sábado, 27 de setembro de 2008

Sons, luzes, cheiros e cores do Outono


O verão acaba por norma com tristeza.

E de facto acaba melancólico. Porém, este sentimento não perdura durante muito tempo pois a natureza encarrega-se de nos mostrar que tudo continua. Que o fim do verão é a porta para o culminar da fertilidade.

E aqui está o Outono.

O Outono será talvez a mais paradigmática estação do ano. Tudo começa a findar nesta altura. Porém, as maiores colheitas fazem-se agora.

Um dia de sol basta para perceber que quase de um dia para o outro, o ambiente muda. Como que num estalar de dedos entramos noutra dimensão! A tristeza profunda do fim do verão aparece agora como que um pequeno detalhe ao pé da generosa e carinhosa forma que o mundo tem de nos dizer que tudo irá recomeçar.

Acorda-se e abre-se a janela. As folhas já não estão verdes apesar de jurar que ainda ontem o estavam!

Hoje, os vardos, ramadas, cerejeiras e castanheiros (estes lamentavelmente fora de moda) onde se enroscam as altas videiras como se cobras fossem, tem uma tonalidade poética.

Vermelhos escuros, bordeaux, amarelo, toda uma gama de castanhos e, por vezes amarelos e cores de laranja.


Junta-se a isso um sol brando mas incrivelmente brilhante. Este sol de Outono que parece estar constantemente ao nível dos nossos olhos. Como se quisesse interditar-nos, por vergonha, de nos deixar ver que está a perder forças para outra estação!

E os cheiros penetrantes! De onde vem? Há cheiros que aparecem do nada mas que nos dizem sempre algo. O Natal, tem por exemplo, para mim, um cheiro especial. Cheira-me a lenha queimada, a frutos secos cortados pelo frio. A primavera, esta, de tão óbvia nem merece descrição. Depois, há o cheiro do verão. E o cheiro da natureza no seu máximo. E agora há o Outono.

O cheiro do Outono é para mim o melhor. Cheira a fruta madura! Tão madura que a sua doçura se assemelha intensamente ao mel! Cheira ao milho cortado! Paira um cheiro a vinho no ar. Um odor inebriante que emana das pipas a serem lavadas e preparadas para mais uma vindima.


O olfacto também desperta por causa dos vapores agridoces dos lagares cheios de bagos pisados. Andando a pé por um caminho mais ou menos rural adivinha-se ao longe que casas estão a vindimar.

Quem precisa de olhos quando se pode ver tão bem com eles fechados!

E depois, nesta altura do Outono é um gosto acordar com os novos sons que me reconfortam inexplicavelmente.

Novos cantares soam das árvores.

São as cantadeiras dos vindimadores! Neste caso, as tradicionais tesouras de metal e o seu som característico. Estas tesouras são especiais. Já não se fazem e quem as tem trata delas como se de um carro clássico fosse!

O mesmo se passa com os cestos. De vime e antigos! Quanto mais velho melhor! Quem os tem até trabalha com mais alegria!

As vindimas são cada vez mais uma actividade de reunião com a família e a natureza. Doutores, imigrantes, jovens da moda, senhoras, velhos e jovens. Vivendo na cidade ou no campo.

Para as vindimas toda agente aparece e trabalha com alegria!

Ao fim, come-se como reis, canta-se ao som da concertina e pisam-se as uvas!

O Outono é especial por isso!

E a forma que a natureza tem de nos dizer que a "morte" não é o fim mas o principio de outra coisa. No caso do outono quase podemos dizer que findando é que se colhem os frutos pelos quais se espera toda a vida.

Tendo em conta que o homem é parte integrante da unidade universal e, tem sempre a sua existência traçada em paralelo com esta, também eu vou esperar e tomar o Outono da minha vida como o momento em que se colhem as verdades por que tanto esperamos...

1 comentário:

Maria disse...

The October country:
"That country where the hills are fog and the rivers are mist; where noons go quickly, dusks and twilights linger, and midnights stay. That country whose people are autumn people, thinking only autumn thoughts. Whose poeple passing at night on the empty walks sound like rain..."
Ray Bradbury

:)