolatrando-a, preservando-a e respeitando-a, mantinha-se um equilíbrio entre os homens e tudo o que o rodeava. Hoje.... bem, hoje... sabemos perfeitamente o estado das coisas.

Muitos dos hábitos populares de hoje são ainda reflexos de costumes pagãos mais do que ancestrais. As fogueiras por ex. São um elemento presente nas celebrações dos solstícios como forma de representar a purificação e transição traçando um paralelo com o que se estava a passar no calendário. Hoje, no Porto e em Braga ainda se podem ver os balões que levam a chama aos céus e, nas aldeias, os adros das igrejas e casas familiares ainda fazem a tradicional fogueira de São João.

De referir ainda a lamentável e ridícula mentira que a igreja católica criou para justificar as fogueiras. Segundo estes castradores culturais, o antigo costume de acender fogueiras no começo do verão europeu tinha suas raízes em um acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Para avisar Maria sobre o nascimento de São João Baptista e assim ter seu auxílio após o parto, Isabel teria de acender uma fogueira sobre um monte.

Do mesmo jeito, estas manipulações serviram para associar os cultos pagãos ancestrais a lendas bíblicas inventadas à pressa. Assim, apareceram os Santos Populares todos muito próximos da data do Solstício, este sim a verdadeira razão das celebrações: Santo António 13 de Junho, São João 24 de Junho, São Pedro (29 de Junho).

Outro exemplo dos hábitos pagãos são as célebres partidas de São João onde as populações (normalmente mais jovens) "roubam" tudo o que encontram rivalizando entre eles tentando fazer o maior disparate. Muitos vêem neste hábito uma réstia dos rituais de passagem pré-católicos. Neste tempo, sem dúvida que feitos realmente mais valentes do que roubar vasos ou o atar o sino da igreja ao pescoço de uma vaca para que esta acorde a população a meio da noite, eram exigidos aos recém intitulados como Homens.

Hoje, a maioria das pessoas perpetuam mais ou menos inconscientemente estas antiquíssimas tradições. Bem que muito alteradas e impregnadas de influência católica, os santos populares e, mais especificamente o São João tem um valor inigualável. Representa a nossa ligação com um passado distante. Hoje festejamos-lo de uma forma diferente mas mesmo assim demonstra quem somos, de onde viemos e para onde vamos!

"São João era bom Santo
Se não fosse tão velhaco.
Foi com as moças à fonte
Levou três e trouxe quatro.

São João adormeceu
Nas escadinhas do coro,
Deram as freiras com ele
Depenicaram-no todo.

E repenica, e repenica
É São João a suar em bica.
E repapoila e repapoila
Feijão branco arroz na caçoila.”

2 comentários:

Elaneobrigo disse...

Fantástico camada...

Realmente é por alturas de São João que se sente outra atmosfera no ar.

Tempo de ir para o rio, praia, sair à noite, acordar com os passaros, trabalhar os campos; ir às festas populares;

Se reparerem, quases todas as terras procuram manisfestarem-se nestas datas, seja Santo Antonio, seja São Pedro ou São João.

Sente-se o verdadeiro começo de algo, por isso era com agrado que o novo ano volta-se a ser oficialmente durante este solestício!

Elaneobrigo disse...

O dia de São João é o dia em que se acredita que as mouras encantadas aparecem com os seus tesouros e que se pode quebrar o seu encantamento.

Em algumas lendas é no dia de São João que a moura encantada espalha os figos num penedo, ao luar.

Noutras variantes a moura espalha os figos ou a meada de ouro ao sol em cima do penedo.

Estas lendas estão possivelmente relacionada com a tradição popular de, nalgumas regiões, apanhar-se no dia de São João o figo lampo, um figo branco, que levava-se de presente.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mouras_encantadas