quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Como se diz em Bom Português?


Retirado de uma texto académico de José Leite de Vasconcelos (Famosos linguista, filólogo e entnógrafo Português):

"Não somente o que achamos per escripturas antigas, mas muitos que se usão em Antre Douro e Minho, conservador da semente Portugueza: Os Quaes alguns idoutos despresão por não saberem a raiz d'onde nascem". João de Barros, mais sabio que os modernos pedantes dos cafés e das havanezas, quer significar com isso que a falla do Minho era na realidade bom português, boa semente;
Duarte Nunes de Leão, ainda no mesmo século nota a "...pronunciação de ão que succede em lugar da antiga terminação dos Portugueses de om... a qual ainda agora guardarão alguns homens de Antre Douro e Minho, e os galegos que dizem, fizerom, amarom, capitom, cidadom, taballiom, appellaçom"; e n'outro logar: "... o que muito se vê [a mudança do V e B] nos Gallegos, e em alguns Portugueses d'Antre Douro e Minho, que, por vós e vosso, dizem bós e bosso, e que por vida dizem bida
Faria e Sousa que era Minhoto (Natural de Pombeiro), diz no séc XVII: "La provincia adonde mas bien se habla pienso ser (si el juizo no me engaña, i no me ciega la aficion) Entre Duero i Miño."

In: Revista Guimarães, nº2, 1885, pp.5-19

http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/rg/RG002_01.pdf

11 comentários:

Cerquido disse...

E hoje vão admitir-se palavras e maneiras de falar que nunca 'pisaram' o nosso solo! E estrangulou-se ao longo do tempo o mais belo falar de todos!...

Dá quase vontade de dizer, ide-bos...

O Galaico disse...

O falar do Norte é um falar com personalidade! Com matéria! Com força e peso. Mete respeito e cheira a história!

Este será o meu falar para sempre e não governo lisboeta nem convenções da "lusofobia" que me venham dizer como falar ou escrever.

Mudar a pronuncia e as palavras seria a negação total da miha herança cultural e um insulto aos meus antepassados.

Anónimo disse...

grande parte das palavras já estão mudadas.
Ainda agora acabas-te de escrever no Português Lisboeta

usas-te "não", "negação" que deveria terminar em om
usas-te "escrever" que deveria ser com b
usas-te "convenções" que deveria usar b e terminar em ons.

Depois a pronuncia do norte já está a ser mudada fortemente nestes ultimos seculos em que a Televisão ganhou mais peso, as distancias diminuiram e começaram as grandes migrações.

O Galaico disse...

Sr. Anónimo.

O uso de um português padrão não tem mal nenhum.

O que está errado é a negação por parte da ignorância centralista de que a pronuncia tradicional do Norte é uma forma de Português tanto ou mais valida que a que foi inventada por Lisboa e Coimbra.

Um país justo deveria dar liberdade as regiões de pronunciarem as suas palavras e o seu léxico. A história do Norte é de mais importante porque é a base de toda a lusofonia (termo errado).

Porém, como vivemos em sociedade, é necessário haver uma norma interna pela qual todos se regem.

A questão está em conseguir aceitar esta norma sem afectar os dialectos regionais, as suas histórias e, sobretudo, não ceder a pressões sociais, politicas e económicas.

Coisa que desde sempre Lisboa falhou umas vezes propositadamente e outras não.

Quanto a pronuncia ela esta bem presente na juventude do Norte. Podem estar globalizados e perdem algum do léxico mas a pronuncia esta está lá e vai durar para sempre.

Maria disse...

Bom dia. :)

Posso só fazer uma sugestão: não dá para colocares no teu post o link para a Biblioteca Digital Camões? Há muita gente que não sabe que a BDC tem online os Opúsculos de Leite de Vasconcelos:

Filologia – volumes I e IV
Dialectologia – volumes II e VI
Onomatologia – volume III
Etnologia – volumes V e VII

Os Opúsculos estão aqui:

http://www.instituto-camoes.pt/cvc/bdc/etnologia/opusculos/index.html

O Galaico disse...

Ola Maria!

E eu fazia parte dos que não sabiam!

Obrigado pela valiosa dica!

Anónimo disse...

"Um país justo deveria dar liberdade as regiões de pronunciarem as suas palavras e o seu léxico."

Quanto a isso nao se preocupe, que ninguem vai preso por falar com pronuncia nortenha.
Liberdade ha quanto baste, mas o problema é que actualmente esta tudo feito para que o povo nortenho esqueça a sua pronuncia.

Para evitar isso, penso que so com independencia do norte, TVs nortenhas com apresentadores de pronuncia nortenha e oficializando a escrita nortenha nesse novo estado.

Tem de se criar estruturas para defender uma lingua ou uma versao linguistica. Nao se vai la com "liberdades".
Se tambem nao tivessem oficializado o Mirandes concerteza que por mais liberdade que tenham em falar o que querem, este nao teria tanta força.
Se a regiao nao estivesse tao isolada, concerteza que por mais liberdade que tenham, hoje o Mirandes nao estava tao presente.

O Galaico disse...

Sr. Anonimo.

Concordo absolutamente consigo.

Deveria haver uma associação cultural que promovesse o dialecto do Nortenho, a sua entoação e o seu léxico tradicional.

No entanto isso seria visto como uma organização de malucos pois Lisboa e a centralidade que a caracteriza é do mais xenófobo que pode haver em relação ao Norte.

Deveria haver para o Norte qualquer coisa como a AGAL. E necessário preservar esta marca identitária pois é tanto ou mais valiosa que qualquer prato gastronómico, letra folclórica ou monumento!

Elaneobrigo disse...

"Quanto a pronuncia ela esta bem presente na juventude do Norte. Podem estar globalizados e perdem algum do léxico mas a pronuncia esta está lá e vai durar para sempre."

até me atrebo a dixer que xertos emigrantes falom nortenho melhor que nós!

agora em relaçom a haber unha oficializaçom do Português nortenho acho uma tarefa quase impoxibel!

Primeiro, a lingua portuguesa corre intenxamente em direçom à globalizaçom e a luxofonia!

Segundo, porque o Norte é marcadamente rural, e cada aldeia tem a xua pronunxia, o que dificulta a existênxia de uma normalizaçom significativamente distinta do português padrom!

P.S. Obrigada Maria pela DIVINA partilha..
Vai-me poupar horas na biblioteca;)

Anónimo disse...

É umha mágoa que a pronúncia que se está a impor em todo Portugal seja máis parecida à francesa que à galega.

Na questiom ortográfica, eu som favorábel ao mantenimento do v e do b. Na forma ortográfica oficial do galego som empregados b e v, e ambos representam o mesmo fonema /b/. Eu defendo tamém incluir j e g no galego (agora exluidas, salvo o g para o som "guê")
por umha razom de coerêcia etimológica (pois, igual que o v, existiam no galego medieval) mesmo ainda que na pronúncia galega actual teriam o mesmo som que o x.

Empregar duas ou máis letras para o mesmo som nom é sempre complicado e ocorre em muitas línguas (no espanhol com b-v, no português com j-g ou no grego com ι-η-υ).

E lembrem que escribir com v ou sem v é um problema pequeno comparado cos verdadeiros retos sobre os que tem que ter consciência o Norte.

O Galaico disse...

Caro Vixia.

De facto, mais importante de que a maneira como se escreve é a forma como se fala.

Se houver orgulho e reconhecimento para com a pronúncia do Norte então a maior parte dos problemas estão solucionados.

No caso Galego suponho então que o mesmo se passa. Muitas letras para a mesma entoação quando, na verdade, a entoação é que é mais importante do que a forma com é representada por escrito.

No entanto, no Norte de Portugal a maior dificuldade é mesmo em demonstrar ao país que o som B e OM não só é valido como distinção regional como, acima de tudo, é CORRECTOa nivel nacional.