quarta-feira, 11 de junho de 2008

Esta é...

Quando se fala de Folclore logo os meus ouvidos dão sinal. Activa-se o sistema e logo tenho de partilhar a minha opinião. É practicamente infalível e muitas vezes doentio e outras trazendo problemas. Mas, ser minhoto não é fácil!

Ora falou-se em "melhores grupos folclóricos"... de Viana!

Para começar devemos deixar bem claro que Folclore e grupos folclóricos são coisas diferentes, pois não é (ou não parece) objectivo desses tais grupos a representação fiel do que é sagrado! Sim, pois a história de Portugal - a nossa história - é sagrada!...

Então mas afinal o que é Folclore? O que é ser minhoto? O que é ser português? É ter trajes brilhantes? Falar com pronúncia? Aplaudir a selecção nacional?!

Sejamos honestos, a música e dança folclórica nunca poderão competir com a 'moderna'. Primeiro porque a primeira não pode ser apenas recreativa. Terá de ser algo mais, algo que nos ensine um pouco mais!... Uma história, um romance, uma disputa, uma fé... não apenas um mero entretenimento como é, vá, uma ida ao circo. Com isto digo e sublinho que a segunda nunca poderá ser mais portuguesa que a primeira!... Mas às vezes, muitas vezes, vezes demais, parece...

A palavra folk-lore foi criada para designar as tradições de um povo numa região...

Falando de Viana da Foz do Lima, como me pediram... é dificil avaliar quem será melhor. Diz-se que Viana é a capital do folclore (1ª mentira - o folclore é global!) depois porque os grupos de Viana têm anos e anos de aperfeiçoamento das suas mentiras... e claro, em alguns casos do seu folclore também!...

Podereis discordar comigo, mas existe um certo 'abuso' no 'folclore' vianense. Um mostrar que é exagerado. Como se tudo o que se fizesse, fosse para mostrar ao público... isto é um pouco incoerente sabendo nós que as pessoas dançavam para elas próprias, para namorar, para se divertirem umas com as outras. Não é o que parece!... (isto não é so de Viana, mas é lá onde se leva ao extremo, na minha opinião!)

Não sejamos péssimistas em tudo, terão provavelmente o melhor trajar de todo o Alto Minho, à exepção de dois ou três trajes em quatro ou cinco grupos fora do concelho! Refiro-me claro, aos melhores (= mais conhecidos) grupos de Viana.

Mas mais uma vez, não passam de grupos de danças folclóricas (!)... onde estão o pregões? Os canticos de trabalho? Os cantares religiosos? As toadilhas de aboiar e de abaülar? Dos cegos? De embalar? Os cantos dos velhos romances? (como diria Gonçalo Sampaio!) As feiras? As romarias? Onde está afinal, aquilo que é de facto mais folclore?

Na minha visão perfeccionista os 'melhores' são apenas razoáveis porque mostram pouquíssimo do que deveriam mostrar!... Isto no geral e não apenas em Viana!

Então, mas qual o melhor? O melhor de Viana!
Dentro desta mediocridade escolheria, talvez, o GF de Santa Marta pelo trajar e dançar (ainda que desfazendo de várias danças). No cantar, deixam todos muito a desejar!... Não esquecer que cada um terá algo bom a aproveitar (os vários trajes mencionados por Cláudio Basto, o Saracú de Lanheses, a Contradança de Perre, etc) mas no geral opto por Santa Marta!

Pessoalmente acho que existem outros melhores em termos de recolhas de danças e de apresentação em palco!...

(Lamenta-se a qualidade do som!... Mas atente-se à apresentação do Grupo Folclórico de Santa Marinha de Mogege - Famalicão)

É pena que muitos estejam a léguas de ser realmente um baluarte do folclore minhoto e português como se quer fazer crer (e já se fez muito!) para que um dia, que viajemos por qualquer parte do mundo possamos, através do nosso telemóvel de última geração (...), mostrar com todo o orgulho esse tal fenómeno... e finalizar:

Contemplai,
Esta é a ditosa Pátria minha amada!

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez felicito-te pelo teu texto, e não pude deixar de reflectir sobre alguns pontos que referiste.
Em primeiro lugar, gostaria de me debruçar sobre o facto de o Folclore representar a cultura dos nossos antepassados, mas que por vezes é de certa forma, preterida no que respeita a denominada música moderna, ou modernista. Por vezes há como que um esquecimento daquilo que é nosso em prole do que é estrangeiro ou do que é moda. Hoje, em dia, infelizmente, olha-se mais para as coisas de uma maneira mais recreativa, como aqui foi falado, reforçando o factor espectáculo como denominador comum da maioria das representações do nosso Folclore. Essa componente surge-nos adulterada quer na maneira de trajar, como nas melodias e danças que supostamente representariam uma determinada época, mas que são adulteradas para parecer mais bonito aos olhos do espectador.
Outro assunto que gostaria de comentar é o que se refere à etnografia que por vezes aparece esquecida quando se representa o Folclore de uma determinada região. Quem visiona as actuações dos vários Ranchos Folclóricos, deveria tentar perceber o enquadramento das danças e cantares, quer a nível histórico, quer a nível cultural, passando pelos costumes, pelas tradições, enfim, pelas vivências do povo que está a ser representado.
Claro que por vezes não é fácil represental de forma fiel uma região numa determinada época, mas tal não implica que não haja um esforço para que o rigor seja ainda maior.

Tiago Polme

O Galaico disse...

Excelente Post.

E um fato que o folclore fica muito a quem. O potencial dos grupos e a diversidade por onde podem trabalhar é GIGANTESCA.

Lamentavelmente, o provincianismo dos dirigentes da vasta maioria das associações reduz o saber do povo a uma pálida e limitadíssima representação.

No caso da maioria dos ranchos e, especialmente no Alto Minho e de Viana, por ter sido considerado quase por decreto de Salazar como a cidade do Folclore Português (genocídio cultural), os seus grupos carregam há muito esta falsa cruz que é a de ter de ser a imagem de uma vibrante cultura.

Este potencial mercado que tão bem se vende, exige mais cor, mais ritmo, mais dinheiro e, com o dinheiro, aparecem trapaceiros, interesseiros. mentirosos, etc.

Neste aspecto o folclore e o futebol são idênticos. Tudo começou belo e cheio de valore até ao momento em que este "produto" começou a ser valioso. Quando assim passou a ser, o inicio do fim tinha chegado.

A competição que se verifica entre os grupos do Minho é ridícula e uma forma de auto-destruição. Aponto aí o dedo a todos os presidentes, ensaiadores e cantadores que modificam, inventam, roubam e adaptam o folclore para que este lhes sirva de mais valia.

Esta atitude é criminosa como o roubo e destruição de uma peça de património classificado.

O exemplo do grupo de Mogege apresentado pelo Cerquido é perfeita.

Acham que eles se importam por não terem trajes as mil e uma cores? Aliás, de certeza que tem todo o direito etnográfico em usar alguns. Mas não fazem porquê?

Porque a verdade brilha mais alto que qualquer bordado ou brinco à rainha.

O que interessa saber qual o melhor rancho? Isso é a prova que estão a competir um entre os outros e isso leva inevitavelmente ao recurso a práticas mais ou ainda mais erradas e demeritórias.

Os ranchos para serem EXCELENTES bastam que sejam AUTÊNTICOS.

Mais rápido tocam, mais rápido dançam, mais variados são os trajes, coloridos os bordados e carregadas de ouro as mordomas, mais FRACO é o rancho porque mais MENTIROSO o é.

Tentem ser nada mais que o é ou era o povo. Simples, honrado e verdadeiro.