Saudades das hortas repletas de couves galegas, cebolas e cebolinho, dos alhos e feijões, do loureiro e das oliveiras, dos montes de estrume e cinzas empilhados cónicamente numa ponta do terreno
Saudades de podar as vides e as árvores, de fazer os excertos nos escalheiros, ameixeiras, pereiras e cerejeiras.
Saudades de enterrar a enxada com toda a força para cavar as batatas, e sentir as mãos calejarem ao ritmo da dureza dos trabalhos.
Saudades de acordar antes do canto do galo e ir à lenha ao monte, para alimentar o sedento lume de inverno que espalha o seu negro véu de fumo pela cozinha granítica.
Saudades das gélidas aragens de Inverno, de acender a lareira, de provar o fumeiro e vinho novo, e de ver o caminhar errante das mulheres de negro atraídas pelo sino da igreja.
Saudades de sentir a húmida carícia do focinho de um boi quando se andava com as vacas cangadas.
Saudades de sentir o bafo seco das cortes e do inquietante zumbido das moscas quando em alto verão se levava as vacas a pastar.
Saudades de sentir a calma dos campos orquestrada pela sinfonia dos pássaros e do remoer das vacas deitadas à sobra dos carvalhais.
Saudades de fazer as moreias de feno e palha milha, vê-las doirar ao pôr-do-sol acompanhadas pelos vigilantes voos dos morcegos e pássaros que aí tem seu refúgio.
Saudades de ver o milho a desfolhar e a ser colhido para os canastros e sequeiras que silenciosamente guardam o manjar das várias gerações.
Saudades de olhar à distância o serpentear das águas, verdadeiramente cristalinas, dos regos e moinhos vindo da mais longínqua e remota nascente do monte até ao campo mais seco.
Saudades de refrescar a garganta com um jarro de água das húmidas e vigorosas fontes para se matar a secura das sementeiras e cegadas.
Saudades dos vales verdes, dos montes graníticos, do murmúrio dos rios e ribeiros, do bom perfume do vinho e da terra lavrada, do feno e da erva cortada.
Saudades de podar as vides e as árvores, de fazer os excertos nos escalheiros, ameixeiras, pereiras e cerejeiras.
Saudades de enterrar a enxada com toda a força para cavar as batatas, e sentir as mãos calejarem ao ritmo da dureza dos trabalhos.
Saudades de acordar antes do canto do galo e ir à lenha ao monte, para alimentar o sedento lume de inverno que espalha o seu negro véu de fumo pela cozinha granítica.
Saudades das gélidas aragens de Inverno, de acender a lareira, de provar o fumeiro e vinho novo, e de ver o caminhar errante das mulheres de negro atraídas pelo sino da igreja.
Saudades de sentir a húmida carícia do focinho de um boi quando se andava com as vacas cangadas.
Saudades de sentir o bafo seco das cortes e do inquietante zumbido das moscas quando em alto verão se levava as vacas a pastar.
Saudades de sentir a calma dos campos orquestrada pela sinfonia dos pássaros e do remoer das vacas deitadas à sobra dos carvalhais.
Saudades de fazer as moreias de feno e palha milha, vê-las doirar ao pôr-do-sol acompanhadas pelos vigilantes voos dos morcegos e pássaros que aí tem seu refúgio.
Saudades de ver o milho a desfolhar e a ser colhido para os canastros e sequeiras que silenciosamente guardam o manjar das várias gerações.
Saudades de olhar à distância o serpentear das águas, verdadeiramente cristalinas, dos regos e moinhos vindo da mais longínqua e remota nascente do monte até ao campo mais seco.
Saudades de refrescar a garganta com um jarro de água das húmidas e vigorosas fontes para se matar a secura das sementeiras e cegadas.
Saudades dos vales verdes, dos montes graníticos, do murmúrio dos rios e ribeiros, do bom perfume do vinho e da terra lavrada, do feno e da erva cortada.
3 comentários:
Incrível como os pequenos detalhes do dia a dia, por muito rotineiros e pacatos que sejam, transformam-se por vezes em turbilhões de emoções.
Quando se ama uma terra a sensação é dura. Cruel mesmo. No fundo é amor...
A terra é como a mulher. Fecunda, rica, generosa e também dura, agreste ou até perigosa.
Quando amamos uma como a outra, quando a temos e detemos o privilégio do seu usufruto, não nos damos conta do quão precioso é este bem. Muitas vezes menorizamos-las, desprezamos-las e ambicionamos a dos outros. Valorizamos o que eles têm e que nós não temos.
Depois, a certa altura, num momento qualquer durante um dia normal, atarefado com a lide regular e rotineira, sentamos-nos.
São 10 ou 15 minutos que não temos nada para fazer. Não está ninguém ao nosso lado para enganar a saudade e distrair as ideias. Malogrado instante! Este que nos obriga a confessar-nos a nós próprios!
Neste preciso momento em que ficamos sós, lembramos-nos da única coisa que realmente trazemos sempre connosco sem por isso nos termos dado conta.
Esta coisa é o Amor incondicional. Seja à terra ou a uma mulher. Como uma onda de lembranças onde os cheiros, cores e sons se tornam tão vividos e tão necessários que somos levados a divagar pelo passado.
Nestes momentos de humildade e submissão ao destino, apreciamos o verdadeiro significado da nossa vida pois é precisamente aí que nos apercebemos do que realmente importa. O que realmente somos. De onde viemos e onde queremos ir.
Afortunados os que conseguem ter momentos destes. Momentos de clarividência e marcos miliários de um caminho vital que está a ser traçado nesta autobiografia que é a vida.
A terra e as memórias são tudo o que temos de real. Tudo o que iremos fazer mais tarde, todas as experiências que vamos ter não passam de distracções.
A única verdade reside no coração e, só com a franqueza, honestidade e permissividade que um momento de solidão nos entrega, podemos ter acesso a ela.
Amo-te Terra!
A mim a saudade já me deixou sem palavras para a descrever!... Excelente texto, parabens!
A distância ataca-nos de memórias como se de uma esquizofrenia latente se trata-se!
Todos os nosso sentidos ficam presos à nossa infância que se tem tornado num passado perdido para sempre.
Hoje já dificelmente alguem poderá viver essa hamonia com a natureza, esse modus vivendi, as tradições, as nossas gentes, os cheiros, cores e sabores...
Esta foi a forma de me confessar com a minha terra e dizer-lhe: "Até Sempre"!
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